16/04/2009

Paraguai quer chegar a acordo sobre Itaipu ainda em 2009

Em entrevista exclusiva à Carta Maior, o secretário de Relações Internacionais do governo Fernando Lugo, Ricardo Canese, defende a agenda da soberania energética paraguaia e garante que a proposta do país para a questão engloba uma nova estruturação energética solidária para a América do Sul. "A recuperação da soberania hidroelétrica paraguaia não é apenas benéfica para o Paraguai, mas também para toda a região e para o Brasil", defende Canese que manifesta confiança em um acordo entre os dois países.
Clarissa Pont
Engenheiro industrial e especialista em hidroeletricidade, atual secretário de Relações Internacionais do governo Fernando Lugo, Ricardo Canese foi figura essencial na campanha eleitoral que levou ao fim do reinado de 61 anos do Partido Colorado no Paraguai. Canese é tido como uma das pessoas mais bem preparadas para discutir com o Brasil a questão de Itaipu.
Em entrevista exclusiva à Carta Maior, Canese defende a agenda da soberania energética paraguaia e garante que a proposta do país para a questãoengloba uma nova estruturação energética solidária para a América do Sul.
Carta Maior - As reparações que o Paraguai reivindica acerca de Itaipu são históricas. O senhor poderia resumir, em cifras, exatamente as perdas paraguaias durante estes anos e o que o país acredita ser um acordo justo hoje?
Ricardo Canese - As perdas ambientais e sociais foram imensas. O Salto de Guaira, uma das maravilhas do mundo - assim como as Cataratas do Yaguazú, que hoje atraem dois milhões de turistas por ano - deixou de existir para sempre. O rico ecossistema do rio Alto Paraná, caracterizado por uma forte corrente em um profundo canal, também deixou de existir nos 200 km onde o rio foi convertido em reservatório. A selva do Alto Paraná em território paraguaio, que se mantinha quase virgem até o início das obras, não existe mais e se perdeu grande parte da biodiversidade ali existente. Numerosas comunidades indígenas tiveram que migrar. Alguns indígenas "trabalham" ainda hoje no aterro de lixo de Hernandarias, a localidade paraguaia onde está Itaipu, reciclando o lixo em condições desumanas.
O maior dano foi o moral e o político. A construção de Itaipu fortaleceu a ditadura criminosa de Alfredo Stroessner e se forjou toda uma cultura de corrupção em alto nível. Os amigos do ditador ficaram imensamente ricos e se ampliaram as diferenças entre ricos e pobres. Hoje o Paraguai é o país da América do Sul com maior quantidade porcentual de pobres extremos. O tratado de Itaipu, imposto ao povo paraguaio pela ditadura militar brasileira, através de seu amigo o ditador Stroessner criou as condições para despojar o Paraguai de sua soberania hidroelétrica. A quanto chega todos estes danos? É difícil estimar, mas estamos a ponto de iniciar uma auditoria integral da dívida de Itaipu que cobriria todos estes aspectos.
Algo que podemos ver com muita mais claridade hoje é que outros países, como o Chile, oferecem pagar ao Paraguai até 20 vezes mais do que paga hoje o sistema elétrico brasileiro por exportar a energia elétrica de Itaipu (100 milhões de dólares ao ano). Nós, sem dúvida, vemos que a recuperação da soberania hidroelétrica paraguaia não é apenas benéfica para o Paraguai, mas também para toda a região e para o Brasil. Da eletricidade que se exporta na América do Sul, 85% tem origem paraguaia, mas aberrantemente não se permite ao Paraguai dispor com soberania de sua energia. Desta forma, impede-se a integração elétrica da região e assim o Brasil perdeu milhões pelo apagão de 2001 e a Argentina também, pela falta de eletricidade em 2007. Chile e Uruguai também tiveram perdas enormes. Todos poderíamos ter ganho, mas o modelo de retirar a soberania hidroelétrica do Paraguai impede um modelo de integração solidária, no qual todos ganhamos.
Carta Maior - O presidente Fernando Lugo afirmou que o prazo para o acordo entre os países é de um ano, o senhor acredita que este tema será resolvido em 2009?
Ricardo Canese - Vamos fazer todo esforço para que se chegue a um acordo em 2009. Não posso assegurar que ele ocorra, porque as posturas ainda estão muito distantes. Apesar de que no Brasil cresceu a opinião de que o Paraguai deve recuperar sua soberania hidroelétrica, o Itamarati defende absurdamente o contrário, ou seja, que o Paraguai não tem soberania sobre sua própria energia. Para nós é esta a questão fundamental e, é certo, o Paraguai jamais vai renunciar a sua soberania, então se o Itamarati não rever sua postura, não haverá solução possível.
O mais estranho é que o Itamaratí defende que o Brasil é soberano sobre todos seus recursos naturais. Aqui há uma contradição difícil de entender, mais ainda se levarmos em conta critérios como a solidariedade dos povos e as assimetrias entre as nações.
Carta Maior - Como o governo paraguaio vê a proposta brasileira de um pacote de ajuda (como a criação de um fundo de investimentos para projetos em ambos países) oferecida pelo governo federal?
Ricardo Canese - Vemos bem toda a proposta de ajuda, se ela não estiver atada a renunciar outras questões como Itaipu. Na reunião presidencial entre Lugo e Lula de 30 de janeiro de 2009, no marco do Fórum Social Mundial, ficou claro que a ajuda (créditos) oferecida pelo Brasil será tratada entre os ministérios da fazenda e fora da negociação de Itaipu, o que demonstra um bom gesto do presidente Lula, porque o Itamarati queria substituir as reivindicações paraguaias por créditos, na sua maior parte atados a comprar equipamentos ou contratar empresas brasileiras. Nenhum crédito, por mais conveniente que possa ser, pode substituir as reivindicações paraguaias de soberania hidroelétrica ou de preço justo. As ofertas de crédito serão tratadas como tal, fora da mesa de negociação de Itaipu, e serão aprovadas se forem convenientes para o Paraguai.
Carta Maior - Recentemente, o ministro brasileiro Edison Lobão afirmou que o Paraguai só teria entrado com a água de Itaipu. Quais são os investimentos paraguaios em Itaipu que senhor enumeraria como importantes?
Ricardo Canese - É uma pena que certos funcionários do Brasil, como o ministro Lobão, ainda pensem como as funcionários da ditadura militar brasileira que assinaram tal frase ("o Paraguai só coloca a água"). É o mesmo que diz um capitalista explorador de proletários para justificar o salário de fome: o trabalhador só coloca sua mão de obra, eu coloco o capital e então tenho direito a mais valia de seu trabalho. Em termos energéticos, a energia hidroelétrica é muito mais valiosa que o petróleo.
Sobre os hidrocarbonetos, não há ninguém que se atreva a sustentar, na Arábia Saudita ou na Venezuela, por exemplo, que "só colocaram o petróleo e não podem exigir nada". O que vale é a reserva de petróleo e não o capital. O mesmo acontece em Itaipu. O que vale é a energia hidroelétrica do limítrofe rio Paraná, o que vale é Itaipu, que é a única hidroelétrica do mundo que pode gerar mais de 90 milhões de MWh por ano. É triste, por ele, escutar um porta voz do governo brasileiro dizer semelhante despropósito. E mais. Se o Brasil nos dissesse hoje: bueno, que o Paraguai entre com 50% do capital e concedemos imediatamente a soberania hidroelétrica, sem dúvida que o Paraguai se colocaria a conseguir tal capital e dispor da energia que lhe é própria e cuja soberania está fora de discussão, mas lastimosamente até agora nos impediram de fazer uso da mesma.

15/04/2009

Chomsky: "Nacionalizações são um passo para a democratização"

Em entrevista à The Real News Network, Noam Chomsky defende as nacionalizações nos Estados Unidos e que as empresas nacionalizadas sejam administradas democraticamente. "Com a participação de conselhos de trabalhadores, da organização da comunidade em reuniões, discussões nas quais são delineadas as políticas". Chomsky defende também que, no atual contexto de crise, os sindicatos "são um dos poucos meios que permitem ao povo comum reunir-se, fazer planos e influenciar as escolhas públicas."
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The Real News Network/Esquerda.Net
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Nesta entrevista à The Real News Network, Noam Chomsky defende as nacionalizações e que as empresas nacionalizadas sejam administradas democraticamente. "Com a participação de conselhos de trabalhadores, da organização da comunidade em reuniões, discussões nas quais são delineadas as políticas". Chomsky defende também que os sindicatos "são um dos poucos meios que permitem ao povo comum reunir-se, fazer planos e influenciar as escolhas públicas."
Paul Jay: Benvindo à The Real News Network. Estamos no MIT, em Cambridge, com o professor Noam Chomsky, que julgo não precisar de apresentação. Muito obrigado por aceitar estar connosco. Há uns dias, a administração Obama e Geithner anunciaram o seu plano para os bancos.
Qual é a sua opinião sobre ele?
Chomsky: Bem, na verdade há vários planos. Um é a capitalização. O outro, o mais recente, é o resgate dos ativos tóxicos através de uma união pública-privada. Essa medida fez subir imediatamente a bolsa de valores. E compreende-se porquê: é extremamente boa para os banqueiros e investidores. Significa que um investidor pode, se quiser, comprar estes ativos sem valor. E se por acaso eles subirem, ótimo, ganha dinheiro; se caírem, o governo garante-os. Assim, pode haver uma pequena perda, mas também pode haver um grande ganho. Um gestor financeiro disse esta manhã no Financial Times que "é uma situação de ganhar-ganhar."
Uma situação de ganhar ou ganhar, se for investidor.
Chomsky: Sim, se for investidor. Para o público, é uma situação de perder-perder. Este plano é uma reciclagem das medidas de Bush-Paulson, com pequenas alterações, mas essencialmente a mesma idéia: manter igual a estrutura institucional, tentar iludir a gravidade da situação, subornar os banqueiros e investidores, mas evitar as medidas que podiam ir ao cerne do problema, impondo mudanças da estrutura institucional.
Que plano o senhor apoiaria?
Chomsky: Por exemplo, veja a questão dos bônus da AIG que estão causando tanto justo repúdio. Dean Baker mostrou que havia uma forma fácil de tratar da questão. Já que o governo, de qualquer forma, é o dono da AIG (só não usa esse poder para tomar decisões), podia separar a seção de investimentos financeiros, que causou todos os problemas, e deixá-la ir à falência. Depois disto, os executivos podem procurar obter os seus bônus de uma empresa falida, se quiserem. Isso resolveria muito bem o problema da falência, e o governo manteria ainda o seu controlo efetivo em larga-escala, se quisesse exercê-lo sobre a parte viável da AIG. E com os grandes bancos, como o Bank of America, um dos maiores problemas é que ninguém sabe o que se passa lá dentro. São aparelhos muito opacos e que fazem muitas manipulações - não são eles que vão falar. Por que o fariam? De fato, quando a Associated Press enviou jornalistas para entrevistar os gestores do banco e lhes perguntaram o que fizeram com o dinheiro do TARP (programa governamental de recuperação de ativos problemáticos), eles simplesmente riram-se. Disseram: "Não têm nada com isso. Somos empresas privadas. A vossa tarefa, a do serviço público, é de dar-nos fundos, mas não de saber o que estamos fazendo." Mas o governo podia descobrir facilmente - nomeadamente, assumindo o controle dos bancos.
Todas estas maquinações políticas são para evitar a nacionalização?
Chomsky: Não é preciso usar a palavra "nacionalização" se ela incomoda as pessoas, mas alguma forma que permitisse que investigadores independentes, investigadores do governo tivessem acesso aos livros e descobrissem o que eles estão fazendo, quem deve o quê a quem, que é a base de qualquer forma de mudança. Não há uma lei da natureza que diga que as empresas têm apenas de se dedicar a dar lucro aos seus acionistas. Nem sequer está na lei. Na sua maioria são decisões de tribunais e decisões de gestão e por aí adiante. É perfeitamente concebível que as empresas, se existem, sejam responsáveis diante dos acionistas, da comunidade, dos seus trabalhadores.
Especialmente quando é o dinheiro público que está fazendo o sistema funcionar...
Chomsky: Veja, o fato é que é quase sempre dinheiro público. Veja o homem mais rico do mundo, Bill Gates. Como é que ele se tornou o mais rico? Muito do que ganhou veio de dinheiro público. De fato, lugares como este onde estamos agora...
O MIT...
Chomsky: É onde foram desenvolvidos os computadores, a Internet, software sofisticado, aqui ou em lugares semelhantes, e quase inteiramente financiados por dinheiro público. No essencial, o sistema funciona assim: o público paga os custos e assume os riscos, e os lucros são privatizados.
Que é o que está acontecendo com todos os planos de resgate.
Chomsky: Bem, fala-se muito disso agora porque são as instituições financeiras e é tudo muito visível, mas isto acontece o tempo todo. Quer dizer: computadores e Internet foram a base para a revolução das tecnologias de informação no final dos anos 90.
Quando fala em "desafiar a estrutura institucional" o que gostaria que acontecesse?
Chomsky: Para começar, empresas, bancos e outros deveriam, penso, ser responsáveis diante de todos os interessados, não só dos acionistas. Não é uma grande mudança. De fato, já foi até levado aos tribunais. Há cerca de 30 anos, as maiores empresas siderúrgicas queriam destruir as fábricas de aço de Youngstown - o núcleo central da comunidade fora construído em torno delas - e os trabalhadores e a comunidade queriam mantê-las e achavam que podiam geri-las privadamente. Levaram o caso aos tribunais, argumentando que as regras de gestão tinham de ser mudadas de forma a que todos os interessados e não só os acionistas tivessem o controle da empresa. Bem, perdeu nos tribunais, naturalmente, mas é uma idéia perfeitamente factível. Podia ser uma maneira de manter viva a comunidade e as indústrias.
Assim, se olhar agora para o sistema financeiro e aplicar esse princípio, de representar os interesses gerais, e não só os dos acionistas, o que significaria isso em termos de política?
Chomsky: Antes de mais nada, para começar, significaria que o governo não resgataria os bancos, aplicaria capital mas exerceria o controle. E controle começa com a fiscalização. Assim, descobrimos o que eles estão fazendo. Em seguida, mantemos as partes viáveis. E se são viáveis deveriam ser postas sob controle público. O governo poderia ter comprado a AIG ou o Citigroup por muito menos do que está gastando agora. Numa sociedade democrática, o governo deveria seguir os interesses do povo, e haver um compromisso público direto no que estas instituições devem fazer e como elas devem distribuir o seu dinheiro, em que termos, etc. Podiam ser democraticamente geridas pelos seus trabalhadores, pela comunidade.
Mas, use-se ou não a palavra, isso não requer uma espécie de nacionalização? O banco não se torna uma instituição de propriedade pública?
Chomsky: Tornam-se instituições de propriedade pública que servem o público e cujas decisões são tomadas pelo público. É uma via longa. É preciso aproximar-se dela passo a passo. Quando se pensa em nacionalização, o sistema doutrinal, por razões históricas, associa nacionalização a uma espécie de Big Brother que toma o controle e dá ordens ao público. Mas não tem de ser necessariamente assim. Há muitas instituições nacionalizadas que funcionam de forma bastante eficiente. De fato, veja, digamos, o exemplo do Chile, que é suposto ser a imagem de marca das economias de livre-mercado Thatcheristas/Reaganistas. Uma grande parte da economia é baseada na muito eficiente produtora de cobre, a Codelco, que foi nacionalizada por Allende, mas era tão eficiente que durante os anos de Pinochet nunca foi desmantelada. Na verdade, está de certa forma sendo enfraquecida mas penso que ainda é a maior produtora de cobre do mundo, recolhe a maior parte dos ganhos do Estado. Noutros lugares também há empresas nacionalizadas com muito sucesso. Mas a nacionalização é só um passo em direção à democratização. A questão é quem as gere, quem toma as decisões, quem as controla. Agora, nas instituições nacionalizadas, as decisões ainda são tomadas de cima para baixo, mas não tem de ser assim. Não há uma lei da natureza que diga que não podem ser administradas democraticamente.
Como seria feito?
Chomsky: Com a participação de conselhos de trabalhadores, da organização da comunidade em reuniões, discussões nas quais são delineadas as políticas - é assim que, supostamente, funciona a democracia. Claro que ainda estamos muito longe disso, mesmo no sistema político. Veja o exemplo das eleições primárias. Da forma como funciona o nosso sistema, os chefes de campanha dos candidatos vão a alguma cidade de New Hampshire e fazem uma reunião, e o candidato vai e diz: "Vejam como sou um cara simpático. Votem em mim. E as pessoas ou acreditam nele ou não, e vão para casa. Imagine que tínhamos um sistema democrático que funcionava ao contrário. O povo da cidade de New Hampshire se reuniria em conferências, reuniões, organizações públicas, etc., e delinearia as políticas que queriam ver aplicadas. Depois, se alguém se candidatava, podia ir lá; se quiserem, podem convidá-lo e ele iria ouvi-los. Eles diriam: olhe, eis as políticas que queremos que implemente; se pode fazê-lo, vamos aceitar que nos represente, mas vamos destituí-lo se não o fizer. Como disse, isso está muito longe em termos da política de hoje. Chomsky: Não está tão longe, acontece.
Mas em nível nacional...
Chomsky: Nesse nível está mais distante. Mas vejamos aquele que é provavelmente o mais democrático país do hemisfério ocidental, apesar de as pessoas não gostarem de pensar dessa forma: a Bolívia. É o país mais pobre do hemisfério. É o mais pobre da América do Sul. Houve eleições nos últimos anos nas quais a grande maioria da população, que é o povo mais reprimido do hemisfério, a população indígena, entrou pela primeira vez em 500 anos na arena política, determinou as políticas que quis, e elegeu um líder das suas próprias fileiras, um camponês pobre. E as questões são muito sérias - o controle sobre os recursos, a justiça econômica, os direitos culturais, as complexidades de um sociedade multiétnica muito diversa. As políticas vêm do próprio povo, e é suposto que o presidente as implemente. Há todo o tipo de problemas, nada funciona tão perfeitamente, mas é a democracia a funcionar. É quase o oposto da forma como funciona o nosso sistema.
Voltando aos EUA, pensa que os atuais planos para o setor financeiro, o setor automobilístico, o plano de estímulo geral vão funcionar? E se não, para onde estamos caminhando em termos de intensidade de crise? E o que significa em termos de democracia americana?
Chomsky: Não creio que alguém saiba se vão funcionar. É uma espécie de tiro no escuro. O meu palpite é que não vai ser a Grande Depressão, mas pode haver anos difíceis pela frente e muitos remendos se as atuais políticas forem aplicadas. O núcleo central das atuais políticas é manter a atual estrutura estável, decisões tomadas de cima.
E pôr dinheiro para os planos de resgate.
Chomsky: Pode entrar com o dinheiro para os planos de resgate, mas sem fazer parte do aparelho de decisão. É certo que vai haver alguma forma de regulação. A mania de desregulação dos últimos 30 anos, baseada em conceitos religiosos realmente fundamentalistas sobre a eficiência dos mercados em grande parte desapareceu, e muito rapidamente. Veja por exemplo Lawrence Summers, que é hoje praticamente o principal conselheiro econômico de Obama, conseguiu reconstruir o sistema regulatório que ele destruiu há poucos anos. Ele foi um dos principais a impedir o Congresso a regulamentar os derivados e outros instrumentos exóticos, sob a influência destas idéias sobre eficiência dos mercados e escolha racional, etc. Essas idéias estão agora muito abaladas, e parte do aparelho regulatório vai ser reconstruído. Mas a história disto é muito clara e fácil de entender: os sistemas de regulação tendem a ser tomados pelas empresas que deveriam regulamentar. Foi o que aconteceu com as ferrovias e outros casos. E é natural. Elas têm o poder, poder concentrado, capital concentrado, influência política enorme - de certa forma regem o governo. Acaba que eles assumem o controle do aparelho regulatório no seu próprio interesse. Assim, por exemplo durante o que muitos economistas chamam a época de ouro do moderno capitalismo de estado, entre os 50 e meados de 70, não havia grandes crises. Havia um sistema regulatório, havia regulação dos fluxos de capitais, taxas de câmbio, etc., o que levou ao maior crescimento em época de paz da história. Mudou em meados dos 70, quando a economia foi em direção à desregulamentação e financeirização, enorme crescimento dos fluxos de capital especulativo, mitologias sobre a eficiência dos mercados. Houve, é claro, crescimento, mas concentrado em poucos bolsos, e estamos há 30 anos em relativa estagnação de salários reais para a maioria da população.
E como é que isso muda?
Chomsky: Há um pequeno aspecto distributivo na política fiscal, chamam-lhe socialismo, comunismo, etc., mas mal regressa aonde estava há poucos anos. Por outro lado, a melhor maneira de chegar a um sistema mais igualitário seria, simplesmente, ampliar a sindicalização. Os sindicatos tradicionalmente não só melhoraram as vidas e os benefícios e as condições de trabalho e os salários dos trabalhadores, mas também ajudaram a democratizar a sociedade. Os sindicatos são um dos poucos meios que permitem ao povo comum reunir-se, fazer planos e influenciar as escolhas públicas. Houve um grande exemplo disto há umas semanas. O presidente Obama queria demonstrar a sua solidariedade ao povo trabalhador; foi a Illinois e falou numa fábrica. A escolha foi marcante; escolheu a Caterpillar. Teve de se contrapor às objeções da igreja e dos grupos de direitos humanos, devido ao efeito devastador que as máquinas da Caterpillar estão tendo nos territórios ocupados por Israel, onde estão destruindo terra agrícola, estradas e aldeias. Mas ninguém, que eu saiba, noticiou algo ainda mais dramático. A Caterpillar tem um papel na história do trabalho nos EUA. Foi a primeira fábrica, em gerações, a usar fura-greves para destruir uma greve. Foi, se não me engano, em 1988, como parte dos ataques de Reagan aos trabalhadores, mas foi a primeira instalação industrial a fazê-lo. Isso é um fato grande, importante. Nessa altura, os Estados Unidos eram os únicos, junto com a África do Sul, a permitir uma coisa dessas. E isso destrói na essências o direito de associação do povo trabalhador.
O Employee Free Choice Act (lei de livre-escolha do empregado) supostamente é algo que facilita a sindicalização, mas não ouvimos muito falar dela desde as eleições.
Chomsky: Não ouvimos falar muito dela. Não ouvimos quando Obama foi à fábrica, que é o símbolo de destruição do trabalho por práticas injustas, porque isto foi tirado da memória das pessoas. O Employee Free Choice Act é sempre mal interpretado. É descrito como um esforço para evitar eleições secretas. Não é isso. É um esforço para permitir que os trabalhadores decidam se deve haver eleições secretas, em vez de deixar as decisões inteiramente nas mãos dos empregadores. Durante a campanha, Obama falou nisso, mas rapidamente o tema foi deixado de lado. Mas um passo muito maior para superar a redistribuição radical para os mais ricos, que ocorreu nos últimos 30 anos, seria simplesmente facilitar os esforços de sindicalização. Mas cada presidente desde Reagan atacou isto. Reagan disse diretamente: "não vamos aplicar a lei". Assim, a demissão de trabalhadores - demissão legal - por organizar os trabalhadores triplicou, de acordo com a Business Week, durante os anos Reagan. Quando chegou Clinton, havia basicamente um dispositivo diferente. Chamava-se Nafta. O Nafta oferecia aos empregadores uma maravilhosa forma de impedir a organização dos trabalhadores: bastava pôr um grande cartaz a dizer: "Operação de transferência para o México". É ilegal, mas se o governo é fora da lei, pode ter sucesso nisto. E nem vale a pena falar dos anos Bush. Mas pode-se reverter isto, e isso seria um passo significativo não só para reverter a enorme redistribuição de rendimento para os de cima, mas também para redemocratizar a sociedade, fornecendo mecanismos pelos quais o povo possa atuar politicamente no seu próprio interesse. Mas isso mal está sendo discutido, até agora, nas margens. E coisas como, por exemplo, o controle dos interessados sobre as instituições, trabalhadores e comunidade, não está muito abaixo da superfície no espírito das pessoas. Está sendo empurrado para o lado. Mas se olharmos para trás, para os anos 30, quando questões semelhantes - não as mesmas, mas questões bastante parecidas estavam sendo levantadas, o que realmente causou medo nos corações do mundo dos negócios foram as greves de ocupação (sit-in strikes). Foi quando os empresários começaram a falar sobre o risco de que enfrentavam e sobre o poder das massas. Mas o que tem de ameaçador uma greve de ocupação? Bem, uma greve de ocupação está apenas a cinco segundos de fazer emergir a idéia: "Por que nós devemos sentar aqui? Por que não dirigir a fábrica? Podemos fazê-lo, melhor que os gerentes, porque sabemos como tudo funciona". Isso assusta. E está começando a acontecer. Há um mês, houve uma greve de ocupação numa fábrica de Chicago, a Republic Windows and Floors. A multinacional proprietária queria fechá-la ou transferi-la para outro lado. E os trabalhadores manifestaram-se e protestaram, mas finalmente fizeram uma greve de ocupação. Bem, tiveram uma meia-vitória; não venceram totalmente. Muitos mantiveram os empregos. Uma outra empresa comprou-a. Mas não deram o passo seguinte, que era: "Bem, por que não dirigimos a fábrica, junto com a comunidade, que se importa com a fábrica, e talvez uma comunidade mais ampla, que também se importa, no público em geral?" Essas eram questões que deviam ser discutidas.
Tradução de Luis Leiria/Esquerda.Net

14/04/2009

Para onde vai o leste europeu?

O leste europeu está passando por um “realinhamento” significativo, num movimento em que, por trás das cortinas, se digladiam a União Européia, a OTAN e a “nova Rússia” de Putin/Medvedev. O mês de abril já registra protestos em duas das repúblicas da região que emergiram a partir da dissolução da União Soviética, a Geórgia e a Moldávia.

Flávio Aguiar


Há muita confusão no ar. Mas uma coisa é certa: o leste europeu está passando por um “realinhamento” significativo, num movimento em que, por trás das cortinas, se digladiam a União Européia, a OTAN e a “nova Rússia” de Putin/Medvedev.

O começo de abril foi marcado por protestos – alguns violentos – em duas das repúblicas do leste europeu que emergiram da submersão da finada União Soviética.Houve protestos pacíficos em Tbilisi, na Geórgia, contra o presidente Mikhail Saakashvili. Saakashvili chegou ao poder em 2003, no curso de um movimento batizado no Ocidente como “Revolução Rosa”. Na ocasião, foi saudado por George Bush com o apelido de “Farol da Liberdade”. O movimento afastou a Geórgia da Rússia, o que a tornou logo um alvo para a União Européia, de um lado, com sua aproximação econômica de “levar o capitalismo” a quem dele precisa; da OTAN, de outro, com sua aproximação militar de ocupação das áreas de influência de sua arquiinimiga, a Rússia.

Antes de prosseguirmos com a história dos protestos, vale uma observação: cada vez mais fica evidente que a finada União Soviética era uma espécie de “cortina de fumaça” para a “Grande Rússia”, um sonho/plano que acabou determinando uma curiosa linha de continuidade histórica entre os regimes czarista e soviético, no fim de contas. De certo modo o fim do comunismo “libertou” a Rússia de suas “peias ideológicas”, e a questão das áreas de influência retorna a galope, agora que aquele país e o Kremlin estão se reerguendo das cinzas do passado (isso será tema de um próximo artigo). Enquanto isso, a União Européia tenta alargar suas fronteiras e mercados, e a OTAN, atavicamente, continua a cercar a Rússia.

Saakashvili, o “Farol da Liberdade” de Bush, logo revelou-se adepto de métodos tirânicos. Eleito em 2008 para um mandato que vai até 2013, embalou-se no sonho de sua “Grande Geórgia”, e provavelmente com o sonho/desejo de que a OTAN viesse em seu socorro, invadiu o território da Osséssia do Sul, vista como uma “província rebelde” em relação ao seu país. Acontece que o Osséssia do Sul tornara-se uma espécie de protetorado russo, por sua vizinhança com a Osséssia do Norte, em território do Kremlin. Putin estava em Pequim, para a abertura dos jogos olímpicos do anos poassado. Realizou uma reunião de meia hora com Bush, que também estava lá, onde deve ter dito cobras e lagartos ao então presidente norte-americano (basicamente, deve ter dito: “nós vamos resolver isso do nosso modo, vocês podem espernear e protestar, mas não se metam, pois a coisa foi longe demais”). Depois, tocou-se para o lugar das operações, de onde comandou uma ofensiva dos blindados russos que varreu do mapa as tropas de Saakashvili que, aliás, foram acusadas de várias atrocidades em jornais da própria Europa.

Para completar esse quadro de desastre, a Geórgia é um dos países que vem sendo dos mais afetados pela recente crise de origem no sistema financeiro norte-americano. Resultado: as oposições, de vários tipos, que permaneciam divididas, estão em maré montante contra o presidente, cuja fama de “déspota não esclarecido” faz fortuna. Analistas políticos de dentro e de fora da Geórgia dizem que Saakashvili não vai renunciar, mas que provavelmente não terá condições políticas de permanecer no poder até o fim de seu mandato, o que vai reabrir a “questão geórgica” para norte-americanos, europeus e russos.

Alguns países mais a oeste, a pequena Moldávia passava também neste começo de abril por acontecimentos dramáticos. A Moldávia, espremida entre a Romênia e a Ucrânia, é uma pequena ilha “comunista” neste encapelado mar “capitalista”. Tudo entre aspas, porque o comunismo, como regime social, desapareceu; mas o antigo Partido Comunista, liderado por Vladimir Voronin, permanece no poder, e com apoio dos russos. Essa permanência foi confirmada no dia 7 de abril, em eleições em que Voronin obteve uma vitória apertada para a ocupação das cadeiras no parlamento (61 a 60). As oposições não se conformaram, e chamaram protestos na capital Chisinau contra o governo, alegando fraude nas eleições. Os protestos, de início pacíficos, viraram pancadaria, quando grupos bem organizados ocuparam e aparentemente saquearam o prédio do parlamento, o escritório da presidência e outros prédios governamentais.Uma coisa chama a atenção: a participação de jovens nos protestos é muito grande. Para eles uma derrota de Voronin significaria uma aproximação maior com a União Européia e suas perspectivas de um possível capitalismo afluente. A Moldávia é o país mais pobre da Europa; tem mais ou menos 3,5 milhões de habitantes, dos quais 800 mil reivindicam a cidadania romena. Comentaristas pró-Ocidente se referem à Moldávia de Voronin como uma “república de aposentados”. Outros, mais agressivos, falam de uma “república de desdentados”. Entretanto o clima desses comentários era uma situação anterior que hoje não existe mais, qual seja, a de um capitalismo rutilante que oferecia paetês e lantejoulas para populações desiludidas com a falta de democracia e de perspectivas do finado comunismo.

Hoje, pelo contrário, o que o capitalismo vizinho oferece são as “noites de terror” em que milhares de pessoas dormem com um emprego e acordam desempregadas, o que só complica mais o caldo de cultura desse imbróglio em que se misturam ambições territoriais de “grandes pequenos países” às desilusões e esperanças muitas vezes enraivecidas com ambos os regimes, o comunista e o capitalista. O caso complicou-se mais ainda porque, segundo o próprio governo moldavo, alguns dos manifestantes levavam bandeiras romenas.

A vizinha Romênia já teve posse de grande parte do território moldavo entre 1918 e 1940, que fazia parte do sonho da “Grande Romênia”, buscado pela então monarquia vigente. Além das disputas de fronteira, há cicatrizes históricas consideráveis: o governo da Romênia alinhou-se com os nazistas durante a guerra, e o exército romeno promoveu seus próprios “progroms” na vizinha Moldávia, contra judeus e contra comunistas, ciganos e outros grupos “indesejáveis”. A re-anexação da Moldávia à Romênia significaria uma entrada imediata na União Européia, uma vez que esta já faz parte do condomínio com sede política em Bruxelas. Voronin acusou a Romênia de patrocinar os protestos, fechou a fronteira com o vizinho, expulsou o embaixador, e prometeu endurecer a política de vistos de entrada para romenos.

Por sua vez a Rússia, que no começo do ano “enquadrou” o rebelde governo da Ucrânia através do “lockout” do fornecimento de gás durante o inverno (sem falar que mais ou menos 30% do gás utilizado na Europa vem da Rússia através de gasodutos em território ucraniano), promete sustentar o governo de Voronin; ao mesmo tempo, a União Européia tem prevista uma reunião para 7 de maio, em Praga, para a qual estão convidadas, além da Moldávia e da Romênia, a Ucrânia, a Bielo-Rússia, a Armênia, o Azerbaijão e a Geórgia (ainda) de Saakashvili, um caldo efervescente que pode entornar a sopa.

FONTE: Agência Carta Maior

13/04/2009

AGRONEGÓCIO

A revolução industrial colocou a disposição do mundo uma nova etapa no processo de exploração capitalista, cujo homens, mulheres e crianças tinham como única opção de trabalho as indústrias ,recebendo salários baixíssimos que mal garantia sua alimentação diária. A indústria, era sinônimo de produção de riquezas e as novas tecnologias e técnicas de produção a cada dia mais acelerava o terrível processo de exploração da então classe trabalhadora. Hoje em dia, verificamos semelhante processo de exploração do capital também no campo. O chamado agronegócio. Se analisarmos o processo agrícola principalmente no Brasil no início do século passado, encontramos o café como principal produto de exportação do Brasil do período, sendo que esse, gerou uma elite altamente abastada financeiramente no período em questão. A atividade cafeeira da época gerava uma grande quantidade de empregos, sem os devidos direitos trabalhistas e humanos é logico , que necessitou até mesmo da vinda de trabalhadores de outros países como os italianos para a mão -de obra do café. Hoje, a atividade agrícola é altamente profissional , com técnicas de produção que visam a exploração do trabalhador rural em uma escala sem precedentes. O agricultor de hoje, é obrigado a ter uma produção altíssima a custo mínimos e isso se da principalmente na política de quem pode mais “engole o outro”. É comum hoje, grupos que dispõe de capitais extremamente altos que ficam migrando de atividades sem vínculos culturais com o meio do trabalhado apenas procurando melhores condições de lucro, assim, quando o café , a soja e outros gêneros estão com seus preços em alta, mudam seu capital de atividade , prostituindo o mercado com grandes produções altamente rentáveis, até que esse ramo, se enfraqueça e o capital é novamente migrado de setor. Um grande exemplo disso, é a antiga loja de departamentos MIG . O setor estava aquecido e essa grande empresa surgiu da noite para o dia com mais de trinta lojas e ao menor sinal de crise no setor, simplesmente vendeu a rede, fechou lojas não se importando com a grande classe trabalhadora abandonada a sorte . Na agricultura moderna, não é diferente, grandes empresas transnacionais compram, vende os produtos agrícolas sem que o pequeno produtor se beneficie de seu trabalho no campo. A agressividade da economia de mercado, a ganancia de produzir,a concentração de renda não olha para o campo a não ser com os olhos da exploração. O agronegócio, veio para fazer a concentração de renda rural por empresas rurais que tem como única mentalidade tirar proveito do trabalho humano. Assim como no setor de supermecados que hoje é dominado por grandes companhias, o setor agrário caminha para a mesma direção . A expulsão dos pequenos trabalhadores do campo por inviabilidade técnica e custos de produção, a concentração de riquezas nas mãos de poucos e principalmente a perda de identidade de gerações de pessoas das áreas interioranas que tem suas vidas, seus valores modificada em alguns anos ,se perdendo uma cultura que foi gerada por séculos.
O agronegócio veio para unir as fronteiras de propriedades, veio para concentrar terras e renda, e aumentar o processo de exôdo rural que tanto prejudica as cidades. Os camponeses de ontem, são os favelados de hoje. A única saída de vários setores sobreviverem é agregar valores nos produtos, as “indústrias rurais,” ficam presas as escandalosas quadrilhas de produção de insumos agrícolas como Monsanto ,Bayer entre outras, cujo seus preços em grande parte são semelhantes ,e as necessidades de volume de produção “obrigam” os agricultores a consumir , e isso claro, é muito mais pesado para os micro e pequenos propriétarios que tem menor ( ou nenhum) poder de barganha e de compra, o que acaba inviabilizando a produção , sendo essas áreas repassadas para os grandes grupos de produtores / exploradores.
O agronegócio também, em busca de mais áreas de atuação gera danos ambientais terríveis; a própria Amazônia é testemunha disso que tem suas áreas invadidas pelas fronteiras agrícolas, ge-
rando devastação e expulsão de nativos. O planeta, não suporta mais esse modelo de consumo e produção atual, é preciso repensar a forma de consumo de cada nação , estado, cidade, família e o agronegócio incita justamente o contrário, demonstra produtividade , produção de riquezas, virilidade econômica, mas esquece de forma brutal as questões sociais. O crescimento da economia só se justifica pelo crescimento vegetativo da população, de outra forma, é acumulação de renda as custas das reservas naturais do planeta, e em muitas vezes, o crescimento é falso, fictício como ficou muito bem claro na atual crise econômica , onde a saúde de empresas tidas como sólidas esfa-
celaram-se como gelo na fogueira produzido por espectativas futuras , gestões fraudulentas.
O campo brasileiro, não pode mais se iludir para o terror do agronegócio, é lobo em pele de cordeiro, o problema é muito maior do que se supõe certas classes que acham que estão no caminho certo. À tendência é “engolir” os pequenos e médios produtores, esses, ficaram sempre a merce de capital emprestado para “tocar” suas propriedades, e sem dúvida, a concentração de renda que aconteceu nas cidades, encontrou a ferramenta do agronegócio para ampliar seus tentáculos capitalista para o espaço rural. Não há dúvida que o agronegócio é extremamente produtivo, que a riqueza gerada por essa cadeia produtiva é imensa, produzida mas não distribuída, podendo servir como exemplo o caso da Citrosuco em Bebedouro – SP, que abandonou a cidade a própria sorte ao menor sinal de crise, algumas usinas de alcool , e também, não há como negar que os produtores tradicionais do Brasil não estão preparados para tamanha concorrência e ideologia de mercado o que levará a vários produtores a impossibilidade de continuar com suas atividades. Isso é fato, isso é questão de tempo caso não haja profundas mudanças nesse cenário de exploração agrária.
Para completar o cenário pavoroso criado e controlado nos mínimos detalhes pelos capitalistas, o controle da mídia nos coloca o agronegócio como solução de futuro para o Brasil, sendo que esse o único país do mundo totalmente sustentável pela quantidade de terras agricultáveis, quantidade e qualidade de água disponível, grande território com imensas reservas naturais sendo ele o Brasil, alvo de ambições imperialistas de todo o mundo que além de outras atitudes (da mídia) satanizam os movimentos sociais que de uma forma ou de outra tentam esclarecer a sociedade das atitudes contra os trabalhadores ; servindo como exemplo c o MST, que sem dúvida é o maior movimento social existente no Brasil atualmente, já que vários sindicatos se preocupam mais em qualificar o trabalhador para servir ao agronegócio do que lutar e mobilizar contra ele. A questão da terra, da distribuição de renda, e principalmente dos danos ambientais, sempre devem permanecer na pauta de qualquer conversa entre os brasileiros. Cabe a cada um de nos, ao invés de apenas ver o que nos mostra a mídia, questionar, debater e principalmente posicionar.
Geliane Gonzaga
Geógrafo e membro PCB-Franca
www.geliane-detudoumpouco.blogspot.com

12/04/2009

Plenária Nacional da Intersindical

As classes dominantes vêm realizando uma violenta ofensiva em todo o mundo contra os trabalhadores, em função da crise econômica mundial, mediante as demissões em massa, rebaixamento dos salários, retirada de direitos e garantias e criminalização das lutas dos movimentos sociais. No Brasil, a situação não é diferente: o governo Lula realiza a política da burguesia, colocando recursos públicos para salvar os bancos e empresas privadas, enquanto as demissões ocorrem diariamente, mesmo naquelas empresas que receberam créditos do governo.
Trata-se de uma conjuntura que reafirma a necessidade da luta e da organização dos trabalhadores, no sentido de resistir aos ataques do capital e construir uma alternativa global à ofensiva da burguesia, que tenha como eixo a centralidade do trabalho, a organização dos trabalhadores a partir de seus locais de trabalho, a resistência ativa contra as demissões e o rebaixamento dos salários, a construção de uma nova ordem social e econômica, tudo isso traduzido num programa capaz de colocar os trabalhadores em movimento rumo à sua emancipação.
Nessa difícil conjuntura é hora de dar passos concretos no sentido de construir as ferramentas de organização dos trabalhadores, que possibilitem sua intervenção no cenário político com clareza e independência política. Por isso, achamos de fundamental importância nesse momento o fortalecimento da Intersindical como um instrumento de luta e organização da classe trabalhadora para resistir às ofensivas do capital e avançar rumo a novas conquistas, um instrumento do sindicalismo classista, independente do Estado, dos patrões e dos partidos políticos.
Para que esta tarefa seja realizada com êxito, o Comitê Central recomenda a todos os Comitês Regionais do País a realização do máximo de esforços no sentido de enviar para a Plenária Nacional da Intersindical, que será realizada na cidade paulista de Santos, nos dias 25 e 26 de abril, uma expressiva delegação de companheiros sindicalistas, quer da base, oposições sindicais ou membros de direções das entidades sindicais. Achamos fundamental que estejam representados nesta plenária todos os Estados em que o partido esteja organizado.
Nesse sentido, conclamamos os companheiros e amigos da Unidade Classista a transformar o 25 e 26 de abril num grande espaço de recomposição da classe, de reorganização do movimento, de reflexão sobre nossa estratégia e tática para enfrentar a burguesia neste contexto de crise, de forma a que a nossa expressiva delegação à Plenária Nacional possa contribuir de maneira ativa e militante para a construção do pólo classista do movimento sindical.

Todos à Plenária de 25 e 26 de abril em Santos – São Paulo.

Comissão Política Nacional do PCB

Rio de Janeiro 09 de abril de 2009