20/08/2010

ATO POLÍTICO-CULTURAL PELA REFORMA AGRÁRIA EM SÃO PAULO

Dia- sexta-feira (20/8)
Hora- a partir das 13h
Local- Praça da Sé, centro de São Paulo
O MST vem para as cidades nesta semana pedir apoio, mais uma vez, a todos os trabalhadores e trabalhadores em defesa da Reforma Agrária. Queremos apresentar uma proposta de novo modelo para agricultura brasileira, que de fato distribua a terra, ajude a gerar emprego, produzir alimentos de qualidade e a preços acessíveis aos brasileiros.
O Movimento tem como objetivo principal a luta pela democratização da terra. O Brasil tem uma das maiores concentrações de terra do mundo: mais de 43% das terras agricultáveis do país estão nas mãos de 1% de latifundiários (cerca de 50 mil proprietários, enquanto 4 milhões de famílias não tem terra para trabalhar). Nós avaliamos que, para distribuir parte das terras improdutivas, é necessário fazer um processo massivo de Reforma Agrária. Dessa forma, as condições de vida da população das cidades também vai melhorar.
Defendemos uma Reforma Agrária Popular, com a criação de agroindústrias, que possam gerar renda e criar empregos no meio rural, com a construção de escolas e universidades de boa qualidade, possibilitando que a população permaneça no campo e tenha boas condições de vida. A nossa luta incansável faz dos Sem Terra vítimas de uma grande campanha de criminalização da mídia e dos latifundiários por defender a bandeira da divisão da terra . Há uma tentativa de transformar o MST em culpado pelos crimes causados pelo latifúndio do agronegócio.
Nós viemos às cidades e vamos sair às ruas para denunciar o agronegócio pela destruição da natureza, pelo uso de grande quantidade de veneno - que além de destruir o solo envenena a população – e pela expulsão do homem e da mulher do campo. Queremos também denunciar o uso de trabalho escravo nas áreas de produção do agronegócio. Um crime como esse não pode ficar impune e essas terra devem ser distribuídas para a Reforma Agrária.
Ajude a defender a Reforma Agrária. Dividir a terra é contribuir com a melhoria das condições de vida dos trabalhadores do campo e da cidade. Defender a Reforma Agrária é lutar pela preservação do meio ambiente e pelo fim da violência no campo, produzida pelas grandes empresas capitalistas e pelo latifúndio. Participe dessa luta. Vista o boné do MST e ajude a defender essa bandeira, que não é só dos camponeses, é sua também.Viva Reforma Agrária! Viva o povo brasileiro!
VOCÊ DEFENDE A REALIZAÇÃO DA REFORMA AGRÁRIA NO PAÍS?
PARTICIPE!
WWW.MST.ORG.BR

19/08/2010

PLEBISCITO PELO LIMITE DA TERRA

19 Agosto 2010
Frei Betto*
Entre 1 e 7 de setembro o Fórum Nacional da Reforma Agrária e Justiça no Campo promoverá, em todo o Brasil, o plebiscito pelo limite da propriedade rural. Mais de 50 entidades que integram o Fórum farão da Semana da Pátria e do Grito dos Excluídos, celebrado todo 7 de setembro, um momento de clamor pela reforma fundiária em nosso país.
Vivem hoje na zona rural brasileira cerca de 30 milhões de pessoas, pouco mais de 16% da população do país. O Brasil apresenta um dos maiores índices de concentração fundiária do mundo: quase 50% das propriedades rurais têm menos de 10 ha (hectares) e ocupam apenas 2,36% da área do país. E menos de 1% das propriedades rurais (46.911) têm área acima de 1 mil ha cada e ocupam 44% do território (IBGE 2006).
As propriedades com mais de 2.500 ha são apenas 15.012 e ocupam 98,5 milhões de ha: 28 milhões de hectares a mais do que quase 4,5 milhões de propriedades rurais com menos de 100 ha.
Diante deste quadro de grave desigualdade, não se pode admitir que imensas propriedades rurais possam pertencer a um único dono, impedindo o acesso democrático à terra, que é um bem natural, coletivo, porém limitado.
O objetivo do plebiscito é demonstrar ao Congresso Nacional que o povo brasileiro deseja que se inclua na Constituição um novo inciso limitando a propriedade da terra – princípio adotado por vários países capitalistas – a 35 módulos fiscais. Áreas acima disso seriam incorporadas ao patrimônio público e destinadas à reforma agrária.
O módulo fiscal serve de parâmetro para classificar o tamanho de uma propriedade rural, segundo a lei 8.629 de 25/02/93. Um módulo fiscal pode variar de 5 a 110 ha, dependendo do município e das condições de solo, relevo, acesso etc.. É considerada pequena propriedade o imóvel com o máximo de quatro módulos fiscais; média, 15; e grande, acima de 15 módulos fiscais.
Um limite de 35 módulos fiscais equivale a uma área entre 175 ha (caso de imóveis próximos a capitais) e 3.500 ha (como na região amazônica). Apenas 50 mil entre as cinco milhões de propriedades rurais existentes no Brasil se enquadram neste limite. Ou seja, 4,950 milhões de propriedades têm menos de 35 módulos fiscais.
O tema foi enfatizado pela Campanha da Fraternidade 2010, promovida pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Todos os dados indicam que a concentração fundiária expulsa famílias do campo, multiplica o número de favelas e a violência nos centros urbanos. Mais de 11 milhões de famílias vivem, hoje, em favelas, cortiços ou áreas de risco.
Nos últimos 25 anos, 1.546 trabalhadores rurais foram assassinados no Brasil; 422 presos; 2.709 famílias expulsas de suas terras; 13.815 famílias despejadas; e 92.290 famílias envolvidas em conflitos por terra! Foram registradas ainda 2.438 ocorrências de trabalho escravo, com 163 mil trabalhadores escravizados.
Desde 1993, o Grupo Móvel do Ministério do Trabalho libertou 33.789 escravos. De 1.163 ocorrências de assassinatos, apenas 85 foram a julgamento, com a condenação de 20 mandantes e 71 executores. Dos mandantes, somente um se encontra preso, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, um dos mandantes da eliminação da irmã Dorothy Stang, em 2005.
Tanto o plebiscito quanto o abaixo-assinado visam a aprovar a proposta de emenda constitucional (PEC 438) que determina o confisco de propriedades onde se pratica trabalho escravo, bem como limites à propriedade rural. As propriedades confiscadas seriam destinadas à reforma agrária.
Embora o lobby do latifúndio apregoe as “maravilhas” do agronegócio, quase todo voltado à exportação e não ao mercado interno, a maior parte dos alimentos da mesa do brasileiro provém da agricultura familiar. Ela é responsável por toda a produção de verduras; 87% da mandioca; 70% do feijão; 59% dos suínos; 58% do leite; 50% das aves; 46% do milho; 38% do café; 21% do trigo.
A pequena propriedade rural emprega 74,4% das pessoas que trabalham no campo. O agronegócio, apenas 25,6%. Enquanto a pequena propriedade ocupa 15 pessoas por cada 100 ha, o agronegócio, que dispõe de tecnologia avançada, somente 1,7 pessoas.
Mais informações e para assinar abaixo-assinado: www.limitedaterra.org.br
*Frei Betto é escritor, autor de “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org -Twitter:@freibett

18/08/2010

Crescem as evidências de agressão do Irã pelos EUA

Escrito por Virgílio Arraes*
17-Ago-2010

Há poucos dias, a Casa Branca anunciou sua intenção de recolher-se militarmente do Iraque em algumas semanas. A confrontação há muito deixou de justificar-se, uma vez que a derrubada da ditadura de Saddam Hussein teria significado o fim da primazia do Partido Baath, de caráter laico e nacionalista.

A permanência de efetivos estender-se-ia apenas para operações especiais ou de apoio às forças locais. Contudo, a retirada, caso ocorra, não representaria ainda a oportunidade adequada para refletir sobre a natureza de um empreendimento tão equivocado, desde sua primeira proposição, logo após o atentado terrorista de 11 de setembro, e sua posterior execução, em março de 2003.

A razão para isto é o possível direcionamento do aparato bélico norte-americano para outro país da região, o Irã, sob justificativa de interromper o desenvolvimento de suas atividades nucleares que, aos olhos de setores mais conservadores da Casa Branca, seriam de destinação militar. Como conseqüência da possível incursão, haveria a cessação de futuras disputas nucleares naquela área do globo.

Desta maneira, os Estados Unidos procederiam à ação em decorrência de uma atitude prévia do Irã e, assim, torneariam sua responsabilidade de iniciar mais uma confrontação. Em Washington, há muita insatisfação quanto aos resultados efetivos das sanções aplicadas a Teerã.

Outra premissa posta por neoconservadores é a estreita conexão lá entre a belicosidade do processo nuclear e o extremismo do regime político iraniano, de feitio teocrático e aparentemente bastante anti-ocidental, na prática, americanofóbico. A forma por que teria sido conduzida a eleição local de junho de 2008 no Irã reforçaria a expectativa negativa no Ocidente, de acordo com a visão reacionária.

A eliminação de um problema – militar - auxiliaria a transição na solução do outro – político - e, por conseguinte, auxiliaria sobremodo a estabilidade da região médio-oriental e adjacências, bastante abalada por Iraque, Afeganistão e recentemente Paquistão.

No entanto, um eventual ataque, mesmo preciso, a instalações nucleares não limitaria o espectro de uma esperada resposta de Teerã. Além do mais, a investida reduziria o apoio a Washington por parte de seus aliados mais estimados, como Arábia Saudita e Turquia.

Por outro lado, os neoconservadores arriscam que a intervenção em si não causaria muita contestação na opinião pública mundial, mesmo entre os setores mais progressistas, haja vista a inexistência da perspectiva do envio de tropas ou da continuidade dos ataques.

Bisa-se quase o roteiro utilizado no Iraque: a eliminação da ameaça militar, por posse de armas de destruição em massa, desencadearia a da política, representada por uma antiga ditadura secular, inadaptada à nova ordem mundial desde seu princípio.

Naquela oportunidade, setores mais reacionários envolveram a sociedade norte-americana em um enredo formulado de maneira tosca, próximo do improvisado, porém crível a segmentos mais ingênuos, de sorte que se lançaram os dados em uma veloz substituição de regime em Bagdá, favorável ao Ocidente, que suprimiria a lembrança dos obstáculos postos por ramos mais previdentes.

A derrocada do governo iraquiano a princípio proporcionou à Casa Branca otimismo suficiente para alongar a movimentação além da fronteira. Porém, a incapacidade de estruturar a transição de poder arrefeceu a implementação do projeto, ao adiá-la, porém sem nunca arquivá-la.

De todo modo, o resultado da eleição de novembro influenciará a conduta da gestão Obama no tocante ao Oriente Médio. É mais provável que os democratas reduzam seu número de cadeiras na Câmara, mas mantenham a maioria; no Senado, em que a renovação será parcial, trinta e sete de uma centena, a preponderância deverá ser também do governo, apesar do certame ser mais disputado.

De mais a mais, os Estados Unidos deverão abordar com severidade a questão iraniana na abertura da sessão da Assembléia-Geral das Nações Unidas, a partir de setembro, tendo em vista seu público interno. Nela, deverão aludir à ineficácia das sanções com o objetivo de interromper o desenvolvimento do programa nuclear do Irã.

A despeito disso, até lá, Washington almeja obter o nihil obstat de Moscou e Pequim, governos com os quais Teerã tem interesses econômicos, para executar medidas ainda mais rigorosas. As aplicadas já têm dificultado a exploração de novos campos petrolíferos, uma vez que corporações ocidentais têm se recusado a disponibilizar recursos humanos e técnicos, diante do receio de receber penalidades futuras em seus países de origem.

Por fim, sem firmar um posicionamento de não proliferação nuclear de caráter mundial, a iniciativa estadunidense malogrará. Além do mais, a obsolescência dos equipamentos iranianos não permite o enriquecimento necessário do urânio para utilização com fins militares no curto prazo. Portanto, há tempo para conversações, de preferências multilaterais.

*Virgílio Arraes é doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

17/08/2010

Incômoda presença

17 Agosto 2010
Crédito: operamundi.uol.com.br
Colômbia
“Acusado de atrair presença militar dos EUA e de tolerar abusos do Exército, líder colombiano (ex-presidente Álvaro Uribe) reunificou o país e garantiu direitos essenciais”. Essa afirmação da Folha de S Paulo, em editorial de 08/08/2010, mostra bem a displicência com que a mídia brasileira trata o problema colombiano. Primeiro, banaliza uma presença militar de sete bases distribuídas pelo país vizinho, com um aparato bélico que pode alcançar qualquer ponto da América Latina. Depois, chama de abusos do Exército, o Exército de Uribe, as ações militares criminosas que levaram aos cemitérios clandestinos mais de 2.000 jovens camponeses, fuzilados sem piedade para serem exibidos como se fossem guerrilheiros. Uma fossa comum jamais vista na história.
Por outro lado, como nossos jornais podem falar em reunificação do país, quando mais de três milhões de camponeses foram expulsos de suas terras pelas organizações paramilitares, com a cumplicidade do governo? Terras que foram redistribuídas no âmbito das forças de apoio ao uribismo, produzindo os “desalojados”, imensos contingentes de famílias que perambulam pelo país, em busca de sobrevivência. Como falar em garantia dos diretos essenciais diante do cotidiano assassinato de lideranças sindicais no campo e nas cidades? E o que dizer da ampliação do narcotráfico durante o governo Uribe, que levou os EUA a restringir o aporte de dólares para o suposto combate a esse tipo de crime?
A Folha de S Paulo, historicamente submissa aos interesses do expansionismo de Washington, “justifica” aliança da Colômbia com EUA como “também fruto da desarticulação e do desinteresse de governos da região em apoiar o combate à guerrilha”. Como se uma luta de mais de 40 anos entre governo colombiano e guerrilha, também colombiana, devessem ser objeto de apoio externo a um dos lados do conflito, sem que as forças litigantes fizessem qualquer movimento de agressão fora do seu país. A conta fácil da Folha é movida pelo caráter subserviente da imprensa ocidental, pronta a apoiar qualquer ação militar do Império para ocupar mais espaço estratégico na geopolítica internacional. A “justificativa”? A busca de improváveis armas de destruição em massa ou de urânio enriquecido. Ou o combate ao “terrorismo”.
Dez anos do Plano Colômbia, que consumiu mais de 7 bilhões de dólares dos EUA, não foram suficientes para tirar do país o título de maior produtor mundial de cocaína. Uma tese da oposição credita a falta de avanço ao próprio enredamento do presidente Uribe com o narcotráfico. Há pouco, cerca de 60 parlamentares da sua base de apoio sofreram processos e prisões, não escapando nem mesmo um senador primo do próprio presidente. É conhecida dos colombianos a fraternal relação do pai de Álvaro Uribe com o antigo chefão da cocaína, Pablo Escobar, do famoso cartel de Medellín. Tomás Uribe, filho de Álvaro, também está sendo investigado por tráfico de influência.
Ao querer transformar as guerrilhas colombianas em “narcoguerrilhas”, com a ajuda da mídia mal informada ou conivente, Uribe nada mais faz do que tentar esconder que a Presidência, diante do tipo de apoio que lhe sustenta, é uma narcopresidência. E o Congresso Nacional, um espaço propício à movimentação de narcosenadores e narcodeputados, base do uribismo. A imprensa ocidental não costuma fazer uma análise real do problema colombiano. Não sabe dizer porque o governo Bush não conseguiu levar a Colômbia para a Alca, nem porque a Comunidade Européia não quis dar o microfone ao presidente Uribe. O assassinato sistemático de sindicalistas já seria uma boa resposta.
Neste mês de agosto, o informe do Comitê de Direitos Humanos da ONU (1) questionou o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe pela impunidade dos seus paramilitares e de não investigar as execuções extrajudiciais, torturas e desaparecimentos ocorridos em sua gestão. É um documento de nove páginas que recomenda à Colômbia que "cumpra com as obrigações contidas no pacto da ONU e de outros institutos internacionais, como o Estatuto de Roma e a Corte Penal Internacional, e comece a investigar e punir as graves violações de direitos humanos”.
Governos da América Latina, principalmente os vizinhos da Colômbia, como o Brasil, já começam a se incomodar com revelações de ONGs sediadas nos Estados Unidos (2). “Fellowship of Reconciliation” e “Coalición Colombia No Bases” demonstram uma coincidente relação entre o começo das atividades militares estadunidenses com intensas violações dos direitos humanos, como as execuções dos chamados “falsos positivos”, corpos de camponeses mostrados como se fossem de guerrilheiros. Revelações que incomodam governos e não parece incomodar a imprensa.
(1) http://operamundi.uol.com.br/noticias_ver.php?idConteudo=5549&__akacao=297263&__akcnt=e3e82fd2&__akvkey=cb4f&utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=Boletim+Opera+241
(2)http://redjuvenil.org/index.php?option=com_content&view=article&id=393:con-un-revelador-informe-fellowship-of-reconciliation-y-la-coalicion-colombia-no-bases-demuestra-la-relacion-entre-la-cooperacion-militar-norteamericana-y-los-falsos-positivos&catid=2:denuncias

16/08/2010

Em defesa das FARC

Miguel Urbano Rodrigues
16.Ago.10
Neste artigo Miguel Urbano Rodrigues critica a hipocrisia dos grandes do capital ao prestarem homenagem ao actual presidente da Colômbia e lamenta a atitude assumida por Hugo Chávez em Santa Marta. O presidente da Venezuela não foi coerente com a sua politica anti-imperialista. Durante anos sugeriu que às FARC fosse reconhecido o estatuto de organização beligerante; agora cede às pressões de um criminoso como Juan Manuel Santos que vê na guerrilha revolucionaria colombiana um grupo de terroristas.
Em defesa das FARC

Subitamente, em Washington, Londres, Berlim e Paris, uma chuva de elogios caiu sobre a Colômbia. Um Estado policial, neofascista, mascarado de democracia, surgiu nas manchetes dos jornais de referência e no discurso dos estadistas do Ocidente como modelo para a América Latina.
Álvaro Uribe, o presidente que terminou o seu segundo mandato, foi nomeado co-presidente da comissão internacional criada pela ONU para levar adiante o inquérito sobre o ataque israelense à Flotilha da Liberdade. Simultaneamente, a prestigiada universidade de Georgetown, em Washington, convidou-o para dirigir, como catedrático, um curso de formação de dirigentes políticos.
Na posse de Juan Manuel Santos, seu sucessor, compareceram 16 chefes de Estado, na maioria da América Latina. Não faltou o príncipe herdeiro da Espanha. Durante dias o novo presidente foi saudado pelos grandes media ocidentais como um talentoso político democrático com um projecto inovador, decidido a imprimir à Colômbia uma orientação diferente da uribista, introduzindo no país reformas profundas.
Todos estavam conscientes de que mentiam.
O discurso de Santos é diferente, mas a politica de terrorismo de estado vai prosseguir sob os aplausos dos EUA e da oligarquia mais reaccionária da América Latina.
Para a Casa Branca a Colômbia actual é uma democracia quase exemplar. O presidente foi também saudado com particular entusiasmo por Israel, íntimo aliado.
Uma hipocrisia inocultável foi o denominador comum na apologia do herdeiro de Uribe pelos príncipes do capital.
De repente simularam esquecer o currículo de Juan Manuel Santos [1].
O sucessor de Uribe é um aventureiro da política e um criminoso cujas palavras mansas escondem um passado tenebroso.
JMS foi o principal responsável, como ministro da Defesa, do ataque pirata da força aérea e do exército colombianos ao acampamento de Sucumbio no Equador, realizados com a cumplicidade do Pentágono, da CIA e da Mossad isrealense em Fevereiro de 2008. Nesse bombardeamento morreram o comandante Raul Reyes, responsável pelas Relações Exteriores das Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia - Exército Popular, duas dezenas de combatentes da organização, e três jovens mexicanos que ali se encontravam.
O presidente do Equador, Rafael Correa, respondeu ao acto de barbárie rompendo as relações com o governo de Bogotá e a Justiça equatoriana exigiu a extradição de Juan Manuel Santos para ser julgado como primeiro responsável pelo crime. O processo não foi avante porque Uribe alegou incompetência do tribunal do Equador para julgar o seu ministro.
Transcorrido um ano, tive a oportunidade de falar em Caracas com um jovem que assistiu ao bombardeamento e à posterior descida no acampamento de tropas aerotransportadas. Não esqueci o relato que ele fez da matança dos guerrilheiros, feridos, que tinham sobrevivido ao bombardeamento. Contrariamente ao que os media noticiaram, morreram combatendo.
O processo foi agora arquivado porque, sendo chefe de Estado, JMS goza de impunidade, mas julgo útil recordar que ele se orgulha de ter sido o autor intelectual da chacina de Sucumbio.O ALVO: AS FARC-EP
Dos presidentes do México, do Peru, do Chile eram esperadas as homenagens a Santos.
Mas, estranhamente, presidentes como Lula, Cristina Kirchner, Mauricio Funes e Fernando Lugo não somente aderiram ao coro de elogios como manifestaram o seu apoio à chamada política de «segurança democrática» iniciada por Uribe e cuja continuidade foi defendida pelo novo presidente.
Mais, aproveitaram a oportunidade para criticar as organizações insurgentes e sugerir que as FARC-EP e o ELN abandonem a luta e se integrem no sistema, aceitando dialogar com Santos nas bases por este definidas.
Particularmente inesperada foi a posição assumida por Hugo Chávez. O presidente da Venezuela deslocou-se a Santa Marta, no Caribe colombiano, e, na casa onde Bolívar faleceu, trocou abraços com Santos, assinou acordos e assumiu compromissos que, pela forma e pelo conteúdo são chocantes.
Compreende- se que Chávez pretenda normalizar as relações com a Colômbia após a ruptura resultante da ultima provocação de Uribe (2). Mas usou uma linguagem muito infeliz ao referir-se às organizações revolucionárias que combatem o estado neofascista colombiano, sugerindo na prática que se submetam às exigências de JMS. Colocou as FARC-EP e o ELN no mesmo plano dos bandos criminosos do paramilitarismo e dos cartéis do narcotráfico.
AS FARC têm afirmado repetidamente a sua disponibilidade para dialogar com o governo sobre a necessidade de paz no país.
Mas qual é o conceito de dialogo de Santos, exaustivamente exposto durante a campanha eleitoral e no seu discurso de posse?
Três são as suas condições para o diálogo com as FARC:
Deposição prévia das armas; libertação imediata de todos os presos em seu poder; e «renúncia ao narcotráfico».Que significam essas exigências?
Que Santos não quer dialogar; exige, sem o dizer expressamente, a capitulação incondicional das FARC-EP.
Se a guerrilha depusesse as armas previamente, ficaria à mercê do Poder oligárquico.
Cabe lembrar o genocídio político dos anos 80.
Em Março de 1984 as FARC aceitaram a proposta do presidente Belisario Bettencourt para lutarem no quadro das instituições ditas democráticas, renunciando à luta armadas. E que aconteceu?
Fundou-se um partido progressista, a União Patriótica, que participou em eleições. A UP elegeu muitos senadores, deputados, autarcas. A resposta do Poder foi uma repressão política bárbara. Em três anos foram assassinados mais de 3.000 parlamentares, juízes, autarcas, dirigentes sindicais, supostamente ligados às FARC, num genocídio político sem precedentes.
Para sobreviverem, as FARC retomaram a luta armada.
Até a questão dos prisioneiros é colocada capciosamente por Santos. Reclama tudo sem oferecer nada em troca.
Pessoalmente, desaprovo os sequestros. Mas não posso ignorar que o governo mantém nos seus presídios, em condições sub humanas, milhares de guerrilheiros. E recusa-se ao intercâmbio humanitário, isto é, a libertação de uma parte desses presos, trocando-os por «reféns» – a maioria dos quais militares capturados em combate – em poder das FARC-EP.
Nas fossas de La Macarena, na Amazónia, recentemente descobertas, foram encontradas as ossadas de milhares de cidadãos assassinados pelo Exército da oligarquia durante as perseguições contra pessoas suspeitas de ligações com a União Patriótica e as FARC-EP.
Como confiar na palavra de Juan Manuel Santos, o responsável pela chacina de Sucumbio?
Estou certo de que Chávez não tardará a arrepender-se de haver acreditado na promessa de uma relação «transparente, democrática e respeitosa» feita por um politico corrupto e criminoso que, inevitavelmente, vai dar continuidade à estratégia agressiva e de ultra direita imposta por uma oligarquia de cujos interesses é o representante na Casa de Nariño.
Surpreende também que, sendo hoje Hugo Chavez na América Latina o pioneiro, quase o motor, da contestação ao imperialismo – pelo que merece o apoio e admiração das forças progressistas do Continente – não tenha levantado em Santa Marta o tema da instalação de 7 novas bases militares dos EUA na Colômbia. Esquecendo que na UNASUL afirmou que essas bases configuram uma ameaça inadmissível à independência dos povos da América Latina, afirmou que cada país tem o direito soberano de decidir sobre problemas como esse.
HERÓIS DA AMÉRICA LATINA
Inspira-me repugnância a terminologia utilizada pelo governo e o Exército da Colômbia para designar as FARC-EP, terminologia alias perfilhada pela ONU, pela União Europeia e os media dos EUA e da Europa.
Alem de terroristas é lhes colado o anátema de narcotraficantes.
O slogan «guerrilha do narcotráfico» – expressão forjada por um ex embaixador dos EUA, Louis Stamb, ligado ao Pentágono e à CIA – para desacreditar as FARC, difundido urbi et orbi atingiu o seu objectivo tão amplamente que inclusive intelectuais comunistas assimilaram a calúnia. A campanha é de tal intensidade que canais de televisão e jornais se referem rotineiramente a «fábricas de cocaína» instaladas pelas FARC na selva amazónica.
Tivessem as FARC acumulado milhões com o narcotráfico e disporiam de mísseis terra-ar como as organizações de resistentes no Afeganistão e no Iraque. Ora o próprio governo de Bogotá reconhece que elas não dispõem de armamento desse tipo. Mas somente aqueles que conhecem as condições de pobreza em que vivem na clandestinidade os representantes das FARC no exterior – é o meu caso – sabem que o folhetim da «guerrilha do narcotráfico» é uma perversa invenção do imperialismo.
A vida abriu-me a oportunidade de passar semanas num acampamento das FARC, no Departamento amazónico do Meta. Nesses dias conheci combatentes maravilhosos como Simon Trinidad, entregue por Uribe aos EUA e actualmente preso ali após três julgamentos de farsa (dois foram anulados). Condenaram-no finalmente por narcotraficante, a ele, ex banqueiro, membro de uma rica família aristocrática.
Foi também então que construí uma relação de respeito e admiração que evoluiu para a amizade com o comandante Raul Reyes. Mantivemos contacto até que o assassinaram em Sucumbio, a sul do Putumayo, no bombardeamento pirata concebido por Juan Manuel Santos.
Com Manuel Marulanda, o fundador das FARC, falei uma única vez por breves minutos. Mas guardo desse revolucionário, comunista exemplar e estratego militar talvez sem par na História da América, uma lembrança inesquecível.
Quando leio acusações infames contra os combatentes das FARC recordo sobretudo Rodrigo Granda, aliás Ricardo González, amigo fraternal e um dos revolucionários mais puros e autênticos que a vida me permitiu conhecer.
Recordando combatentes das FARC-EP, mortos, presos ou lutando nas montanhas e selvas do seu país, é natural, repito, que me inspirem repugnância os elogios hipócritas a um criminoso como Juan Manuel Santos.
É a esse ser abjecto que a burguesia internacional rende nestes dias homenagens enquanto despeja calúnias sobre os comandantes das FARC que se batem por uma Colômbia livre e democrática.
Uma certeza: os nomes de Uribe e Santos e da escória humana que os apoia serão esquecidos pelas futuras gerações.
Não os de Manuel Marulanda, Jacobo Arenas, e Raul Reyes. Com o passar dos anos, a calúnia deixará de os atingir. Eles contribuíram para a construção da História profunda, na fidelidade a valores permanentes da condição humana. Assumiram os ideais pelos quais viveram e se bateram heróis tutelares da Latina como Bolívar, Artigas, Marti.
Notas:
1. Juan Manuel Santos pertence a uma das famílias mais influentes da oligarquia colombiana. Seu tio avô, Eduardo Santos, foi Presidente da República e director e proprietário de El Tiempo, um dos principais diários da América Latina. Foi ministro da Indústria, da Fazenda e da Defesa em vários governos, tendo desempenhado um papel importante na destruição da Segurança Social ao impor o modelo pinochetiano. Opôs-se inicialmente à reeleição de Uribe, mas depois fundou o partido, La U, que o apoiou e reelegeu.
Manteve muitos contactos com Carlos Castaño, o falecido chefe dos paramilitares e com Pablo Escobar, o rei da cocaína, também falecido.
2. A Colômbia foi nos últimos anos o principal parceiro económico da Venezuela após os EUA (7.000 mil milhões de dólares de intercambio comercial em 2008). Nos departamentos fronteiriços vivem centenas de milhares de colombianos, sobretudo camponeses, e essa comunidade cumpre um papel fundamental na agricultura venezuelana.
V N de Gaia, 12 de Agosto de 2010