13/03/2010

Raúl Reyes, Iván Ríos e Manuel Marulanda: Vivos na memória e na luta dos povos!

Por: Dax Toscano Segovia/MCB Equador / ABP

O mês de março de 2008 possui um significado importante, de grande e profunda dor para a insurgência colombiana, para as forças revolucionárias da América Latina e de todo o mundo. Nesse mês ocorreram as mortes dos Comandante Raúl Reyes, Iván Ríos e Manuel Marulanda Vélez. Raúl foi assassinado em 1º de março, após um bombardeio empreendido contra seu acampamento guerrilheiro localizado em Angostura, na zona de Putumayo.

O bombardeio provocou também a morte de outras vinte e quatro pessoas, entre elas cinco estudantes mexicanos que estavam no citado local.

Lucía Morett foi a única sobrevivente desse grupo de estudantes. Atualmente, ela é perseguida por parte dogoverno narco-paramilitar colombiano e por representantes da justiça equatoriana, que vêm tentando criminalizá-la por ter estado no acampamento guerrilheiro de Raúl.

O desenvolvimento e a execução da “Operação Fênix” estava a cargo das forças de segurança colombianas, que contaram com o respaldo de efetivos militares e de espionagem norte-americanos e israelenses. Membros dos serviços de inteligência do exército e polícia equatorianos também contribuíram para infiltrar e, posteriormente, estabelecer a localização precisa do acampamento do Comandante das FARC-EP. O major da polícia Manuel Silva e o coronel do exército Mario Pazmiño foram figuras-chaves nesta tarefa de trabalhar diretamente com os serviços de investigações policiais colombianos, recebendo auxílio de setores do Estado equatoriano.

A brutalidade caracterizou esta ação, sendo ressaltada positivamente pela indústria midiática colombiana que, ao mesmo tempo, se deleitava com a exposição mórbida das fotografias de Raúl Reyes abatido. Juan Manuel Santos, ex-ministro de Defesa colombiana, exibia um sorriso macabro ao dar a notícia, apresentando o cadáver de Raúl como um troféu de guerra.

Todavia, sem se restabelecer dessa dor, a insurgência colombiana se inteirava do assassinato do Comandante Iván Ríos, também membro do Secretariado das FARC-EP, em 3 de março de 2008. Iván foi vitimado por Pedro Pablo Montoya, conhecido como “Rojas”, um homem covarde que, cego pelo dinheiro e pelos “benefícios” que a política de segurança democrática do uribismo oferece aos assassinos e traidores do povo colombiano, disparou um tiro em sua cabeça, assim como na de sua companheira, quando estavam dormindo em seu acampamento.

Após atirar, cortou uma das mãos de Ríos para levar como prova ao exército colombiano, com o propósito de cobrar a recompensa de 5 bilhões de pesos que havia sido oferecido. Uma vez mais, Uribe, Santos e Padilla não podiam esconder sua cara de satisfação frente a este novo golpe contra as FARC-EP. As declarações destes mafiosos através da imprensa eram dadas umas após outras, mostrando uma euforia desmedida, afirmando que a derrota

das FARC era uma questão de pouco tempo.

O êxtase do regime narco-paramilitar de Álvaro Uribe Vélez chegou ao seu clímax quando, no mês de maio, asFARC-EP confirmaram a morte de seu Comandante-em-Chefe, Manuel Marulanda Vélez, de 78 anos, em 26 de

março de 2008, resultado de uma parada cardíaca. Animado com a informação, o criminoso Juan Manuel Santos dava ordem ao exército colombiano de buscar o cadáver de Marulanda, oferecendo uma milionária soma de dinheiro a quem entregasse informações sobre a sua localização.

Esses dias foram muito difíceis e muito tristes para os guerrilheiros das FARC-EP. Porém, pese a campanha da mídia desatada pela propaganda do uribismo, que enfatizava que a insurgência estava desorganizada e desmoralizada, os combatentes colombianos não perderam o rumo traçado desde sua origem para combater em prol da construção da Nova Colômbia. Existia a necessidade de tomarem as medidas necessárias para recomporem-se frente aos revezes e dificuldades sofridas e surgidas como resultado lógico da guerra em que está imerso o povo colombiano, consequência da política criminosa da oligarquia deste país e do imperialismo ianque.

O Comandante Alfonso Cano foi designado como o novo líder das FARC-EP.O ocorrido nesse fatídico mês de março do ano de 2008 para a insurgência colombiana, assim com para todos os revolucionários, não pode ser recordado com melancolia e com base em sentimentalismos que não conduzem à ação transformadora do sistema imperante e da ordem vigente. Porque isso é, precisamente, o que pretendem atingir aqueles que detém o poder através de um sem número de mecanismos de alienação e encenação, entre os quais está a subjugação, por meio do medo da morte e do que aconteceu nas situações passadas, que tiveram resultado negativo para as organizações revolucionárias e seus integrantes.

O revolucionário basco Iñaki Gil de San Vicente disse que “um povo só vive quando mantém vivo as pessoas que morreram para que esse povo vivesse”. Não basta, então, recordar as nossas heroínas e nossos heróis a cada aniversário de sua morte ou tão somente fazer atos em sua homenagem nas datas nas quais morreram. Isso somente provocaria a mumificação ou petrificação de suas ações, de seus pensamentos. As recordações estéreis

são também auspiciadas por aqueles que detém o poder para aproveitarem-se desses momentos com o objetivo de esvaziar a vitalidade dos combatentes revolucionários mortos ou para continuar denegrindo-lhes ou manchando sua i

magem rebelde. Assim, fizeram com Che durante 43 anos.

“Um povo vive na medida em que essa memória seja presente, seja ação, seja prática e não uma mera recordação podre entre os livros”, expressa Iñaki. E acrescenta que um povo só pode viver “se for capaz de manter nas ruas, nas ações e nas mobilizações as contribuições das pessoas que lutaram e morreram, mas não titubearam em enfrentar os maiores riscos para manter suas reivindicações para si e para as gerações futuras. Porque a memória

não é uma coisa somente do passado e sim uma arma carregada de futuro, um instrumento de libertação, de ação”.

Marx assinalou, nas teses sobre Feurbach, a necessidade não só de contemplar a realidade, mas de transformá-la. Para ele, é imprescindível que se repitam os ensinamentos, se usem bonés ou camisetas com as imagens de

revolucionários ou se coloquem cartazes dos combatentes insurgentes nas portas ou paredes das casas e escritórios. Mas não apenas isso.

A práxis revolucionária implica nutrir-se de um corpo teórico adequado para compreender a realidade, não somente para explicá-la ou aprofundar seu conhecimento. O objetivo é, também, buscar transformá-la, modificá-la constantemente, muito mais se essa realidade é de miséria e exploração da maioria da população. Porém, não se trata da ação individual, de uma pessoa sozinha, isolada dos coletivos sociais. Pelo contrário. São os povos e suas diversas organizações que devem levar adiante a tarefa política revolucionária de lutar contra os inimigos do gênero humano: o imperialismo, o sionismo, a burguesia mundial e as oligarquias, para assim alcançar a construção de uma sociedade diferente da capitalista. Nesse processo, os povos não devem esquecer e nem perdoar aqueles que os infringiram dor e sofrimento. As

ações criminosas cometidas por pessoas como Uribe, Santos, Padilla, Bush e seus aparatos militares e paramilitares, não podem ser relegadas ao passado, sem estar presentes na memória dos coletivos sociais.

O propósito é dar impulso à luta revolucionária para acabar, efetivamente, com a política criminal e bélica da oligarquia e do imperialismo. De igual maneira, temos que manter vivos cada um dos feitos cometidos por

criminosos a serviço daqueles que detém o poder na sociedade capitalista, para que, mais cedo ou mais tarde, prestem conta aos tribunais revolucionários.Ao longo destes últimos cinquenta anos, as FARC-EP vêm demonstrando com sua práxis e seus combatentes, como Raúl, Iván e, especialmente, como o “velho querido”, o Comandante Manuel, ser coerente com os princípios que eles estabeleceram para defender o povo, mostrando na prática a firmeza, a decisão, o antiimperialismo e o internacionalismo revolucionário, agora mais vigorosamente, por ter recuperado a espada de combate do Libertador Simón Bolívar.

No segundo ano do assassinato de Raúl Reyes e de Iván Ríos e da morte natural do Comandante-em-Chefe, Manuel Marulanda Vélez, os revolucionários devem praticar a solidariedade militante, ativa e frontal com as FARCEP.O temor, a claudicação, não podem ocupar a mente daqueles que lutam pela construção de um mundo distinto ao imposto pelo sistema capitalista.A oligarquia colombiana e o imperialismo pretendem que os povos do mundo internalizem suas mentiras, repetidas constantemente sobre a insurgência colombiana.É triste escutar muitas personalidades, supostamente progressistas, assim como organizações políticas aparentemente de esquerda, repetir os argumentos defendidos pela propaganda da oligarquia colombiana e do imperialismo ianque sobre as FARC-EP. Essa gente e esses movimentos que jamais estiveram “ao lado do povo que sofre”, no dizer de Che, não merecem nenhuma consideração por parte dos povos que lutam contra seus inimigos, seus exploradores. Não cabem dúvidas de que a propaganda fascista possui um efeito poderoso também em grande parte da população, que é diariamente intoxicada com mentiras a respeito do movimento guerrilheiro colombiano. Por isso, é vital o desmonte desse discurso e fazer as pessoas conhecerem, nos mais diversos espaços, o que realmente é a insurgência colombiana. Ganhar a hegemonia dos mentirosos oligarcas e imperialistas é tarefa fundamental dos revolucionários.

A direita tem isso muito claro. Por isso, Uribe e o fantoche Gabriel Silva, atual ministro de Defesa da Colômbia, deram ordem às suas embaixadas para lançar uma campanha agressiva com o objetivo de denegrir as FARC-EP. Isso ocorreu logo após ser exibido na Argentina o documentário “FARC-EP: a insurgência do século XXI”, onde se apresenta a guerrilha colombiana em sua verdadeira dimensão, como força popular, político-militar, a serviço dos pobres.Guardar silêncio, permanecer escondidos ou sentados comodamente em frente de um computador num escritório de trabalho, não é digno de quem luta por um mundo melhor. A solidariedade, o respaldo à insurgência colombiana, não obstante o conhecimento dos riscos que ela implica, produto da perseguição desatada pelo regime narco-paramilitar dirigido por Uribe, tem que ser a viva voz, como se fez com os revolucionários vietnamitas e

argelinos e como se faz com o povo palestino, vítima dos mais bestiais crimes por parte do Estado sionista de Israel.

Essa solidariedade também deve expressar-se com aqueles que são criminalizados por denunciar as violações dos direitos humanos cometidos pelo regime fascistóide colombiano e por defender a insurgência revolucionária, como é o caso dos jornalistas Jorge Enrique Botero e Dick Emanuelsson, entre outras e outros coerentes comunicadores e intelectuais sociais.

Esse é o melhor tributo à Manuel, Raúl, Iván, Martín Caballero, Efraín Guzmán, como também aos revolucionários que vem sendo capturados e confinados nos cárceres colombianos ou norte-amerianos pelo delito de lutarem pela construção da Nova Colômbia, como Sonia, Simón Trindad ou Iván Vargas.

Bolívar Vive! A Luta Continua!

Juramos vencer, venceremos!

12/03/2010

A história de um valente (1900-1948) - 1ª Parte

Luciano Morais e Roberto Numeriano*

No dia 13 de março de 2010 serão comemorados os 110 de Gregório Lourenço Bezerra. O lendário militante comunista, líder camponês e ex-Sargento do Exercito, será homenageado pela Fundação Dinarco Reis (FDR), onde entregará a medalha que lembra os heróis do povo brasileiro na luta pelo socialismo. A FDR será representada por Ivan Pinheiro e Dinarco Reis, ambos do Comitê Central do PCB, neste Evento que será realizado na Câmara de Vereadores do Recife às 9 horas. A homenagem contará também com a presença do músico paraibano e militante do PCB Vital Farias

Quem foi Gregório Bezerra?

O homem de ferro e flor, expressão criada poeta Ferreira Gullar, em cordel que é hoje um clássico da poesia brasileira, temos a ideia exata do caráter de homem público e de ser humano que era Gregório Bezerra. Gregório começa a autobiografia narrando a seca e a escassez de alimentos que maltratava constantemente os nordestinos, e que o atingiu duramente em sua infância no município de Panelas, “Fui, assim, uma criança gerada com fome no ventre materno. Sim, porque minha mãe passava fome, e eu só podia nutrir-me de suas entranhas enfraquecidas pela fome”.

Quando aos sete anos ficou órfão de pai e mãe, transformou-se em trabalhador rural assalariado. Condição que só foi interrompida quando, aos dez anos, foi trazido por uma família latifundiária para o Recife com a promessa de criá-lo e alfabetizá-lo, promessa que não foi cumprida. Ao invés da escola prometida, o pequeno “Grilo”, como era chamado na infância, tornou-se um escravo mirim: acordava às 4h da manhã, varria, lavava banheiros, encerava pisos e cuidava de animais. Não aceitou este estado de coisas e fugiu. Morou nas ruas do Recife pegando fretes na Estação Central, vendendo jornais e dormindo embaixo da ponte Buarque de Macedo. Trabalhou na construção civil e aos dezessete anos foi preso e condenado a quatro anos por agitação grevista, já influenciado pelos recentes acontecimentos protagonizados pelo proletariado russo.

Os trabalhos no porto do Recife foi sua atividade após a liberdade. E neste período resolveu dedicar-se à carreira militar, entrando no Exercito Brasileiro, onde se destacou nas atividades físicas e na prática de esportes individuais e coletivos. Ao ser humilhado por um colega de farda, ele decide alfabetizar-se. Isso, aos 27 anos. Alfabetizou-se por conta própria, dedicou-se e foi aprovado para Sargento, consagrando-se Sargento-Instrutor em Educação Física.

Sua ascensão militar coincide com a aproximação com o Partido Comunista Brasileiro, o PCB, ainda em 1929. Mas foi por causa da organização da Aliança Nacional Libertadora – ANL, onde foi o principal nome do levante de 1935, liderado pelo Partido Comunista, que Gregório Bezerra foi declarado inimigo nº 1 das oligarquias pernambucanas e das forças armadas. Foi preso e ficou dois anos incomunicável, integrando-se depois aos demais presos políticos da Casa de Detenção do Recife (atual Casa da Cultura). Ali, criou uma sólida e influente base do Partido até sua transferência para o Presídio na ilha de Fernando de Noronha, onde encontrou com vários camaradas insurretos, oriundos do Rio de Janeiro e de outros estados.

Com o final da Segunda Guerra Mundial e o início do movimento pela democratização do país, são postos em liberdade todos os presos políticos e concedida a legalidade ao PCB. Neste período de reformas políticas, o Partido Comunista surge no cenário nacional como uma força significativa, pelo prestígio da URSS ao fim da guerra, pela adesão de vários intelectuais e artistas ao Partido, pelo reconhecimento da classe operária e pelo carisma e admiração em torno de Luiz Carlos Prestes e Gregório Bezerra. Em seguida, a participação nas eleições à Constituinte de 1946 garante ao PCB uma grande representação parlamentar em nível federal, elegendo 15 deputados. Gregório é eleito Deputado Federal com a maior votação em Pernambuco.
A participação de Gregório Bezerra e dos comunistas na Assembléia Nacional Constituinte e no Congresso Nacional durou pouco. Apenas o suficiente para aprovar uma avançada Constituição para época e o suficiente para mostrar o quão frágeis eram e são os conceitos de liberdade e democracia para as oligarquias nacionais, quando os trabalhadores reivindicam seus direitos e questionam a exploração do homem pelo próprio homem...

*Luciano Morais e Roberto Numeriano são membros da Direção Estadual do PCB - Pernambuco.

11/03/2010

PORQUE ADERIMOS AO PCB

Nota Oficial do Coletivo União Comunista
Por UC 10/03/2010 às 19:03
Nosso Coletivo se formou com base na disposição de alguns militantes, em sua maioria rompidos com o PSTU no final dos anos noventa, de resistir ao processo de institucionalização e de capitulação ao regime democrático-burguês das organizações de esquerda no Brasil. Combinada com essa disposição, estava a intenção de batalhar pelo reagrupamento dos revolucionários, necessidade vital ante a ofensiva do capitalismo desde o desmonte da União Soviética. Considerando as condições da conjuntura adversa, as debilidades de um punhado de militantes isolados, podemos dizer que sua trajetória rendeu alguns frutos. Nosso coletivo não se restringiu a discussões internas, manteve uma permanente ação militante, editou panfletos, boletins e até mesmo um jornal regular, O Proletário. Além disso, orientou seus membros no sentido de se estruturar e se organizar junto a nossa classe, animando suas atividades sindicais e culturais. A consciência de que nosso caminho não deveria ser o de construir mais uma seita de esquerda, atrelada a um "messias do marxismo", detentor de todas as respostas, nos levou desde o começo a nos reconhecer enquanto marxistas militantes, portando, comunistas. Reconhecemos e partimos das elaborações e aportes dos nossos dirigentes históricos: Marx, Engels, Lênin, Trotski, Gramsci e Rosa Luxemburgo. Procurando nos afastar, corretamente, dos exclusivismos sectários e reducionistas. Mantendo coerência com essa linha de pensamento, buscamos estabelecer acordos e relações políticas com outras organizações da esquerda comunista. Fizemos parte do movimento que viria a resultar posteriormente na fundação do PSOL, ali defendemos a formação de uma frente de esquerda, em base a um programa mínimo, aberta as organizações e partidos legalizados, onde estes manteriam sua independência organizativa e política, proposta que se viu derrotada ante a intenção majoritária naquele movimento de se constituir enquanto partido meramente eleitoral, nos marcos do regime burguês, fato que nos levou ao afastamento definitivo. Apesar deste revés a UC não esmoreceu, pelo contrário, continuou seu trabalho militante. Orientou-se, então, por um combate permanente contra os desvios sectários e ultra-esquerdistas, adotando, no interior do movimento dos trabalhadores, a proposta de Frente Única de todos aqueles que se colocam no campo da luta contra a ofensiva capitalista. É a partir desse período que, nas lutas dos trabalhadores, nas eleições e nas campanhas antiimperialistas, onde tivemos alguma participação aqui no Rio de Janeiro, verificamos que nossas posições estavam muito próximas das defendidas pelo PCB. A partir desse reconhecimento, procuramos estabelecer relações políticas com este partido, coerentes com nosso objetivo estratégico de reagrupamento dos revolucionários. Esta aproximação culminou com o convite para participarmos do seu XIV Congresso. Nossa compreensão é de que o PCB demonstrou neste XIV Congresso ter o potencial para se transformar no aglutinador da esquerda comunista brasileira. Nos debates que o antecederam, observamos os posicionamentos dos militantes e simpatizantes ter livre acesso à mídia do partido, permitindo a todos tomar conhecimento não só das teses elaboradas pela direção, mas de um conjunto de aportes vindos das mais diversas instâncias partidárias. As teses colocaram em discussão uma rica análise da situação internacional e nacional, avançando também no exame da derrocada do modelo burocrático na URSS e das deformações estalinistas ali produzidas. As conclusões do XIV Congresso apontaram corretamente a caracterização do capitalismo, enquanto sistema global, como principal inimigo do proletariado mundial e conseqüentemente colocando o internacionalismo proletário na ordem do dia. A nível nacional, define o caráter socialista da revolução brasileira, a partir do entendimento de que o capitalismo está plenamente consolidado no Brasil, conduzido por um bloco burguês acoplado de forma umbilical ao imperialismo. O PT no governo cumpre um papel nefasto, demonstrou ser a quinta coluna da burguesia no seio do proletariado, reforçou o predomínio do capital monopolista em aliança com o imperialismo, desmobilizando e contribuindo para fazer retroceder a consciência de classe dos trabalhadores. Como estratégia de combate a esse bloco burguês e seus aliados, o Congresso do PCB levanta a necessidade de se constituir um Bloco Revolucionário do Proletariado para aglutinar as forças políticas e sociais antiimperialistas e anticapitalistas, visando a emancipação dos trabalhadores. Esse Bloco precisa ir além de meras coligações eleitorais, devendo se concretizar nas mais diversas trincheiras da luta de classes. Para nós, da União Comunista, estas são as questões fundamentais. Se temos acordo sobre elas, entendemos que seria um grande equívoco nos mantermos divididos em função de particularidades táticas ou locais. Por estas razões, coerentes com o que sempre defendemos, chegamos à deliberação de dissolver a UC e aderir, como soldados da revolução, ao Partido Comunista Brasileiro.
Viva a União dos Comunistas!
Viva a Revolução Socialista!
Viva o Partido Comunista Brasileiro!
Rio de Janeiro, março de 2010.

10/03/2010

A Difícil volta do Cristão para Casa

Por Mário Maestri em 08/03/2010
Em 1º de março, celebrando os 140 anos do fim da Guerra Grande [1864-70], no Parque Nacional Cerro Corá, onde Francisco Solano López caiu lutando no último ato de resistência, o vice-presidente paraguaio exigiu a devolução do célebre canhão El Cristiano, trazido como botim de guerra ao Brasil, hoje no Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro.
Federico Franco, na presidência devido à viagem de Lugo ao Uruguai, afirmou que o Paraguai “nunca vai cicatrizar a ferida da epopéia de 1865 a 1870 se o Brasil não devolver o arquivo militar que injustificadamente retém hoje, como também o canhão Cristão [...].” Disse esperar que a “mensagem” chegasse a Lula da Silva, para que as devoluções fossem feitas logo, pois considerava “incrível” que o Brasil mantivesse “troféus da guerra”, quando a Argentina e o Uruguai devolveram as últimas recordações daquele excídio. O pedido já fora feito no ano passado.
***
Desde 1810, a pressão expansionista de Buenos Aires forçara o Paraguai, para defender sua independência, a esforço autárquico que manteve e expandiu sua produção artesanal e pequeno-manufatureira, enquanto esses setores eram aniquilados na Argentina, Brasil e Uruguai, pela importação de manufaturados ingleses, de melhor qualidade e preço.
Conscientes da insularidade paraguaia, as autoridades guaranis esforçaram-se em apoiar na medida do possível a defesa do país na produção local de armamentos. Após a morte, em 1840, do dr. José Gaspar Rodriguez de Francia, fundador da nação, o presidente Antônio Carlos López enviara, em 1853-54, o filho à Europa, com, entre outras tarefas, a de contratar técnicos para a modernização do país. Desta modernização fez parte a fundação de siderurgia de El Rozado, em Ybycuí, em 1854, destinada à produção de implementos agrícolas e armamentos. A pequena siderúrgica teria sido levada em 1869 para o Brasil, também como presa de guerra.
Desde o início do confronto, o Paraguai enfrentou a Tríplice Aliança com enorme inferioridade de armamentos. O controle do Plata pela Argentina e pelo Império determinou que os exércitos guaranis lutassem durante quase cinco anos sem receber qualquer armamento do exterior, enquanto sobretudo o Brasil comprava o que havia de melhor na Europa.
Durante a guerra, o Paraguai resistiu galvanizando a produção autóctone. Realizou enorme esforço quanto à fundição de canhões de ferro e bronze que, em parte, funcionavam com granadas lançadas em profusão pela artilharia imperial, já que em boa parte não explodiam.
Como parte deste esforço de guerra, foi fundido em Ybycuí e finalizado no arsenal de Assunção, canhão de doze toneladas, fundido com o cobre de parte dos sinos das igrejas do país, lançando balas esféricas de dez polegadas. O El Cristiano estreou na batalha de Curupaity, em 22 de setembro de 1866, a mais estrondosa derrota da Tríplice Aliança. Mais tarde, com o resto dos sinos e com panelas de cobre, produziu-se outro canhão semelhante, o também famoso El Criollo. Dois outros célebres canhões nascidos da arte paraguaia foram o General Díaz, um fracasso, e o Acã Verá.
El Cristiano foi levado para Humaitá, onde se mostrou, com os demais canhões paraguaios, ineficaz contra os encouraçados imperiais. A fortaleza e duas centenas de canhões, entre eles El Cristiano, foram abandonadas aos inimigos pela guarnição, em inícios de 1868. El Criollo escapou por algum tempo do triste destino do irmão mais velho, sendo capturado com a rendição da defesa de Angostura, em dezembro de 1868.
***
No dia 3 de março, Lula da Silva teria determinado o fim do longo seqüestro de El Cristiano. Sobre os importantes papéis mantidos em sigilo, nada foi dito ou decido.
Tramita na Câmara dos Deputados regulamentação do direito de consulta da documentação pública. Em geral, na Europa e nos USA, o governo pode manter documentos sob sigilo por cinqüenta anos. No Brasil, o Estado mantém a tradição majestática colonial de guardar sob chaves indefinidamente os papéis, quando quer. Nessa situação encontram-se documentos sobre a expansão das fronteiras do Brasil, a Guerra do Paraguai, a ditadura militar, os acordos para a construção de Itaipu.
No projeto de lei, o Estado manteria papéis sob sigilo por até setenta e cinco anos! Proposta que determinaria a publicidade imediata dos documentos sobre a Guerra do Paraguai. E empurraria com a barriga, por alguns anos, os sobre a ditadura e Itaipu. Ambos, assuntos candentes, devido aos crimes de Estado de 1964-85 e às condições impostas pela ditadura brasileira à paraguaia, quando daquele acordo, e às denúncias de mortes e torturas de operários durante as obras da usina.
Parece difícil que as feridas abertas pela guerra cicatrizem-se com a devolução do botim e revelação da documentação. Mais do que a perda territorial e a enorme indenização paga pelo Paraguai, a grande chaga na carne daquela população foi a liquidação da forte comunidade camponesa proprietária e arrendatária, que entregou literalmente a vida combatendo o avanço de invasores. Ela sabia ou intuía que eles chegavam para impor a ordem liberal-latifundiária reinante em suas nações.

(*) Mário Maestri, 61, historiador, é professor do Programa de Pós-Graduação em História da UPF. Sobre o tema, ver, do autor: “A guerra do Paraguai: história e historiografia” (clique aqui). E-mail: maestri@via-rs.net

09/03/2010

8 de março - Manifestação da Intersindical em São Paulo


Manifestação da Intersindical na capital paulista denunciando a tentativa do Governo de aumentar a idade da aposentadoria e os ataques que continuam contra as trabalhadoras nos locais de trabalho.
É a INTERSINDICAL na luta do conjunto da classe trabalhadora por nehum direito a menos e avançar nas conquistas.

08/03/2010

8 DE MARÇO: DIA INTERNACIONAL DE LUTA DAS MULHERES

(Nota Política do PCB)

OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER!

É muito comum encontrarmos pessoas explicando a violência e a opressão às mulheres ou como algo que ocorre desde o princípio da humanidade, sendo natural em todas as sociedades e buscando para isso argumentos dos mais diferentes possíveis, desde religiosos (a mulher é o fruto do pecado) até científicos (existem diferenças biológicas que explicam as atitudes de mulheres e homens); ou que esse processo é produto do capitalismo e aqui, tanto para aqueles que se posicionam à esquerda quanto para a direita, propõem-se soluções reducionistas para a questão de gênero. Mas é preciso dizer ainda que essas formas de encarar a questão podem aparecer muitas vezes compartilhadas e gerar uma confusão ainda maior que tem em si um conteúdo ideológico que não avança em nada a nossa luta. Pelo contrário reproduzem de forma mais intensa e sutil a exploração e a dominação das mulheres.
Assim é necessário esclarecer o terreno sob o qual se coloca a questão de gênero, ou seja, as relações entre homens e mulheres que na nossa perspectiva são construções sociais. A dominação e a exploração sobre as mulheres é um processo que assumiu diferentes formas ao longo da história da humanidade. Se na Grécia Antiga, por exemplo, em Atenas as mulheres não eram consideradas cidadãs dignas de participar da vida política da polis e serviam simplesmente à reprodução biológica da vida, em Esparta as mulheres tinham uma participação diferenciada, pois eram fundamentais na educação e, portanto na reprodução social da vida até os sete anos da criança, já que a cidade priorizava a educação militar. Já na Idade Média as mulheres vão aparecer na cena histórica como bem e passível de negociações econômicas; aparecem também como bruxas e serão caçadas pela Igreja durante a Inquisição, já que detinham conhecimentos adquiridos por conta de sua função social que desafiavam a ideologia dominante naquele momento.
De fato então temos sim a dominação e a exploração das mulheres como algo muito além do capitalismo, porque a primeira divisão do trabalho teve base na divisão sexual do trabalho, entre o homem direcionado à caça e a mulher restrita à reprodução da vida e aos cuidados da “casa”. Entretanto, o capitalismo vai se apropriar de maneira particular desse processo e assimilá-lo como um dos pilares da dominação de classe. O tripé Estado, Igreja e Família dão sustentação particular às relações sociais capitalistas de produção no sentido de garantir a propriedade privada e a acumulação de capital, restringindo às mulheres a uma condição de exploração e dominação ainda maior atualmente sob o véu da igualdade de direitos conquistada com a luta das mulheres durante o século XX. As mulheres agora inseridas do mercado de trabalho reproduzem antigas funções sociais como trabalho (doméstica, profissões ligadas à indústria têxtil e de alimentação) colaborando para a acumulação direta de capital ou ainda indireta nos casos em que ainda restrita ao lar são responsáveis pela reprodução da força de trabalho masculina. Em casos em que houve a feminização de profissões, como com professores e bancários no Brasil, serviu à redução dos salários já que ela participa do mercado de trabalho como Mao de obra barata. Portanto, se por um lado ser inserida no mercado de trabalho foi uma conquista, por outro foi uma forma de intensificar a exploração, articulando, portanto, a dimensão de classe com a dimensão de gênero.
Nesse sentido é importante lembrar que o dia 08 de março foi uma data sugerida por Clara Zetkin, uma comunista Alemã, durante a II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em 1910 em decorrência das inúmeras manifestações que ocorriam no mundo inteiro propunha marcar a luta das mulheres por melhores condições de trabalho, fim da opressão e direito ao voto feminino. Por considerar o contexto histórico de sua criação e de seu desenvolvimento ao longo do século XX, devemos encarar o 08 de março como uma construção da luta das mulheres e não apenas como data comemorativa, bem como não pensá-lo somente como um dia, mas como resultado de um processo que deve ser permanentemente reavaliado entre seus progressos e retrocessos pelas feministas com objetivo de avançar nessa luta.
Mas é preciso lembrar que a luta feminista tem suas vertentes e aqui vamos defender não o feminismo burguês. A democracia burguesa promete e diz garantir a igualdade e a liberdade das mulheres, mas o que vemos na prática é que as mulheres ainda são escravas do trabalho doméstico, seja ele um dever de casa imposto socialmente ou uma profissão de fato; preenchem cada vez mais as fileiras do trabalho precarizado, com poucos ou quase nada de direito por conta dos mecanismos que o capitalismo encontra para explorar a classe trabalhadora (cooperativas, trabalho informal, etc.), se submetendo a salários inferiores aos dos homens nos mesmos cargos e sofrendo constantemente no ambiente de trabalho e nos espaços de organização política assédio sexual e discriminação; são levadas a reproduzir ideologicamente a educação machista e homofóbica que o Estado e as demais instituições sociais difundem por conta de que o processo de socialização é sutil, ao mesmo tempo em que violento; não têm garantido os direitos de reprodução sexual em termos de saúde e educação, seja em casos de prevenção à concepção como em casos de interrupção de gravidez, se submetendo a situações constrangedoras do ponto de vista psicológico e colocando sua vida em risco; são alvo constante de exploração sexual e violência doméstica, bem como estão constantemente expostas à mercantilização de seu corpo.
Enquanto comunistas, não queremos somente a igualdade de direitos. Não queremos que as nossas conquistas se reduzam à questão meramente jurídica, legal. Porque o capitalismo é a exploração do homem pelo homem e, portanto, as questões pertinentes às mulheres se potencializam por conta da dominação de classe. Lutamos pela libertação das mulheres e homens de toda e qualquer forma de dominação, subordinação, opressão, seja ela de gênero, etnia ou opção sexual, porque a nossa luta, guardada sua particularidade, é acima de tudo de classe, é em direção à revolução socialista. Nossa conquista deve ser no sentido de transformações objetivas e subjetivas que garantam a todos e todas as diferenças, sem que estas se traduzam em dominação e subordinação de um pelo outro.
Não compartilhamos também de um feminismo sexista porque não identificamos nosso inimigo no homem, mas sim o queremos nas fileiras não só das lutas de classes, como na luta pelo fim do machismo, da violência e opressão à mulher. Por tudo isso, não defendemos a organização independente de mulheres, sem vinculação partidária ou ideológica: a luta das mulheres é a parte integrante da luta de classes e, portanto, para que seja extinta a exploração sobre seu corpo e sua alma, deve ser uma luta revolucionária: OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER!
A luta das mulheres no século XXI ainda está em construção. Carrega todo o peso da história de luta das mulheres do mundo inteiro. Ainda traz no bojo da luta feminista socialista as mesmas bandeiras táticas protagonizadas pela Segunda Internacional, tais como direito a creche, salários iguais, direito ao aborto legal e seguro, fim da violência doméstica e da exploração sexual, luta pela paz dos povos oprimidos, entre outras. Bandeiras que ainda pertinentes devem ser enquadradas de acordo com o avanço da nossa luta, com a nossa conjuntura atual e com as demandas históricas que se impõem para a classe trabalhadora, ou seja, devem estar no escopo das lutas de classes, pois somente a extinção da dominação de classes promove a emancipação plena da mulher. Essa é uma contribuição inicial e necessária para que possamos garantir que a plena subversão da ordem e a construção de outra sociedade livre da exploração do trabalho pelo Capital, leve no bojo das lutas de classes a luta das mulheres: muito mais do que uma luta de gênero, por demandas específicas perfeitamente possíveis de serem apropriadas como bandeira do Capital, queremos uma luta de classes que supere as desigualdades de gênero imbricadas nas desigualdades de classes. Que se mantenham as diferenças, porque somos diferentes, mas que elas jamais se reproduzam nas nossas lutas em termos de dominação e exploração. É uma luta contra o sectarismo, contra a tentativa de guetizar o específico que é uma luta geral de nossa classe. Uma luta das mulheres e dos homens que devem lutar pela Revolução socialista e feminista.
PCB – Comissão Política Nacional do CC