17/09/2010

Como as corporações têm lucros por se associar a causas de caridade

Slavoj Zizek
Qui, 09 de setembro de 2010

Eu quero desenvolver uma linha de pensamento sobre um ponto: por que, na nossa economia, a caridade não é mais apenas uma idiossincrasia de algumas pessoas boas aqui e ali, mas o componente básico da nossa economia.
No capitalismo de hoje, há uma tendência crescente em juntar [ganhar dinheiro e caridade] em um único agrupamento, de modo que quando você compra algo, o direito anticonsumista de fazer algo pelos outros, para o ambiente e assim por diante, já está incluído dentro dele.
Se você acha que estou exagerando, eles estão em toda esquina. Entre em qualquer café Starbucks, e você vai ver como eles dizem explicitamente que - eu cito a sua campanha: "Não é só o que você está comprando, é o que você está comprando." E então eles descrevem para você. Ouça: "Quando você compra Starbucks, conscientemente ou não você está comprando algo maior do que uma xícara de café. Você está comprando uma ética de café. Através do nosso programa Starbucks "Planeta Compartilhado", nós compramos mais café do 'comércio justo' [Fair trade] do que qualquer outra empresa no mundo, garantindo que os agricultores que cultivam o grão recebam um preço justo pelo seu trabalho árduo. E nós investimos e melhoramos as práticas de cultivo do café e as comunidades ao redor do globo. É um bom karma do café." E um pouco do preço de uma xícara de café do Starbucks ajuda a mobiliar o local com cadeiras confortáveis, e assim por diante.
Isto é o que eu chamo de capitalismo cultural na sua essência. Você não compra apenas um café, você compra sua redenção por se um mero consumista. Você sabe que faz algo pelo meio ambiente, você faz algo para ajudar as crianças famintas da Guatemala, você faz algo para restaurar o senso de comunidade aqui.
Eu poderia continuar - como o exemplo quase absurdo que é chamado Tom Shoes, uma empresa norte-americana cuja fórmula é "um-para-um". Eles alegam que a cada par de sapatos que você comprar deles, eles doam um par de sapatos para alguma nação Africana. Um ato de consumismo, mas incluso esta o fato de que, você paga para fazer alguma coisa "[boa]".
Isso gera uma espécie de -como direi?- Um superinvestimento semântico ou encargos Você sabe que não é só comprar uma xícara de café. Ao mesmo tempo você cumprir uma série de deveres éticos. Esta lógica esta hoje quase universalizada.
Assim, meu ponto é que este é um curto-circuito muito interessante em que o próprio ato de consumo egoísta já inclui o preço de seu oposto.
Baseado contra tudo isto, penso que deveríamos voltar ao bom e velho Oscar Wilde, que ainda oferece a melhor formulação contra essa lógica da caridade. Permitam-me citar apenas um par de linhas, do início do seu A Alma do Homem sob o Socialismo, onde ele aponta que, a citar: "É muito mais fácil ter compaixão com o sofrimento que ter simpatia com as idéias."
[As pessoas] encontram-se cercadas por uma pobreza horrível, por uma feiúra horrível, pela fome terrível. É inevitável que sejam fortemente movidos por tudo isso... Assim, com intenções admiráveis, porém mal orientadas, muito seriamente o e muito sentimentalmente se determinam a tarefa de remediar os males que vêem. Mas os seus remédios não curam a doença: eles meramente se limitam a prorrogá-la. De fato, seus remédios são parte da doença. Eles tentam resolver o problema da pobreza, por exemplo, mantendo o pobre vivo, ou, no caso de uma escola muito avançada, divertindo os pobres.
Mas esta não é uma solução: é um agravamento da dificuldade. O objetivo adequado é tentar reconstruir a sociedade sobre uma base onde a pobreza seja impossível. E as virtudes altruístas realmente impedem a realização deste objetivo... Os piores donos de escravos foram aqueles que eram gentis com os seus escravos, e assim evitaram que os que estavam sofrendo os horrores desse sistema se apercebessem dele, e que fosse compreendido pelos que o utilizavam... A caridade degrada e desmoraliza... É imoral o uso da propriedade privada, a fim de aliviar os horríveis males resultantes da instituição da propriedade privada.
Eu acho que essas linhas são mais verdadeiras do que nunca. Por mais que pareça agradável, uma renda básica, este tipo de trocas comerciais com os ricos, não é uma solução.
Há, para mim, uma série de outros problemas. Esta é para mim a última tentativa desesperada em fazer o capitalismo: não vamos descartar o mal, vamos fazer o próprio mal trabalhar pelo bem. 30 ou 40 anos atrás, estávamos sonhando com o socialismo com um rosto humano. Hoje a visão mais radical no horizonte da nossa imaginação é o capitalismo global, com um rosto humano. Temos as regras básicas do jogo, vamos torná-lo um pouco mais humano, mais tolerante, com um pouco mais bem-estar.
Vamos dar ao diabo o que pertence ao diabo, e vamos reconhecer isso, nas últimas décadas, pelo menos, até recentemente, pelo menos na Europa Ocidental. Eu não acho que em nenhum momento na história humana uma porcentagem tão relativamente alta da população viveu em tal liberdade relativa, com bem-estar, segurança e assim por diante.
Eu vejo isso de forma gradual, mas, no entanto seriamente, ameaçado.
Estou apenas dizendo que a única maneira de salvar [o liberalismo que nutrimos] é fazendo algo mais. Eu não sou contra a caridade, em um sentido abstrato. É claro que é melhor que nada. Mas temos que estar cientes de que existe uma hipocrisia aí. Por exemplo, é claro que devemos ajudar as crianças. É horrível ver uma criança cuja vida é arruinada por causa de uma operação que custa vinte dólares. Mas, no longo prazo, você sabe, como Oscar Wilde teria dito, se você opera a criança, ela vai viver um pouco melhor, mas na mesma situação que a produziu.
[Publicado em http://www.alternet.org - Tradução de ANA AMORIM].
Fonte: Adital - Quinta-Feira, 09 de setembro de 2010
http://www.youtube.com/watch?v=hpAMbpQ8J7g&feature=player_embedded

16/09/2010

Duas guerras: a de Afeganistão e a da Colômbia.

ANNCOL
Durante os últimos anos escutamos até o cansaço, a mídia desinformadora ao serviço do ganster governo narcoparamilitar de Uribe Vélez, dizer ao melhor estilo de Joseph Goebbels que a 'segurança democrática' liquidou a insurgência colombiana.
Como vulgares puxa-sacos do império tem exclamado sem parar: "A guerrilha está escondida na selva, está fugindo". “Estão comendo raízes". Fugindo sem rumo e desmoralizada". "As Frentes não têm comunicação com seus chefes". "Atacam desde o outro lado da fronteira". (risos e mais risos se escutavam diariamente no fundo das audições).
Ante iminente trunfo das forças oficiais o único que fica para a guerrilha é se render incondicionalmente.
Vã ilusão!
Examinando as cifras oficiais encontramos outra realidade.
Se compararmos o conflito colombiano com a guerra de invasão de EUA e seus aliados no Afeganistão, os dados concretos revelam que as baixas militares sofridas pela 'segurança democrática' na Colômbia, no confronto armado, durante esses oito anos, são o dobro das sofridas pelos EUA, a ISAF e outras variantes paramilitares nessa invasão, apoiada por Uribe e, para a qual ofereceu seus paramilitares para que fossem a matar afeganos.
Cifras oficiais:
País: Colômbia.
Fonte: Forças Militares.
Período: 2002 - 2010 "Segurança democrática" = "Terrorismo de Estado"
01. Soldados, policiais e agentes do DAS mortos no confronto: 4.752
02. Soldados, policiais e agentes do DAS feridos: 15.184. Destes, muitos ficam viciados em drogas, com transtornos mentais ou mutilados.
Total de baixas: 19.936
País: Afeganistão
Fonte: icasualties.org
Período: 2001-2010 "Guerra de invasão liderada pelos EUA."
01. Baixas mortais invasoras: 2.071
02. Militares invasores feridos: 7.266
Muitos deles ficam desempregados, mutilados, dependentes de drogas, desequilibrados.
Total de baixas: 9.337
Na Colômbia, as cifras deixam em evidência que o governo da 'moto-serra' e a grande mídia ocultaram sempre o fracasso da política imperial em seu propósito de exterminar a insurgência e o movimento popular.
A luta dos povos pela liberdade, a soberania nacional, a democracia, a paz com justiça social, NUNCA poderá ser silenciada e, muito menos, vencida pelos opresores.
A Nova Colômbia avança pelos campos e cidades, impregnada de povo, que enxerga já um novo amanhecer de liberdade para esse país.

15/09/2010

O CAVALO DE TRÓIA COLOMBIANO

Ivan Pinheiro*
A bomba que explodiu em Bogotá, logo após a posse do novo presidente colombiano, obviamente não foi de autoria das FARC, como insinuou a mídia burguesa internacional. Em toda a sua história, as FARC jamais recorreram ao terrorismo; nunca explodiram uma bomba que pudesse atingir inocentes.
O mais corriqueiro expediente da CIA, no mundo todo, é exatamente promover atentados e explosão de bombas, com vítimas, sob falsa bandeira, ou seja, acusando de autoria alguma organização contrária aos interesses imperialistas. Para a guerrilha colombiana, seria um tiro no pé, no momento em que desenvolve uma campanha por um diálogo de paz mediado pela Unasul.
A bomba foi obra dos órgãos de informação e repressão da Colômbia, assessorados pela CIA e pelo Mossad.
A bomba foi contra as FARC, para isolá-las de governos e setores progressistas e reformistas e tentar sepultar qualquer possibilidade de negociações de paz entre o estado Colombiano e a insurgência. A bomba foi para classificar a guerrilha como “terrorista”, de forma a não ser reconhecida como parte legítima de uma negociação de paz, que não interessa ao imperialismo nem à burguesia colombiana. Ao primeiro, para ampliar sua presença militar na Colômbia e fazer dela o que Israel representa para o Oriente Médio. À segunda, para continuar se locupletando da ajuda financeira dos EUA e atribuindo às FARC o narcotráfico que, em verdade, é comandado pela máfia dirigida por Uribe e Santos, que controla a produção e a distribuição da cocaína, inclusive para os EUA.
Os verdadeiros terroristas escolheram o melhor momento para explodir a bomba: o inicio do novo governo colombiano e as vésperas de eleições importantes no Brasil. Os reformistas, em seus cálculos eleitorais, precisam se mostrar contrários às FARC para ganhar votos, já que a insurgência está satanizada pela mídia.
Foi exatamente para se aproveitar da reta final da eleição brasileira que Santos, o novo Presidente da Colômbia, veio recentemente ao nosso país. Cinicamente, ao mesmo tempo em que pede ao Brasil para não se intrometer no conflito interno colombiano, escolheu candidatos a Presidente para audiências públicas, com o objetivo de comprometê-los com a classificação das FARC como organização “narcoterrorista”.
Que José Serra (PSDB) se comprometesse publicamente nesse sentido não foi nenhuma surpresa. Em sua campanha tem feito críticas, pela direita, em relação à pragmática política externa do governo Lula, que é progressista nas relações entre Estados e governos e imperialista nas relações comerciais.
A surpresa foi Dilma Roussef (PT) ter aderido à demonização da insurgência, logo ela que a esquerda reformista classifica como socialista, com o único argumento de que participou, como guerrilheira, da luta armada contra a ditadura em nosso país! Santos conseguiu uma grande vitória, arrancando compromissos públicos dos candidatos que a mídia transformou em favoritos.
O Brasil não foi escolhido aleatoriamente para ser o primeiro país visitado pelo novo Presidente colombiano. Ele precisa evitar que nosso país lidere, nos marcos da UNASUL, uma grande mobilização a favor de um processo de negociações para uma paz democrática na Colômbia, que tem como pré-requisito a classificação da guerrilha como organização política beligerante e não como “terrorista” ou “narcotraficante”.
Este é mais um indício de que um previsível governo Dilma/Michel Temer poderá se colocar à direita do governo Lula. Este, pelo menos, ficou “em cima do muro” sobre o tema. Com o objetivo principal de incrementar negócios de empresas brasileiras na Colômbia, Lula conciliou com a instalação de mais sete bases militares norte-americanas na Colômbia e celebrou inúmeros acordos militares e comerciais com esse país (inclusive mais onze na semana passada), mas jamais classificou as FARC como “terrorista” ou “narcotraficante”. Aliás, o compromisso que Dilma assumiu com Santos desmentiu o próprio assessor internacional de Lula (Marco Aurélio Garcia) que, na véspera, dissera que o “governo brasileiro não é uma agência de classificação e, por isso, não classifica a guerrilha como organização terrorista”.
Este compromisso público de Dilma cria condições para que o Poder Executivo ou o Congresso Nacional, num governo em que o PMDB terá mais peso - com um Vice-Presidente forte, mais governadores (apoiados pelo PT), mais ministros, as maiores bancadas e Presidências na Câmara e no Senado - transforme em lei a classificação das FARC como “narcoterrorista”, como em alguns países da Europa, de forma a tornar crime qualquer solidariedade ou relacionamento com a insurgência.
Agora fica compreensível a recente entrevista do secretário de relações internacionais do PT, no jornal Brasil de Fato. Ele afirma que as FARC devem “declarar um cessar-fogo unilateral” como requisito para negociações e propõe que “o conflito na Colômbia deixe de ser militar e passe a ser político eleitoral”, como se eleição fosse o único espaço para a esquerda fazer política. Este é exatamente o discurso de Santos para “resolver” o conflito, com a rendição da guerrilha.
Para reforçar sua argumentação, o dirigente petista, tido como à esquerda em seu partido, lembra que, em El Salvador, o atual presidente foi eleito pela legenda de uma antiga organização guerrilheira, a FMLN. É verdade. Faltou dizer que o mesmo acontece na Nicarágua, cujo governo atual é da FSLN.
Não é preciso apelar às FARC para aceitar uma negociação, como se a organização fosse contra. Basta ler os comunicados das FARC e assistir à mensagem de seu comandante, Alfonso Cano, propondo negociações, com a mediação da UNASUL. Se for por falta de fonte, pode-se recorrer à pagina do PCB (WWW.pcb.org.br). Se queremos a solução do conflito, temos que apelar aos que não querem a negociação, não aos que a querem!
Nos anos 80 e 90, houve na América Latina um processo negociado de desmilitarização de grupos guerrilheiros. Todos esses entendimentos resultaram na transformação das guerrilhas em organizações políticas legais. Na Colômbia, entretanto, este processo terminou com o cruel assassinato de mais de 5.000 membros da União Patriótica, partido político então legal, que incorporava parte dos militantes das FARC que desceram das montanhas, do Partido Comunista Colombiano e de outras organizações de esquerda. Entre os assassinados a sangue frio pelas milícias de direita, estavam o candidato à Presidência da República e os parlamentares eleitos pela UP, intelectuais, sindicalistas e lideranças de massa.
O estado terrorista colombiano não cumpriu o acordo, assinado na presença da imprensa mundial e de personalidades internacionais.
Portanto, as FARC não podem promover uma rendição unilateral, incondicional, uma paz de cemitérios, jogando fora um patrimônio de décadas de luta e submetendo seus militantes a um genocídio. O que pretendem é um diálogo que torne possível uma paz democrática, que ponha fim não só ao conflito, mas ao terrorismo de Estado, à expulsão de camponeses de suas terras, às milícias paramilitares, ao assassinato e à prisão de milhares de militantes e que assegure liberdades democráticas e mudanças econômicas e sociais.
Como uma força beligerante que está nas montanhas pode promover um “cessar-fogo” unilateral, deixando-se matar pelas forças de repressão?
Imaginem se Ho-Chi-Min fosse para as negociações de Paris com suas tropas tendo cessado fogo? Qual o resultado da guerra do Vietnã?
Não dá para tergiversar. Esta é uma proposta ditada pelo oportunismo “político eleitoral” e para favorecer a política externa brasileira, que tem como fundamento fazer do Brasil uma grande potência capitalista mundial. E, principalmente, para desarmar qualquer resistência dos povos à opressão e limitar a luta ao seu aspecto “político-eleitoral”.
Ao invés de pedirmos o suicídio coletivo de revolucionários “não eleitorais”, temos que iniciar imediatamente uma campanha para obrigar o estado colombiano a negociar. E o Brasil tem todas as condições para liderar e fazer acontecer esse movimento.
Desmontar o “Cavalo de Tróia” montado pelo imperialismo na Colômbia não importa apenas para evitar uma guerra com a Venezuela ou a derrubada de seu governo. Como disse Fidel Castro, as bases militares ianques na Colômbia são punhais no coração de toda a América Latina, inclusive, não nos iludamos, sobre o Brasil, cujas extraordinárias riquezas naturais – a biodiversidade da Amazônia, as imensas reservas de água doce e o pré-sal - são os principais objetos da cobiça dos Estados Unidos em nosso continente.
Daí a importância de mobilizarmos personalidades e forças progressistas em nosso país para nos somarmos à iniciativa adotada pela Senadora colombiana Piedad Córdoba e diversos intelectuais do nosso continente que criaram recentemente, em Buenos Aires, o movimento “Latino-Americanos pela Paz na Colômbia”.
* Ivan Pinheiro é Secretário Geral do PCB

14/09/2010

O melhor presidente do Brasil?

Escrito por Gilvan Rocha
11-Set-2010

Tem-se dito, de forma muito insistente, que Luis Lula da Silva foi o melhor presidente que o Brasil conheceu. Para constatar a veracidade desse discurso, basta que indaguemos aos agronegociantes, industriais, banqueiros, altos comerciantes, devastadores do Cerrado e da Amazônia e, sobretudo, aos especuladores nacionais e internacionais. Eles serão unânimes em dizer que o governo Lula é uma sorte grande para os seus negócios.

Não foi à toa que o sr. Barack Obama disse textualmente, referindo-se ao nosso personagem: "Ele é o cara". Não foi sem nenhum propósito que a cúpula do capitalismo internacional, por ocasião de uma reunião em Genebra, proclamou Luis Inácio a personalidade do ano no mundo político internacional.

Por sua vez, o fascismo iraniano tem sido brindado com os fartos elogios do presidente brasileiro, que chama Mahmoud Armadinejad de companheiro. Ora, como se sabe, o Irã é um Estado Teocrático, de natureza profundamente policial, onde a oposição não é permitida e os dissidentes são frequentemente presos e alguns levados à forca. Aliás, para a forca, não são levados somente os dissidentes políticos, mas aqueles que são acusados de prática homossexual.

Não bastassem tais demonstrações de intolerância sanguinária, o governo iraniano condena ao apedrejamento e a golpes de chibata uma mulher a quem acusa de prostituição. Ao lado do fascismo iraniano, há um certo número de facínoras no continente africano que merecem os mimos do governo brasileiro. E quando cobrado o presidente sobre esse comportamento, seus porta-vozes respondem: "negócios são negócios", princípios à parte.

Caixeiro-viajante, a serviço do grande capital, Lula vem gozando de impressionante popularidade, uma vez que fez chegar, aos pobres e miseráveis, alguns resíduos da imensa fortuna acumulada pelos ricos durante o seu governo. Trata-se, portanto, de uma situação adversa para os que lutam contra o capitalismo como única forma de superação das desigualdades e injustiças sociais.

Gilvan Rocha é presidente do CAEP - Centro de Atividades e Estudos Políticos.
Blog autor: http://www.gilvanrocha.blogspot.com/

13/09/2010

Frente Anti-Imperialista, Antimonopolista e Democrática. Luta pelo poder e economia populares, pelo Socialismo

O KKE sempre manifestou que era um engano acreditar num desenvolvimento contínuo do capitalismo, que resultaria num suposto benefício comum para trabalhadores e capitalistas. O KKE previu a crise, a inexorabilidade de um surto agudo, repentino e profundo que tornaria claras todas as contradições inter-imperialistas e sociais.
Frente aos dilemas que o inimigo de classe ao povo em torno da crise, a resposta do KKE é que não existe saída da crise a favor do povo, sem que se toque drasticamente nos lucros, no domínio e no poder dos monopólios.
A Grécia tem os seus pré-requisitos para criar e desenvolver uma economia popular auto-suficiente. Tem um nível satisfatório de concentração da produção, de meios de produção, uma extensa rede comercial e um nível adequado de desenvolvimento de tecnologias modernas. Tem uma mão-de-obra experiente e qualificada e tem recursos científicos.
O caminho para satisfazer os direitos populares contemporâneos, para que o nosso país confronte as intervenções e os antagonismos imperialistas, é que o povo tome o poder, detenha nas suas mãos o controlo da economia e da produção.
A proposta do KKE de saída da crise resume-se na consigna: «aliança popular anti-imperialista, antimonopolista, pelo poder popular».
Apesar do facto de no âmbito da aliança popular poderem existir forças com diferentes concepções sobre o poder, para nós comunistas, o poder popular não pode ser outro senão o socialismo.
Esta aliança popular tem os seguintes eixos programáticos básicos:
• Socialização dos concentrados meios de produção nos sectores de energia, telecomunicações, mineração, indústria, abastecimento e distribuição de água, transportes; que o sistema bancário, o comércio externo e a rede centralizada de comércio interno sejam propriedade social.• Sistemas exclusivamente públicos e universais de educação, saúde, de bem-estar e previdência sociais. Que a terra deixe de ser uma mercadoria, que não exista actividade empresarial nos sectores de educação, de saúde e de bem-estar social.• Desenvolvimento do sector cooperativo ao nível da pequena agricultura, em ramos de pequenos negócios e de trabalhadores autónomos, onde a concentração tenha um baixo nível de desenvolvimento.• Planificação central que formule os objectivos estratégicos para priorizar sectores e ramos da produção, para determinar onde forças e meios devem ser concentrados.
A base do poder popular serão as unidades de produção do sector socializado e das cooperativas, cujos representantes poderão ser substituídos e, em simultâneo, existirá o controlo operário popular da base ao topo.
Desde o seu surgimento, o poder popular confrontará a reacção imperialista organizada, interna e internacionalmente. A solução deste problema e a saída da Grécia da União Europeia e da NATO são inevitáveis. Essa Grécia popular não cabe em nenhum tipo de organismo imperialista. Renegociará a dívida pública e tratará de conseguir acordos internacionais e cooperações em bases completamente diferentes, utilizando na medida do possível as contradições inter-imperialistas.
O KKE luta com toda a sua força para que os trabalhadores tenham conquistas imediatas e continuará na luta para que essas medidas possam ser impostas pela força do movimento, medidas que diminuirão a gravidade dos nossos problemas actuais e consistirão num alívio para o povo.
O KKE desenvolverá reivindicações para cada problema que surja. O nosso Partido continuará a luta por objectivos concretos. No entanto, hoje isto não é suficiente. É necessária uma proposta alternativa de progresso para que a luta tenha objectivo, uma meta, um sentido e, finalmente, para que possa exercer uma pressão suplementar em cada fase da luta.
O caminho a favor do povo e só o do socialismo e jogar-se-á em primeiro lugar a nível nacional.
Na Europa, cada povo que escolha esta via de desenvolvimento, que opte por uma diferente organização da sociedade contra a exploração do capital e dos monopólios, pelo socialismo, estará obrigatoriamente contra a União Europeia.
*Este texto foi publicado numa edição em português do Rizospastis, órgão central do Partido Comunista da Grécia, distribuído na festa do Avante.