03/10/2008

Discurso Sobre a Acção Política da Classe Operária Pronunciado na Conferência de Londres

Friedrich Engels
21 de Setembro de 1871

A abstenção absoluta em matéria política é impossível; por isso, todos os jornais abstencionistas fazem política. Trata-se apenas de como se a faz e de qual. Quanto ao resto, para nós, a abstenção é impossível. O partido operário existe já como partido político na maior parte dos países. Não nos compete arruiná-lo, pregando a abstenção. A experiência da vida actual, a opressão política que lhes é imposta pelos governos existentes para fins quer políticos quer sociais, forçam os operários a ocuparem-se de política, quer eles queiram quer não. Pregar-lhes a abstenção seria empurrá-los para os braços da política burguesa. A seguir à Comuna de Paris, sobre­tudo, que pôs a acção política do proletariado na ordem do dia, a abstenção é completamente impossível.
Nós queremos a abolição das classes. Qual é o meio de a ela chegar? A dominação política do proletariado, e quando todas as partes estão de acordo com isso, pedem-nos para não nos metermos em política! Todos os abstencionistas se dizem revolucionários e mesmo revolucionários por excelência. Mas a revolução é o acto supremo da política; quem a quer tem de querer o meio, a acção política, que a prepara, que dá aos operários a educação para a revolução, e sem a qual os operários, no dia a seguir à luta, serão sempre os enganados pelos Favre e pelos Pyat. Mas a política que é Preciso fazer é a política operária; é preciso que o partido operário seja constituído não como a cauda de qualquer partido burguês mas como partido independente que tem o seu objectivo, a sua política própria.
As liberdades políticas, o direito de reunião e de associação e a liberdade de imprensa, eis as nossas armas; e deveríamos cruzar os braços e abstermo-nos se no-las querem tirar? Diz-se que todo o acto político implica que se reconheça o estado existente das coisas. Mas quando esse estado das coisas nos dá meios para protestar contra ele, usar esses meios não é reconhecer o estado existente.

02/10/2008

UMA RESPOSTA DA HISTÓRIA AO CAPITALISMO SENIL

Por Miguel Urbano Rodrigues
A rejeição pela Câmara dos Representantes dos EUA do plano de salvamento do sistema financeiro proposto pelo governo Bush, os candidatos à Presidência e as lideranças do Congresso ampliou muito a gravidade da crise do capitalismo. O afundamento das bolsas européias e asiáticas acompanhando o pânico de Wall Street (o Dow Jones, num recorde histórico, caiu 6,98 %) conferiu à crise estadounidense proporções mundiais.
A um apelo desesperado da elite do poder político, os deputados da União responderam com um voto também de desespero. A recusa não foi determinada por respeito ao povo, nem sequer pelas vitímas do caos implantado no sistema bancário. Os motivos do Não dos legisladores são tão pouco éticos como os dos senhores que lhes imploravam a aprovação de 700 mil milhões de dólares destinados sobretudo a comprar à banca créditos podres, as famosas hipotecas dos subprimes.
Em vésperas de eleições para renovação dos seus mandatos, a maioria dos representantes - sobretudo os republicanos - teme ser punida nas urnas se aprovar um plano que oferece o dinheiro dos contribuintes aos bancos responsáveis pelo desastre e ignora a situação angustiosa de 10 milhões de compatriotas em risco de perder as suas casas.
Do outro lado, Bush, Obama, Mc Cain, Bernanke, Paulson, Pelosi e as estrelas da finança recorrem a uma retórica farisaica no seu esforço para evitar um estouro do sistema bancário que ameaçaria a sobrevivência do sistema capitalista.
O grupo elaborará agora, com urgência urgentíssima, uma nova proposta e vai renegociar a sua aprovação com a Câmara dos Representantes (no Senado tudo será mais fácil). As mudanças no texto serão, tudo o indica, cosméticas, porque o SIM dependerá de promessas e favores que não serão tornados públicos.
O medo que alastra em Washington e nos meios políticos e financeiros europeus justifica-se. A crise avança como um iceberg à deriva no qual a parte submersa, a principal, não é visível. A cadeia de falências adquiriu um ritmo assustador. Na segunda feira, a do Wachavia, o quarto banco dos EUA, foi evitada através da compra parcial desse gigante (com uma carteira de empréstimos no valor de 312 mil milhões) pelo Citigroup.
Segundo a Agência Reuters, a Reserva Federal-FED está a emprestar à banca diariamente dezenas de milhares de milhões de dólares, em decisão perigosa que coloca em risco o seu próprio futuro.
Na Europa, uma operação de socorro montada pela Holanda, Bélgica e Luxemburgo, salvou o Fortis. No Reino Unido, o Estado nacionalizou o Bradford & Bingley. O terremoto bancário até na Islândia se fez sentir (nacionalização do Glitnir ).
Autoridades financeiras francesas e alemãs afirmaram no início de setembro que a crise afetaria pouco a união Européia porque a banca européia estava mais protegida do que a dos EUA. Ingenuidade ou bazófia?
Nas últimos dias os governos do Reino Unido, da França, da Alemanha, da Bélgica, da Holanda, da Dinamarca, da Islândia, do Luxemburgo tiveram de intervir em operações de salvamento que custarão mais de 70 mil milhões de euros. O Banco Central Europeu injetou mais 120 mil milhões de euros no sistema bancário para aumentar a liquidez.
Como era de esperar, os grandes media internacionais, desde a CNN à BBC, passando pelo The New York Times ao Frankfurt Algemeine, apresentam visões distorcidas da crise. Privilegiam pormenores acessórios, forjam cenários e interpretações fantasistas e sobretudo subestimam ou ocultam as suas causas e consequências eventuais.
É muito generalizada, por exemplo, a omissão de referências ao mecanismo de obtenção dos 700 000 milhões de dólares do Plano Paulson se ele, em segunda versão, for, finalmente, aprovado. É um fato que o contribuinte norte-americano será duramente penalizado porque a dívida pública e a dívida externa da nação sofrerão um brutal aumento. Mas não se informa, com raríssimas excepções, que a maioria desse dinheiro será obtido no Estrangeiro, porque serão sobretudo os bancos centrais europeus, asiáticos e latino-americanos os compradores das Obrigações do Tesouro dos EUA a emitir. Até a China entrará no leilão. Cabe aliás recordar que se o grande país asiático decidisse nestes dias trocar por outras divisas as suas colossais reservas de dólares e cobrar os títulos do Tesouro americano que acumulou, os EUA cairiam imediatamente na banca rota. Não o fará porque o seu próprio modelo de desenvolvimento também, então, naufragaria, mas a dependência norte-americana de Pequim é esclarecedora da extrema fragilidade do sistema financeiro montado pela potência hegemônica.
Outra conclusão – a mais importante de todas - que a elite da finança se abstem de extrair da crise é de natureza ideológica.
Não pode reconhecer publicamente que o caos implantado no sistema financeiro mundial demonstra a falência das teses que os governos dos EUA e da União Européia vêm proclamando com arrogância sobre a capacidade do neoliberalismo, fase superior do capitalismo, se impor como a ideologia definitiva, a única capaz de resolver os grandes problemas da humanidade. Segundo ela, a dimensão do Estado tenderia a ser progressivamente diminuída, reduzindo-se ao mínimo a sua intervenção na economia. Somente um mercado plenamente autônomo, livre de pressões estatais, intocável, poderia cumprir a sua missão insubstituível.
A História, mais cedo do que se admitia, começou a dar uma resposta totalmente negativa ao sonho dos sacerdotes do capital.
O pânico nas bolsas que acompanha a falência de gigantes bancários envolvidos em especulações, fraudes e escândalos iluminou desmentiu e ridicularizou a religião do mercado. Agora a finança implora ao Estado que lhe acuda para salvar a banca e os banqueiros.
Sem a ajuda do Estado, o mercado afundar-se-ia. Em Portugal, Sócrates e os seus auxiliares e epígonos mergulharam num silêncio compreensível. Quase não falam da crise. Entusiastas das privatizações e praticantes do culto do mercado a crise do sistema deixa-os mudos e nus perante o povo português.
Festejaram a privatização da banca portuguesa e as fusões a ela posteriores. Desejariam levá-la ainda mais longe. Muitos desses senhores chegaram ao extremo de sugerir a privatização da Caixa Geral de Depósitos. Acredito que nunca meditaram seriamente sobre as consequências num panorama de crise do mercado para centenas de milhares de pensionistas da eventual entrega ao grande capital do maior banco português.
No momento em que escrevo, a banca e as bolsas dos EUA e da União Europeia aguardam nervosamente o plano de socorro recauchutado que a Casa Branca vai submeter ao Congresso.
Mas, qualquer que seja o seu conteúdo, a crise prosseguirá, com tendência para situações potencialmente explosivas. A decisão de injetar centenas de milhões no mercado (em beneficio exclusivo dos responsáveis pelo desastre) não atingirá o objetivo de curar o paciente.
Porque a crise do sistema financeiro é inseparável de outra maior, a crise estrutural do capitalismo.
Grandes sofrimentos são identificáveis no horizonte para as vítimas da engrenagem da finança.
Nestes dias, o futuro próximo é imprevisível. Mas para quantos pelo mundo a fora rejeitam o capitalismo e o combatem por desumano, a única alternativa – embora distante ainda - é o socialismo, rumo a uma sociedade humanizada incompatível com a exploração do homem.
Serpa, 30 de Setembro de 2008

29/09/2008

BOLÍVIA: SINDICATO DOS METALÚRGICOS ORGANIZA DEBATE COM O CÔNSUL BOLIVIANO.

A classe trabalhadora na Bolívia, nos últimos 5 anos, tem travado uma luta sem tréguas contra o capital e seus governos. Derrubaram dois presidentes e elegeram Evo Morales, um indígena que foi parte ativa das lutas sindicais no país.
Agora novamente os trabalhadores lutam contra a tentativa de um golpe do capital contra as mudanças necessárias no país, como apodentadoria, condições dignas de vida e trabalho e controle dos recursos naturais.
Com apoio dos EUA, o capital vomita todo seu ódio de classe contra os trabalhadores do campo e da cidade e contra os indígenas, maioria da população boliviana, para seguirem concentrando lucros através da exploração.
Para conhecer mais essa realidade o Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e região realizará um debate na próxima 4ª feira, dia 1º de outubro, às 18 horas na sede central do Sindicato, com o Cônsul da Bolívia, senhor Jaime Valdivia Almanza.
Este é um primeiro passo de uma campanha de solidariedade ativa aos nossos companheiros que seguem lutando na Bolívia.
O endereço do Sindicato dos Metalúrgicos é rua Dr. Quirino, 560, Centro.
Não deixe de participar!