14/08/2010

Os mediia escondem aparecimento da maior fossa comum da América Latina

Azelea Robles*
14.Ago.10 :: Outros autores
Juan Manuel Santos
Há algumas semanas foi descoberta na Colômbia de Uribe e Juan Manuel Santos uma fossa comum com 2.000 cadáveres por identificar, perto da cidade de Macarena. Uribe e o seu ex-ministro da Defesa e actual presidente, Juan Manuel Santos, têm de explicar o monstruoso crime, que políticos e meios de comunicação de todo o mundo procuram, cumplicemente, silenciar.

Na Colômbia descobriu-se recentemente a maior fossa comum da história contemporânea do continente americano, o que foi quase totalmente silenciado pelos mass-media da Colômbia e do mundo. A fossa comum contém os restos de, pelo menos, 2.000 pessoas, está em Macarena, departamento de Meta. Desde 2005 que o exército deslocado na zona, ali sepultou milhares de pessoas sem nome.

A população da região, alertado pelas filtrações putrefactas dos cadáveres para as nascentes das aguas de consumo, e fustigada pelos constantes desaparecimentos já tinha denunciado a existência da fossa por várias vezes, durante o ano de 2009: em vão, pois o ministério público não investigava. Foi graças à perseverança dos familiares de desaparecidos e à visita de uma delegação de sindicalistas e parlamentares britânicos que investigava a situação dos direitos humanos na Colômbia, em Dezembro de 2009, que se conseguiu destapar este crime horrendo cometido pelos agentes militares de um Estado que lhes garante a impunidade.

Trata-se da maior fossa comum do continente. Mais de dois mil corpos numa fossa comum é o assunto grave para o Estado colombiano, mas os seus media e os media internacionais, cúmplices do genocídio, encarregaram-se de o manter sob um quase absoluto silencio, sobre um facto que só encontra atrocidade parecida se recuarmos às fossas nazis…

Este silenciamento mediático está indubitavelmente ligado aos imensos recursos naturais da Colômbia e aos mega-negócios que ali são feitos sob os massacres.

A Comissão Asturiana dos Direitos Humanos, que visitou a Colômbia em Janeiro de 2010 ( menos de um mês após a descoberta da fossa) interrogou as autoridades sobre o assunto… e as respostas foram preocupantes: na Procuradoria, no ministério do Interior, na ONU… todos querem esconder o assunto. Entratanto, «trabalham» na fossa para a minimizar, mas a delegação britânica verificou-a e as mesmas autoridades reconheceram pelo menos 2.000 cadáveres. Em Dezembro, «o alcaide próximo do governo também denunciou o facto junto ao necrotério», mas depois o número de corpos NN…

A delegação asturiana denunciou a vontade ostensiva de alterar a cena do crime: «ali ninguém está protegido. Ninguém está a impedir que se possam disfarçar as provas. Que um tractor entre por ali afora, carregue os cadáveres anónimos e os leve para outro lugar» [1]. «Solicitamos às instituições responsáveis do governo e do Estado colombianos que implementem as medidas cautelares necessárias para assegurar as informações já registadas nos documentos oficiais, que tomem as medidas cautelares necessárias para defender o perímetro e prevenir a alteração da cena, a exumação ilegal dos cadáveres e a destruição do material probatório ali existente (…), fundamental para a criação de um Centro de investigação Forense em Macarena, a fim de conseguir a individualização e a identificação dos cadáveres NN ali sepultados» [2].

A delegação Asturiana transmitiu às autoridades outra denúncia. As autoridades alegaram desconhecimento e incapacidade operacional, pois «há tantas fossas comuns no nosso país que»… Trata-se do município de Argélia em Cauca: um “matadouro” de gente, onde as famílias não puderam ir buscar os corpos dos seus desaparecidos, pois os paramilitares não as deixaram regressar às suas comunidades: deslocaram os sobreviventes. As vítimas sobreviventes relataram: «havia pessoas amarradas a que açulavam cães famintos para as irem matando a pouco e pouco.»

Na Colômbia, a Estratégia Paramilitar do Estado Colombiano, combinada com a actuação dos polícias e dos paramilitares foi o instrumento de expansão dos latifúndios. O Estado colombiano fez desaparecer mais de 50.000 pessoas através de aparelhos oficiais (polícias e militares), e do seu aparelho encoberto: a sua Estratégia Paramilitar [3]. O Estado colombiano é o instrumento da oligarquia e das multinacionais para a sua guerra de classes contra a população: é o garante do saque, a Estratégia Paramilitar insere-se nessa lógica económica [4].

A invisibilização de uma fossa comum das dimensões da fossa de Macarena obedece aos negócios das multinacionais e das oligarquias e no facto da fossa ser o resultado de assassínios feitos directamente pelo exército nacional da Colômbia, o que é mais uma prova do carácter genocída do Estado colombiano, para além do presidente Uribe, cujos negócios e ligações com o narcotráfico e o paramilitarismo estão mais que comprovados [5]. A cumplicidade dos media é criminosa, tanto a nível nacional como internacional. Todos nós devemos romper a barreira de silencio com que se pretende ocultar o genocídio. É urgente um movimento de solidariedade internacional: a Colômbia é, indubitavelmente, um dos lugares do planeta em que o horror do capitalismo se plasma de forma mais evidente na sua violência mais absoluta.

Notas:
(4) Ver mais ssobre a fossa comum e o Terror Estatal:

* Jornalista, historiadora

Este texto foi publicado em www.kaosenlared.net

Tradução de José Paulo Gascão

13/08/2010

Declaração conjunta dos Partidos Comunista Colômbiano e da Venezuela

13.Ago.10
Embora datada do passado dia 5 de Agosto, esta declaração conjunta dos Partidos Comunistas da Venezuela e da Colômbia mantém todo o interesse.
Dirigentes do Partido Comunista Colombiano (PCC) e do Partido Comunista da Venezulea (PCV) se reuniram em Caracas e aprovaram um apelo a nossos povos pela unidade e a se manifestarem massivamente pela paz.
O PCC e o PCV tornaram pública uma declaração conjunta em que analisam a situação provocada pelo governo colombiano e chamam a ambos os povos a «levantar com força as bandeiras da unidade e a se manifestarem massivamente pela paz».
A declaração foi feita pelos dirigentes comunistas Nelson Fajardo, membro do Comitê Executivo Nacional do Partido Comunista Colombiano (PCC) e Carolus Wimmer [ambos na foto], membro do Burô Político do Partido Comunista da Venezuela (PCV).
Texto integral da Declaração:
Os povos da Venezuela e da Colômbia têm a uma história e origens comuns ancestrais, que funde suas raízes na existência de seus primeiros habitantes, iniciadores da luta contra os colonizadores europeus e culminada com êxito nas gestas protagonizadas sob a direção do Libertador Simón Bolívar, cujo sonho de ver toda a América Latina Unida e Caribe unidos se expressa no Congresso Anfictiônico do Panamá, frustrado pela intromissão e intrigas do governo dos EUA. Essa gesta libertária ressurge hoje com força e se expressa na unidade progressista econômica, política e de solidariedade internacionalista, que vai abrindo caminhos de cooperação, de amizade e de paz.
A América Latina vive, em consequência, um momento de mudanças democráticas e progressistas, ao mesmo tempo de duras confrontações diante das ambições do imperialismo, especialmente o norte-americano, para manter o controle hegemônico, econômico, político, militar e obter o controle total sobre os recursos naturais da região, em benefício de suas empresas transnacionais.
Protagonistas principais dessas mudanças têm sido as lutas e mobilizações políticas, operárias, camponesas, indígenas, estudantis, de intelectuais, populares e sociais, sem as quais não se poderia compreender o êxito da democracia e da esquerda, expressadas na gama de governos democráticos, progressistas e de diversa tintura, cada um com suas próprias particularidades.
O regime político colombiano se transformou em ator principal da contra-ofensiva da direita na América Latina. Os interesses do grande capital monopolista transnacional, desenvolve a lógica do chamado capitalismo criminoso, tendência que no caso colombiano se relaciona com o negócio transnacional da cacaína e outros elementos que, por sua vez, alimenta o atual ciclo de violência, articulando formas legais e ilegais de acumulação e como paliativo de parte da crise econômica mundial.
Sob a política da guerra antiterrorista, guerra preventiva, cooperação antiterrorista, o regime da direita colombiana tenta justificar um tipo de relações interestatais que faça o jogo da política expansionsita de Washington, de desestabilizar e derrubar os governos que não são de seu agrado.
O regime político de direita na Colômbia nega a existência de uma guerra civil que tem se prolongado ao longo de mais de sessenta anos, apresentando-a com uma simples “ameça terrorista”. Sob os dois governos de Álvaro Uribe Vélez, a guerra contra-guerrilheira têm se caracterizado por uma crescente linha de submissão aos ditames de Washington e por uma frontal hostilidade contra os processos democráticos nos países vizinhos, nos quais interveio violando o direito internacional, a soberania dos dos Estados e povos e seu direito à autodeterminação.
Em meio às celebrações comemorativas do começo dos processos de independência anticolonialista de há 200 anos, o imperialismo criou pontos críticos de confrontação contra os processos de mudança em curso. De fato reativou a IV Frota Naval a partir de 2008; em fins de 2009 subscreveu com o governo colombiano o tratado para a utilização de 7 (sete) bases militares em território deste país; reinstalou bases militares no Panamá e transformou o território da Costa Rica em uma enorme plataforma para a manutenção da segunda maior base naval do mundo, tudo isso justificado com a desmoralizada “luta contra o narcotráfico e o terrorismo”.
Na Venezuela tem lugar um processo de mudanças revolucionárias políticas, econômicas e sociais que se orientam para a libertação nacional e a criação das condições necessárias para avançar rumo à constituição de um Estado popular, democrático e antiimperialista que, por sua vez, possa abrir caminho para o socialismo.
As relações de amizade, cooperação, respeito mútuo e de paz no quadro da integração e unidade latino-americana exigem hoje um processo de solução política, pacífica e pela via do diálogo e dos acordos para o prolongado conflito armado na Colômbia. Uma condição geral insubstituível é a não intervenção nem a ocupação militar de qualquer país pelas tropas de outro. A Corte Constitucional colombiana discute a inconstitucionalidade do tratado com os Estados Unidos para a utilização de 7 bases militares e se posicionará a respeito. Da mesma forma, deve cessar o Plano Colômbia como pretexto de projetos antinarcóticos.
Exigimos o reestabelecimento das normas da coexistência em paz entre países que desenvolvam projetos sócio-políticos diferentes. As diferenças ideológicas e políticas não implicam a exclusão do respeito mútuo, da cooperação e da obrigação de resolver por vias negociadas todo tipo de conflito entre nações, fazendo-o no âmbito de instituições latino-americanas, outorgando um papel protagônico à UNASUR.
Um conflito entre países irmãos só interessa ao imperialismo norte-americano, especialmente ao complexo militar-industrial e à extrema direita de nossos países. O reatamento pleno das relações entre Colômbia e Venezuela é uma necessidade dos processos integração latino-americano e uma contribuição à justiça social dos povos.
A defesa da paz, da unidade e da soberania dos países de nossa região é decisiva para desenvolver e aprofundar os processos de democracia, justiça social e independência da América Latina e Caribe.
Baseados nisso, chamamos nossos povos a levantar com força as bandeiras da unidade, a se manifestarem massivamente pela paz entre nossos povos e governos, na luta pela integração latino-americana e caribenha, pela soberania nacional e pela democracia plena.
DETENHAMOS A AMEAÇA DE GUERRA!
VIVA A AMIZADE E INTEGRAÇÃO ENTRE OS POVOS DA COLÔMBIA E VENEZUELA!
PARTIDO COMUNISTA COLOMBIANOPARTIDO COMUNISTA DA VENEZUELA

Caracas, 05 de Agosto de 2010

12/08/2010

Alastra o temor de uma agressão no Irã

Na última semana dezenas de media progressistas divulgaram em todo o mundo artigos e reportagens sobre a iminência de uma agressão militar ao Irão. O projecto de uma invasão terrestre do país foi considerado inviável pelo Pentágono. Atolados no Afeganistão e no Iraque, os EUA não dispõem de forças para se envolverem numa guerra convencional num pais gigantesco e bem armado. Mas pressões da extrema-direita norte-americana e de Israel para que as instalações nucleares do Irão sejam bombardeadas aumentaram nos últimos dias. O recurso a armas nucleares tácticas tem sido defendido por generais do Pentágono e admitido pelo presidente Obama. A crónica que publicamos, da TV Al Manar, do Libano, reflecte o temor de uma agressão militar que seria o prólogo de uma tragédia para a humanidade.
A partir de 1945, os EUA já tentaram derrubar pelo menos 50 governos estrangeiros – incluída a última tentativa, em curso, de derrubar o governo eleito do Irão. Essa vergonhosa estatística não é resultado apenas de má política externa; quando o presidente Obama assinou a decisão e converteu em lei, dia 1/7/2010, as sanções contra o Irão, não cometeu erro de desatenção, nem errou por descuido. A política externa dos EUA pode ser comparada à ação de um assassino serial.
Estrangulamento econômico e agressão militar contra o Irão
As sanções agem em silêncio, mas são terrivelmente mortíferas. Matam combatentes e não-combatentes indiscriminadamente e covardemente. Basta ver as sanções que os EUA impuseram ao Iraque: o pesquisador Richard Garfield estima que “pelo menos 100 mil ou, em avaliação mais rigorosa, mais de 220 mil recém-nascidos e bebês morreram, no Iraque, entre agosto de 1991 e março de 1998, por causas motivadas ou diretamente relacionadas às sanções econômicas”.
O governo Obama divulgou as sanções econômicas dos EUA contra o Irão como se fossem medidas “pacíficas” – tentativa pacífica de asfixiar a economia iraniana, cujo único objetivo era tentar pacificamente paralisar o país. Não bastasse, no final de junho cerca de uma dúzia de navios de guerra dos EUA e pelo menos uma corveta israelense cruzaram o Canal de Suez seguidas de três esquadras navais – em ato flagrante de provocação e tentativa de intimidação, que veio coordenado com agressiva retórica imperialista.
Dia 1º de agosto, o almirante Mike Mullen – chefe do Estado-maior do exército dos EUA, disse que os EUA têm planos prontos para atacar o Irão. Falando no domingo ao programa “Meet the Press” da rede NBC, Mullen disse que “as opções militares estavam sobre a mesa e continuam sobre a mesa. Espero que não cheguemos até lá, mas é opção importante e é opção já bem compreendida”.
Grande número de jornalistas, dos mais bem qualificados aos inqualificáveis, têm-se dedicado a converter a Resolução n. 1.553 da Câmara de Deputados dos EUA, em petulante brincadeira de desocupados; convertendo o que bem poderia ser uma avalanche de repúdio nascida da opinião pública norte-americana, em retórica a mais oca, para assim suavizar o que jamais deixou de ser manobra política de alto conteúdo tóxico.
O corpo de jornalistas-correspondentes dos grandes jornais já nem falam do número de baixas na população civil, na pobreza e na subpobreza em que naufragam os territórios palestinos ocupados pela entidade sionista ou da grotesca cumplicidade entre regimes ocidentais. Nada disso. A cobertura que a imprensa, jornais e televisão, oferece da invasão, nos dois casos, tanto no Iraque quanto no Afeganistão, começou com algum alarido e rapidamente se converteu em sussurro, para só reaparecer, sempre tímida, quando clamam aos céus as cinzas de grande número de mortos ou acontece algum aniversário ‘histórico’ sem importância alguma.
Se, ou quando, o Irão for militarmente agredido, não será diferente.
A Câmara de Deputados dos EUA ‘exige’ guerra
A Resolução 1.553 da Câmara de Deputados dos EUA não finge nem tenta fingir que ‘anseia’ por alguma paz. Sua razão de ser vem explícita, jogada à cara do mundo:“Expressamos integral apoio ao direito do Estado de Israel (…) de usar todos os meios necessários para enfrentar e eliminar a ameaça que vem da República Islâmica do Irão, inclusive o direito de usar força militar.”
Os deputados Republicanos dos EUA deram carta branca a Israel, hoje envenenada e que pode, em breve, estar também encharcada de sangue; o Estado sionista recebeu luz verde e os deputados dos EUA lhes gritam “Abrir fogo!”
Independente do que o conjunto hoje hegemônico de pseudo-intelectuais e políticos queira fazer-crer ao mundo, Israel não tem qualquer preocupação com a opinião pública, sempre que se trata de agir ao arrepio da lei internacional e de qualquer lei. Incontáveis vezes, sempre e sempre, Israel já deu provas de que sua agenda está acima de qualquer lei, e ninguém, até hoje, conseguiu levar o regime sionista às barras de algum tribunal, ou obrigá-lo a prestar contas de uma lista-de-lavanderia de crimes de guerra contra o povo palestino e o povo libanês. Israel não é Estado de Direito e jamais obedeceu a lei alguma, sempre em conluio com seu parceiro de crimes, os EUA.
As forças de ocupação israelenses já treinam para atacar o Irã
Dia 30 de julho, a mídia em Israel noticiou que as Forças de Ocupação Israelenses estavam em “treinamento militar na Romênia, em terreno montanhoso e de cavernas, semelhante aos túneis de montanha nos quais o Irão enterrou suas instalações nucleares. Seis aviadores israelenses morreram em acidente com um helicóptero Sikorsky “Yasour” CH-53 nas montanhas dos Cárpatos romenos, na 2ª-feira, 26/7. O acidente ocorreu na fase final de exercício conjunto de três exércitos, EUA-Israel-Romênia[1], em que se simulava um ataque ao Irão”.
A rede PressTV libanesa noticiou, dia 1º/8, que Israel ameaça abertamente bombardear as instalações nucleares iranianas há anos, mas “a probabilidade de ataque desse tipo aumentou significativamente, dada a crescente impaciência de Telavive com as sanções do Conselho de Segurança da ONU e dos EUA e outras medidas assemelhadas adotadas unilateralmente pelos EUA e pela União Europeia, que até agora não apresentaram o resultado esperado de alterar a posição de Teerã, de defender seu programa nuclear para fins pacíficos.”
Ouvem-se mais altos os tambores de guerra e o sinal é mais claro
Senadores dos EUA declararam, em uníssono, que as sanções contra o Irão não impedIrãoo a República Islâmica de perseverar em suas “ambições nucleares” – em termos que leigos entendam: os políticos norte-americanos ‘exigem’ que o Irã pare de fazer o que o Irã já declarou incontáveis vezes que não está fazendo. Se o Irão não parar de fazer o que não está fazendo (i.e. fabricando bombas atômicas etc.), haverá consequências, incluído aí um cenário de Apocalipse, que interessa muito, é claro, a Israel.
Do senador dos EUA Joseph Lieberman, “Bombardeiem o Irão”:
“Considero profundamente importante que a liderança iraniana fanática entenda que falamos muito sério sobre o programa de bombas atômicas deles, e se dizemos que não aceitamos que o Irão se torne nuclear, não aceitamos e não aceitaremos – e podemos e faremos qualquer coisa para impedir que o Irão se torne nuclear.
Depois virão as sanções, sanções violentas, sanções econômicas. Francamente, é a última chance que damos ao Irão de pouparem o mundo inteiro, inclusive os EUA, de terem de tomar uma dura decisão entre permitir um Irão nuclear e usar nosso poder militar para impedir que continuem nucleares.”
Do senador dos EUA Evan Bayh:
“Temos de considerar a opção final, o uso da força para impedir o Irão de construir uma arma nuclear.”
De Leon Panetta, diretor da CIA:
“Acho que as sanções terão algum impacto (…) Mas afastarão o Irão de suas ambições de alcançar capacidade nuclear? Provavelmente, não.”
Na reunião do G8, em julho, o presidente Obama declarou que o Irão teria prazo até setembro para aceitar as propostas internacionais que visam a impedir que a República Islâmica desenvolva armas nucleares. Setembro é o prazo final.
Os EUA não agirão sozinhos em guerra contra o Irão, nem nada leva a crer que os EUA declararão guerra ao Irão. Israel, que já provou sobejamente apoio integral ao terrorismo imperialista terá a tarefa de acender o pavio. Afinal de contas, quem impedirá a entidade sionista ilegal de fazer no Irão o que já fez no Líbano e em Gaza e faz em cada precioso palmo da terra palestina ocupada?
O Irão já se manifestou claramente, sem meias palavras, como tantas outras vezes. O embaixador do Irão à ONU, Mohammad Khazai, já disse que “se o regime sionista cometer qualquer agressão em território do Irão, incendiaremos todo o front dessa guerra que eles inventaram, e Telavive arderá.”
Setembro está perto e logo saberemos se Israel e EUA cumprIrãoo, ou não, suas muitas ameaças. Todas as guerras provocadas por Israel ao longo de sua história de perversidades foram guerra de agressão ditas ‘preventivas’. O tempo dirá se tentarão acrescentar o Irão, como mais uma marca em pistola de matador. Se tentarem, saberão: foi a última vez.
Notas:
[1] Sobre o acidente e esses exercícios militares, ver Robert Fisk, 2/8/2010, The Independent, em português “Israel já se meteu pela União Europeia adentro… e ninguém viu!”, no Blog O outro lado da notícia, www.vermelho.org.br/blogs/outroladodanoticia/?p=44375).
Este texto foi publicado no web site da Al-ManarTV de Beirute, Libanowww.almanar.com.lb/NewsSite/NewsDetails.aspx?id=148986&language=en
Tradução de Caia Fittipaldi

11/08/2010

A crise da social-democracia na Europa

Vicenç Navarro
Este artigo analisa a queda da social-democracia (tanto em apoio eleitoral como no número de membros) na União Europeia, questionando algumas das razões que foram dadas para explicar tal queda. O artigo mostra que, nos casos mais evidentes, esta queda deve-se à substituição do ideário socialista pelo social-liberalismo responsável por políticas impopulares entre as bases eleitorais de tais partidos.
A social-democracia na Europa está imersa numa crise profunda. Passou de governar na maioria dos países na União Europeia a estar numa minoria muito pequena. A sua crise reflecte-se, não apenas em derrotas eleitorais, mas também em quedas muito acentuadas dos seus filiados: todos os maiores partidos social-democratas europeus experimentaram uma enorme queda dos membros em tais partidos. Uma das explicações que os dirigentes de tais partidos deram para esta queda (além da suposta falta de comunicação – argumento sempre utilizado por tais dirigentes) foi o êxito das suas políticas. Assume-se que o grande bem-estar que a social-democracia trouxe à Europa transformou as suas bases eleitorais – a classe trabalhadora – em classes médias, que se foram tornando mais conservadoras. Alguns destes dirigentes chegam inclusive a postular que as classes trabalhadoras estão a desaparecer, substituídas pelas classes médias, que se transformaram nos setores sociais para os quais tais partidos orientam as suas ofertas eleitorais. Na realidade, muitos destes partidos abandonaram uma narrativa que inclua o conceito de classe social no seu discurso, excepto na sua referência às sempre presentes classes médias, e dentro de uma estrutura social que se redefine, limitando-se a falar de ricos, classe média e pobres, ou classe alta, média e baixa.
Este argumento ignora, no entanto, vários fatos. Um deles é que na maioria dos países da UE há mais pessoas que se definem como pertencentes à classe trabalhadora que à classe média, sendo nos países nórdicos escandinavos (que têm o maior nível de riqueza da Europa) onde tais percentagens são maiores. Quanto maior a cultura social-democrata num país (tal como ocorre na maioria dos países escandinavos), maior é a propensão da população para definir-se como membro da classe trabalhadora. E, pelo contrário, quanto maior a cultura conservadora e/ou liberal num país, maior é a percepção de que as classes perderam o seu valor definitório, considerando-se a classe média como a classe maioritária por antonomásia naquele país. O caso dos EUA e do Sul da Europa são exemplos disso. As causas da queda da social-democracia não podem atribuir-se, pois, ao seu sucesso, ou a mudanças da estrutura social dos seus países. Há que procurar as causas em outras áreas e territórios de análises, incluindo as mudanças muito substanciais que seguiram na sua cultura política e no desenvolvimento das suas políticas públicas.
A necessidade de uma inexistente autocrítica por parte de muitos partidos social-democratas europeus
O êxito da social-democracia na Europa foi a sua identificação com o estabelecimento do estado de bem-estar (baseado na universalização dos direitos sociais e laborais, financiado com políticas fiscais progressistas), e um aumento da capacidade aquisitiva da população, através de um aumento dos rendimentos do trabalho como motor de políticas expansivas de carácter keynesiano, que exigiam um intervencionismo público não só em gasto, mas também na regulação (e/ou a nacionalização) de atividades chaves para o labor econômico, a fim de garantir a existência e acessibilidade de recursos básicos (tais como o crédito). A época dourada do capitalismo (1900 -1980) baseou-se nestas políticas, que foram e continuam a ser enormemente populares, não só entre as bases tradicionais de tais partidos – a classe trabalhadora –, mas em outros setores das classes populares (incluindo a classe média). Esta aliança de classes – classe trabalhadora com classe média – foi central no desenvolvimento do estado de bem-estar.
Este tinha que ser de elevada qualidade para responder às expectativas da classe média, o que requeria uma carga fiscal elevada mediante uma fiscalidade progressiva, cujo objetivo era (além de conseguir fundos para o estado) a correção das desigualdades sociais. O declive da social-democracia baseou-se primordialmente no distanciamento e/ou renúncia de muitos partidos social-democratas a estas políticas. Foi a partir dos anos 1970 e 1980 que grande número de tais partidos se foram afastando de tais políticas, adaptando-se aos princípios do neoliberalismo, que se transformou na ideologia dominante na construção da União Europeia.
O argumento mais utilizado por aqueles partidos políticos, na justificativa do seu abandono das políticas social-democratas, foi que a globalização impossibilitava o desenvolvimento de tais políticas. Anthony Giddens, entre outros, repetiu esta argumentação em todos os seus trabalhos. Tal globalização – era-nos dito – tornava impossível a continuação daquelas políticas social-democratas. O keynesianismo, por exemplo, era já impossível. Os estados perdiam poder face à globalização e não podiam ser seguidas políticas expansivas. Este argumento, que encontrou grandes caixas de ressonância nos meios de comunicação próximos do capital financeiro e do mundo empresarial, ignorava que os países onde a tradição social-democrata estava mais desenvolvida eram os países escandinavos, países profundamente globalizados, pois, ao serem pequenos, a soma das suas importações e exportações representava a percentagem do PIB mais alta da UE. Os dados mostravam que um país podia estar muito globalizado e, ao mesmo tempo, continuar a desenvolver políticas social-democratas.
A origem do social-liberalismo: a administração Clinton
O social-liberalismo (a incorporação do neoliberalismo nos partidos progressistas e social-democratas) iniciou-se nos EUA. A derrota do presidente Carter, consequência do seu conservadorismo e neoliberalismo, criou uma rebelião nas bases do Partido Democrata, liderada por Jesse Jackson, cuja candidatura conseguiu 40% de todos os delegados do Congresso do Partido Democrata no Congresso de tal Partido em Atlanta em 1988 (no final do processo das primárias naquele partido). O programa de Jesse Jackson era o mais progressista que o Partido Democrata tinha proposto desde o New Deal. Alarmou o aparelho de tal Partido, que não fez seu tal programa. Mas, em 1992, o candidato Clinton – que se tinha oposto a Jesse Jackson – adotou parte daquelas propostas, apresentando-se com um programa que o Financial Times (um tanto preocupado) definiu como inspirado na social-democracia sueca. O seu programa incluía as promessas de universalizar o acesso à previdência naquele país e desenvolver políticas expansivas de despesa pública, acrescentando medidas protecionistas ao tratado de livre comércio, Nafta (inicialmente proposto pela Administração Bush pai), tais como exigir o estabelecimento de normas laborais e ambientais nos países participantes em tal tratado: EUA, Canadá e México.
Uma vez ganhas as eleições, o presidente Clinton não cumpriu nenhuma destas promessas. Tornando-se no presidente do Partido Democrata mais próximo do capital financeiro que existiu nos EUA (tal como indicou o seu Ministro do Trabalho Robert Reich), pôs os interesses do capital financeiro no centro das suas políticas públicas, reduzindo a despesa pública e favorecendo o capital financeiro, chegando a eliminar a Lei Glass Steagall (que, aprovada pelo presidente Roosevelt em 1933, tinha proibido que os bancos comerciais pudessem também ser de investimento), abrindo assim a porta à especulação e à crise financeira atual. A derrota do Partido Democrata nas eleições para o Senado e para o Congresso em 1994, resultado do enfado e da abstenção da classe trabalhadora, deu o controle do Congresso ao Partido Republicano, vitória que impossibilitou levar a cabo o programa expansionista de Clinton. Daí que, a partir de então, Clinton falasse da Terceira Via, a via entre o New Deal do Partido Democrata e o neoliberalismo selvagem do Partido Republicano, liderado pelo ultradireitista Gingrich. A vitória de Clinton em 1996 foi resultado do temor do eleitorado democrata (que se tinha abstido nas eleições de 1994 para o Congresso) à vitória da ultradireita, e mobilizou-se para travar o Partido Republicano.
O social-liberalismo na Europa: a terceira via
O Partido Trabalhista britânico adotou esta terminologia e a Terceira Via passou a ser a via entre o trabalhismo expansionista, baseado no aumento da procura interna como estímulo econômico (representada pela esquerda do Partido Trabalhista) e a via neoliberal de austeridade social do governo Thatcher. Mas, uma vez no governo, Blair foi inclusive mais além do que Thatcher em alguns tópicos, como a desregulação da banca. Foi Harold Brown, Ministro das Finanças do governo Blair, quem deu plena independência ao Banco de Inglaterra, desregulando, além do mais, o mercado financeiro, tornando-se a City (o centro financeiro do Reino Unido) no maior centro de hedge funds no mundo. Na verdade, a sua escassíssima regulação mereceu o título de “Wall Street Guantânamo” à City, indicando com isso que se permitiam na City práticas irregulares não permitidas em Wall Street. Estas políticas favoreceram o capital financeiro, que passou a representar 32% do PIB, crescimento que teve lugar à custa do setor industrial, que passou de representar 20% do PIB no princípio do New Labour (1978), a 12% (2010). Esta redução do setor industrial provocou uma diminuição do salário médio, diminuição para a qual contribuiu a grande desregulação dos mercados laborais, "um dos mercados mais desregulados existentes no mundo desenvolvido», tal como anunciava o governo de Blair na sua promoção externa. Diminuiu também o intervencionismo do estado sob o argumento de que o estímulo keynesiano com base no estímulo da procura interna era impossível de realizar, além de ser desnecessário (tal como afirmava Anthony Giddens).
Estas políticas foram muito impopulares entre as suas bases eleitorais, o que explica a grande queda do seu apoio eleitoral. Passou de obter 33% do total do eleitorado em 1997 a 25% em 2001 e 22% em 2005. Se o Reino Unido tivesse tido um sistema eleitoral proporcional, teria perdido a maioria já na segunda convocatória eleitoral desde que ganhou pela primeira vez em 1997. O enviesamento eleitoral britânico, que favorece o bipartidarismo, ocultou este descalabro de modo que, apesar desta queda tão acentuada, o New Labour manteve a maioria no Parlamento até à última eleição, a de 2010. Isso explica o seu longo mandato, que não se deve à sua popularidade – como erroneamente é apresentado por Giddens –, mas ao enviesamento do sistema eleitoral e à crise tão profunda do Partido Conservador. As políticas neoliberais do New Labour desanimaram as bases do partido, que perdeu mais de metade dos seus filiados durante o governo Blair.
O Partido Social-Democrata Alemão
O outro partido social-democrata que virou para o neoliberalismo foi o Partido Social-democrata alemão, o qual, com o seu chamado programa 2010 antagonizou a sua militância e as suas bases eleitorais. O programa 2010, liderado pelo chanceler Schroeder, iniciou as políticas neoliberais na Alemanha (incluindo as políticas de austeridade pública mais acentuadas até então), apoiando o capital financeiro e o mundo empresarial exportador, à custa do nível de vida da classe trabalhadora alemã. As suas políticas, continuadas pelo governo Merkel, significaram uma redução dos rendimentos do trabalho, contribuindo para a estagnação da economia alemã como consequência da diminuição da procura interna que tal redução determinou [2]. Foi Oskar Lafontaine, então Ministro de Economia do Governo Schroeder, e os sindicatos que propuseram um aumento da procura interna, que teria estimulado a economia alemã e, portanto, a economia europeia. Perderam aquela batalha e Oskar Lafontaine demitiu-se (e abandonou o Partido Social-democrata alemão, acusando a direção de tal Partido de estar excessivamente próxima da banca e do mundo empresarial exportador), ajudando a estabelecer um partido – A Esquerda, Die Linke – que denunciou tal social-liberalismo. É o partido que está a crescer mais naquele país.
O social-liberalismo na construção da União Europeia
A influência da banca alemã configurou, em grande medida, a arquitectura institucional europeia, baseada num Pacto de Estabilidade, que travou o crescimento da despesa pública, e num Banco Central Europeu, que mais que banco central era um lóbi da banca, que impôs juros elevados. A maioria dos partidos social-democratas na UE contribuíram para a construção deste marco neoliberal, que resultou numa grande queda dos rendimentos do trabalho na maioria dos países da UE, causa do enorme problema de procura existente na UE. As pessoas nomeadas por proposta dos partidos social-democratas (e eles mesmos simpatizantes e/ou membros do Partido Socialista Espanhol) na Comissão Europeia, foram Pedro Solbes e Joaquín Almunia, que se transformaram nos guardiães da ortodoxia neoliberal por meio da Comissão Econômica e de Assuntos Monetários. O próprio Claude Trichet, Governador do Banco Central Europeu, tinha sido membro do Partido Socialista francês (próximo de Pièrre Mendès-France), do qual continua a ser membro o presidente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, responsável pela aplicação de políticas neoliberais de austeridade que estão a provocar um enorme dano às classes populares nos países onde o FMI as impõe. Paradoxalmente, Strauss-Kahn aparece como o melhor candidato dentro do Partido Socialista francês para competir com Sarkozy. O fato de que tal profissional seja o candidato preferido pelo Partido Socialista francês é um indicador do grau de confusão existente entre amplos setores da social-democracia francesa.
O caso da social-democracia espanhola
A social-democracia espanhola seguiu políticas de clara tradição social-democrata no período 1982-1993, facilitadas pela pressão popular e pelos partidos à sua esquerda. A agitação social no final da década dos anos oitenta jogou também um papel chave na expansão da despesa pública social por habitante, corrigindo, em parte, o enorme déficit de despesa pública social entre Espanha e a média da UE-15. Espanha tinha sido, em 1982, quando iniciou o período social-democrata, o país com um estado de bem-estar menos desenvolvido da UE.
Ora bem, em 1993 (quando o déficit de despesa pública social já tinha sido reduzido para metade) houve uma mudança política muito importante, com consequências nas políticas públicas, tanto econômicas como sociais. O PSOE perdeu a maioria nas Cortes e aliou-se com a direita catalã, CIU, desenvolvendo políticas neoliberais (que implicaram uma espectacular queda da despesa pública social por habitante), políticas que foram continuadas pelo governo Aznar até 2004. A aliança do PSOE com a CIU inaugurou uma estratégia que incluía a marginalização das esquerdas, tanto dentro do PSOE como fora, o que criou uma reação entre as suas bases, de protesto contra a direção, que levou à eleição do candidato à presidência por parte do PSOE Josep Borrell, que era de clara orientação keynesiana e que criou enormes resistências tanto dentro como fora do aparelho do partido. Tal resistência levou à sua demissão e substituição, e mais tarde à derrota do PSOE, configurando-se posteriormente três sensibilidades diferentes dentro do PSOE. Uma, a do aparelho do partido, que apoiou o candidato conservador, José Bono; outra, de sensibilidade keynesiana, liderada por Matilde Fernández; e outra, que em teoria era a de compromisso, por José Luis Rodríguez Zapatero, e que ganhou devido ao apoio da esquerda. José Luis Rodríguez Zapatero ganhou e, com a excepção de Cristina Narbona, excluiu completamente a esquerda do seu governo, nomeando Solbes (que tinha iniciado as políticas neoliberais em 1993 e tinha sido o guardião da ortodoxia liberal na Comissão Europeia) e uma equipe ultraliberal dirigida por David Taguas (procedente da Banca e que tinha proposto, antes de se integrar em La Moncloa, a total privatização da Segurança Social, tal como tinha feito o General Pinochet no Chile) [4], como diretor da sua equipe econômica. Estas nomeações tinham como objetivo tranquilizar a Banca (que é o poder de fato mais importante em Espanha), nomeando como governador do Banco de Espanha outro ultraliberal, Miguel Fernández Ordóñez. A dimensão social-democrata do PSOE apareceu claramente nas áreas sociais, que estiveram limitadas contudo nas suas iniciativas (algumas de claro corte social-democrata, como a Lei de Dependência) por uma austeridade de despesa pública. Solbes tinha expressado que a política da qual ele estava mais orgulhoso, durante o período 2004-2008, foi a de não ter aumentado a despesa pública, isto dito no país da UE que tem uma despesa pública (incluindo a social) mais baixa da UE-15. A sua aliança em 2004 com partidos à sua esquerda, IU-ICV-EA, ERC e BNG, forçou, no entanto, uma maior sensibilidade social, que se traduziu numa redução do enorme déficit de despesa pública social que Espanha tem com a UE-15.No seu segundo mandato, iniciado em 2008, o governo Zapatero virou à direita, procurando o apoio da direita nacionalista catalã, sempre afim à equipe econômica do governo, que continuou a ser neoliberal. Tal equipe desenvolveu uma resposta à crise atual que reduz substancialmente os direitos trabalhistas e sociais no país, motivo de um protesto que levou à convocação de uma greve geral. A continuar estas políticas, a social-democracia espanhola sofrerá uma queda eleitoral profunda, tal como aconteceu à maioria dos partidos social-liberais na UE.

10/08/2010

Crise, luta e esperança

por Miguel Urbano Rodrigues
O fim da actual crise de civilização é imprevisível. Inevitável, conduzirá ao desmoronar do capitalismo ou a uma era de barbárie. Prever datas para o desfecho seria, porém, um exercício de futurologia. Mas uma certeza se esboça já no horizonte: a derrota espera o imperialismo nas guerras criminosas que os EUA desencadearam para manter e ampliar o sistema de dominação mundial do capital. Os EUA estão atolados em guerras perdidas no Afeganistão e no Iraque e a sua aliança com o Estado neofascista de Israel é um factor de tensão permanente no Médio Oriente. As estratégias agressivas que desenvolvem na América Latina, na África e na Ásia Oriental são também incompatíveis com as aspirações dos povos ameaçados, contribuindo para o subir da maré anti-americana. Nesta fase, iniciada com as agressões no Médio Oriente e Ásia Central, o imperialismo estadounidense encontrou situações históricas muito diferentes da que precedeu o seu envolvimento no Vietname e a humilhante derrota que ali sofreu. Nos EUA somente uma minoria percebeu que a guerra estava perdida quando Giap desfechou a ofensiva do Tet. A resposta de Johnson e Kissinger, cedendo aos generais do Pentágono, foi a ampliação da escalada. A agressão alastrou para o Laos e Washington enviou mais tropas para a fornalha vietnamita, semeando a morte e a devastação no Sudeste Asiático. Transcorreram anos até à retirada dos EUA. Os povos foram lentos a compreender que o desfecho da trágica agressão ao Vietname era o prólogo de uma crise que significou a perda da hegemonia que Washington exercia sobre a economia do Ocidente desde o final da II Guerra. Nada foi igual desde então. Mas o establishment norte-americano não extraiu as lições implícitas no fracasso das guerras da Coreia e do Vietname. A estratégia foi reformulada, mas a ambição imperial permaneceu, assumindo novas formas. O cenário das agressões adquiriu proporções planetárias a partir do desaparecimento da União Soviética. A primeira guerra do Golfo foi decidida no final da presidência de George Bush pai perante a passividade da URSS, prestes a desintegrar-se. Washington proclamou então que a humanidade havia entrado numa era de paz permanente, sob a égide dos EUA, garantes da Nova Ordem Mundial. Um obscuro epígono do capitalismo, Francis Fukuyama, saudou a morte do comunismo e anunciou o "Fim da História", apontando o neoliberalismo como a ideologia para a eternidade. O desmentido aos profetas imperiais não tardou. Quando as torres do Word Trade Center desabaram, o mundo entrou numa fase de turbulências anunciatórias de uma profunda crise de civilização. Após o 11 de Setembro de 2001, Bush filho, alegando necessidade de uma "cruzada contra o terrorismo", e afirmando que Deus estava com os EUA, invadiu o Afeganistão, semeando a morte a destruição naquele remoto país da Ásia Central. Depois chegou a segunda guerra iraquiana, iniciada à revelia do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A terra milenária da Mesopotâmia foi ocupada, os seus museus saqueados, o seu petróleo e gás entregues às petrolíferas dos EUA, dezenas de milhares de iraquianos chacinados. Autoproclamando-se nação predestinada, com vocação para redimir a humanidade dos seus pecados, os EUA, sob a batuta da extrema-direita republicana, passaram a actuar como um Estado terrorista, disseminando o terrorismo pelo planeta. Essa trágica situação somente foi possível pela cumplicidade da União Europeia, do Japão e do Canadá, estados ditos civilizados. Com o seu aval ao establishment bushiano abriram as portas à barbárie. A eleição de um negro para a Presidência dos EUA gerou a ilusão de que o pesadelo iria findar. Mas Barack Obama, que chegou à Casa Branca com o apoio entusiástico do grande capital, mudou o discurso, mas manteve a politica imperialista. Pior, agravou-a.
O PÂNTANO AFEGÃO
Admiradores do Presidente norte-americano afirmam que ele é um humanista, vítima de uma engrenagem que o instrumentaliza. Mas a defesa que dele fazem não convence. O Prémio Nobel da Paz tomou decisões que contribuíram para aprofundar a crise mundial. No plano interno a sua política tem sido, no fundamental, de capitulação perante as exigências do grande capital. Significativamente, o seu secretário do Tesouro, Geithner é um político que goza da confiança total de Wall Street. No terreno internacional, o Presidente aumentou muito o orçamento do Pentágono, pediu ao Congresso verbas colossais para as guerras asiáticas, enviou mais 30.000 militares para o Afeganistão, e faz da vitória nessa guerra uma prioridade da sua politica exterior. Entretanto, acumula derrotas no teatro afegão. A ofensiva no Helmand foi um fracasso; a de Kandahar foi sucessivamente adiada. A divulgação dos documentos secretos oferecidos pela WikiLeaks ao NY Times, ao Guardian e ao Der Spiegel instalou o pânico na Casa Branca, e o inquérito do Pentágono sobre a fuga de informações classificadas abalou fortemente a confiança dos americanos no sistema de segurança do Departamento de Defesa. Em declarações recentes, Julian Assange, o australiano que criou o WikiLeaks, revelou que crimes cometidos pelo exército dos EUA excedem em horror os massacres do Vietname. A chamada Força Tarefa Conjunta 373 tem por missão abater secretamente chefes talibãs e elementos suspeitos de pertencer à Al Qaeda. Grupos de matadores especiais intitulados Kia são responsáveis pelo assassínio de centenas de civis em ataques cujas vítimas são designadas nos relatórios como "mortos em acções". O rol dos crimes das tropas de ocupação da OTAN também ocuparia muitas páginas. A chacina de Kunduz, da responsabilidade do contingente alemão, abalou o governo da chanceler Merkel, mas foi apenas uma das muitas matanças de civis cometidas pelas tropas de ocupação. Julian Assange cita como exemplo das atrocidades dos aliados o bombardeamento de uma aldeia por uma força polaca. Dezenas de pessoas ali reunidas para festejar um casamento morreram num acto de retaliação concebido com crueldade. Rotineiramente, o alto comando norte-americano promove inquéritos nesses casos para "apurar responsabilidades". Mas ninguém é punido. Hamid Karzai, o presidente fantoche, protesta e pede providências, mas a indignação é simulada. Milhares de civis nas aldeias da fronteira paquistanesa foram mortos pelos bombardeamentos realizados pelos drones – os aviões sem piloto. O actual comandante Supremo, o general Petraeus, define essas "missões" assassinas como indispensáveis ao êxito da nova estratégia de luta "contra o terrorismo".
FARSA DRAMÁTICA
Hillary Clinton, o vice-presidente Joe Binden e James Baker, o secretário da Defesa, têm visitado frequentemente o Afeganistão. A encenação pouco varia. Deslocam-se para levantar o moral das tropas, dizer lhes que estão a lutar pela pátria, pela liberdade e a democracia contra o terrorismo, que a luta exige grandes sacrifícios, mas que a vitória na guerra afegã é uma certeza. Todos aproveitam para pedir ao Presidente Karzai que "governe democraticamente", afaste colaboradores que não merecem a confiança dos EUA, e ponha termo à corrupção implantada no país. Karzai faz promessas, reúne assembleias tribais que lhe aprovam a política e repete que é fundamental negociar com os "talibãs recuperáveis". É ele, chefe da máfia, o primeiro responsável pelo sumiço de milhares de milhões de dólares doados em conferências internacionais para o desenvolvimento e reconstrução do país, destruído pela invasão americana. A realidade não alterou o método. Em Kabul, a última dessas conferências acaba de aprovar mais uns milhares de milhões para "ajudar" o Afeganistão. Entretanto, a produção de ópio, insignificante à data da invasão, aumentou 90% na última década. É do domínio público que familiares do presidente mantêm íntimas ligações com o negócio da droga. Nas suas periódicas visitas ao Paquistão, Hillary Clinton admoesta o presidente Asif Zardari pela insuficiência do esforço de guerra nas áreas tribais do Waziristão na fronteira do Afeganistão. Joe Binden repete-lhe o discurso. Ambos insinuam cumplicidade do Exército com as chefias talibãs. O Primeiro-ministro britânico Cameron ao visitar o país foi tão longe nas suas críticas que o governo de Islamabad cancelou uma visita a Londres do chefe dos serviços de inteligência paquistaneses convidado pelo Intelligence Service. Crónicas de correspondente europeus em Kabul e declarações de soldados dos EUA regressados da guerra afegã esclarecem que a moral das tropas de combate caiu para um nível muito baixo. A demissão do general Stanley McChrystal, que criticara numa entrevista o presidente Obama, contribuiu para acentuar o mal-estar no Alto Comando. O general tem um currículo de criminoso, mas as suas opiniões sobre a condução da guerra são partilhadas por muitos oficiais. Assim vão as coisas na guerra podre do Afeganistão. No Iraque, a "pacificação" é um mito como demonstra o aumento de mortos em atentados bombistas em Bagdad e na região Norte, controlada pelos kurdos. O discurso de Obama aos veteranos deficientes, no dia 1 de Agosto, sobre a retirada das tropas foi um exercício de hipocrisia, semeado de mentiras e estatísticas falsas. Na Palestina, Israel continua a bloquear Gaza, bombardeada com frequência, e amplia a construção de casas na Jerusalém árabe e em colonatos na Cisjordânia. O Irão é atingido por novas sanções, aprovadas pelo Conselho de Segurança, e a CIA promove atentados terroristas no Kuzistão, fronteiro do Iraque, e na província baluche, vizinha do Paquistão. Na América Latina, Uribe, nas vésperas de ceder a presidência a Juan Manuel Santos, seu filhote político, criou uma crise com a Venezuela bolivariana ao forjar acusações sobre a presença das FARC em território daquele país. Os EUA, que vão instalar sete novas bases militares na Colômbia, aprovaram imediatamente a provocação.
Neste contexto de escalada militar em múltiplas frentes, a crise interna prossegue. O magro crescimento do PIB esconde a realidade. O número de casas vendidas é o mais baixo dos últimos anos. Milhares de empresas fecham todos os meses. Em cidades outrora famosas pela riqueza, como Detroit e Pittsburg, bairros inteiros estão hoje desabitados. O desemprego alastra. Nas universidades aumenta o ensino elitista. A tão elogiada reforma dos "cuidados de saúde" dificultou mais o acesso de milhões de imigrantes ilegais aos hospitais (v.Fred Goldstein, odiario.info, 22/04/2010). A Finança, essa prospera. Os gestores dos grandes bancos continuam a receber reformas e prémios fabulosos. Um desses gigantes, o Wells Fargo, acumulou lucros de milhares de milhões de dólares com a lavagem do dinheiro da droga (v. Cadima, Avante! , 29/07/2010). O controlo hegemónico do sistema mediático pelo grande capital impede, porém, a humanidade de tomar consciência da profundidade da crise. Nos EUA, pólo do sistema, o discurso do Presidente transmite um panorama optimista da situação, anunciando melhores tempos e vitórias imaginárias. Somente uma minoria de cidadãos, nos EUA, na Europa, e nos demais continentes estão em condições de descodificar o discurso da mentira irradiado pelo grande capital. Para as forças progressistas ajudar os povos a compreender a complexidade e a extrema gravidade da crise do sistema é, por isso mesmo, uma tarefa revolucionária. Porque essa compreensão é fundamental para o incremento e dinamização da luta dos trabalhadores em cada país contra o projecto de dominação imposto pelo sistema que ameaça mergulhar a humanidade na barbárie.
Vila Nova de Gaia,
02/Agosto/2010
O original encontra-se em http://www.odiario.info/?p=1698
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

09/08/2010

O "S" DA SADIA NÃO TEM NADA DE SAUDÁVEL

Segue abaixo relato de um trabalhador da Sadia de Chapecó/SC. As condições de trabalho são duras, os salário são baixos e o sindicato compactua com a exploração da empresa. A Sadia demonstra que o capitalismo não tem nada de saudável.
Companheiras e companheiros,
gostaria de fazer um breve relato da situação dos trabalhadores da Sadia em Chapecó (SC) e pedir a vocês apoio financeiro e também de militantes para que possamos tocar a campanha da oposição sindical na cidade.
Faz 22 anos que o sindicato da indústria de carnes não realiza eleições. Como previa o Estatuto desta entidade até o início deste ano, no caso de 10% da diretoria desistir do cargo, o sindicato convocaria nova assembléia para preencher essas vagas e renovaria por 5 anos o mandato dos demais dirigentes. Além disso, o Estatuto também previa a expulsão de qualquer membro da direção do sindicato que atentasse contra a harmonia entre capital e trabalho (isso estava literalmente escrito no texto estatutário).
Aqui o Sitracarnes é dirigido pela Farsa Sindical. Apesar de os trabalhadores receberem em torno de R$600,00 a R$800,00, dois dos dirigentes deste sindicato já chegaram a declarar para a receita federal um patrimônio de R$ 4 milhões, no caso do dirigente mais jovem, e de R$20 milhões, no caso do dirigente mais antigo. Esse status desses dirigentes coloca em evidência a máfia que está instalada nesse sindicato e que precisa ser demovida.
A situação dos trabalhadores da Sadia é trágica. Além de receberem salários baixos, de um universo de 5 mil trabalhadores, cerca de 1 mil estão afastados com problemas de saúde contraídos no trabalho. O ritmo de trabalho por aqui é intenso. Cada trabalhador precisa desossar um frango em oito segundos na água gelada, o que tem causado paralisia ou falência de membros do corpo. O problema todo é que a atual e velha gestão do sindicato nunca empreendeu esforços contra esse tipo de superexploração do trabalho. Há muitos casos de selvageria contra os trabalhadores na empresa. Os trabalhadores relatam que, num acidente de trabalho, um dos trabalhadores da Sadia chegou a perder a perna em uma das máquinas e que havia a possibilidade de esta perda ser parcial (até os joelhos). No entanto, a empresa para salvar a máquina preferiu que ele perdesse também a parte superior da perna. Depois disso o tal S de Sadia chegou a afirmar que a responsabilidade pela prótese da perna amputada deveria ser do INSS e não da empresa como seria de esperar. Tempos de barbárie no sul do Brasil.
Para se beneficiar da exploração do trabalho, a Sadia tem pagado ônibus para os trabalhadores que habitam cerca de 3, 4 ou 5 horas da cidade. Boa parte deles são indígenas que vivem em comunidades próximas a Chapecó. Isso significa que cada trabalhador gasta entre 6 a 10 horas diárias só para se locomover até o trabalho.
Diante dessa situação brutal, há três anos, alguns companheiros começaram a organizar clandestinamente na cidade a oposição sindical. Tratava-se de um trabalho difícil e árduo, tendo em visto a quase nula experiência dos trabalhadores em atividades políticas, a repressão e a ameaça de morte e de demissão por parte da empresa e dos dirigentes do sindicato. Felizmente, esses trabalhadores contaram com o apoio de um Procurador da República que moveu uma ação no Ministério Público, visando promover um processo eleitoral para a escolha da direção do sindicato. Ontem, essa organização deixou de ser clandestina quando os militantes dos diferentes movimentos e organizações políticas e os trabalhadores da empresa conseguiram inscrever a chapa de oposição. A eleição ocorrerá no dia 1o de setembro e a campanha da oposição sindical não será nada fácil. Para se ter uma ideia, na primeira panfletagem que conseguimos realizar na porta da Sadia, o ônibus que transportava os militantes que apóiam ou compõem a oposição sindical foi perseguido por cinco carros importados dirigidos por dirigentes ou capangas do sindicato. Só conseguimos despistar a máfia sindical depois de pararmos o ônibus em frente a delegacia de polícia e solicitarmos uma escolta até o lugar onde queríamos chegar.
Enfim camaradas, contra a barbárie capitalista que assola os trabalhadores da Sadia e contra a máfia sindical que está instalada no Sitracarnes, solicito de vocês apoio financeiro e, se possível, envio de militantes para Chapecó, para que possamos realizar essa campanha e tomar esse sindicato da Farsa Sindical. Várias organizações têm apoiado esse movimento: MST, Conlutas, Intersindical, CUT, Consulta Popular etc., mas é preciso agregar forças, pois a batalha não será fácil. As chances de conquistar a direção do sindicato são grandes e a panfletagem que fizemos deixou muito clara a insatisfação dos trabalhadores com a empresa e com o sindicato.
Estamos confiantes e achamos que a vitória é possível.
Portanto, à luta.

08/08/2010

ESTA TERRA JÁ TEM DONO!

ESTA TERRA JÁ TEM DONO!

Imbituba no centro da luta anticapitalista em Santa Catarina


A cidade de Imbituba, localizada no litoral sul do Estado de Santa Catarina, incorporou-se definitivamente ao mapa do desenvolvimento capitalista no Brasil com o processo de instalação de dois elementos do chamado complexo carbonífero catarinense: o porto e a Indústria Carboquímica Catarinense (ICC), estatal que produzia insumos químicos com o rejeito da produção de carvão mineral.

Este processo determinou a expropriação de terras das populações costeiras, de pequenos agricultores e pescadores de origem açoriana que viviam da economia de subsistência desde o período da colonização. A apropriação das terras próximas ao porto pela oligarquia local, beneficiada pela ditadura militar, ocasionou a expulsão das comunidades tradicionais para regiões periféricas da cidade, originando localidades como o bairro da Divinéia.

Um novo capítulo dessa história de expropriação e de desmandos do capital abriu-se com a possibilidade de instalação de uma fábrica de cimento da transnacional Votorantin, nos Areais da Ribanceira, comunidade que foi povoada em terras devolutas de propriedade do Estado por antigos habitantes de Imbituba, pequenos lavradores. Estas terras pretendidas pela transnacional possuem 290 hectares e foram vendidas pelo Estado a um capitalista local em leilão público duvidoso no ano de 2002, desconsiderando totalmente a existência de uma comunidade tradicional que há muitos anos produz a vida trabalhando no cultivo de mandioca, produto básico da alimentação local. Contra a ameaça de nova expulsão, os agricultores resolveram lutar pela terra coletivamente e organizaram-se na ACORDI (Associação Comunitária Rural de Imbituba), compreendendo cerca 60 famílias associadas que mantêm a produção e o beneficiamento de mandioca em bases coletivas.

Nos últimos meses, entretanto, a pressão da oligarquia local e da Votorantin pela expulsão da comunidade aumentou. A escalada do conflito chegou ao ponto de desencadear uma ação repressiva da PM de Santa Catarina, em final de janeiro de 2010, que prendeu 3 pessoas em uma reunião pública da ACORDI com militantes do MST. No último dia 28 de julho, após intensa batalha jurídica entre a ACORDI e o capitalista que adquiriu as terras de forma ilegítima, foi executada parcialmente uma ação de reintegração de posse, garantida por um enorme aparato da PM que intimidou qualquer resistência. A ação cercou a propriedade e destruiu moradias de três famílias. Para os próximos dias está prevista uma nova ofensiva do capital, no sentido de completar a determinação dos tribunais burgueses: destruir a sede da ACORDI, a lavoura comunitária de mandioca e o engenho de farinha. Ou seja, “limpar” a área para a Votorantin comprar as terras e começar a implantação da fábrica.

Nós, comunistas do PCB, entendemos que todo este processo está na esteira da política econômica do governo Lula, do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que pretende reativar o crescimento econômico do país favorecendo os grandes capitalistas. Denunciamos a lentidão proposital do governo Lula e do INCRA na desapropriação da área e do reconhecimento dos Areais da Ribanceira enquanto comunidade tradicional. Denunciamos o apoio dos governos burgueses de todas as esferas (municipal, estadual e federal) ao rolo compressor do desenvolvimento capitalista, que aniquila a vida dos trabalhadores e destrói o meio-ambiente.

As consignas de Sepé Tiaraju e dos rebeldes do Contestado estão vivas em Imbituba:

ESTA TERRA JÁ TEM DONO!

Contra a instalação da Votorantin e todas as agressões do capital, TODO APOIO À LUTA DOS TRABALHADORES RURAIS DA ACORDI!

PCB – PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO

COMITÊ REGIONAL DE SANTA CATARINA

7 de agosto de 2010.