30/04/2009

Seminário Crise Econômica e Conjuntura Nacional

O Instituto Caio Prado Jr realizará, com o apoio do Partido Comunista Brasileiro (PCB), no dia 9 de maio, o Seminário Crise Econômica e Conjuntura Nacional. Veja abaixo a programação completa desse evento:

Mesa 1: Significados da crise
Horário: 9:30 às 12:30

Palestrantes:
Sofia Manzano (Doutoranda em Economia pela Unicamp)
Armando Boito Jr. (Professor de Ciência Política da Unicamp)

Mesa 2: A crise e a luta dos trabalhadores do campo e da cidade
Horário: 13:30 às 16:30

Palestrantes:
Renato Nucci Jr. (Direção Estadual do PCB)
Emanuel Melato (Dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e membro da Coordenação Nacional da Intersindical)
Gilmar Mauro (Membro da direção nacional do MST)

Local: Sindicato dos Eletricitários de Campinas - R. Dr. Quirino, 1511 - Centro - Campinas (SP)
Data: 9 de maio (sábado)

29/04/2009

A Crise É Grave, A Resposta É A Luta!

Na estrutura da sociedade capitalista é ingenuidade esperar inclusão da juventude no processo produtivo e com acesso à cultura e educação de qualidade. Temos jovens assassinados, jovens assassinando, jovens desempregados, jovens drogados, jovens analfabetos, jovens esquecidos e jovens famintos. De todos os flagelados e excluídos os jovens constituem a maioria.

No mundo do trabalho, o jovem não é empregado por falta de experiência e são os primeiros a serem demitidos, especialmente nesses tempos de crise econômica. E ainda são massa de mão de obra barata em ocupações temporárias ou de grande rotatividade como estágios e no telemarketing.

Como o Estado não proporciona espaços de lazer e cultura – e quando têm, não há manutenção ou incentivo –, associado à falta de autonomia financeira, os jovens se apropriam do que está ao seu alcance, como o mundo das drogas e da criminalidade. A alienação perpetua, dificultando a capacidade de organização desse segmento social.

Apesar do quadro desfavorável para a juventude, esta sempre teve um papel fundamental nos avanços democráticos do país. A priori, por uma participação mais combativa e radicalizada dos estudantes por quase todo o século XX e a partir de suas últimas décadas os movimentos culturais passam a somar e a ocupar de forma mais organizada e propositiva os espaços de discussão da juventude, como o punk, o reggae e, especialmente, o hip hop.


Essa organização não é por acaso. Os jovens trabalhadores, os estudantes secundaristas, enfim, jovens pobres aos da classe média formam a massa das periferias da cidade. As expressões culturais, em especial a música, são o principal refúgio e passa a ser um importante espaço de questionamentos, posições, críticas e, logo, de proposição.

Estamos ainda no começo da crise que, seja por pretexto ou por sua conseqüência direta, está demitindo cada vez mais, em grande parte jovens. A precarização do trabalho e a retirada de direitos são as políticas imediatas pelas empresas e pelos Governos para “enfrentar” a crise. Salvar os bancos e as grandes empresas (os parasitas da nossa economia) é a solução do nosso governo para “vencer” a crise, ao invés de estatizá-los e colocá-los a serviço do povo.

O sistema capitalista em dois séculos de hegemonia passou por suas inúmeras reincidentes e orgânicas crises, todas produzindo desemprego, redução de salários, miséria e conseqüentes fervorosas mobilizações, como as que vimos na Europa (centenas de milhares de pessoas nas ruas da França, Inglaterra, Portugal, Irlanda, Polônia, Alemanha e outros). No Brasil já atingiu perto de 800 mil o número de demissões desde o estouro da crise.

Ainda a juventude não mostrou sua cara, seu potencial ainda não despertou. A União da Juventude Comunista faz o chamado aos jovens lutadores a integrar a luta neste 1° de Maio, na Praça da Sé, não contra a crise, que é apenas um sintoma, mas a todo ataque e extorsão feita pelos banqueiros e grandes empresários, sob a gerência do Estado, aos 90% do povo brasileiro, entre trabalhadores e desempregados.



UNIÃO DA JUVENTUDE COMUNISTA

28/04/2009

1º DE MAIO: DIA DE LUTA E RESISTÊNCIA DA CLASSE TRABALHADORA

(Nota Política do Comitê Central do PCB)

Em 1886, cinco operários norte-americanos foram condenados à morte na cidade de Chicago, pela organização de uma ampla greve geral que envolveu milhares de trabalhadores em defesa da redução da jornada de trabalho e por melhorias nos salários. Um ano depois, em diversos países, o movimento operário e sindical fez do 1º de Maio um símbolo de resistência e luta contra a exploração e a desigualdade a que o sistema capitalista submete a população trabalhadora em todo o mundo. Nascia, assim, a tradição dos trabalhadores em fazer do 1º de Maio um dia de consciência, de luta, de denúncias contra a ordem social burguesa e o capitalismo.

A recente crise econômica, que deve ser entendida como uma crise de superacumulação capitalista, se abateu também sobre o Brasil, promovendo forte retração em vários setores da economia, principalmente na produção industrial. Os índices econômicos apontam uma queda na produção em todos os setores produtivos, o que confirma a dependência da economia brasileira em relação aos grupos empresariais exportadores, os quais, ao lado do agronegócio e dos bancos, muito lucraram com a globalização. Enquanto a recessão se aprofunda, Lula só se preocupa em ajudar grandes grupos econômicos, sem intervir para evitar demissões nem promover a reestatização de setores estratégicos, o que até outros governos burgueses vêm praticando. Ao invés disso, anuncia cortes de investimentos do Estado nas áreas sociais.

A burguesia intensificou seus ataques sobre o conjunto dos trabalhadores. Grandes empresários e banqueiros estão tentando tirar proveito da crise: promovem demissões em massa e aumentam a taxa de exploração da força de trabalho, impondo a redução de jornada com corte de salários. Isso demonstra a intenção clara de tentar sair da crise rebaixando salários, direitos e garantias dos trabalhadores e criminalizando os movimentos sociais que ousam resistir à ofensiva do capital.

Nunca, na história recente da luta sindical, trabalhadores foram tão atacados como nesses dias. Por outro lado, em diversos países ressurgem as lutas de massas como forma legítima de reação popular contra os efeitos nefastos que a crise econômica tem acarretado. No Brasil, o movimento sindical retoma seu protagonismo. Ferroviários, petroleiros e outras categorias vêm se levantando com mobilizações e greves. É importante destacar, em âmbito mundial, as ações de radicalização e retomada da consciência da necessidade de ruptura com os mecanismos de dominação e com a lógica de produção capitalista, caracterizada pela destruição das riquezas naturais, pela brutal exploração dos seres humanos e pela negação da vida. Mais do que nunca a questão do socialismo se coloca atual na conjuntura mundial!

Nesse 1º de Maio, o PCB vem às ruas manifestar seu compromisso militante com as lutas e iniciativas de resistência que se vêm desenvolvendo no país e conclama os trabalhadores à organização e à luta em todos os sindicatos da cidade e do campo, nas organizações da juventude, nos organismos de bairro, nos movimentos sociais, enfim, onde houver condições de organizar a população, no sentido de realizar um intenso trabalho político visando à construção de uma frente de esquerda anticapitalista e permanente, formada por partidos, sindicatos e outros movimentos sociais, da cidade e do campo, voltada, primordialmente, a desenvolver um calendário de lutas populares e um programa político capaz de promover uma ofensiva ideológica de denúncia do capitalismo e em prol da construção do socialismo.

- Nenhum direito a menos; avançar em novas conquistas;
- pela reestatização da Petrobrás e das demais empresas privatizadas;
- Pela expansão das redes públicas de saúde, educação e previdência;
- Por uma previdência pública e universal; não à contra reforma da previdência;

- Não às demissões; redução de jornada sem redução de salário; emprego para todos;

- Viva o Primeiro de Maio; viva a unidade dos trabalhadores de todo o mundo; viva o socialismo;

PCB - PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO.
COMITÊ CENTRAL, ABRIL DE 2009.

27/04/2009

REFLEXÕES DE FIDEL

Cúpula das Américas
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ALGUMAS coisas que Daniel me disse seriam difíceis de acreditar se não fosse ele quem as contou e se não fosse uma Cúpula das Américas onde aconteceram.
O insólito é que não houve tal consenso em relação ao documento final. O agrupamento da ALBA não o assinou; assim o constatou no último intercâmbio com Obama, na presença de Manning e do resto dos líderes na manhã de 19 de abril.
Nessa reunião falaram Chávez, Evo e Daniel sobre o tema com absoluta clareza.
Pareceu-me que Daniel exprimiu uma queixa amarga quando, no dia da inauguração da Cúpula, disse em seu discurso: "…Acho que o tempo que estou empregando é muito menor que o que tive de demorar, três horas, no aeroporto dentro do avião."
Perguntei-lhe a respeito disso e me contou que seis dirigentes de alto nível tiveram que esperar na pista: Lula, do Brasil; Harper, do Canadá; Bachelet, do Chile; Evo, da Bolívia; Calderón, do México e ele, que era o sexto. Qual o motivo? Os organizadores, num ato de bajulação, decidiram isso para receber o presidente dos Estados Unidos. Daniel permaneceu três horas dentro do caloroso avião da LACSA, no aeroporto, sob o sol causticante do Trópico.
Explicou-me o comportamento dos principais líderes presentes na Cúpula, os problemas fundamentais e específicos de cada um dos países da América Latina e do Caribe. Não percebi rancor algum. Estava seguro, tranqüilo e compreensivo. Lembrei-me dos tempos da guerra suja de Reagan, as milhares de armas lançadas por ele contra a Nicarágua, as dezenas de milhares de mortos, a colocação de minas nos portos, o uso das drogas por parte do governo dos Estados Unidos para eludir as disposições do Congresso, proibindo fundos para financiar aquela guerra cínica.
Não esquecemos a criminosa invasão ao Panamá, ordenada por Bush pai, a horrível chacina de El Chorrillo, os milhares de panamenhos mortos, a invasão à pequena Granada com a cumplicidade de outros governos da região, fatos bastante recentes na trágica história de nosso hemisfério.
Em cada um dos crimes estava a mão da OEA, principal cúmplice das brutais ações da grande potência militar e econômica contra os nossos povos empobrecidos.
Contou-me do prejuízo que o narcotráfico e o crime organizado ocasionam aos países da América Central, o tráfico de armas norte-americanas, o imenso mercado que impulsiona essa atividade tão nociva para as nações da América Latina e do Caribe.
Contou-me das possibilidades geotérmicas da América Central como um recurso natural de grande valor. Considera que a Nicarágua, por essa via, poderia atingir uma capacidade de geração equivalente a dois milhões de kW/h. Hoje sua capacidade total de geração elétrica, incluídas as diversas fontes de energia, apenas atinge 700 mil kW/h e são freqüentes os blecautes.
Falou da capacidade da Nicarágua para produzir alimentos, do preço do leite que é distribuído a um terço do que cobram nos Estados Unidos, ainda que os salários nesse país sejam dezenas de vezes mais altos.
Nossa conversa girou em torno disso e de outros temas práticos. Em nenhum momento percebi rancor nele e ainda menos sugerir medidas extremistas no tema econômico. Está bem informado e analisa com grande realismo o que pode e deve ser feito.
Expliquei-lhe que muitas pessoas em nosso país não puderam escutar seu discurso por questão de horário e da falta de informação oportuna sobre a Cúpula, que por tal motivo lhe pedia que aceitasse explicar a três jornalistas jovens, num programa da televisão, os temas mais importantes relacionados com a Cúpula das Américas, os que, com certeza, serão do interesse de muitos latino-americanos, caribenhos, norte-americanos e canadenses.
Daniel conhece muitas possibilidades concretas de melhorar as condições de vida do povo da Nicarágua, um dos cinco países mais pobres do hemisfério, como conseqüência das intervenções e da pilhagem dos Estados Unidos. Agradou-lhe a vitória de Obama e o observou bem na Cúpula. Não lhe agradou seu comportamento na reunião. "Mexia-se por todos os lados — disse-me — procurando as pessoas para influir sobre elas, sugestionando-as com seu poder e seus elogios."
É claro que, para um observador a distância, como era meu caso, percebia-se uma estratégia concertada para exaltar as posições mais afins aos interesses dos Estados Unidos e mais opostas às políticas partidárias das mudanças sociais, da unidade e da soberania dos nossos povos. O pior, a meu ver, foi a manobra de apresentar uma declaração supostamente apoiada por todos.
O bloqueio a Cuba nem sequer foi mencionado na Declaração Final e o presidente dos Estados Unidos a utilizou para justificar suas ações e encobrir supostas concessões de sua administração a Cuba. Nós compreenderíamos melhor as limitações reais do novo presidente dos Estados Unidos para introduzir mudanças na política de seu país em relação a nossa Pátria, do que o uso da mentira para justificar suas ações.
Por acaso devemos aplaudir a agressão de nosso espaço televisivo e radiofônico, o uso de tecnologias sofisticadas para invadir esse espaço de grandes alturas e aplicar a mesma política de Bush contra Cuba? Devemos aceitar o direito dos Estados Unidos de manter o bloqueio durante um período geológico até trazer a democracia capitalista a Cuba?
Obama confessa que os líderes dos países latino-americanos e caribenhos lhe comentam em todas as partes dos serviços dos médicos cubanos, contudo, expressa: "…Isto é um recordatório para nós nos Estados Unidos, de que se nossa única interação com muitos países é a luta contra a droga, se nossa única interação é militar, então é possível que não estejamos desenvolvendo conexões que com o tempo possam aumentar nossa influência e ter um efeito benéfico quando tenhamos necessidade de fazer avançar políticas de nosso interesse na região."
No subconsciente, Obama compreende que Cuba goza de prestígio pelos serviços de seus médicos na região e até dá mais importância que nós próprios. Talvez nem sequer o informaram de que Cuba enviou seus médicos não só para a América Latina e o Caribe, mas também para numerosos países da África, da Ásia, em situação de catástrofes, a pequenas ilhas da Oceania como Timor-Leste e Quiribati, ameaçadas de ficar sob as águas se o clima mudar e, inclusive, ofereceu enviar, em questão de horas, uma brigada médica completa para socorrer as vítimas do Katrina, quando grande parte de Nova Orleans ficou desamparada abaixo das águas e haveriam podido salvar muitas vidas. Milhares de jovens selecionados de outros países foram formados como médicos em Cuba, mais dezenas de milhares se estão preparando.
Mas não só cooperamos no setor da saúde, também no da educação, dos esporte, da ciência, da cultura, da poupança de energia, do reflorestamento, da proteção do meio ambiente e noutros. Os órgãos das Nações Unidas podem atestar isso.
Mais uma coisa: sangue de patriotas cubanos foi derramado na luta contra os últimos baluartes do colonialismo na África e na derrota do apartheid, aliado dos Estados Unidos.
O mais importante de tudo, já o disse Daniel na Cúpula, é a ausência total de condicionalidade na contribuição de Cuba, a pequena Ilha que os Estados Unidos bloqueiam.
Não o fizemos na busca de influências e apoio. Foram os princípios que sustentam nossa luta e nossa resistência. A taxa de mortalidade infantil em Cuba é menor que a dos Estados Unidos; há muito tempo que não há analfabetos; as crianças brancas, negras ou mestiças frequentam a escola todos os dias; têm as mesmas possibilidades de estudar, inclusive, aquelas que precisam de uma educação especial. Não temos alcançado toda a justiça, mas sim o máximo de justiça possível. Todos os membros da Assembleia Nacional são candidatados e eleitos pelo povo; vota mais de 90% da população com direito ao voto.
Não solicitamos a democracia capitalista na qual o senhor se formou e na qual acredita sinceramente e com todo o direito.
Não pretendemos exportar nosso sistema político para os Estados Unidos.
-
Fidel Castro Ruz
22 de abril de 2009