10/10/2009

Esclarecimentos sobre últimos episódios

Diante dos últimos episódios que envolvem o MST e vêm repercutindo na mídia, a direção nacional do MST vem a público se pronunciar.

1. A nossa luta é pela democratização da propriedade da terra, cada vez mais concentrada em nosso país. O resultado do Censo de 2006, divulgado na semana passada, revelou que o Brasil é o país com a maior concentração da propriedade da terra do mundo. Menos de 15 mil latifundiários detêm fazendas acima de 2,5 mil hectares e possuem 98 milhões de hectares. Cerca de 1% de todos os proprietários controla 46% das terras.

2. Há uma lei de Reforma Agrária para corrigir essa distorção histórica. No entanto, as leis a favor do povo somente funcionam com pressão popular. Fazemos pressão por meio da ocupação de latifúndios improdutivos e grandes propriedades, que não cumprem a função social, como determina a Constituição de 1988.

A Constituição Federal estabelece que devem ser desapropriadas propriedades que estão abaixo da produtividade, não respeitam o ambiente, não respeitam os direitos trabalhistas e são usadas para contrabando ou cultivo de drogas.

3. Também ocupamos as fazendas que têm origem na grilagem de terras públicas, como acontece, por exemplo, no Pontal do Paranapanema e em Iaras (empresa Cutrale), no Pará (Banco Opportunity) e no sul da Bahia (Veracel/Stora Enso). São áreas que pertencem à União e estão indevidamente apropriadas por grandes empresas, enquanto se alega que há falta de terras para assentar trabalhadores rurais sem terras.

4. Os inimigos da Reforma Agrária querem transformar os episódios que aconteceram na fazenda grilada pela Cutrale para criminalizar o MST, os movimentos sociais, impedir a Reforma Agrária e proteger os interesses do agronegócio e dos que controlam a terra.

5. Somos contra a violência. Sabemos que a violência é a arma utilizada sempre pelos opressores para manter seus privilégios. E, principalmente, temos o maior respeito às famílias dos trabalhadores das grandes fazendas quando fazemos as ocupações. Os trabalhadores rurais são vítimas da violência. Nos últimos anos, já foram assassinados mais de 1,6 mil companheiros e companheiras, e apenas 80 assassinos e mandantes chegaram aos tribunais. São raros aqueles que tiveram alguma punição, reinando a impunidade, como no caso do Massacre de Eldorado de Carajás.

6. As famílias acampadas recorreram à ação na Cutrale como última alternativa para chamar a atenção da sociedade para o absurdo fato de que umas das maiores empresas da agricultura - que controla 30% de todo suco de laranja no mundo - se dedique a grilar terras. Já havíamos ocupado a área diversas vezes nos últimos 10 anos, e a população não tinha conhecimento desse crime cometido pela Cutrale.

7. Nós lamentamos muito quando acontecem desvios de conduta em ocupações, que não representam a linha do movimento. Em geral, eles têm acontecido por causa da infiltração dos inimigos da Reforma Agrária, seja dos latifundiários ou da policia.

8. Os companheiros e companheiras do MST de São Paulo reafirmam que não houve depredação nem furto por parte das famílias que ocuparam a fazenda da Cutrale. Quando as famílias saíram da fazenda, não havia ambiente de depredações, como foi apresentado na mídia. Representantes das famílias que fizeram a ocupação foram impedidos de acompanhar a entrada dos funcionários da fazenda e da PM, após a saída da área. O que aconteceu desde a saída das famílias e a entrada da imprensa na fazenda deve ser investigado.

9. Há uma clara articulação entre os latifundiários, setores conservadores do Poder Judiciário, serviços de inteligência, parlamentares ruralistas e setores reacionários da imprensa brasileira para atacar o MST e a Reforma Agrária. Não admitem o direito dos pobres se organizarem e lutarem.

Em períodos eleitorais, essas articulações ganham mais força política, como parte das táticas da direita para impedir as ações do governo a favor da Reforma Agrária e "enquadrar" as candidaturas dentro dos seus interesses de classe.

10. O MST luta há mais de 25 anos pela implantação de uma Reforma Agrária popular e verdadeira. Obtivemos muitas vitórias: mais de 500 mil famílias de trabalhadores pobres do campo foram assentados. Estamos acostumados a enfrentar as manipulações dos latifundiários e de seus representantes na imprensa.

À sociedade, pedimos que não nos julgue pela versão apresentada pela mídia. No Brasil, há um histórico de ruptura com a verdade e com a ética pela grande mídia, para manipular os fatos, prejudicar os trabalhadores e suas lutas e defender os interesses dos poderosos.

Apesar de todas as dificuldades, de nossos erros e acertos e, principalmente, das artimanhas da burguesia, a sociedade brasileira sabe que sem a Reforma Agrária será impossível corrigir as injustiças sociais e as desigualdades no campo. De nossa parte, temos o compromisso de seguir organizando os pobres do campo e fazendo mobilizações e lutas pela realização dos direitos do povo à terra, educação e dignidade.

São Paulo, 9 de outubro de 2009

DIREÇÃO NACIONAL DO MST

09/10/2009

O legado de Che

8 de outubro de 2009
Por João Pedro Stedile*
Em 8 de outubro cumpre-se o aniversário do assassinato de Che Guevara pelo exército boliviano. Após sua prisão, em 8 de outubro de 1967, foi executado friamente, por ordens da CIA. Seria ''muito perigoso'' mantê-lo vivo, pois poderia gerar ainda mais revoltas populares em todo o continente.
Decididamente, a contribuição de Che, por suas idéias e exemplo, não se resume a teses de estratégias militares ou de tomada de poder político. Nem devemos vê-lo como um super-homem que defendia todos os injustiçados e tampouco exorcizá-lo, reduzindo-o a um mito.
Analisando sua obra falada, escrita e vivida, podemos identificar em toda a trajetória um profundo humanismo. O ser humano era o centro de todas as suas preocupações. Isso pode-se ver no jovem Che, retratado de forma brilhante por Walter Salles no filme Diários de Motocicleta, até seus últimos dias nas montanhas da Bolívia, com o cuidado que tinha com seus companheiros de guerrilha.
A indignação contra qualquer injustiça social, em qualquer parte do mundo, escreveu ele a uma parente distante, seria o que mais o motivava a lutar. O espírito de sacrifício, não medindo esforços em quaisquer circunstâncias, não se resumiu às ações militares, mas também e sobretudo no exemplo prático. Mesmo como ministro de Estado, dirigente da Revolução Cubana, fazia trabalho solidário na construção de moradias populares, no corte da cana, como um cidadão comum.
Che praticou como ninguém a máxima de ser o primeiro no trabalho e o último no lazer. Defendia com suas teses e prática o princípio de que os problemas do povo somente se resolveriam se todo o povo se envolvesse, com trabalho e dedicação. Ou seja, uma revolução social se caracterizava fundamentalmente pelo fato de o povo assumir seu próprio destino, participar de todas as decisões políticas da sociedade.
Sempre defendeu a integração completa dos dirigentes com a população. Evitando populismos demagógicos. E assim mesclava a força das massas organizadas com o papel dos dirigentes, dos militantes, praticando aquilo que Gramsci já havia discorrido como a função do intelectual orgânico coletivo.
Teve uma vida simples e despojada. Nunca se apegou a bens materiais. Denunciava o fetiche do consumismo, defendia com ardor a necessidade de elevar permanentemente o nível de conhecimento e de cultura de todo o povo. Por isso, Cuba foi o primeiro país a eliminar o analfabetismo e, na América Latina, a alcançar o maior índice de ensino superior. O conhecimento e a cultura eram para ele os principais valores e bens a serem cultivados. Daí também, dentro do processo revolucionário cubano, era quem mais ajudava a organizar a formação de militantes e quadros. Uma formação não apenas baseada em cursinhos de teoria clássica, mas mesclando sempre a teoria com a necessária prática cotidiana.
Acreditar no Che, reverenciar o Che hoje é acima de tudo cultivar esses valores da prática revolucionária que ele nos deixou como legado.
A burguesia queria matar o Che. Levou seu corpo, mas imortalizou seu exemplo. Che vive! Viva o Che!
* Integrante da coordenação nacional do MST e da Via Campesina.

08/10/2009

A OCUPAÇÃO DA FAZENDA EM BOREBI-SP: 5000 PÉS DE LARANJA VALEM MAIS QUE MILHARES DE VIDAS!

Por: Eduardo Camilo Camilo
Em novembro de 2004 quando militava no coletivo de DH do MST-SP e advogava no Centro de Direitos Humanos Evandro Lins e Silva de Presidente Prudente-SP fui atá a cidade de Iaras-SP numa ocupação semelhante a que ocorre agora na cidade de Borebi.Não era uma fazenda da Cutrale mas a propriedade se dizia produtiva, na ação alguns trabalhaores rurais sem terra foram levados à delegacia para "averiguação" e eu me desloquei de Pirajuí-SP onde estava passando o final de semana com a família para a delegacia de Iaras (150 km)onde pude realizar a soltura dos companheiros que se encontravam detidos.Da delegacia rumamos para a fazenda ocupada por cerca de 500 famílias. O cerco policial era grande e tentaram impedir minha entrada, porém fui liberado após uma longa negociação. Ao amanhecer do dia cerca de 250 policiais da cavalaria e tropa de choque estavam no local pra realizar a desocupação da área (hoje isso se repete na fazenda de Borebi: PM chega à fazenda invadida por MST para cumprir reintegração de posse) após um dia inteiro de negociações conseguimos deixar a fazenda sem violência por parte da PM mas tudo isso depois de várias ameaças de prisão e do uso da força.A região de Iaras, assim como a região de Araçatuba (ambas no interior de SP) é uma área de terras devolutas federais que ao longo do tempo foram griladas por latifundíos e que hoje pertencem fraudulentamente a empresas do agronegócio que produzem especialmente cana, laranja e criam gado extensivamente. Desta forma a ocupação dessas terras pelo povo nada mais é do que uma retomada justa, não cabe aqui o argumento da produtividade já que a posse da área é ilegal baseada em documentos que carecem de autenticidade e que estão sendo objeto de ações judiciais para anulação.A mídia transformou a ação numa bandeira de luta contra o movimento, e por que? Por um trator ter derrubado pouco mais de 5000 pés de laranja? Não! a mídia ataca os trabalhadores pois eles tiveram a coragem revolucionária de arrancar da terra o câncer da monucultua do agronegócio e substituí-lo pela vida representada pelas sementes de feijão e milho. O que doí na mídia e no setor dominante não são míseros 5000 pés de laranja (só esta fazenda tem 1 milhão de pés) mas sim a constatação de que os trabalhores não caem mas no conto da carochinha do agronegócio que paga salários de miséria, mata trabalhadores de cansaço e ainda expulsa os pequenos agircultores de suas áreas (em São Paulo existe uma lei que permite à Cutrale e outras empresas do ramo invadir a casa de qualquer cidadão para cortar os pés de laranja e limão que estes por ventura tenham em suas casas, tudo isso, segundo a lei, em nome de uma defesa fitosanitária contra o cancro cítrico, para mim mas uma forma de expropriar o povo de suas riquezas de biodiversidade e alimentos).A mídia se escandaliza com pés de laranja sendo cortados e não se cansa de passar o mesmo filme do trator no laranjal, porém não deu qualquer notícia de cinco segundos da violência que sofreu a comunidade Apykay, do povo Guarani Kaiowá, que vivia em um acampamento às margens da BR-483, próximo ao município de Dourados, Mato Grosso do Sul, quando em 18/09 jagunço armados queimaram as casas e feriram um indígena a tiros (fato denunciado aqui no AZUL MARINHO COM PEQUI.), o episódio só foi para mída quatro dias depois do ocorrido por conta de uma denúncia colocada na rede mundial de computadores por uma ONG internacional, mesmo assim não mereceu qualquer destaque, apenas uma breve chamada.O INCRA, que trava batalha judicial pela área, presta um desfavor à luta do povo quando condena a ocupação desligitimando a luta em nome de uma estabilidade social e do respeito à propriedade privada. Propriedade esta que não foi respeitada pelos grileiros quando plantaram 1 milhões dé pés de laranja em terras da União e estabilidade social que mata, escraviza e mutila os trabalhadores da indústria de sucos do interior de São Paulo.Arrancar pés de laranja para plantar comida não é crime, crime é se deixar milhares de hectares de terras públicas na mão de grileiros que plantam para os gringos e seus animais comerem enquanto nossa população morre de fome, fome de comida e fome de JUSTIÇA!

07/10/2009

Cutrale usa terras griladas em São Paulo

6 de outubro de 2009
Cerca de 250 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) permanecem acampadas desde a semana passada (28/09), na fazenda Capim, que abrange os municípios de Iaras, Lençóis Paulista e Borebi, região central do Estado de São Paulo. A área possui mais de 2,7 mil hectares, utilizadas ilegalmente pela Sucocítrico Cutrale para a monocultura de laranja - o que demonstra o aumento da concentração de terras no país, como apontou recentemente o censo agropecuário do IBGE.
A área da fazenda Capim faz parte do chamado Núcleo Monções, um complexo de 30 mil hectares divididos em várias fazendas e de posse legal da União. É nessa região que está localizada a fazenda da Cutrale, e onde estão localizadas cerca de 10 mil hectares de terras públicas reconhecidas oficialmente como devolutas, além de 15 mil hectares de terras improdutivas.
A ocupação tem como objetivo denunciar que a empresa está sediada em terras do governo federal, ou seja, são terras da União utilizadas de forma irregular pela produtora de sucos. Além disso, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já teria se manifestado em relação ao conhecimento de que as terras são realmente da União, deacordo com representantes dos Sem Terra em Iaras.
Como forma de legitimar a grilagem, a Cutrale realizou irregularmente o plantio de laranja em terras da União. A produtividade da área não pode esconder que a Cutrale grilou terras públicas, que estão sendo utilizadas de forma ilegal, sendo que, neste caso, a laranja é o símbolo da irregularidade. A derrubada dos pés de laranja pretende questionar agrilagem de terras públicas, uma prática comum feita por grandes empresas monocultoras em terras brasileiras como a Aracruz (ES), Stora Enzo (RS), entre outras.
O local já foi ocupado diversas vezes, no intuito de denunciar a ação ilegal de grilagem da Cutrale. Além da utilização indevida das terras, a empresa está sendo investigada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo pela formação de cartel no ramo da produção de sucos, prejudicando assim os pequenos produtores. A empresa também já foi autuada inúmeras vezes por causar impactos ao ecossistema, poluindo o meio ambiente ao despejar esgoto sem tratamento em diversos rios. No entanto, nenhuma atitude foi tomada em relação a esta questão.
Há um pedido de reintegração de posse, no entanto as famílias deverão permanecer na fazenda até que seja marcada uma reunião com o superintendente do Incra, assim exigindo que as terras griladas sejam destinadas para a Reforma Agrária. Com isso, cerca de 400 famílias acampadas seriam assentadas na região. Há hoje, em todo o estado de SãoPaulo, 1,6 mil famílias acampadas lutando pela terra. No Brasil, são 90 mil famílias vivendo embaixo de lonas pretas.
Direção Estadual do MST-SP

06/10/2009

Bolívia: conjuntura às vésperas das eleições

Esta é uma pequena reflexão sobre a situação atual da Bolívia, feita as pressas, consultando só a memória e sem muita pretensão, porém espero que ajude os camaradas a refletirem sobre o processo que passa o país, e além disso que gere dúvidas, e que me enviem para que possamos refletir conjuntamente na melhor tradição comunista.
Abraços,
Denis Wolpert
Todas as pesquisas demonstram que o MAS, liderado pela dupla Morales e Linera, vai ganhar ainda mais espaço depois das eleições de 06 de dezembro. Até os jornais controlados pela oposição afirmam que Evo vai se reeleger com tantos votos quando do referendo revogatório, ou até mais, o MAS vai ganhar mais assentos para deputados e senadores, que resultará numa maioria absoluta no parlamento e o controle do Senado, que até então estava nas mãos da oposição e era o principal bastião de resistencia institucional da direita. Legal, tudo indica que o processo de 'cambio' vai se aprofundar. Fácil não?!
Não. A direita está rachada. Existem os burgueses que caminham pela negociação tentando seduzir a esquerda, para que está não vá muito longe, e dessa forma que eles tenham seu lugar ao Sol na nova ordem e existem aqueles que não querem negociar. Querem a guerra.
Os dois principais candidatos de oposição a Evo Morales representam bem essas oposições. Um candidato, Samuel Doria Medina, empresário, industrial, branco, dona da filial da rede de fastfood King Burguer na Bolívia (o povo aqui parece não gostar de MacDonalds, não vi nenhum até agora), dono de uma das maiores fábricas de cimento da Bolívia, entre outras coisas mais, representa a direita que tenta negociar, faz oposição, mas não parece querer 'rachar', está em terceiro lugar nas pesquisas e é duramente atacado pela direita 'linha-dura', o acusam de cumprir um papel para a esquerda, dando legitimidade ao jogo político institucional que está sendo guiado pelo MAS.
O outro é Manfred Reyes Villa, ex-capitão do Exército, estudou na famosa School of Americas, onde também foi formado Augusto Pinochet, tem a cara do deputado escravagista de Santos, Beto Mansur (na época do bigode) e fala agressiva. Depois de ser derrotado no referendo revogatório que o tirou do governo de Cochabamba conseguiu o feito de se tornar o principal líder de oposição, através do exercício de tensionamento político, e ao que parece vai exercitar ainda mais. Na época que era prefeito (governador, aqui as coisas são um pouco distintas) de Cochabamba, Manfred comprou 20 carros para o governo, e mandou blindar todos eles, para contextualizar os brasileiros: aqui não é São Paulo, nem Rio de Janeiro no quesito violência urbana. Não acontecem assaltos a mão armada nem com metade da freqüência que acontecem no Brasil (detalhe que com toda violência que existe no Brasil os governadores não mandam blindar os carros públicos). O que será que Manfred estava prevendo quando comprou carros blindados? Bem, além disso Manfred escolheu como seu candidato a vice Leopoldo Fernandez, ex-governador de Pando, que está numa penitenciaria por ter sido responsável pela morte de dezenas de campesinos nos conflitos de setembro de 2008, no qual os departamentos da "meia-lua" (Pando, Beni, Santa Cruz, Chuquisaca) queriam se separar do resto da Bolívia. A escolha de Manfred demonstra o caminho que ele pretende seguir: confrontação e violência.
Enquanto isso diversos pequenos grupos de direita se organizam. No começo do ano o governo desbaratou um grupo internacional, paramilitar, terrorista, de extrema-direita, armado até os dentes, que estavam em Santa Cruz, o líder do grupo Eduardo Rozsa Flores, hungaro-boliviano, lutou na guerra da Bósnia, antes de vir a Bolívia deu uma entrevista em seu país dizendo que vinha para libertar Santa Cruz, eliminar o perigo comunista, e que a entrevista só era para ser publicada se ele fosse bem sucedido ou morto. Como ele foi morto, a entrevista foi publicada, e assim descobriu-se que estavam preparando um exército irregular de cerca de 1000 pessoas para lutar pela 'libertação' de Santa Cruz. Além disso, grupos como a Falange Socialista Boliviana, de matiz fascista voltou a se organizar, assim como alguns pequenos grupos de neonazistas, que juntos com a União da Juventude Cruceña, passam a formar uma espécie de tropa de choque da direita para futuros confrontos. A diferença de pequenos grupos radicais de direita e pequenos grupos radicais de esquerda, é que a direita costuma ter recursos, muitos recursos, e acessos, acessos a pessoas grandes e influentes, como comandantes da polícia, oficiais das forças armadas, entre outros, o que torna a situação perigosa.
Um ponto final a ser levado em consideração é que os 'originários' da Bolívia, apesar de terem uma índole bastante rebelde parecem avessos ao modo de guerrear dos europeus, um indício disso é que foram derrotados em todas as guerras que travaram até hoje e que não parecem dominar ferramentas básicas da guerra como a ordem unida e a disciplina. Em contrapartida, a maioria dos grupos de direita são encabeçados por pessoas de direita que deixaram o leste europeu devido ao socialismo. E os povos do leste europeu costumam saber guerrear. E aqui parece que a direita leva isso em conta ao analisar a correlação de forças: existe um acumulo, uma experiência militar; existem recursos (eles ainda detém o poder econômico); existe apoio no plano internacional (alguém tem dúvidas que se eles precisarem, os EUA, Israel, Taiwan, Colômbia, Peru e cia ltda, ajudam) isso é eles tem crédito para comprar armamentos, pronta entrega e pontualidade na entrega (cai de pára-quedas no dia seguinte ao pedido), treinamento para o uso, e tudo aquilo que a gente vê passar em estados conflagrados ou que vimos no passado.
Vejam, esse ultimo ponto é só para reforçar que existe sim uma possibilidade grande de estourar o barril aqui na Bolívia, e que a meu ver, a direita está se preparando para isso. Se a esquerda vai estar preparada para fazer frente, essa é outra história.
PS.: Os grupos de esquerda não estão se preparando para esse 'combate', se apóiam no fato que o MAS tem a lealdade das forças armadas... bem, Salvador Allende também acreditava em Pinochet... além disso, que esperar de um Exército no qual a maioria de seus altos oficiais estudaram nos Estados Unidos devido a quantidade de anos sob alta influência norte-americana? E o Evo não para de comprar armas para eles...
Denos Wolpert é militante do PCB de São Paulo

05/10/2009

Uma revista megalômana

Por Luiz Antonio Magalhães em 29/9/2009
A última edição do semanário mais lido do Brasil (nº 2.132, com data de capa de 30/9/2009) é a prova concreta de que muita coisa está errada neste país. O pessoal que trabalha no Itamaraty, por exemplo, não está dando expediente no lugar certo. Chanceler e diplomatas de carreira deveriam todos bater ponto no modernoso prédio da Marginal do rio Pinheiros, em São Paulo, ou mais precisamente, para quem não conhece, na sede da Editora Abril, responsável pela publicação de Veja.
Sim, porque a matéria de capa desta semana – reproduzida abaixo e que levou o inspirado título "O imperialismo megalonanico", um trocadalho horroroso perpetrado pelo jornalista Reinaldo Azevedo, blogueiro da revista – é uma das coisas mais arrogantes já publicadas na imprensa brasileira.
A julgar pela reportagem de capa da revista, a turma de Veja deveria assumir imediatamente o comando do Itamaraty ou, se isto for pouco, tomar conta logo do Palácio do Planalto, que é onde as coisas são decididas. O tema da matéria, como o leitor já deve imaginar, é a participação brasileira na crise em Honduras, onde o presidente legitimamente eleito está refugiado na embaixada brasileira enquanto o governo golpista tenta negociar alguma saída que evite a volta de Manuel Zelaya ao cargo que lhe é de direito.
Para os editores de Veja, porém, a situação é bem diversa. Ponto um: a política de relações exteriores do governo federal está errada e o Itamaraty se submeteu à lógica do presidente venezuelano Hugo Chávez. Ponto dois: o golpe de Estado em Honduras foi uma "medida justificável". Para ninguém dizer que se trata de uma interpretação deste observador, cabe reproduzir o que foi escrito na revista:
"Houve um golpe de estado? Sim. País pequeno e pobre, Honduras foi transformada num caso exemplar do repúdio da comunidade internacional aos golpes de estado. Foi castigada com sanções econômicas e congelamento nas relações diplomáticas. Exceto por isso, o problema não era tão grande. A medida de força foi, até certo ponto, justificável pelas leis do país. Até o momento do golpe, o maior perigo para a democracia era o presidente Manuel Zelaya."
Argumento dispensável
Pode parecer incrível, mas é isto mesmo que está escrito. Veja decidiu que o golpe não era um "problema tão grande", que a medida de força foi "até certo ponto justificável pelas leis do país" e ainda que o perigo maior era o presidente constitucionalmente eleito Manuel Zelaya, cujo grande pecado teria sido propor uma consulta ao povo do seu país para que, junto com a eleição presidencial, decidisse se quer ou não convocar uma Assembleia Constituinte para rever as leis hondurenhas. Ao contrário do que se tem escrito por aí, esta é a verdade pura e simples: Zelaya não queria um novo mandato, o plebiscito não tinha esta intenção, mas tão somente convocar a Constituinte, se o povo assim decidisse.
Não é o propósito aqui de debater o episódio em si, o que interessa é a cobertura da revista que pretende dar profundas lições aos diplomatas e também ao presidente Lula. Veja mostra que sabe governar melhor do que ninguém e se apresenta capaz de elaborar perfis muito profundos da alma das pessoas, mesmo sem entrevistá-las. É precisamente este o caso de Zelaya, que mereceu um parágrafo especialmente afetuoso, digamos assim, na reportagem do semanário da Abril:
"Não se deve descartar a hipótese de que o homem seja um lunático. Como sugere sua queixa, na semana passada, de que `um grupo de mercenários israelenses´ estava perturbando seu cérebro com `radiações de alta frequência´. A paranoia dos raios mentais é um sintoma clássico de esquizofrenia. O certo é que Zelaya não cabe no figurino de um mártir da democracia."
É deveras espetacular o nível de aprofundamento e a percepção certeira da revista ao elaborar o "perfil humano" do presidente hondurenho. Além do que, os leitores foram brindados com uma aula de psicanálise ao serem informados de que os raios mentais são sintomas clássicos de esquizofrenia – seria interessante saber quantos psicólogos e psiquiatras Veja consultou para chegar a esta conclusão tão peremptória. Mais ainda, a revista sabe com toda a certeza que "Zelaya não cabe no figurino de um mártir da democracia", afirmação que simplesmente dispensou qualquer argumento adicional. Pois é, o homem parece ser o próprio coisa-ruim, veste chapéu, usa guayabera, tem mais de dois metros de altura, então só pode ser o coisa-ruim mesmo. E assim sendo, não pode gostar de democracia, conclui a revista...
Propaganda disfarçada
Aos leitores que acompanham este observador nas análises que faz para este Observatório do material produzido pela redação de Veja, pode parecer até um tanto repetitivo, mas é preciso sempre voltar ao âmago da questão: o semanário da Editora Abril há muito tempo não é um veículo noticioso, mas um panfleto político com objetivos e ideologia bastante claros. O que se lê na Veja não é jornalismo, mas proselitismo político.
A revista tem lado e faz questão de mostrar, em todas as edições, os ideais que defende. Em algumas, até consegue disfarçar um pouco e apresentar como jornalismo o contrabando editorial que quase todas as suas matérias trazem. Em casos como o da edição corrente, a redação deixa o pudor de lado e vai direto ao ponto, abordando o leitor de maneira grotesca e impondo sua visão de mundo na forma de reportagem.
Para o público mais desatento, a coisa pode até passar por jornalismo; para os mais politizados, deve soar como uma espécie de humor nonsense; mas, na soma geral, é apenas propaganda disfarçada de algo remotamente próximo ao jornalismo.

04/10/2009

GRACIAS, MERCEDES SOSA!!!

Sua voz, entoando hinos à liberdade do povo e por justiça social, marcou toda uma geração de latino-americanos submetidos a ditaduras militares cruéis e sanguinárias. Sua voz era o símbolo da esperança e do sonho de construirmos não só uma América Latina, mas um mundo livre das injustiças, das opressões, da desigualdade e da exploração. Seu canto, expondo as veias, o sangue, o coração e a alma de nossa gente, nos fez sonhar com um novo mundo e uma nova América. Se para nós você cantou Gracias a La Vida, nós, latino-americanos que tivemos o prazer e o encanto de ouvi-la, não lhe diremos adeus, mas sim, Gracias, Mercedes!!!