12/06/2010

MAIS UMA VITÓRIA CONTRA OS PELEGOS CHAPA 1 DOS METALÚRGICOS DE LIMEIRA DERROTA A FORÇA SINDICAL

Acabou na noite do dia 10 de junho a apuração dos votos das eleições dos Metalúrgicos de Limeira e região e mais uma vez os trabalhadores se colocaram em movimento para defender seu instrumento de organização e luta.

Novamente os patrões montaram sua chapa, para tentar submeter o Sindicato aos seus interesses. Dessa vez quem desembarcou em Limeira para cumprir a tarefa foi a Força Sindical.

Não adiantou a campanha milionária com outdoor’s, inserções diárias em TV e rádio e todo aparato e ganguesterismo próprios dessa central que foi criada para atender os patrões.

A CHAPA 1 venceu as eleições com 2.382 votos, contra os 867 votos da chapinha dos patrões.

Durante esses 3 anos os pelegos derrotados em 2007 tentaram dividir a base do Sindicato. Em Rio Claro foram várias as tentativas de criar um sindicato fantasma para impor a redução de salários e direitos e foram derrotados pelos trabalhadores que foram à luta defender o Sindicato dos Metalúrgicos de Limeira e região.

Mais uma vez os trabalhadores se movimentaram para defender seu Sindicato, a demonstração disso é a vitória da CHAPA 1 com mais de 90% dos votos em Rio Claro.

Essas eleições demonstraram o acerto de nossa ação no movimento real da classe trabalhadora. No ramo Metalúrgico hoje somos mais de 100 mil no estado de São Paulo, desde 97 os Metalúrgicos de Campinas, Limeira, Santos ( a partir de 2006) e São José dos Campos romperam com a Federação dos Metalúrgicos da CUT que como a Força Sindical entregou direitos dos trabalhadores.

São 13 anos garantindo na luta uma das melhores convenções coletivas no País que tem como uma das clausulas a estabilidade no emprego até a aposentadoria a todo trabalhador vitima de acidente ou doença provocada pelo trabalho que tenha deixado seqüela permanente.

Mais uma vitória daqueles que não se submeteram a parceria com o Capital e seu Estado, que se mantêm independentes dos patrões, governos e partidos.

A Intersindical- Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora esteve em todo esse processo junto com os metalúrgicos de Limeira.

Enquanto os Conclat’s aconteciam “em nome” da classe, sem a classe, a verdadeira Intersindical continua com os trabalhadores enfrentando os patrões e seus aliados no movimento sindical.

11/06/2010

VITÓRIA DO OPERARIADO FRIBURGUENSE!

Ricardo Costa (Rico)*
Depois de quase quinze dias parados, operárias e operários da Fábrica Filó, filial da multinacional Triumph International em Nova Friburgo (Rio de Janeiro), terminaram a greve no dia de ontem (09/06), tendo arrancado dos patrões importantes conquistas: reajuste de 16% (dezesseis por cento) nos salários, cesta básica, não desconto dos dias parados e o compromisso assinado de que, caso haja, da parte do Governo do Estado, vontade política para fazer valer o salário mínimo estadual de R$ 603,00, a empresa irá cumpri-lo. O piso salarial da fábrica (que negocia em separado com o Sindicato de Trabalhadores e não participa das negociações em torno do Acordo Coletivo e recusou-se a conceder reajuste no ano passado) ficou em R$ 560,00, um ganho razoável em relação ao piso anterior, de R$ 485,00.
Mais importante do que o ganho material – sem, entretanto, desprezar o significado deste reajuste nas mesas e casas das famílias que dependem dos empregos e salários – é destacar a enorme conquista para a organização e o salto de consciência do grupo de trabalhadores que encarou de forma corajosa as ameaças dos patrões, mantendo a greve até a negociação final satisfatória. A greve representou um marco na história da classe trabalhadora friburguense, que amarga há décadas o refluxo do movimento operário e sindical. As lutas mais significativas dos tempos mais recentes foram a greve dos operários da Fábrica de Rendas Arp (anos 1980), a ocupação da Fábrica metalúrgica Haga (anos 1990) e a também ocupação da Eletromecânica, no início deste século. As duas últimas mobilizações, no entanto, resultaram, depois de arrefecido o movimento, em ascensão de grupos com mentalidade capitalista à frente das empresas ocupadas.
A luta das trabalhadoras e trabalhadores da Filó tem um grande significado neste momento histórico, em que a classe trabalhadora brasileira encontra-se ainda tão dividida por conta dos imperativos do capitalismo contemporâneo e seu processo violento de expropriações (aumento vertiginoso da extração da mais-valia, ampliação da jornada de trabalho, fragmentação das unidades fabris, cooptação ideológica dos trabalhadores para o projeto individualista e consumista, etc). Para as imensas dificuldades de enfrentamento à lógica do capital e aos reflexos da crise econômica mundial, muito contribui a postura de acomodação de setores majoritários do sindicalismo (à frente a CUT e a CTB, que hoje, nacionalmente, pouco diferem da Força Sindical) diante do fenômeno da “globalização” e das ações emblemáticas do governo Lula, que se apresenta como protagonista de um capitalismo “humano”, colaborando, na verdade, para o avanço vertiginoso das relações capitalistas no Brasil e da presença destacada do país no âmbito internacional, como uma nova potência a disputar seu espaço no interior do imperialismo.
Ao longo destes dias de greve, além da comprovada unidade posta em prática pelas operárias e operários da Filó, com a firme condução do Sindicato de Trabalhadores no Vestuário (por sinal, dirigido por companheiros ligados ao PT e à CUT – o que prova a heterogeneidade do movimento político e sindical brasileiro), vale ressaltar também a mobilização dos demais sindicatos de trabalhadores de Friburgo e sua solidariedade ativa ao movimento: metalúrgicos, têxteis, hoteleiros, professores (das redes pública e particular), trabalhadores da saúde, químicos estiveram na porta de fábrica no dia a dia dos piquetes. Outros sindicalistas colocaram sua estrutura material à disposição da luta. Também os militantes dos partidos de trabalhadores se solidarizaram, como o PT, o PSOL, o PCB e o PSTU, assim como ativistas da Intersindical e da Conlutas.
Avançar na organização da classe trabalhadora friburguense (e de todo o país) continua a ser o grande desafio de todos nós, que desejamos a superação revolucionária do capitalismo. Mas a vitoriosa luta encampada pelo operariado da mais importante fábrica do setor de vestuário de Friburgo (em que pese hoje ocupando posição de menor destaque na economia da cidade, com um número bem reduzido de trabalhadores em relação ao passado) serve de exemplo para os trabalhadores em geral, demonstrando uma vez mais que somente através do enfrentamento ao capital e da organização se obtêm conquistas. Sinaliza também, para setores de vanguarda do movimento sindical brasileiro, que tentam a todo custo a criação açodada e de cima para baixo de uma nova “central sindical”, que a unidade se faz na luta e com a participação efetiva dos trabalhadores e das trabalhadoras.
A luta continua. Avançar na organização da classe trabalhadora para novas conquistas!
*Ricardo Costa (Rico) – Secretário de Organização da Base Francisco Bravo (PCB de Nova Friburgo) / Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro

10/06/2010

Lutas de classe intensificam-se na Grécia

por Dimitris Fasfalis [*]
Os trabalhadores na Grécia posicionam-se hoje na frente avançada das lutas de classe europeias contra a tentativa do grande capital de fazer o povo trabalhador pagar os custos da sua crise. Mobilizações contra esta austeridade estão a difundir-se por toda a Europa.
Em França, houve greves e manifestações a 27 de Maio e está planeado para 24 de Junho um dia de acções. Em Portugal, 300 mil trabalhadores manifestaram-se nas ruas de Lisboa a 29 de Maio para exprimir a sua rejeição ao plano de austeridade do governo. Em Espanha, funcionários públicos foram às ruas em 2 de Junho. Na Itália, foi realizada uma manifestação nacional em Roma dia 5 de Junho, com greves e outras acções planeadas para 14 de Junho. Na Grã-Bretanha, os sindicatos e organizações de esquerda estão a organizar um dia de manifestações a 22 de Junho. No Roménia, funcionários públicos foram às ruas a 4 de Junho.
A resistência contínua na Grécia mostra aos trabalhadores activistas e militantes da esquerda anti-capitalista que as suas lutas podem abrir novos caminhos de avanço e determinar o resultado da actual crise económica. A mais recentes greve geral de 24 horas na Grécia, efectuada a 20 de Maio, registou um êxito do movimento dos trabalhadores na ultrapassagem da campanha de propaganda dos mass media e das calúnias provenientes do governo PASOK (Movimento Socialista Pan-Helénico). Mais de 50 mil pessoas tomaram as ruas de Atenas e realizaram-se manifestações nos principais centros urbanos do país [1] . Os professores do ensino público tomaram parte maciçamente na manifestação de Atenas. A participação na greve foi muito alta no sector público, mas menor no privado. As principais federações sindicais também organizaram um dia de comícios a 5 de Junho.
Este combate está longe de acabado. A greve geral de 5 de Maio A greve geral e as manifestações de 5 de Maio foram um êxito esmagador. Lançada pela Confederação Geral dos Trabalhadores da Grécia (GSEE) e pelo sindicato dos empregados do estado (ADEDY), o apelo para cessar o trabalho durante 24 horas foi cumprido maciçamente tanto pelos trabalhadores do sector público como do privado. Foram efectuadas manifestações em todas as principais cidades por toda a Grécia, excepto Larissa. Elas realizaram-se em Tripoli e Patra no Peloponeso, em Ioannina e Igoumenitsa no Épiro, em Herakleion (Creta) e também em Salónica, a metrópole ao Norte da Grécia onde milhares de manifestantes tomaram as ruas. As maiores manifestações verificaram-se em Atenas. As ruas do centro de Atenas foram tomadas por uma inundação humana de 250 mil cidadãos. A sua composição reflectiu a da classe trabalhadora da metrópole grega em toda a sua diversidade: trabalhadores do sector privado, tais como os dos estaleiros Skaramanga do Pireu, trabalhadores de empresas de serviços públicos e do estado, tais como os da companhia de electricidade (DEI), os professores e os enfermeiros do sistema de saúde pública, desempregados e trabalhadores reformados, imigrantes e trabalhadores não documentados, estudantes da universidade e do secundário.
Todas as palavras de ordem vindas das fileiras de manifestantes exprimiram a recusa do povo a pagar os custos da crise capitalista desencadeada pela finança global: "Não à tempestade anti-trabalhadores", "Não à flexibilidade, sim à semana de 35 horas", "Trabalhadores, levantem-se! Eles estão a tomar tudo o que obtivemos", "Nós pagámos os seus lucros, não pagaremos a sua crise" [2] . Johanna, de 30 anos, manifestou-se para "dizer não ao FMI. Eles querem fazer-nos acreditar que vieram aqui para "resgatar" as finanças do estado, mas não acredito nisso minimamente. Quem aceitaria tal tratamento?" Um profundo sentimento de injustiça está a guiar os protestos da multidão. Yanni, um professor de 30 anos, explicou ao repórter de l'Humanité:
"Toda a gente sente que não há justiça. O dinheiro está ali mas eles não querem ir buscá-lo... Não vejo outro caminho de saída: eles só nos apresentaram uma opção" [3] .
A causas dos movimento contra o FMI/União Europeia/plano de austeridade do governo do PASOK grego foram explicadas por Ilias Vretakou, vice-presidente do sindicato ADEDY:
"Estamos a enviar de Atenas uma mensagem de luta e resistência para os trabalhadores de todos os países europeus, contra a barbárie dos mercados de capital, do governo e da União Europeia. O governo, o FMI e a União Europeia decidiram levar os trabalhadores, a sociedade grega, para a mais selvagem barbárie social que alguma vez conhecemos. Eles estão a nivelar por baixo os trabalhadores e a sociedade. Estão a roubar os nossos salários, estão a roubar nossas pensões, estão a roubar nossos direitos sociais, estão a roubar nosso direito à vida. Eles estão a impor a lei da selva nas relações de trabalho,... reduzindo a taxa salarial para horas extras. Eles tornaram possível para os patrões despedirem um empregado mais velho e contratarem, com o mesmo dinheiro, três ou quatro jovens trabalhadores em condições precárias" [4]
Este discurso provocou aplauso entusiástico da multidão que havia acabado de apupar o líder do GSEE, Panagopoulos, criticado pelos sindicalistas de base pela relutância de Fevereiro no combate às medidas de austeridade [5] . Dentre outros oradores, Claus Matecki (do sindicato alemão DGB) e Paul Fourier (da CGT francesa) também provocaram aplausos vivos, especialmente quando este último declarou: "Hoje, todos nós somos gregos! Obrigado e boa sorte" [6] .
Dentre as forças políticas da esquerda, a Coligação da Esquerda Radical (SYRIZA) e o Partido Comunista Grego (KKE) participaram maciçamente nos protestos. Os social-democratas (PASOK) não tiveram uma presença organizada, apesar das lutas internas da ala esquerda do partido contra o plano de austeridade implementado pelo governo PASOK. Muitos dos manifestantes votaram PASOK em Outubro de 2009. Eles agora estão desapontados e irados ao descobrir que a esquerda triunfante que expulsou do governo o corrupto governo de direita de Kostas Karamanlis (Nova Democracia) cedeu, sem qualquer combate, à política neoliberal do capital financeiro. Dimitra, uma reformada residente na região de Atenas, esperava que a vitória do PASOK "faria as coisas melhor". Desapontada, ela está furiosa quando pensa no primeiro-ministro George Papandreu, do PASOK: "Quando penso que votei por idiota!" [7]
A cobertura dos media das manifestações de 5 de Maio centrou-se nos "kukuloforoi", os "mascarados", que atacaram fisicamente símbolos da cultura de mercado e do capitalismo financeiro. O banco Marfin e a rua Stadiu no centro de Atenas foram atacados por cocktails Molotov e queimados. Três empregados do banco perderam as suas vidas no incêndio. Os empregados do Marfin foram obrigados a trabalhar naquele dia apesar do apelo à greve e foram literalmente trancados no banco. Não havia plano para saída de emergência, tornando a sua evacuação ainda mais difícil. A resposta do movimento dos trabalhadores foi imediata e clara como cristal. Na noite de 5 de Maio, o presidente da ADEDY explicou que estas "práticas fascistas pretendem assustar o povo num momento em que a luta de massa é necessária para travar as medidas que lançam a vidas dos gregos na adversidade" [8] . No dia seguinte, 6 de Maio, uma multidão de luta reuniu-se na Praça Sintagma, em frente ao Bouli (parlamento grego), a fim de denunciar a adopção do plano de austeridade pelos representantes eleitos da Assembleia Nacional [9] . Este desencadear da violência de rua não deixa de se relacionar com a exasperação para com o governo Papandreu.
O plano de austeridade imposto ao povo grego pelos mercados financeiros – as principais instituições financeiras, o FMI e a União Europeia – é uma flagrante negação da soberania nacional e da democracia. Além disso, o governo aguenta-se no chão desde Fevereiro e recusa-se a atender à mensagem das ruas. Ao invés disso, intensifica o autoritarismo do plano de austeridade: desde que foi aprovado pela Assembleia Nacional em 6 de Maio (com os votos dos socialistas PASOK, da Nova Democracia e dos nacionalistas-racistas do LAOS), ele será aplicado através de uma série de ordens do Ministério das Finanças, não deixando qualquer espaço para a interferência parlamentar e limitando os representantes eleitos do povo a uma capacidade consultiva puramente formal. A falta de legitimidade democrática do plano portanto abre a porta, em alguns componentes mas margens do movimento social, a conceitos de legitimidade da violência de rua (choques com a polícia, queima de vários símbolos da ordem capitalista, etc).
O partido da ordem capitalista encabeçado pelo PASOK tem portanto como corolário a violência dos "kukuloforoi" nas mobilizações. Totalmente alheio aos "mascarados", o flagrante impulso autoritário das medidas de austeridade alimenta uma aguda tendência anti-parlamentar dentro de secções do movimento dos trabalhadores. Slogans tais como "Deixe-os queimar!" ou "Entreguem os ladrões ao povo!" foram gritadas várias vezes na manifestação. Dúzias de manifestantes também tentaram cortas as linhas de segurança do Parlamente, até serem violentamente repelidas pelas forças policiais [10] .
Olhar o antes e o após 5 de Maio
As acções de 5 de Maio registaram um êxito porque foram preparadas: a unidade da mobilização em massa não foi uma resposta espontânea, mas antes o resultado de três meses de mobilizações dos sindicatos de trabalhadores. Já em 24 de Fevereiro, o movimento sindical comprometeu-se a combater o anunciado plano de austeridade, negando portanto à classe dominante e seus porta-vozes um monopólio da informação e da política. É precisamente este criticismo, efectuado através de acções nas ruas e lugares de trabalho, os quais permitiram ao movimento social comunicar possíveis cenários diferentes daquele escrito pelo capital financeiro. Portanto, a noção reaccionária e desmobilizadora de que este plano é um mal necessário foi abalada, abrindo o caminho para o contra-ataque popular. Em 24 de Fevereiro, a primeira greve geral respondeu às medidas de austeridade anunciadas pelo governo. Em Atenas, 45 mil pessoas estiveram nas ruas; em Salónica, havia 10 mil. Na manifestação de Atenas, Dimitri, um engenheiro civil de 28 anos, explicou as razões da mobilização: "Queremos um emprego, salários decentes e um verdadeiro sistema de segurança social. Nosso país tem de respeitar normas da União Europeia que são injustas" [11] . Uma segunda greve geral de 24 horas teve lugar a 11 de Março, juntamente com manifestações nas principais cidades do país. As greves gerais de 24 horas (24 de Fevereiro, 11 de Março, 5 de Maio e 20 de Maio) foram sem dúvida os exemplos mais visíveis das mobilizações populares contra a austeridade. Mas outras acções, de âmbito mais limitado, desempenharam um papel crucial para elevar a força e assegurar a continuidade do movimento de resistência. Fabrien Perrier, repórter do diário l'Humanité, do PCF, sublinhou a atmosfera de agitação social tomava conta de Atenas no fim de Abril. "Em Atenas, a cada dia, as ruas estão a reflectir os gritos dos manifestantes e a ira de corpos profissionais" [12] .
Muitas destas mobilizações ajudaram a preparar a greve geral. Em 5 de Março, por exemplo, foram efectuadas reuniões em massa em muitas cidades para preparar a greve geral de 11 de Março. A reunião em Volos (uma cidade na costa da Tessália, Norte de Atenas) reuniu não só sindicalistas como também trabalhadores despedidos da METKA, antecedendo um concerto de solidariedade de muitos artistas. Da mesma maneira, o 1º de Maio estimulou as mobilizações de massa antes da greve geral de 5 de Maio. O sindicato dos empregados do estado (ADEDY) apelou à greve de 4 de Maio pela mesma razão. O seu apelo foi seguido e foram efectuadas manifestações naquele dia. Estas mobilizações limitadas também permitiram ao movimento dos trabalhadores empenhar-se na batalha para ganhar a opinião pública. Muitas acções portanto responderam ao governo a cada volta da crise. Portanto, quando George Papandreu efectuou uma conferência de imprensa a 25 de Abril para anunciar que desencadearia o mecanismo europeu de apoio financeiro, centenas de manifestantes responderam nas ruas do centro de Atenas a gritas: "A luta do povo destruirá a carnificina do FMI" [13] . Dois dias depois, a 27 de Abril, funcionários públicos estavam em greve e professores estavam a acampar na Praça Sintagma, em frente ao Parlamento, para denunciar a hemorragia sofrida pelo sistema público de educação. Nesse meio tempo, o porto de Pireu foi bloqueado por uma greve de 24 horas dos trabalhadores marítimos a seguir ao apelo do seu sindicato, o PNO.
Passo a passo, o que parecia inevitável na cabeça da maioria tornou-se uma questão a ser resolvida pela correlação de forças. Um inquérito de opinião do jornal grego To Vima estimou a proporção daqueles contra a redução de salários em 79,5% da população [14] . Dentro do movimento social, os participantes estão a ganhar confiança e a ideia de que o resultado da luta ainda não está estabelecido ganha terreno. Despina, de 27 anos, não tomou parte nas manifestações de 4 de Maio de empregados públicos. Ela sublinhou contudo ao repórter do Humanité que "aqueles que estão no movimento estão certos: eles entenderam as causas deste movimento. Os funcionários públicos são as primeiras [vítimas directas das medidas de austeridade], mas todos na Grécia vão sofrer. Os sindicatos estão unidos e o governo está começando a abalar" [15] . Todas as pessoas progressistas saúdam a resistência dos trabalhadores gregos à ditadura do capital financeiro. As mobilizações dos últimos três meses têm sido dignas da herança política da luta contra a junta ditatorial (1967-1974) e da resistência anterior ao fascismo. Muitas questões cruciais ainda estão para serem resolvidas. Antes de mais nada, a estratégia seguida pela liderança sindical está aberta ao questionamento. Face a um governo que se recusa a atender aos protestos do povo nas ruas e além disso obriga o parlamento a aplicar medidas ditadas pelos grandes negócios, não haverá um risco de que repetidas greves de 24 horas acabassem por ser a prova da impotência do movimento para alterar o curso dos acontecimentos? O movimento dos trabalhadores em França sofreu um retrocesso desmoralizante na Primavera do ano passado após três rodadas de greves gerais de 24 horas. O desenlace dos acontecimentos ainda não está decidido na Grécia. Mas o tempo poderia estar do lado dos trabalhadores, desde que os seus líderes tenham a coragem necessária. Até quando, por exemplo, poderia o governo PASOK e seus parceiros europeu aguentar-se face a uma greve geral ilimitada dirigida por assembleias-gerais do movimento de massa? Uma segunda questão relaciona-se com a estrutura organizativa do movimento social. Será ela capaz de unir-se numa vou ou plataforma única? Será capaz de estabelecer um órgão democrático e unificado que fale pelos seus diferentes componentes nas ruas e assegure controle autónomo das suas mobilizações? Estas questões parecem cruciais uma vez que determinarão durante os próximos meses o êxito ou o fracasso da tentativa dos trabalhadores de dar nascimento a novas possibilidade e portanto repelir a fatalidade da barbárie neoliberal. As apostas são altas: o futuro imediato do estado social está a ser decidido hoje nas ruas de Atenas.
Notas
1. Ver "Grèce, après la grève" by Andreas Sartzekis.
2. Avgi, May 6.
3. L'Humanité, May 6.
4. Avgi, May 6.
5. A primeira greve contra as medidas de austeridade foi lançada pela ADEDY dos empregados do estado em 11 de Fevereiro, ao passo que as lideranças de topo do GSEE recusaram-se a aderir argumentando que os interesses dos trabalhadores do sector privado não eram postos em perigo pelos anúncios do governo. É útil sublinhar que Panagopoulos é membro do Movimento Socialista Pan-helénico (PASOK) encabeçado pelo primeiro-ministro George Papandreu. Face à crescente pressão das bases, os líderes do GSEE alinharam com a ADEY a 24 de Fevereiro durante a primeira greve geral de 24 horas. L'Humanité, May 6.
6. L'Humanité, May 6.
7. L'Humanité, May 11.
8. Avgi, May 6.
9. Avgi, May 7.
10. Avgi, May 6.
11. L'Humanité, February 25.
12. L'Humanité, April 27.
13. Avgi, April 25.
14. L'Humanité, May 5.
15. L'Humanité, May 5.
[*] Natural de Quebec, vive em Paris. Uma versão anterior deste artigo foi publicada em francês com o título "La résistance sociale en Grèce: bilan et perspectives".

09/06/2010

Entrevista com Aleka Papariga: o KKE e o Povo Grego Contra As Políticas Liberais da União Europeia

“O KKE deu um contributo decisivo à organização da resistência e da luta popular. Mas nós medimos a eficácia da nossa luta de um modo diferente dos outros, não nos concentramos só nos resultados que saem das urnas. Naturalmente, com isto não quero dizer que não nos interessem as eleições. Mas deve-se ter presente que na Grécia a consciência do movimento popular está muito mais avançada do que a da maior parte dos países europeus e, embora ainda não se reflicta completamente na acção, irá verificar-se no futuro. Isto depende em grande parte do decisivo, se não determinante, contributo do nosso partido.”
Contactámos Aleka Papariga nos dias quentes das greves e das mobilizações sociais, que encontram no KKE o principal eixo organizativo e político. Há poucas horas os comunistas gregos colocaram uma faixa nas paredes do Parténon, convidando os povos de toda a Europa a rebelar-se.
Francesco Maringiò (FM): - A Grécia está no centro das atenções por parte de todos os outros países europeus devido à crise que atravessa. O Governo Papandreu prometeu tirar o país desta crise e por isso aplicou um duro plano económico. Qual é a tua opinião a este respeito? E qual é o objectivo da luta?
Aleka Papariga (AP): - Estas opções postas em acção pelo governo são um verdadeiro perigo para a vida do povo, pelo que o objectivo é ganhar tempo, para se poder bloquear as medidas e, sobretudo, criar as condições para que estas políticas sejam derrubadas. Nós lutamos para alterar as relações de forças e fazer que se determinem as condições para dar vida a um diferente modelo de desenvolvimento.
FM: - Achas que o povo grego está amadurecido para tomar como seu este objectivo?
AP: - As medidas tomadas são absolutamente injustas para os trabalhadores. Não há outras saídas: o povo tem de conseguir impor um modelo de desenvolvimento diferente, alternativo ao actual, para dar vida a um curso completamente diferente, em que prevaleça um projecto que tutele os interesses populares, e não os da burguesia. Se assim não acontecer, determinar-se-á uma situação em que a saída da crise – que decerto não será eterna – para a Grécia, se fará à custa dos interesses populares, que por consequência serão atingidos e redimensionados durante muito tempo. E então será muito difícil remediar esta situação.
FM: - E o que deverá fazer o movimento de luta na Grécia, qual o papel dos comunistas dentro dele?
AP: - Não pode haver nenhuma convergência de interesses entre o capital e o trabalho. Chegou a hora de todos assumirem as suas responsabilidades. Pelo nosso lado, consideramos que o que se começou em 17 de Dezembro passado, com as greves e as mobilizações, tem de avançar e de se alargar. O que julgavam, que o povo aceitaria este ataque aos seus direitos sem opor resistência? Nós não o permitimos. O movimento popular e dos trabalhadores, quanto mais capaz for de adquirir consciência do facto de que a propaganda sobre os sacrifícios para evitar a bancarrota é falsa e funcional ao cancelamento dos direitos, mais forte e melhor para todos será. Se uma parte dos cidadãos há uns tempos tivesse prestado mais atenção às solicitações feitas pelo KKE a respeito da natureza do Tratado de Maastricht e à entrada da Grécia na União Europeia, apresentada como uma opção obrigatória, hoje haveria uma situação muito melhor. Se nos tivessem dado ouvidos quanto às previsões que tínhamos feito já antes das eleições, quando dizíamos que iriam surgir fortes ataques às condições de vida e de trabalho da população e afirmávamos que estas medidas seriam tomadas indistintamente, tanto pelo Pasok como pela Nova Democracia, como depois sucedeu, hoje todos os trabalhadores estariam seguramente numa posição mais forte para poderem enfrentar a situação.
FM: - Qual é a resposta ao apelos de luta e mobilização que o KKE e o PAME estão a fazer aos trabalhadores gregos? Encontram eco as vossas propostas?
AP: - As lutas animadas pelo PAME, que tem desempenhado uma acção de vanguarda importante, bem como as manifestações de massas que se têm verificado em todo o País, demonstram que as pessoas estão dispostas a lutar. Vieram dizer, arrogantes e em tom de propaganda, que as pessoas estão de acordo com os procedimentos e as medidas pretendidas pelo Governo. Assim fazendo estão só a abrir caminho para que a luta tenha uma escalada. Hoje em dia regista-se um importante aumento da consciência de classe do povo. Estes sinais falam-nos de indignação e confusão, mas a gente comum está cada vez mais disposta a tomar parte nas lutas. Falta ver se esta evolução irá levar a uma maior radicalização da consciência política conduzindo amplos sectores populares a convergir nas propostas de alternativa avançadas pelo KKE sobre temas como as alianças e a tomada do poder, ou se o sistema conseguirá mantê-los sob controlo, impedindo o arranque de uma política de alternativa.
FM: - E consideras tudo isso possível?
AP: - Decididamente. Tanto o passado como o presente mostram-nos que o capitalismo na sua fase monopolista assume caracteres cada vez mais reaccionários e parasitários. Durante uma fase de crise, como é óbvio, o capital é muito mais agressivo, mas na fase de desenvolvimento também continua a sua violência contra os interesses populares. E em geral observamos que todos os refluxos em termos de direitos e liberdades dos trabalhadores nunca provêm de baixo, acolhendo instâncias nascidas do descontentamento. Começam por cima, empregando como instrumento repressivo as clássicas campanhas assentes nos partidos que tutelam os interesses burgueses.
FM: - Que género de políticas são adoptadas por estes partidos?
AP: - As actuais medidas anti-sociais aplicadas são literalmente bárbaras. Empurram as famílias trabalhadoras para o desespero. O capitalismo aposta em fazer pagar a crise aos trabalhadores e em consolidar por esta via os seus próprios lucros. Isto vemo-lo bem aqui entre nós onde o capital grego tenta conservar uma forte presença na região. O capitalismo hoje precisa de tomar estas medidas. As políticas dos liberais e dos social-democratas, como todas as que têm sido aqui tomadas até agora, têm como verdadeiro objectivo a satisfação das necessidades do capital. De resto, as medidas impostas ao povo grego são as mesmas que se têm vindo a adoptar em todos os países da União Europeia com variados pretextos. Estas medidas já foram decididas há tempos e põem em evidência o impasse do desenvolvimento capitalista.
FM: - Mas donde nasce esse “buraco” nos orçamentos do Estado?
AP: - O défice público e as dívidas foram criados pelo facto de o financiamento estatal ter ido todo parar aos cofres dos monopólios: dinheiro em catadupas para os capitalistas, uma verdadeira provocação. É este o motivo por que hoje é desferido um ataque sem precedentes aos direitos dos trabalhadores e se pede dinheiro em empréstimos porque assim se continuam a manter os lucros dos do costume com o dinheiro do Estado. A verdadeira questão na ordem do dia torna-se portanto: o que irá entrar em crise, a vontade do povo ou o sistema plutocrático?
FM: - Portanto é culpa do sistema capitalista?
AP: - O capitalismo é um sistema injusto porque por um lado acumula crescente pobreza e miséria e, por outro, riquezas fabulosas. É um sistema que gera parasitismo e corrupção e leva sempre à crise. Por este motivo precisamos de mudanças radicais. O capitalismo nunca foi uma via de sentido único, uma etapa obrigatória da história. Mas para inverter a marcha é preciso um forte movimento popular, com uma clara conotação de classe e um decidido perfil político, que se bata contra os monopólios e as campanhas anticomunistas: só um movimento assim radical é capaz de garantir progressos para a população.
FM: - E de que há necessidade, em alternativa?
AP: - Hoje em dia é necessária uma sociedade socialista, que representa a única possibilidade de o povo gozar dos frutos do seu trabalho e para que as modernas conquistas da ciência e da cultura sejam utilizadas a favor dos interesses de todos e não do lucro. E tudo isto, naturalmente, requer a construção de uma sociedade socialista. Precisamos de ter “aulas de desenho”, para assim podermos traçar esta nova sociedade.
FM: - Na TV italiana tem-se falado muito de acções violentas ocorridas durante as manifestações. O KKE e o PAME condenam estes actos? Quem é o responsável? E quais são as vossas propostas para combater e mobilizar as pessoas?
AP: - Nós propomos continuamente mobilizações, mas se as pessoas não estiverem convictas as lutas não podem ter lugar. O que é necessário é um movimento organizado, dotado de um projecto, com forte sentido de responsabilidade, que não se deixe envolver em agitações improvisadas e protestos cegos. Hoje o KKE, deste ponto de vista, constitui uma garantia para que se desenvolva um movimento amadurecido, cuja existência nós ao mesmo tempo reclamamos e defendemos.
FM: - Portanto distanciam-se dos actos de guerrilha urbana que puseram Atenas a ferro e fogo?AP: - Certamente. O KKE condena com veemência a trágica morte de três pessoas durante o assalto ao banco. O Governo contudo não tem o direito de se servir destas mortes para tentar bloquear a resistência popular e dar livre curso a uma ofensiva antipopular que, por agora, se reflecte nas medidas promovidas no sistema da segurança social, mas que se destina a reaparecer ao fim de cada três, seis ou nove meses. E isto de acordo com as vontades da troika (os principais partidos – ndt ) ou a do Governo e da União Europeia.
FM: - Mas quem é que tira vantagens desses choques?
AP: - Na base de provas e factos concretos já denunciámos várias vezes o desenrolar de uma verdadeira estratégia da tensão e da provocação. Como se demonstrou, o Laos, o partido nacionalista, não se limitou, com o seu presidente à cabeça, a utilizar a posteriori a notícia dos incidentes mas, de certo modo, esperou que acontecessem para poder assim tentar fazer recair as culpas sobre o KKE. Esta é uma estratégia claramente destinada a envolver tanto o KKE como o PAME numa provocação ad hoc.
FM: - E porque é que se dá tudo isto, na tua opinião?
AP: - Porque estão preocupados com a actividade realizada pelo partido e pelo movimento de classe. E depois todos sabem que, além dos membros, dos amigos e dos simpatizantes do partido, na luta participam também os trabalhadores com diferentes orientações políticas.
FM: - E como conseguem repelir as tentativas de provocação?
AP: - Vou contar o que fizemos e que nos permitiu mantê-los à distância. Não é nenhuma coincidência. Nós nutrimos fortes suspeitas em relação a eles e portanto preparámo-nos para os expulsar. Com efeito, durante o desfile montámos um poderoso serviço de ordem, com todos os camaradas a marchar de braços cruzados um no outro e assim conseguimos dar vida a um desfile do PAME sem precedentes e a manter afastados os poucos provocadores que continuavam a gritar os seus slogans e tentavam alcançar o seu objectivo.
FM: - O que me dizes do Governo Papandreu? São os únicos a criticá-lo?
AP: - Syriza censura o Pasok e o primeiro-ministro por não respeitarem o seu programa eleitoral. Nós nunca faremos este género de críticas porque na realidade o que Papandreu está a fazer é exactamente dar curso ao seu programa político. Ao contrário de Syriza, que pensa que há diferença entre o Pasok e ND, nós consideramos que as políticas de fundo destes partidos não são diferentes, como se vê quanto às receitas para a crise, e isto porque ambos os partidos são expressão dos interesses do grande capital e não podem pôr em campo políticas diferentes.
E depois nós não acusamos o primeiro-ministro de dar o flanco “às pressões vindas do mercado”. Pelo contrário, nós afirmamos que o problema de Papandreu, exactamente como o seu antecessor, não é o de prestar demasiada atenção a estes interesses, mas sim de agir conscientemente a seu favor. Por estas razões consideramos esta política perigosa. De resto as mentiras do governo e as das campanhas anticomunistas estão ligadas ao facto de nós termos sempre posto em evidência que em qualquer dos casos se tomariam essas medidas, independentemente de qual partido estivesse no governo. A posição e a acção do KKE obrigam-nos a não levar a cabo os seus planos.
FM: - O que esperam?
AP: - Sabemos que o sistema tentará desencadear toda a sua força contra o KKE. Mas não temos medo. O povo grego tem de se manter livre dos apelos propagandísticos sobre a dívida e o défice e pensar na verdadeira dívida que os governos do Pasok e de ND têm representado para o povo grego. Estes literalmente saquearam os cidadãos através das regalias dadas aos capitalistas. Seja como for, devem pedir-lhes conta de tudo isto, não se deve baixar a cabeça, e deve-se trabalhar duramente para recuperar todo o dinheiro que lhe foi subtraído, dinheiro que é fruto do seu duro trabalho. O sistema observa com atenção como cresce o movimento na Grécia e começa efectivamente a ter medo. Consideramos que a resistência do povo grego contra as medidas do governo está directamente ligada ao empenho e ao papel desempenhado no movimento pelo KKE. Graças à acção, ao impacto e à aceitação de muitas posições do KKE por parte de uma grande faixa do povo grego – o que não implica a total adesão a todos os pontos do programa político do KKE – até os dirigentes amarelos dos sindicatos Gsee e Adedy são obrigados a marcar greves.
FM: - Que papel desempenhou e continua a ter o KKE nesta fase da luta para a Grécia?
AP: - Se o KKE tivesse tido um comportamento diferente, semelhante ao dos outros partidos e se esse comportamento se reflectisse nas organizações de massas, acham que teria havido na mesma esta resposta popular e esta resistência? Pela minha parte digo que as medidas passariam sem nenhuma reacção. O KKE deu um contributo decisivo à organização da resistência e da luta popular. Mas nós medimos a eficácia da nossa luta de um modo diferente dos outros, não nos concentramos só nos resultados que saem das urnas. Naturalmente com isto não quero dizer que não nos interessem as eleições. Mas deve-se ter presente que na Grécia a consciência do movimento popular está muito mais avançada do que a da maior parte dos países europeus e, embora ainda não se reflicta completamente na acção, irá verificar-se no futuro. Isto depende em grande parte do decisivo, se não determinante, contributo do nosso partido.
FM: - O que é preciso fazer hoje na Europa?
AP: - Consideramos que este elemento é um património importante para todos. O movimento comunista internacional hoje tem de afinar uma estratégia comum contra o imperialismo, mas ao mesmo tempo deve ter a força de lançar outro modelo de desenvolvimento e portanto afirmar a actualidade e a centralidade do socialismo. O movimento comunista tem de se reforçar em toda a Europa. Nuns países será uma torrente, noutros um regato. O movimento, obviamente, desenvolve-se sobretudo a nível nacional mas, ao mesmo tempo, tem de se reforçar a nível internacional. Mas se se consolidar num país fraco poderá ter uma força de influência mais ampla e reforçar-se em toda a Europa. Todo este radicalismo das pessoas tem de crescer e evoluir para uma opção política consciente capaz de apontar uma via alternativa ao capitalismo, outro percurso e outro modelo de desenvolvimento, e portanto em última análise outro sistema político. Caso contrário, a raiva e a indignação populares correm o risco de ser reabsorvidas pelo sistema de modo que venham a ser compatíveis com ele.
* Aleka Papariga é secretária-geral do Partido Comunista da Grécia (KKE)
Esta entrevista foi publicada na revista comunista italiana Ernesto

08/06/2010

Crise na Grécia ou crise nos estados da União Européia?

Escrito por Achille Lollo *
29-Mai-2010
No dia 6 de dezembro de 2008 as agências de informação anunciavam que uma violenta rebelião popular havia sacudido as principais cidades da Grécia para protestar contra o assassinato do estudante de 15 anos Aléxis Andréas Grigoropulos, abatido a tiros pela polícia anti-motim. Durante três dias as televisões do mundo inteiro visualizaram as cenas de violência da guerrilha urbana que havia paralisado a capital Atenas, Salonicco, Patrasso, Kavale e também as ilhas de Creta, Rodi e Corfu, quando foi evidente que o assassinato do jovem Aléxis no bairro de Exarquia – fortaleza do movimento estudantil e dos grupos anarquistas - foi provocado "ad hoc" pela polícia para criar um clima de terror e esvaziar a greve geral que as centrais sindicais Adedye (funcionalismo público) e GSEE (setor privado) e os partidos de esquerda, KKE (Comunista), Pasok (social democrata), Synaspismos (Movimentos Sociais) e Verdes, haviam proclamado para dia 10, a fim de protestar contra a crise econômica, as privatizações e o aumento do desemprego.
Este motim fez cair a máscara do governo conservador de Kostas Karamalis (Nova Democracia), mostrando os elementos de grave crise econômica e financeira existente que, na realidade, era a ponta de um iceberg submerso pronto a emergir na "área do Euro".
Entrevistado por telefone, Yannis Bournous, responsável pelas políticas européias do Synaspismos (o partido dos movimentos sociais com 13 deputados no Parlamento), declarava: "O assassinato do jovem Aléxis, em 2008, foi apenas o estopim da revolta dos gregos contra a crise econômica. Por sua parte, a União Européia sabia perfeitamente que o governo Karamalis estava levando a Grécia para a falência.
Depois, em 2009, quando o Pasok de Georgios Papandreu ganhou as eleições e nós do Synaspismos e os comunistas do KKE aumentamos a presença no Parlamento, a União Européia ignorou todos os alertas vindos da Grécia e, sobretudo, os estudos apresentados no Parlamento Europeu pelos representantes da esquerda européia.
Estudos e análises advertindo que a crise econômica e financeira na União Européia não ficaria limitada somente a um país e tampouco seria provocada por um acidente nas bolsas de valores. Outra advertência indicava que a crise era, também, o resultado de dois fatores: a) as políticas especulativas praticadas em certos países da União por parte de bancos e instituições financeiras dos países ricos da mesma União, com a condescendência dos respectivos governos e do próprio Banco Central Europeu; b) o mau funcionamento da estrutura financeira da União e seu processo centralizador gerenciado pela Alemanha".
Grécia: déficit de 14% do PIB
De fato, o jornal holandês NRC Handelsblad – no início da crise grega – publicou o memorando que o então comissário europeu, Joaquim Almunia, no dia 2 de julho de 2009, levou à direção da Ecofin, formada pelos ministros das finanças dos países da "área do Euro", no qual eram confirmados os riscos e os alertas apresentados antes da reunião do Ecofin em Praga, em junho de 2009, quando o ministro das finanças grego, Papathanassiou (governo conservador Karamallis), admitia que "o orçamento grego poderia ter um buraco vermelho de até 6% do PIB". Diante disso o então comissário europeu, Joaquim Almunia, concluía seu memorando com a seguinte denúncia: "... caso as tendências em curso continuem, na realidade o déficit orçamentário do governo grego poderá chegar a até 10% do PIB".
Por absurdo, os ministros da União Européia e o próprio comissário Almunia arquivaram a crise grega. E quando o novo primeiro-ministro grego, o social-democrata Georgios Papandreu, logo após as eleições de outubro, informou que o déficit orçamentário seria de 12,7% para depois especificar que o mesmo já havia atingido 14% do PIB, em Bruxelas, ninguém sabia o que fazer.
Oficialmente, a crise grega explodia nos mercados financeiros no dia 8 de dezembro de 2009, quando a agência de riscos "Fitch´s" rejeitava o grau de confiabilidade do governo e de cinco bancos da Grécia em pagar suas dívidas. Mesmo assim os ministros da União Européia não se manifestavam, enquanto a imprensa alemã enaltecia a opção drástica do presidente do Bundesbank (Banco Central Alemão), Alex Weber, segundo o qual "uma intervenção européia coordenada em favor da Grécia era inconstitucional e a ajuda do FMI não daria resultados sem a aplicação de regras rígidas e duradouras na economia da Grécia".
Faltou somente dizer que a Grécia devia sair da "área do Euro" para promover a "operação default", a partir da qual optaria por uma maxi-desvalorização da dracma e transformaria o país em um estande de produtos para a exportação, tal como fizeram a Polônia, a Itália e a Espanha em 1992, antes da entrada em vigor do Euro.
Porque a União Européia não interveio?
É importante lembrar que para a Grécia poder ingressar, em 2001, no sistema de moeda européia teve que falsear seu déficit orçamentário, que de 4,1% do PIB foi, milagrosamente, corrigido para 2%, tal como o primeiro-ministro social-democrata, Georgios Papandreu, acertou com as autoridades da União. Uma mentira que se perpetuava em 2004 com a vitória eleitoral do conservador Karamallis, tanto que a porta-voz da União Européia, Amélia Torres, em Bruxelas, em 20 de março de 2005, oficializava a mentira ao dizer: "as autoridades gregas cobriram amplamente os buracos orçamentários e solucionaram as falhas do seu sistema estatístico. Por isso, hoje, a situação da Grécia é notavelmente melhor".
Quando isso aconteceu, os técnicos de Eurostat (o organismo de análise e estatísticas econômico-financeiras da União Européia) rejeitaram as falsas informações do governo grego, mas tiveram de aceitá-las em função da "solidariedade neoliberal" que havia tomado conta dos 16 governos da "área do Euro".
A partir dessa encenação iniciou-se um complexo processo especulativo cujos principais beneficiários foram os bancos alemães, seguidos pelos franceses e as seguradoras italianas. Por sua parte, todos os governos gregos que se sucederam na Praça Syntagma (sede do Parlamento) direcionaram a maior parte dos empréstimos europeus para sustentar o clientelismo eleitoreiro e refinanciar a dívida pública com uma desordenada emissão de títulos do Estado, de forma que nos últimos quatro anos o valor da dívida pública passou de 180 bilhões de euros para 320 bilhões.
Mais anacrônico era o tecido social dos "poupadores que compravam os títulos da dívida grega". Na sua maioria, eram representados por indivíduos ou entidades ligadas à economia paralela, à corrupção ou que, através do clientelismo político, conseguiam fraudar a receita grega, cujo rombo hoje é calculado em 30%. Por sua parte, os governos gregos – tanto o conservador da Nova Democracia quanto o social-democrata do PASOK - fecharam os olhos. Isso no momento em que, em uma sociedade empobrecida com os programas neoliberais, os únicos poupadores que podiam comprar os títulos da dívida pública eram quem lucrava com a corrupção, a fraude fiscal e a economia paralela, onde os "corretores" das máfias internacionais (italiana, russa, israelense) investiam nos "bonds gregos" paras reciclar seus lucros ilegais.
De fato, o Secretário Geral do Partido Comunista (KKE), Alex Papariga, ao questionar o aleatório programa de saneamento fiscal do governo Papandreu, dizia: "Como é possível que em um país como a Grécia haja somente 5.000 famílias que declaram uma renda anual de 100.000 euros, quando é suficiente ir ao porto do Pireo para encontrar milhares de barcos luxuosos que são a prova de que a evasão fiscal dos ricos é generalizada, enquanto os únicos a pagar os impostos são os trabalhadores do funcionalismo público e os do setor privado?".
Este perverso esquema de "poupança" entrou em crise quando, com a derrota do conservador Karamallis, os "poupadores" ficaram amedrontados com o crescimento do partido comunista "KKE", a afirmação da coalizão da esquerda social "Synaspismos" e, sobretudo, com a pressão popular sobre o governo social-democrata de Georgios Papandreu por parte da central sindical comunista "PAME". O medo por uma iminente ruptura do status quo fez com que os "poupadores" retirassem dos bancos gregos seus títulos para negociá-los em dólares nas filiais dos bancos alemães e franceses, agenciando com eles a transferência "em off" para os bancos de Jersey, Ilhas Channels, Luxemburgo e Malta, isto é, os paraísos fiscais europeus.
Quando o Banco Central grego se deu conta de que ninguém estava comprando seus "bonds" era demasiado tarde, inclusive porque os bancos alemães e franceses que haviam especulado sobre a compra em dólares da quase totalidade dos títulos agora exigiam o pagamento de uma dívida equivalente a 100 milhões de euros, e cuja perspectiva era a insolvência absoluta.
Somente quando a insolvência dos títulos gregos começou a atingir a confiabilidade dos bancos alemães que a primeira-ministra alemã, Ângela Merkel, interveio, pedindo ao parlamento alemão que votasse com urgência um pacote de ajuda financeira de 8,5 bilhões de euros para a Grécia não declarar default e abandonar o sistema monetário europeu. Em segundo lugar, Merkel, para garantir o pagamento aos bancos alemães, informava os presidentes do Banco Central Europeu, Jean-Cleaude Trichet, e do FMI, Dominique Strauss-Kahn, que o governo alemão aceitava a proposta de um maxi-refinanciamento da dívida grega no valor de 110 bilhões de euros.
Uma ajuda financeira que, na realidade, servia apenas para evitar a bancarrota dos bancos alemães, franceses e seguradoras italianas que haviam especulado com os "bonds" gregos e para enquadrar o Estado grego, podendo finalmente intervir em sua economia aplicando as receitas recessivas do FMI, cujo custo seria pago unicamente pelos trabalhadores gregos até 2020.
Crise do modelo de Estado europeu
O Tratado de Maastricht, mais que criar um novo modelo político para os países da União Européia, enquadrou toda a política européia em um complexo xadrez regulamentado por normas jurídicas definidas por cada área específica de jurisdição. De fato, a crise do chamado "Estado Moderno Europeu" - para além da contingência grega – se tornou evidente no momento em que esse Estado, embutido de neoliberalismo, foi incapaz de prevenir as desastrosas situações financeiras que seu mercado produziu e, conseqüentemente, não teve capacidade de solucionar tais crises, a não ser com a confirmação dos limites de sua própria natureza política. Isto é a prática neoliberal de repassar para o cidadão o ônus da crise econômica provocada pelos bancos com a especulação financeira.
No caso da Grécia a solução é dramática, chegando a impor a redução em 30 % dos salários do funcionalismo público e 20%, no setor privado. Há ainda o corte do 13º e do 14º salários, o aumento da idade para ter direito a aposentadoria, sem contar os cortes orçamentários nos serviços públicos mais populares, tais como a educação e a saúde, onde o que não será privatizado será desativado.
Por outro lado, ficou evidente que, quando se trata de pagar os custos de uma crise financeira na União Européia dos 27 ou, sobretudo, nos 16 países da "área do euro", prevalecem as antigas divisões entre os países que financiam as dívidas e aqueles que não conseguem zerar seu déficit.
Assim, após a crise grega, na União Européia, configura-se a presença de uma "área de risco permanente" representada por Grécia, Portugal, Espanha, Itália e Irlanda, cujos déficits orçamentários devem ser pagos apenas pelos seus cidadãos, com uma maior taxação dos bens de consumo e o corte dos investimentos nos serviços públicos. Enquanto isso, nada acontece com a burocracia e a classe política, que, com sua complacência e incompetência, contribuíram para a ampliação dos vícios institucionais, isto é, a especulação financeira, a corrupção, o clientelismo político e a fraude fiscal.
Vícios que, por absurdo, ao transitarem pelos mercados sob forma de lucro, perpetuam a manutenção de um equivocado Estado moderno e uma confusa política européia comunitária. Nela, os interesses da União Européia gravitam e dependem das cumplicidades político-financeiras de uma classe política aparelhada pelos mercados nas instituições dos Estados e acostumada a privilegiar, antes de tudo, os interesses do mercado, mesmo que desta forma a própria democracia burguesa e o Estado de Direito se transformem em mera retórica eleitoreira.
União Européia: 23 milhões de desempregados
Nos 27 países que hoje formam a União Européia, o desemprego atingiu formas alarmantes, tendo alcançado o número de 23 milhões de desempregados, equivalentes a 9,67% da população ativa. Segundo o instituto de pesquisa e estatística da União Européia, Eurostat, nos 16 países da "área do euro", o desemprego já é da ordem de 10,7%, o que significa que nestes países há 15.808.000 desempregados. Um exército de reserva que a cada mês agrega 101.000 novos desempregados, na sua maioria homens com 50 anos e jovens até 25 anos à procura do primeiro emprego.
Todos os economistas admitem que, nos países da União Européia, o desemprego vai subir porque as empresas, na sua totalidade, visam o aumento da produtividade intensificando a exploração nos locais de trabalho com o aumento dos ritmos de produção, além de reduzir os custos de segurança. Desta forma, entre março de 2009 e de 20010, nos 27 países da União Européia, foram suprimidos 2.500.000 empregos, sendo 1.389.000 correspondentes à situação fabril nos 16 países da "área do euro". De fato, também nos países "ricos" da União Européia começa a agitar-se o fantasma do desemprego. Por exemplo, na opulenta Holanda, em 2009, o desemprego já atingia 4,1% da população ativa e, na Áustria, 4,9%.
Isto explica por que, em março, o Eurostat alertava que na Espanha os desempregados atingiam 19,1% da população ativa, enquanto na Grécia chegavam a 16% e na Itália alcançavam o limite histórico de 12%, sendo que o desemprego juvenil italiano atingia o recorde europeu, com 27%.
Um cenário que desmonta a ineficiência do modelo de "governança européia", representado pela União Européia e implementado sobretudo nos 16 países da "área do euro", onde as políticas dos governo conservadores, juntamente aos programas do neoliberalismo – sejam eles alemães ou britânicos –, não funcionam mais, a partir do momento em que este Estado moderno, para salvar sua essência representada pela sociedade de mercado, não pensa duas vezes em sacrificar a única riqueza do cidadão: sua força de trabalho e o salário.
*Achille Lollo é jornalista italiano, diretor da ADIA TV e autor do vídeo "Palestina, Nossa Terra, Nossa Luta".

07/06/2010

Toda nossa solidariedade ao povo palestino. Contra Israel, seus tanques e armas: a luta internacional da classe trabalhadora

A Intersindical- Instrumento de Organização e Luta da Classe Trabalhadora, está junto do povo Palestino e se soma a sua luta por autodeterminação.
Na última segunda-feira Israel para avançar ainda mais contra a luta do Povo Palestino, atacou o navio que levava ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Assassinaram ao menos 10 pessoas e prenderam todos os ativistas que estavam embarcados e tinham o objetivo de levar solidariedade àqueles que no dia a dia sofrem com o bloqueio, os assassinatos e toda forma de violência provocada por Israel.
Rapidamente a classe trabalhadora em diversos lugares no mundo se levantou contra mais esse ataque promovido pelos sionistas. Manifestações na Europa, Oriente e na América e mais um navio saiu ontem da Itália levando ajuda humanitária.
No Brasil as organizações do movimento sindical e popular já se organizam para ampliar as mobilizações em solidariedade ao povo Palestino, é dessa forma que vamos responder a violência de Israel que busca sua falsa legitimidade expropriando e matando milhares de palestinos.
Os EUA que segue procurando pretextos e bombas para atacar o Irã, agora pedem “cautela” para justa e legitima reação internacional de condenar mais um ato criminoso provocado por Israel.
Os palestinos há décadas lutam por sua autodeterminação, contra a expropriação, a exploração e a violência a que são submetidos. Todos os dias mulheres e homens trabalhadores, crianças e idosos sofrem as conseqüências da política de Israel que conta com total apoio do imperialismo estadunidense.
A Intersindical a exemplo de tantas outras ações de solidariedade ativa da classe trabalhadora mais uma vez se soma aos trabalhadores no mundo todo que se movimentam em defesa da causa Palestina.