27/12/2008

O Legado de Lenin


Vladimir Ilitich Ulianov (Lenin), nasceu em 10 de abril de 1870, na cidade de Simbirsk, Rússia. Seu pai, Ilia Nikolaevitch Ulianov, era pedagogo e ensinava os camponeses nas aldeias. A mãe Maria Alexandrovna Blank, apesar de não ter freqüentado a escola, aprendeu em casa várias línguas estrangeiras, que ensinou a seus filhos; tocava piano e gostava de ler.

Vladimir era o quarto filho de 8 irmãos, dos quais dois morreram ainda pequenos. Alexandre, o mais velho, foi executado em 8 de maio de 1887, com 21 anos de idade por ter participado de um atentado contra o tsar Alexandre III. Após a morte de Alexandre, a família, também já sem o pai (que havia falecido em 12 de janeiro de 1886), mudou-se para Kazan, onde Vladimir entrou na faculdade de Direito.

Na universidade, tornou-se membro de uma associação clandestina de estudantes conterrâneos de Simbirski. Essa organização liderou a primeira mobilização contra as autoridades universitárias em dezembro de 1887. Por ter se destacado na mobilização, por ordem do governador, foi preso juntamente com um grupo de estudantes. Em seguida foi expulso da universidade e da cidade de Kazan, sendo desterrado para uma aldeia – Kokushkino – onde passou a viver sob vigilância policial. Ali encontrou sua irmã Ana, que fora acusada de participar, juntamente com Alexandre, do atentado contra o tsar.

Lenin (pseudônimo que passou a usar para assinar os seus textos a partir de 1901),[1] após ter assistido a execução do irmão Alexandre sentenciou: “Não é esse o caminho que devemos seguir”.[2]

Enquanto esteve exilado em Kokuchkino, dedicou-se ao estudo da estatística e economia. Após um ano de isolamento, retornou para a cidade de Kazan com a intenção de voltar a estudar, mas esse direito lhe foi negado. Entrou para um círculo marxista organizado por N. Fedosseiev, um dos primeiros marxistas da Rússia, do qual foi profundo admirador e o tinha como mestre.

Em razão das dificuldades econômicas e da perseguição policial, mudou-se, em maio de 1889, com a família, para Sâmara, onde conseguiu autorização para prestar exames e concluir a faculdade de Direito.

Posteriormente, compreendendo que as disputas políticas se davam nos grandes centros, mudou-se em 1893, para Petersburgo, onde estabeleceu relação com círculos marxistas e, através deles, ligou-se ao movimento operário. O seu envolvimento com as atividades revolucionárias o levou cada vez mais para o estudo e a militância política. Viajou para diversos países da Europa, como Suíça, França e Alemanha, onde teve contato com as obras de Marx e Engels, que não haviam sido traduzidas para a língua russa. Copiou do alemão o livro A Sagrada Família, levando o manuscrito para seus companheiros. Buscou fortalecer a união dos círculos marxistas e se empenhou para criar um jornal político. Qualquer tipo de publicação era proibido na época e foi por esse intento que, ao publicar A causa operária, Lenin e um grupo de companheiros foram presos e, posteriormente, deportados para a Sibéria [3] por 3 anos.

Deportado e distante das atividades políticas, dedicou-se ao estudo, enviando suas conclusões por cartas, clandestinamente, aos que estavam em liberdade.

Foi através de Nadejda Krupskaia, sua noiva, presa e deportada para cumprir três anos de prisão na Sibéria, que ficou sabendo que, em março de 1898, um pequeno grupo de oito pessoas, na casa de um ferroviário, havia criado o Partido Operário Socialdemocrata da Rússia (Posdr). Essa notícia o animou a continuar os estudos sobre a revolução russa. Para ele, a organização partidária era fundamental, sem a qual o movimento operário estaria condenado à impotência. Esse partido deveria reunir, em suas fileiras, os melhores revolucionários, para que as demais forças sentissem a seriedade e a consistência da organização e se dispusessem a segui-los.

O partido fixou o seu programa sobre a luta pela transformação em dois tempos. Um, o “Programa Mínimo”, tratava das tarefas da revolução democrático-burguesa: derrubar o tsarismo e estabelecer a república democrática; jornada de trabalho de 8 horas; igualdade de direitos entre as nações e autodeterminação dos povos; eliminação da escravidão no campo. O outro, “Programa Máximo”, formulava as tarefas da revolução socialista: derrotar o capitalismo e estabelecer a ditadura do proletariado, onde todos os meios de produção fossem controlados pelos trabalhadores, assim como os meios de comunicação, as escolas e os bancos. Daí o partido se chamar “socialdemocrata”, pois deveria, inicialmente, lutar para estabelecer avanços democráticos, derrubar a monarquia, instalar a república e, num segundo momento, estabelecer uma nova ordem social.

O partido, para Lenin, deveria ser de novo tipo, ou seja, ser de ação revolucionária, orientar e conduzir a luta de classes, reunir os revolucionários e organizá-los em torno de tarefas imediatas, visando o enfraquecimento da classe dominante para levar a classe trabalhadora ao poder.


A teoria da organização


No período em que esteve na Sibéria, escreveu mais de 30 trabalhos. Destacam-se As tarefas dos socialdemocratas russos (1897), onde reafirma que havia uma profunda relação entre as tarefas democráticas e os socialistas e orientava qual devia ser o papel do partido; e O desenvolvimento do capitalismo na Rússia (1899), onde apontou contradições existentes no campo e no desenvolvimento do capitalismo na Rússia. As suas obras mais importantes, onde expõe as concepções organizativas, são: Por onde começar?, Carta a um camarada, Que fazer?, Um passo à frente e dois passos atrás, Duas táticas da socialdemocracia e As teses de abril. É na Carta a um camarada (1901) e no Que fazer? (concluído em fevereiro de 1902) que estabeleceu as diretrizes da organização partidária e as linhas da construção do partido.

Na Carta a um camarada fez uma “diferenciação” entre o dirigente ideológico e o dirigente prático do partido. O primeiro deveria ser o jornal (Órgão Central), elaborado por um grupo de alta qualificação. O segundo, um grupo central (Comitê Central), ligado a outros comitês formados por militantes qualificados, com a capacidade de “distribuição de literatura, edição de panfletos distribuição de forças, designação de pessoas e grupos para execução de certas tarefas, preparação de manifestações em toda a Rússia, etc.”

Nesses órgãos de direção, não se deveria fazer distinção entre os operários e os intelectuais;ambos deveriam ser conscientes e se dedicarem por inteiro à atividade socialdemocrata. Por sua vez a composição deveria ser de forma simples. Bastava que os membros fossem indicados pela maioria, procurando não ampliar muito o número para que se mantivesse o alto nível. Como conseqüência da repressão intensiva, deviam funcionar com grupos reduzidos, tendo sempre o cuidado de preparar e indicar suplentes, para que, no caso de prisão de dirigentes, estes fossem de imediato substituídos.

Dessa estrutura central, deveria se estender a estrutura de base com círculos e grupos, evitando criar círculos apenas de discussão. Os melhores revolucionários deveriam estar nos comitês ou desempenhando funções especiais, como: imprensa, transportes, propaganda itinerante, brigadas de luta, grupos n exército e prestadores de outros serviços para a sociedade, como tirar documentos de identificação...As atividades práticas deveriam ser amplas e envolver o máximo de militantes.

Para garantir as regras conspirativas, era preciso evitar o contato direto com a redação do jornal e fortalecer o contato pessoal com os militantes. As reuniões e as assembléias gerais deveriam ser feitas raramente, pois a repressão teria muito mais facilidade para se infiltrar. Quando houvesse necessidade de assembléias de até 100 pessoas, o local deveria ser escolhido com critério, preocupando-se em selecionar os participantes vindos como representantes dos círculos de fábrica e de outros grupos. Mas isso não deveria estar regulamentado nos estatutos, visto que o comitê local deveria aproveitar todos os tipos de disfarces, até mesmo passeios no parque, para reunir os operários.

A distribuição da literatura era fundamental. Em uma noite, deveria ser possível atingir e mobilizar toda a população de uma cidade. Nesse sentido, a propaganda não deveria ser feita por um círculo separado em cada região. O Comitê Central deveria se encarregar disso, liberando alguns de seus membros para organizar, com unidade, essa tarefa, procurando envolver pessoas aptas, porque “AS pessoas realmente firmes no terreno dos princípios e capazes de ser propagandistas são muito poucas...”.

Para que o trabalho fosse feito de modo eficiente, era fundamental a disciplina, a integração entre os diferentes círculos, os relatórios das atividades e visitas permanentes. Assim, a organização deveria ser dirigida de forma centralizada por um grupo coeso e bem preparado, mas descentralizar a participação, envolvendo o máximo de grupos e círculos.

* * *

O texto “O trabalho artesanal dos economistas e a organização dos revolucionários”, constitui o quarto capítulo do livro “que fazer?”, onde Lenin aprofundou a crítica sobre as contradições da visão economicista, alertando para os seus adeptos queriam conferir à luta econômica um caráter político e, por isso, defendiam que não havia necessidade de se ter uma organização centralizada. Isso seria submeter a consciência à espontaneidade, que representava uma doença de crescimento do movimento.

No que consistia o método do trabalho artesanal? Esse método se baseava mais no entusiasmo do que na qualificação de seus executores. Esses, completamente desequipados, separados dos círculos e afastados dos velhos militantes mais experientes, atuavam sem qualquer plano. Todas as atividades, embora cativassem de imediato a população, conduziam ao fracasso, pois os militares conheciam quem eram os militantes que atuavam com métodos semelhantes “a bandos de camponeses armados de bordões contra o exército bem preparado”.

Essa “doença” do uso de métodos artesanais não residia apenas na falta de preparação, mas na estreiteza do conjunto do trabalho revolucionário, o que impedia de se chegar a uma boa organização. Para se livrar dos métodos artesanais, era necessário livrar-se do economicismo. As posições economicistas se davam duas direções: as oportunistas, que afirmavam que “os operários ainda não haviam formulado as suas reivindicações”; e as revolucionistas, que defendiam não ser necessário “criar uma organização de revolucionários”, bastando organizar a greve geral. Para Lenin, isso era impossível: a primeira tarefa devia de criar uma organização de revolucionários, “cuja profissão é a ação revolucionária”.

Insistiu na valorização da organização dos operários. Era preciso que “fossem mais numerosas e que suas funções sejam as mais variadas”. Mas, acima de tudo, insistiu que devia haver a organização dos revolucionários:”A luta política da socialdemocracia é muito maior e muito mais complexa do que a luta econômica dos operários contra os patrões e o governo ”. Acontece que pela repressão das mobilizações, na “Rússia o jugo da autocracia apaga, á primeira vista, toda a distinção entre a organização socialdemocrata e a associação operária... ”.

Fundamentalmente as razões da organização dos revolucionários: a) não seria possível um movimento revolucionário sólido sem uma organização estável de dirigentes; b) quanto mais a massa se integrasse à luta, maior seria a necessidade de ter essa organização; c) a organização deveria ser composta por pessoas que fizessem da atividade revolucionária a sua profissão; d) pelas condições do país, quanto mais restringissem a organização aos revolucionários profissionais, tanto mais difícil seria o trabalho da repressão; e) isso ajudaria a atrair pessoas de outras classes para a militância.

Para Lenin, a organização clandestina dos revolucionários não substituiria ou desprezaria o papel das massas. “A concentração de todas as funções clandestinas nas mãos do menor número possível de revolucionários profissionais não significa absolutamente que esses pensarão por todos, que a multidão não tomará parte ativa no movimento. Ao contrário, a multidão fará surgir esses revolucionários profissionais...” As massas passariam por um trabalho educativo. “A centralização das funções clandestinas da organização não significa absolutamente a centralização de todas as funções do movimento”. Nesse sentido, o militante deveria se comportar, diferentemente do secretário do sindicato, como um verdadeiro tribuno popular.

Atacou os que diziam que não havia pessoas para o trabalho revolucionário: “A sociedade oferece um número muito grande de homens aptos ao trabalho, mas não sabemos utilizá-los”. Existiam porque a classe operária oferecia, a cada ano, mais e mais operários descontentes; faltavam porque não havia articuladores para organizá-los e elevar a consciência ao plano dos revolucionários profissionais.

Lenin empenhou-se, também, em responder a questão: a organização centralizada não a levaria ao distanciamento das massas, afastando os revolucionários do trabalho loca l? Na verdade, a excessiva ligação ao trabalho local é que era o problema. Para superar esse problema, enfatizou a importância de perceber o espaço nacional e usou a imprensa como exemplo para mostrar que as publicações locais eram extremamente limitadas. Afirmou que “...Um bom aparelho clandestino exige uma boa preparação profissional de revolucionários e uma divisão rigorosamente lógica do trabalho. Duas condições impossíveis para uma organização local”.

A organização idealizada por Lenin chegou ao poder na Rússia em outubro de 1917. Os passos e os elementos táticos e estratégicos podem ser encontrados nas obras completas de Lenin, publicadas, em Moscou, em 55 volumes.

A vida agitada, a perseguição política que levou Lenin ao exílio por longos anos, os dois atentados a bala e a intensa atividade intelectual, abreviaram a sua vida. Suas forças foram se acabando aos poucos e, no dia 21 de janeiro de 1924, aos 54 anos de idade. Lenin – um dos mais ativos e completos militantes revolucionários da história do socialismo – faleceu.

Após a morte de Lenin, iniciou-se uma batalha interminável para decidir quem seria o seu sucessor. Destacaram-se dois nomes, que lideraram as divergências por quase duas décadas: Stalin e Trotsky. Lenin era a favor do segundo, mas, após a sua morte, Stalin articulou-se e assumiu o comando do governo, desencadeando uma feroz perseguição contra seus inimigos políticos, dentre eles Trotsky, assassinado em 1940, no México.


Extraído do livro “Teoria da Organização política – Escritos de Engels, Marx, Lênin, Rosa e Mao”, (São Paulo, Expressão Popular, 2005) de Ademar Borgo (org., pgs. 127 a 135. Texto de introdução às obras de Lenin: Carta a um camaradaI e ao quarto capítulo do Que fazer?, “O trabalho artesanal dos economistas e a organização dos revolucionários”.




[1] O pseudônimo Lenin apareceu pela primeira vez em 1901, no artigo publicado na revista Zariá com o título de “A questão agrária e os críticos de Marx”. Não há explicação para a escolha desse pseudônimo.
[2] Coletivo de autores do PCUS, Lenine: Biografia, Edições Avante – Lisboa, e Progresso-Moscovo, 1984, pg. 19
[3] Sibéria: para onde eram enviados os presos políticos por ser um lugar a 600 quilômetros da capital, região muito fria e de difícil acesso. Ninguém iria a lugar algum se tentasse fugir.

26/12/2008

Lei que cria 38 novos institutos federais de educação deve ser sancionada na segunda-feira

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Publicada em 26/12/2008
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O Globo
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RIO - O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sanciona na próxima segunda-feira, dia 29, a lei que cria 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia no país. Com os institutos, presentes em todos os estados, aumenta o número de vagas em cursos técnicos de nível médio, em licenciaturas e em cursos superiores de tecnologia.

Os institutos estarão presentes em todos os estados, oferecendo ensino médio integrado ao profissional, cursos superiores de tecnologia, bacharelado em engenharias e licenciaturas. Os institutos federais estão sendo criados a partir da rede de educação profissional, que hoje conta com 185 unidades, entre centros federais de educação tecnológica (Cefets), escolas agrotécnicas federais e escolas técnicas vinculadas a universidades. Segundo o Lula, a idéia é atingir 354 unidades até 2010.

"É um absurdo que em 100 anos nesse país tenham sido feitas só 140 escolas técnicas. Como se formar os nossos adolescentes não fosse algo necessário. Fizemos um compromisso de em dezembro de 2010 ter mais 214 escolas técnicas funcionando nesse país", destacou o presidente Lula ao site do Ministério da Educação (MEC).

Os institutos vão oferecer metade das vagas ao ensino médio integrado ao profissional, para dar ao jovem uma possibilidade de formação já nessa etapa do ensino. Na educação superior, haverá destaque para os cursos de engenharias e bacharelados tecnológicos (30% das vagas). Outros 20% serão reservados a licenciaturas em ciências da natureza - o Brasil apresenta grande déficit de professores em física, química, matemática e biologia. Ainda serão incentivadas as licenciaturas de conteúdos específicos da educação profissional e tecnológica, como a formação de professores de mecânica, eletricidade e informática.

Os institutos terão forte inserção na área de pesquisa e extensão para estimular o desenvolvimento de soluções técnicas e tecnológicas e estender os benefícios à comunidade. Eles terão autonomia, nos limites da área de atuação territorial, para criar e extinguir cursos e para registrar os diplomas. Ainda exercerão o papel de instituições acreditadoras e certificadoras de competências profissionais. Cada instituto é organizado em estrutura com vários campi e proposta orçamentária anual identificada para cada campus e reitoria.

"Estamos oferecendo ao país um novo modelo de instituição de educação profissional e tecnológica, aproveitando o potencial da rede existente. Os institutos responderão de forma mais ágil e eficaz às demandas crescentes por formação de recursos humanos, difusão de conhecimentos científicos e suporte aos arranjos produtivos locais", diz Eliezer Pacheco, secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC. Os institutos integram o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).

Alexandre Silva - Cherno

Diretoria Plena da UNE - Políticas Educacionais
Contato: (11)7243-1661
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Movimento A Hora é Essa!
Ousar lutar, ousar vencer!
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Partido Comunista Brasileiro - PCB
União da Juventude Comunista - UJC
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25/12/2008

José “Pepe” Mujica é escolhido candidato da Frente Ampla à presidência do Uruguai

O senador José "Pepe" Mujica foi escolhido ontem no Congresso da Frente Ampla para ser candidato à presidência do Uruguai, nas eleições que serão realizadas em outubro de 2009. Ex-líder guerrilheiro tupamaro, Mujica recebeu o voto de mais de dois terços dos delegados que participaram da eleição interna da Frente Ampla. Confira a entrevista que o senador concedeu à Carta Maior em fevereiro de 2005, durante a posse do presidente Tabaré Vázquez.
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Marco Aurélio Weissheimer - Carta Maior
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PORTO ALEGRE - O ex-líder guerrilheiro tupamaro e atual senador, José “Pepe” Mujica, foi escolhido ontem (14) para ser o candidato da Frente Ampla (coalizão que governa o Uruguai) à presidência da República, nas eleições gerais de outubro de 2009.
Mujica, de 74 anos, passou doze anos preso durante a ditadura militar uruguaia (1973-1985). Líder do Movimento de Participação Popular (MPP), Mujica recebeu o apoio de 1.694 delegados, mais de dois terços dos que estavam habilitados a votar na eleição interna. Na votação, da qual participaram 2.381 delegados, ele venceu seu principal oponente, o ex-ministro da Economia do governo Tabaré Vázquez, Danilo Astori. Também participaram da disputa o atual ministro da Indústria, Energia e Mineração, Daniel Martinez, o diretor do Escritório de Planejamento e Orçamento da Presidência, Enrique Rubio, e o prefeito de Canelones, Marcos Carámbula. Mujica, ainda deverá passar por outro teste em junho, quando será realizada uma convenção aberta para todos os militantes da coalizão, mas com a votação obtida ontem, ele já está sendo apontado pelos analistas como o candidato da Frente Ampla. Mujica foi um dos líderes da guerrilha tupamara que pegou em armas contra a ditadura militar que governou o país de 1973 a 1985. Junto com os principais dirigentes tupamaros, ficou mais de doze anos preso em quartéis uruguaios. Desceu ao fundo do poço, literalmente. Ele fez parte de um grupo que ficou conhecido como “os reféns”. Os integrantes deste grupo foram submetidos a um regime de destruição física, moral e mental que incluiu dois anos de encarceramento no fundo de um poço.
Foram, praticamente, enterrados vivos. Isolamento total. Neste período, conforme relatou em entrevista à Carta Maior (12 de fevereiro de 2005), aprendeu a conversar com rãs, ouvir o grito das formigas e a “galopar para dentro de si mesmo”, como forma de não enlouquecer. Sobreviveu. Saiu da prisão, junto com sua companheira de vida e de luta, Lucía Topolansky. Nas eleições de 2004, Mujica transformou-se em uma das figuras mais poderosas do Uruguai. Senador mais votado, foi escolhido para assumir o ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca. Na entrevista que concedeu à Carta Maior, durante a posse do presidente Tabaré Vázquez, Pepe Mujica contou um pouco dessa história e expôs algumas de suas idéias para ajudar a reconstruir o país e a América Latina. Publicamos a seguir alguns dos principais momentos desta conversa que guardam renovada atualidade: Trabalho e valor - O problema central que precisamos resolver é o trabalho, um fator de estabilidade fundamental. Se não resolvermos esse problema, fracassaremos.
O nosso problema é gerar trabalho, mas trabalho autêntico, que gere algum valor, que tenha um mínimo de produtividade e agregue algum tipo de conhecimento. Não se trata de ficar abrindo buracos, empregando algumas pessoas para abri-los e outras para fechá-los. Para enfrentar este tema, temos que utilizar todos os instrumentos que estiverem ao nosso alcance, aproveitando os mecanismos mais heterodoxos que possam existir.Conhecimento, a grande batalha – O que mais me assusta, na verdade, é a desvantagem tecnológica que sofremos (os países da América Latina). O recurso mais inesgotável que existe é a inteligência. A grande batalha que devemos enfrentar não é a batalha da propriedade, mas sim a da propriedade da inteligência. Trata-se de uma batalha no campo da universidade, no campo do conhecimento, da geração de conhecimento e tecnologia. Se não conseguirmos nos libertar nesta área, estamos ferrados.
Nosso projeto estratégico deve ser o de assaltar o poder com os canhões da inteligência. Poderemos andar de alpargatas, com roupas remendadas, o que queremos é meter coisas na cabeça. Ou fazemos isso, ou fracassamos. É preferível que nossos filhos vivam com certas dificuldades materiais, mas tenham vantagem na cabeça, vantagem no conhecimento.A questão da dívida – Estamos amarrados pelo problema da dívida. Eu me vejo velho, gritando contra o Fundo Monetário Internacional. Mas isso não muda nada. A gente grita, mas o Fundo continua igual, segue aí. O que é preciso mudar é nossa postura.
A mim, nunca colocaram um 45 na cabeça, obrigando que eu pedisse dinheiro emprestado. O problema é que estamos educados a pedir emprestado quando enfrentamos dificuldades. E eles, generosamente, nos emprestam. Não conseguiremos mudar o mundo com gritos, o que é preciso mudar, em primeiro lugar, é a nossa conduta. No dia em que aprendermos a viver com o que temos, estaremos livres.O projeto do socialismo – Eu acredito no socialismo como uma necessidade de caráter histórico. Se isso não ocorrer, creio que o mundo caminha para a destruição. Neste momento histórico, estamos trabalhando dentro das leis do sistema capitalista. Vamos pedir aos burgueses que trabalhem, não que sejam socialistas. Queremos que eles trabalhem, invistam e se endividem menos. Não vamos pedir o que eles não podem dar. Hoje estamos falando disso. O tema do socialismo é outra conversa. Como disse, creio que se trata de uma necessidade histórica, mas não creio que se possa criar uma sociedade melhor, com uma população analfabeta ou quase analfabeta, embrutecida no campo do conhecimento e da vida. Não se pode criar uma sociedade melhor com um povo primitivo e bárbaro, embrutecido. Nisso, creio que estou mais perto do velho Marx do que de Lênin.
A esquerda precisa enfrentar e resolver esse problema.Os vícios históricos da esquerda - Uma das características da esquerda em qualquer parte do mundo é sua tendência à atomização. Cada organização de esquerda costuma acreditar que possui a verdade revelada e que tem que lutar contra as outras organizações. E isso é visto como uma questão de princípio, capaz de fazer correr sangue. Então, para juntar a gente de esquerda, é horrível, em qualquer parte do mundo. É bom ter uma humildade de caráter estratégico diante dos compromissos que temos pela frente, que não são exatamente singelos, do tipo daqueles que autorizam a arrogância e a soberba como métodos de conduta. Outro problema que precisamos resolver é que a esquerda tem o mau hábito de crescer e perder de vista o pensamento estratégico, ficando imersa em movimentos táticos de curto prazo, perdendo a capacidade de pensar.
Precisamos ter a inteligência de superar nossas pequenezas e nosso chauvinismo ou então não vamos fazer nada. Se esses vícios continuarem, estamos fritos. Uma última coisa: como militantes, precisamos nos lembrar que as credenciais também envelhecem e devem ser constantemente renovadas. Cada conjuntura histórica exige que elas sejam renovadas. Não há nenhuma garantia de nada. Por isso, é importante olhar o passado, mas também é preciso perder o respeito. É preciso haver novos partos, é preciso vir gente nova.As feridas do passado – A vida tem muitas coisas amargas, mas também oferece reparações e reviravoltas.
O desafio é saber vivê-la com continuidade e ter a capacidade de se levantar quando se cai. Nós tivemos essa experiência (da prisão), não a buscamos, não a planejamos, aconteceu, de um modo que supera a imaginação de um escritor. Mas não vivemos para cultivar uma memória, olhando para trás. Acredito que o ser humano tem que saber cicatrizar suas feridas e caminhar na perspectiva do futuro. Pois não podemos viver escravizados pelas contas pendentes da vida; se fizermos isso, não viveremos o porvenir da vida, não viveremos o que está por vir. Eu tenho uma memória e suas recordações, como todo mundo. Não poderia ser diferente. E a memória é fundamental: aqueles que não cultivam a memória, não desafiam o poder. É uma ferramenta a mais para construirmos o futuro. Mas deixo uma coisa bem clara: o livro de minhas contas pendentes, este eu o perdi. É importante não se esquecer de nada, mas é preciso olhar para o amanhã, pois não vivemos se ficamos presos a recordações.Caminhos imprescindíveis – Eu discordo de Bertolt Brecht porque não creio que existam homens imprescindíveis, mas sim causas imprescindíveis, caminhos imprescindíveis.
A história é uma construção tremendamente coletiva, feita pela continuidade dessas causas e desses caminhos. E é assim que andamos, cada um colocando a sua pedra.Compromisso com a vida e a luta – Nos anos em que fiquei preso, nunca deixei de ser livre. Neste período, sempre tive essa sensação porque supunha que meus companheiros de cativeiro estavam na mesma situação. Eu os conhecia e sabia que íamos seguir na luta. Pode parecer uma monstruosidade o que vou dizer, mas dou graças à vida por tudo o que vivi. Se não tivesse passado pelo que passei e aprendido o ofício de galopar para dentro de mim, para não ficar louco de tanto pensar, teria perdido o melhor de mim mesmo. Me obrigaram a remover meu solo e isso me fez muito mais socialista do que antes.
O homem é filho de suas lutas e de suas adversidades. Alguns de nós tivemos a sorte de que a vida nos apertou, mas não nos fulminou. Nos deu licença para seguir vivendo e, em alguma medida, recolher o mel que pudemos no marco das amarguras pelas quais passamos. Se não fosse assim, nunca teríamos fabricado esse mel. Neste sentido é que digo que nunca estive preso, porque não puderam me derrotar, do mesmo modo que não puderam derrotar outros companheiros que não abdicaram de suas idéias. Eles triunfam quando conseguem nos fazer baixar os braços. Por isso, gostem ou não, o futuro é nosso, pois não puderam nos derrotar.

23/12/2008

Professores são ameaçados de morte no Campus de Registro-SP, da UNESP

A Adunesp – Seção Sindical dos Docentes da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquisa Filho" e o SINTUNESP – Sindicato dos Trabalhadores da UNESP estão denunciado ameaças de morte sofridas por quatro professores do Campus Experimental de Registro (a 187 quilômetros da capital). Um dos docentes ameaçados, Afrânio José Soriano Soares, é um dos dirigentes da Adunesp.
De acordo com a Seção Sindical, a primeira ameaça ocorreu há dois meses, e a segunda, há poucos dias. Por telefone e e-mail, os agressores alertam os professores: “se continuarem com essas denuncias vão MORRER, TODOS VOCES, SAFADOS” (sic). A mensagem eletrônica avisa: “voces não precisam saber sobre a PRESTACAO DE CONTAS DO CAMPUS REGISTRO” (sic).
Em entrevista por telefone, o professor Antônio Luís de Andrade, um dos dirigentes da Adunesp, reafirmou a denúncia de que apesar de ter sido comunicada das ameaças, a reitoria da UNESP mantém silêncio sobre o assunto. A reportagem telefonou para a reitoria. De acordo com uma das funcionárias com as quais falou, o órgão teria recebido essa denúncia esta semana.
A Assessoria de Comunicação da instituição enviou nota à Imprensa do Sindicato Nacional afirmando: “Em relação ao assunto do câmpus de Registro da Unesp, informamos que a Reitoria está procedendo à apuração do caso e também ao acompanhamento das providências na esfera policial e deverá ter informações preliminares nos próximos dias”.
As entidades sindicais não estão atribuindo as ameaças a ninguém. “Não sabemos quem está tentando calar os professores. O que nós queremos é que a reitoria se pronuncie, que tome alguma providência para averiguar a denúncia”, explica. Em sua denúncia, a Adunesp e o SINTUNESP afirmam que os professores Mauro Donizeti Tonasse, Palimécio Gimenes Guerrero Júnior, Afrânio José Soriano Soares e João Vicente Coffani Nunes “vem sofrendo há anos uma vergonhosa perseguição política da coordenadoria executiva do campus de Registro”.
A nota por meio da qual a Adunesp e o SINTUNESP denunciam as ameaças enumera os motivos da perseguição, segundo os quais os professores estariam recebendo represarias por exigir o cumprimento da Portaria UNESP 461/05; questionar e contrapor-se às atitudes autoritárias e aos desmandos da coordenadoria executiva do campus; reivindicar concursos públicos para docentes e funcionários, pautados na impessoalidade pública; pleitear a constituição de órgão colegiado local, respeitada a legislação em vigor; e por cobrar prestação de contas, elaboração e aprovação de atas das deliberações do Conselho de Curso dessa unidade, entre outros.
Para Andrade, há uma perseguição generalizada a sindicalistas nas universidades estaduais paulistas. “Junto com a demissão de Brandão pela reitoria da USP, essas ameaças de morte são casos emblemáticos da tentativa de enfraquecimento do movimento sindical pelos gestores das instituições”, acredita.
A demissão de Claudionor Brandão pela reitora Suely Vilela, da USP, causou a reação de toda a comunidade acadêmica, que realizou um ato de protesto contra a demissão no último dia 16. Para a revista Caros Amigos, o ato da reitora "fere a democracia". Na matéria, a revista destaca os 20 anos de atuação política do sindicalista.
Apoio
O ANDES-SN divulgou moção de apoio aos docentes, cobrando garantia de vida para os docentes ameaçados. Leia na íntegra:
MOÇÃO
A criminalização dos movimentos sociais, expressão de uma política deliberada, visa impedir e aterrorizar aqueles que defendem o direito de manifestar suas idéias, expressar seu pensamento e defender os interesses dos marginalizados e do interesse público.
O banditismo e perseguição política, inclusive com pichação e ameaça de morte, que vem ocorrendo no campus experimental da UNESP, da cidade de Registro, é inadmissível. Docentes que defendem o interesse público são perseguidos e ameaçados de morte.
Cobramos garantia de vida aos docentes Mauro D. Tonasse, Palimessio G. Guerro Junior, Afrânio J. S. Soares, João Vicente C. Nunes.
O ANDES-SN, pautado no princípio da democracia e na defesa da universidade pública vem exigir garantia de vida e tranqüilidade aos docentes da UNESP, o fim das perseguições, o cumprimento às legislações respectivas e aos estatutos da universidade, e a imediata apuração dos fatos e punição dos responsáveis pelas ameaças de morte.
Brasília, 19 de dezembro de 2008
Diretoria do ANDES-SN

22/12/2008

Recrudece la violencia social en toda Grecia. Estudiantes y trabajadores se unen contra el Gobierno

18-12-2008

Una furgoneta de la Policía arde en una calle de Atenas por donde fuerzas de seguridad toman posiciones. PANTELIS SAITAS (EFE)

OTR PRESS ATENAS Los enfrentamientos callejeros en Grecia se recrudecieron ayer con manifestantes que lanzaron bombas incendiarias y piedras a la policía en los exteriores del Parlamento, trece días después de la muerte de un adolescente por disparos de la Policía.
En las universidades también hubo enfrentamientos, y un grupo de estudiantes quemó una furgoneta de las fuerzas de seguridad y tres coches, obligando a los comerciantes a echar el cierre, mientras los clientes huían. Por si fuera poco, los sindicatos impidieron el buen funcionamiento de los vuelos y de las oficinas públicas.
Jóvenes con banderas rojas se enfrentaron a los antidisturbios, que formaron un cordón alrededor del Parlamento, y trataron de prenderle fuego de nuevo al árbol de navidad que corona la plaza exterior de la Cámara. La policía respondió lanzando gases lacrimógenos, para intentar dispersar a la multitud. Trece días después de que comenzaran los disturbios, los 7.000 manifestantes mostraban pancartas en las que pedían derrocar al "Gobierno de sangre, pobreza y privatizaciones". Además, denunciaron el fracaso de las reformas de educación y de las pensiones llevadas a cabo por el Gobierno.
En las universidades también hubo enfrentamientos. En la ciudad de Tesalónika, estudiantes y profesores causaron grandes disturbios, obligando a los comerciantes a cerrar sus negocios, mientras los clientes tenían que huir. En Atenas, los estudiantes se enfrentaron con la policía en tres edificios universitarios, quemando contenedores y vehículos, incluyendo una furgoneta de las autoridades.
Los daños son millonarios, y sacuden al débil Gobierno liberal de Costas Karamanlis, según informaciones de Reuters.
Por otro lado, los trabajadores han realizado un paro de tres horas, impidiendo el buen funcionamiento del tráfico aéreo y de las oficinas públicas. Los paros también fueron acompañados por los conductores de autobuses, y por médicos y maestros, que cesaron su trabajo en recuerdo de la huelga de la pasada semana. "No vamos a parar porque estemos en navidad. Vamos a continuar e intensificaremos nuestra lucha durante el próximo año", dijo Stathis Anestis, portavoz de GSEE, la federación de sindicatos del sector privado.
En tanto, un informe balístico dijo que la bala que mató al joven Alexandros Grigoropoulos rebotó antes de acabar con la vida del adolescente, pero es necesaria una mayor investigación para decidir si el policía disparó con un objetivo o al aire. "El fiscal ordenó una investigación más detallada para determinar el curso de la bala", explicó un funcionario judicial.

Farc se dirige aos colombianos pela Paz e anuncia libertação unilateral de seis prisioneiros de guerra

Secretariado das Farc.
Retirado de ANNCOL Brasil
"Apesar de serem alarmantes as conseqüências da resistência ao poder, não é menos certo que existe na natureza do homem social um direito inalienável que legitima a insurreição".
Simón Bolívar
Compatriotas:
Com esta reflexão do pai de nossas repúblicas, o Libertador Simón Bolívar - que ajuda a compreender preocupações coletivas - damos continuidade ao intercâmbio epistolar respondendo aos temas abordados em sua carta do dia 27 de novembro.Concordamos com vocês que a discussão sobre a guerra e a paz na Colômbia não pode ignorar fenômenos que estremecem hoje a consciência nacional. Os denominados eufemisticamente "falsos positivos" – que deveriam ser chamados de assassinatos de civis não-combatentes executados pelo Estado - são, como vocês acertadamente o percebem, manifestação dolorosa da guerra suja que vive a Colômbia. Constituem um reluzente grito de vitória da "segurança democrática" do presidente Uribe, que sempre mediu o êxito dessa política – em seu componente militar - em litros de sangue.Não pode ser considerado como um acontecimento isolado, pois obedece a uma orientação pontual do Ministério da Defesa e da Presidência, repetida sistematicamente a nível nacional em todas as guarnições.É impossível esconder que os milhares de civis assassinados para serem apresentados noticiosamente como guerrilheiros mortos em combate, o foram pelo estímulo de promoções e recompensas oferecidas pelo governo aos militares. Tanto é assim que depois do conhecimento público sobre tal genocídio, o Ministério da Defesa não voltou a publicar suas orgulhosas cifras de "mortos em combate" com as que sustentavam sua fantasiosa "derrota da insurgência" e o "fim do conflito". A consciência da nação deve impedir que este tipo de crime de lesa humanidade que o Estado comete termine na impunidade. A destituição de alguns altos comandos militares por tais acontecimentos deve ser complementada com uma responsabilidade penal, o que muito seguramente, fará com que as cortes e tribunais dos povoados sintam a "segurança democrática" – desenvolvimento da fascista Doutrina de Segurança Nacional –no banco dos réus.Tal como vocês destacam, a escalada do conflito –que tem relação direta com a ingerência crescente do governo dos Estados Unidos no conflito interno colombiano- vem acompanhada de uma maior degradação. Devemos fazer algo para escaparmos dessa maldição que parece nos perseguir desde a destruição da Colômbia de Bolívar e de sua grande obra legislativa concebida visando o bem comum.Desde meados do século passado, a degradação gerada pelo Estado não para de crescer em espiral. Os mesmo métodos brutais que ceifaram a vida de 300 mil colombianos na década de 50, agora mais refinados, seguem vitimizando a população, esquartejando com moto-serras, enterrando em valas comuns, deslocando milhões de camponeses para apoderar-se de suas terras.Recordamos a resposta do comandante das FARC Manuel Marulanda a uma pergunta sobre a humanização da guerra: "a melhor maneira de humanizar a guerra é acabá-la". Hoje, seguimos com a mesma percepção, e para isso é indispensável a mudança das injustas estruturas.Celebramos que sua alusão aos prisioneiros de guerra esteja desprovida deste "humanitarismo distorcido" disseminado pelos meios de comunicação, que vê apenas os prisioneiros de um lado, ignorando que se trata de duas partes em conflito. Este enfoque ajuda na busca de uma solução realista do problema, para o qual reiteramos nossa determinação e vontade de alcançá-la.Nesse esforço coletivo, é importante avançar na identificação e precisão dos temas objeto de nossas reflexões para ganhar certezas na busca por soluções. Por exemplo: em um conflito armado e social como o que vive a Colômbia há mais de 40 anos, integrantes da força pública devidamente armados, treinados e uniformizados combatem diariamente, de diferentes formas e em diferentes cenários, com a guerrilha revolucionária, apresentando baixas de ambas as partes, como ocorre em toda confrontação bélica.
Finalmente uma delas obtém a vitória e faz prisioneiros da parte em conflito. Isto ocorreu, ocorre e inevitavelmente continuará ocorrendo, aqui e em todo lugar do mundo, enquanto durarem os conflitos. Este tipo de capturados são prisioneiros de guerra. Essa é sua categoria dentro do conflito. A não ser que pretendam, como no caso do governo de Álvaro Uribe, negar a existência do conflito.A proposta de Manuel Marulanda Vélez ao Congresso, de aprovar uma lei permanente que deixe aberta a possibilidade da troca, tem plena vigência nestas circunstâncias. Evitaria um cativeiro prolongado e doloroso. Nesse mesmo sentido, e com implicações de diversas ordens, temos planejado em diversas oportunidades, a conveniência de um reconhecimento das FARC-EP como força beligerante.
Acontece também a detenção de pessoas com algum tipo de representação política, que tomaram partido envolvendo-se abertamente em favor da guerra e em crimes contra setores populares, vinculados com o militarismo e o paramilitarismo como demonstra todo o processo da para-política, o que, com suas ações, golpeiam o povo, o tesouro e os bens públicos. Estes, diante da reconhecida impunidade do regime na lógica dos de baixo, devem responder por sua conduta.
E acontece também o fenômeno da retenção de pessoas com objetivos econômicos, que tem múltiplos autores: policiais, militares, DAS (polícia política colombiana), paramilitares, delinqüência comum e membros da insurgência. Na responsabilidade que nos cabe e, entendendo as dificuldades que nos acarreta, fazemos esta reflexão: como se financia uma confrontação como a colombiana? Como faz, por exemplo, o Estado? Decreta cargas impositivas gerais, impostos de guerra, empréstimos das empresas transnacionais, entre as quais se destacam: BP, Chevron – Texaco OXI, Drummond, Chiquita Brands (antiga United Fruit Company), Repsol, Monsanto, Coca-Cola, etc; mas fundamentalmente financia a guerra com ajuda econômica, militar e tecnológica do governo dos Estados Unidos. Colômbia é o primeiro receptor desta "ajuda" no hemisfério, a qual se paga com a soberania. O proeminente sociólogo estadunidense James Petras estima que Washington investiu no Plano Colômbia mais de 10 bilhões de dólares nos últimos 6 anos. É uma desproporção de recursos econômicos e de meios para uma guerra injusta contra um povo.No espírito de minimizar o impacto sobre os não-combatentes, as FARC expediram a Lei 002 sobre tributação, que cobra um imposto para a paz àquelas pessoas naturais ou jurídicas cujo patrimônio seja superior a um milhão de dólares e que, apenas em última instância, contempla o recurso da retenção.A guerra, à medida em que se generaliza, produz efeitos dolorosos e não-desejados. Com franqueza lhes comentamos que não está dentro de nosso ideário nem em nossos princípios a eternização destes métodos. De fato, temos nos manifestado estando envolvidos em diálogos que buscaram a paz com anteriores governos, como bem o ressaltam em sua nota.Os temas desta missiva são mais que oportunos para sugerir-lhes o quão importante seria abrir um amplo debate sobre a situação de milhares de presos políticos encarcerados após prisões em massa utilizadas para atemorizar e dissuadir o apoio popular às forças insurgentes. São milhares os cidadãos acusados de rebelião e terrorismo através de armadilhas da inteligência militar e do pagamento de gordas recompensas. Esta reflexão coletiva deveria incluir também os desaparecimentos forçados de pessoas, a mais estarrecedora forma de seqüestro existente executada pelo Estado, e que a perda de liberdade agrega na perda da vida após espantosas torturas em meio a plena impunidade.Finalmente, vocês nos pedem, visando um eventual intercâmbio humanitário, avançar em algumas reflexões acerca de como "desenhar cenários onde seja possível debater com a sociedade alternativas políticas para encontrar um caminho de transição rumo a uma sociedade justa e equitativa".Sobre isto, estamos propondo, através do manifesto das FARC-EP e da Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia, um encontro das forças políticas e sociais interessadas na mudança, que nos permita delinear de maneira consensual um grande acordo nacional rumo à paz, para construir coletivamente alternativas políticas à guerra e à injustiça social. Estamos seguros de que para nós e para milhões de colombianos seria maravilhoso ver florescer um novo governo, produto desse pacto social, que convoque ao diálogo de paz com participação das organizações políticas e sociais do país, que leve suas conclusões a uma assembléia nacional constituinte, para que o tratado de paz alcançado tenha também sustentação constitucional.Como demonstração ferrenha da vontade que nos acompanha e como gesto que busca gerar condições favoráveis à troca humanitária, anunciamos a próxima libertação unilateral de seis prisioneiros em duas etapas. Estes serão entregues a vocês, como "colombianos pela paz da Colômbia", encabeçados pela senadora Piedad Córdoba. Primeiro, serão libertados três agentes da polícia e um soldado, em seguida, o senhor Alan Jara e o deputado Sigifredo López. As condições de modo, tempo e lugar serão explicadas em seu devido momento.Recebam nossa cordial saudação.
Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, 17 de dezembro de 2008

21/12/2008

Íntegra do discurso de Raúl Castro na Cúpula de Salvador


Confira abaixo a tradução feita por Max Altman:

Espero que o companheiro e querido amigo Lula não proteste, porque eu falo menos que Chávez (risos). Simplesmente, tinha planejado pedir a palavra para agradecer a todos, aos que falaram e aos que ainda não discursaram, a todos aqueles que estiveram de acordo, esta unanimidade exemplar que manifestaram a favor do ingresso de Cuba no Grupo do Río. Não sei o que pensarão os senhores, porém para nós é um momento transcendental de nossa historia.

Como num rápido filme, pela minha mente desfilavam centenas de cenas distintas, milhares de rostos de companheiros caídos nesta batalha, porque a luta do povo cubano não é somente o bloqueio. Depois da agressão de Playa Girón en 1961, veio a crise dos foguetes que pôs o mundo à beira da terceira guerra mundial, como conseqüência dessa mesma agressão. Quando se discutiu esse acontecimento da Playa Girón, alguns companheiros tinham dúvida até que, não faz tanto tempo, documentos foram desclassificados pelo governo norte-americano que demonstravam que o mesmo não podia se conformar com essa derrota, e tinham planejado uma agressão direta a Cuba com suas próprias tropas. Este é o motivo da presença dos foguetes e os momentos que se viveram.

Como se chegou a um acordo entre um presidente assassinado e um primeiro-ministro destituído, me refiro a Nikita Kruschov, sempre permaneceu a dúvida e toda vez que havia uma troca de governo nos Estados Unidos, um jornalista, um porta-voz de segunda categoria, diante de uma pergunta aparentemente ingênua, respondia que esse acordo já não existia, que tinha de se fazer gestões para que pelos canais diplomáticos e não públicos se fizesse saber que esse acordo não existia.

Grande foi nossa surpresa quando soubemos, e de fonte fidedigna, que estávamos isolados, totalmente isolados, a tal extremo que Fidel e eu decidimos manter o segredo. Informou-se no Birô (político de Cuba) que eu acabava de regressar da União Soviética e que havia um assunto sobre o qual se propôs que somente Fidel e eu dele tivéssemos conhecimento, porque se o governo norte-americano, qualquer deles, com uma ou outra exceção, dele se inteirasse, teriam sabido fazer uso dessa vantagem.

Hoje é diferente. Desde que Reagan assumiu o poder, decidimos tomar o assunto em nossas mãos, e hoje talvez possa dizer que há mais compreensão e racionalidade em órgãos de força dos Estados Unidos que na área dos políticos, na área do Departamento de Estado. Hoje podemos dizer que somos invulneráveis do ponto de vista militar, com nosso próprio esforço. Faz mais de 20 anos que não adquirimos um armamento, salvo miras telescópicas para os franco-atiradores e, como é natural, alguma quantidade determinada de peças.

Para nós evitar a guerra sempre significou a vitória principal, e dizíamos: "Evitar a guerra equivale a ganhá-la; mas para ganhá-la evitando-a tivemos de derramar rios de suor e não poucos recursos econômicos" e assim agimos. A defesa do país nos tem custado muito, e continua custando. Milhares de quilômetros de túneis de todos os tamanhos foram construídos, a tal extremo que em Cuba no há nenhuma unidade militar importante na superfície da terra, e sim em suas profundezas, inclusive a aviação.

É por isso que pela minha mente passavam todos esses acontecimentos, e quantos foram. Imaginem os senhores que no dia 18 de dezembro, praticamente dentro de dois dias, estarei em Brasília em visita oficial, em virtude de amável convite que nos fez o presidente. Nesse dia completará 52 anos de que depois do desastre de 5 de dezembro em seguida ao desembarque (do iate Granma) proveniente do México, em que foi praticamente destruído o destacamento guerrilheiro que dali saiu...

Por isso digo que no México nasceram nossas forças armadas, porque o Exército Rebelde foi seu antecedente, como antes o foi o exército mambí, o Exército Libertador, que lutou contra o colonialismo europeu, vamos dizer. Do dia 5 ao dia 18 passaram-se 13 dias. Fidel acreditava que eu estava morto, eu acreditava que ele estava morto. A maioria dos companheiros tombou morto, outros foram assassinados depois de serem capturados feridos ou extenuados. Resisti a um cerco com cinco de meu pelotão. Dos vinte e tantos homens restamos apenas cinco e resistimos ao cerco una semana, onde só podíamos nos alimentar de uns bambus de cana de açúcar, sem água nem comida de espécie alguma. Não gastamos energia movendo-nos, até que alguns incômodos nos indicaram que era o momento de correr o risco e sair do cerco.

Foi assim que 13 dias depois — como lhes dizia —, em 18 de dezembro, já na Sierra Maestra, os camponeses fizeram juntar dois grupos: um era o de Fidel e o outro o meu. Depois do abraço inicial, cerca da meia-noite em que se deu o encontro, Fidel me chamou de lado e me perguntou: "Quantos fuzis você conseguiu trazer?" Eu lhe respondi: "Cinco." E ele disse: E dois que trago eu, sete. Agora sim ganhamos a guerra!" (risos) E o que vou contar aos senhores agora, só contei depois da guerra e sequer atrevi-me a pô-lo em meu diário: "Meu irmão ficou louco!" (risos). Foi o que pensei. Ele me criticava depois: "Então você não tinha esperança de que íamos triunfar?" Achava mais que não ficaríamos vivos.

É assim que se dá a circunstância, talvez única na história, em que depois de um transcurso tão longo, de mais de meio século, estejam vivos parte dos principais dirigentes de nossa Revolução, e sem que nos tenhamos dado conta, assimilamos uma gigantesca experiência em todos os sentidos, incluído o econômico embora não sejamos economistas.

Depois desta solução da crise dos foguetes, a que fiz referência, surgiu um chamado Plano Mangosta, elaborado pela CIA, que durou cinco anos, uma espécie de guerra civil interna — não guerra civil, luta contra os bandos armados. Houve momentos de estarmos lutando contra 179 bandos nas seis províncias da república que tínhamos então, até a Divisão Político- Administrativa aprovada em 1975 e aplicada em 1976, de seis a 14 províncias.

Essa luta durou cinco anos. Eu chegava no Ministério de Defesa e vinham quatro ou cinco ajudantes simultaneamente a trazer-me as listas, a informar-me o que tinha acontecido na noite anterior, ou nas últimas 24 horas — não dispúnhamos das comunicações eficazes que temos hoje - , e eu lhes dizia: "Digam-me o mais importante: tantos incêndios nos canaviais, tantas casas de curar tabaco ardendo, tantos combates travados na região central, onde foram construídos fortes nas montanhas. E como lhes contava, em duas ocasiões estiveram nas seis províncias, incluindo-se o sul da província de La Habana —que era uma só e agora são duas — onde se encontrava a capital. Essa luta durou até janeiro de 1966, depois foi esporádica.

Quantos companheiros caíram nessa luta, e muitos mais, como conseqüência do terrorismo de Estado que há anos vimos padecendo? Morreram 3478 cubanos, inclusive algumas quantidades menores de crianças, mulheres, inocentes que não estavam participando de luta alguma; incapacitados, 2099; total, 5577 cubanos e cubanas, incluindo-se até atentados a nossas embaixadas, e um, inclusive, na ONU. Isso foi universal: consulados, embaixadas, funcionários diplomáticos, etc.

Resistimos, creio que é o mérito maior de nosso povo, o mérito maior nosso, Resistimos e estamos aqui, e se está produzindo este acontecimento transcendental, que faz um instante eu dizia a Felipe (Calderón): Quanto lamento que não seja Fidel a estar sentado aqui, se bem que nos deve estar vendo pela televisão. (Aplausos)

Ao narrar-lhes essas histórias, que peço me desculpem, o fazia para ressaltar por quê para nós este é um acontecimento de enorme transcendência. Passo agora ao texto escrito, e peço desculpas por ter-me ultrapassado em alguns minutos o que tinha planejado falar.