12/08/2010

Alastra o temor de uma agressão no Irã

Na última semana dezenas de media progressistas divulgaram em todo o mundo artigos e reportagens sobre a iminência de uma agressão militar ao Irão. O projecto de uma invasão terrestre do país foi considerado inviável pelo Pentágono. Atolados no Afeganistão e no Iraque, os EUA não dispõem de forças para se envolverem numa guerra convencional num pais gigantesco e bem armado. Mas pressões da extrema-direita norte-americana e de Israel para que as instalações nucleares do Irão sejam bombardeadas aumentaram nos últimos dias. O recurso a armas nucleares tácticas tem sido defendido por generais do Pentágono e admitido pelo presidente Obama. A crónica que publicamos, da TV Al Manar, do Libano, reflecte o temor de uma agressão militar que seria o prólogo de uma tragédia para a humanidade.
A partir de 1945, os EUA já tentaram derrubar pelo menos 50 governos estrangeiros – incluída a última tentativa, em curso, de derrubar o governo eleito do Irão. Essa vergonhosa estatística não é resultado apenas de má política externa; quando o presidente Obama assinou a decisão e converteu em lei, dia 1/7/2010, as sanções contra o Irão, não cometeu erro de desatenção, nem errou por descuido. A política externa dos EUA pode ser comparada à ação de um assassino serial.
Estrangulamento econômico e agressão militar contra o Irão
As sanções agem em silêncio, mas são terrivelmente mortíferas. Matam combatentes e não-combatentes indiscriminadamente e covardemente. Basta ver as sanções que os EUA impuseram ao Iraque: o pesquisador Richard Garfield estima que “pelo menos 100 mil ou, em avaliação mais rigorosa, mais de 220 mil recém-nascidos e bebês morreram, no Iraque, entre agosto de 1991 e março de 1998, por causas motivadas ou diretamente relacionadas às sanções econômicas”.
O governo Obama divulgou as sanções econômicas dos EUA contra o Irão como se fossem medidas “pacíficas” – tentativa pacífica de asfixiar a economia iraniana, cujo único objetivo era tentar pacificamente paralisar o país. Não bastasse, no final de junho cerca de uma dúzia de navios de guerra dos EUA e pelo menos uma corveta israelense cruzaram o Canal de Suez seguidas de três esquadras navais – em ato flagrante de provocação e tentativa de intimidação, que veio coordenado com agressiva retórica imperialista.
Dia 1º de agosto, o almirante Mike Mullen – chefe do Estado-maior do exército dos EUA, disse que os EUA têm planos prontos para atacar o Irão. Falando no domingo ao programa “Meet the Press” da rede NBC, Mullen disse que “as opções militares estavam sobre a mesa e continuam sobre a mesa. Espero que não cheguemos até lá, mas é opção importante e é opção já bem compreendida”.
Grande número de jornalistas, dos mais bem qualificados aos inqualificáveis, têm-se dedicado a converter a Resolução n. 1.553 da Câmara de Deputados dos EUA, em petulante brincadeira de desocupados; convertendo o que bem poderia ser uma avalanche de repúdio nascida da opinião pública norte-americana, em retórica a mais oca, para assim suavizar o que jamais deixou de ser manobra política de alto conteúdo tóxico.
O corpo de jornalistas-correspondentes dos grandes jornais já nem falam do número de baixas na população civil, na pobreza e na subpobreza em que naufragam os territórios palestinos ocupados pela entidade sionista ou da grotesca cumplicidade entre regimes ocidentais. Nada disso. A cobertura que a imprensa, jornais e televisão, oferece da invasão, nos dois casos, tanto no Iraque quanto no Afeganistão, começou com algum alarido e rapidamente se converteu em sussurro, para só reaparecer, sempre tímida, quando clamam aos céus as cinzas de grande número de mortos ou acontece algum aniversário ‘histórico’ sem importância alguma.
Se, ou quando, o Irão for militarmente agredido, não será diferente.
A Câmara de Deputados dos EUA ‘exige’ guerra
A Resolução 1.553 da Câmara de Deputados dos EUA não finge nem tenta fingir que ‘anseia’ por alguma paz. Sua razão de ser vem explícita, jogada à cara do mundo:“Expressamos integral apoio ao direito do Estado de Israel (…) de usar todos os meios necessários para enfrentar e eliminar a ameaça que vem da República Islâmica do Irão, inclusive o direito de usar força militar.”
Os deputados Republicanos dos EUA deram carta branca a Israel, hoje envenenada e que pode, em breve, estar também encharcada de sangue; o Estado sionista recebeu luz verde e os deputados dos EUA lhes gritam “Abrir fogo!”
Independente do que o conjunto hoje hegemônico de pseudo-intelectuais e políticos queira fazer-crer ao mundo, Israel não tem qualquer preocupação com a opinião pública, sempre que se trata de agir ao arrepio da lei internacional e de qualquer lei. Incontáveis vezes, sempre e sempre, Israel já deu provas de que sua agenda está acima de qualquer lei, e ninguém, até hoje, conseguiu levar o regime sionista às barras de algum tribunal, ou obrigá-lo a prestar contas de uma lista-de-lavanderia de crimes de guerra contra o povo palestino e o povo libanês. Israel não é Estado de Direito e jamais obedeceu a lei alguma, sempre em conluio com seu parceiro de crimes, os EUA.
As forças de ocupação israelenses já treinam para atacar o Irã
Dia 30 de julho, a mídia em Israel noticiou que as Forças de Ocupação Israelenses estavam em “treinamento militar na Romênia, em terreno montanhoso e de cavernas, semelhante aos túneis de montanha nos quais o Irão enterrou suas instalações nucleares. Seis aviadores israelenses morreram em acidente com um helicóptero Sikorsky “Yasour” CH-53 nas montanhas dos Cárpatos romenos, na 2ª-feira, 26/7. O acidente ocorreu na fase final de exercício conjunto de três exércitos, EUA-Israel-Romênia[1], em que se simulava um ataque ao Irão”.
A rede PressTV libanesa noticiou, dia 1º/8, que Israel ameaça abertamente bombardear as instalações nucleares iranianas há anos, mas “a probabilidade de ataque desse tipo aumentou significativamente, dada a crescente impaciência de Telavive com as sanções do Conselho de Segurança da ONU e dos EUA e outras medidas assemelhadas adotadas unilateralmente pelos EUA e pela União Europeia, que até agora não apresentaram o resultado esperado de alterar a posição de Teerã, de defender seu programa nuclear para fins pacíficos.”
Ouvem-se mais altos os tambores de guerra e o sinal é mais claro
Senadores dos EUA declararam, em uníssono, que as sanções contra o Irão não impedIrãoo a República Islâmica de perseverar em suas “ambições nucleares” – em termos que leigos entendam: os políticos norte-americanos ‘exigem’ que o Irã pare de fazer o que o Irã já declarou incontáveis vezes que não está fazendo. Se o Irão não parar de fazer o que não está fazendo (i.e. fabricando bombas atômicas etc.), haverá consequências, incluído aí um cenário de Apocalipse, que interessa muito, é claro, a Israel.
Do senador dos EUA Joseph Lieberman, “Bombardeiem o Irão”:
“Considero profundamente importante que a liderança iraniana fanática entenda que falamos muito sério sobre o programa de bombas atômicas deles, e se dizemos que não aceitamos que o Irão se torne nuclear, não aceitamos e não aceitaremos – e podemos e faremos qualquer coisa para impedir que o Irão se torne nuclear.
Depois virão as sanções, sanções violentas, sanções econômicas. Francamente, é a última chance que damos ao Irão de pouparem o mundo inteiro, inclusive os EUA, de terem de tomar uma dura decisão entre permitir um Irão nuclear e usar nosso poder militar para impedir que continuem nucleares.”
Do senador dos EUA Evan Bayh:
“Temos de considerar a opção final, o uso da força para impedir o Irão de construir uma arma nuclear.”
De Leon Panetta, diretor da CIA:
“Acho que as sanções terão algum impacto (…) Mas afastarão o Irão de suas ambições de alcançar capacidade nuclear? Provavelmente, não.”
Na reunião do G8, em julho, o presidente Obama declarou que o Irão teria prazo até setembro para aceitar as propostas internacionais que visam a impedir que a República Islâmica desenvolva armas nucleares. Setembro é o prazo final.
Os EUA não agirão sozinhos em guerra contra o Irão, nem nada leva a crer que os EUA declararão guerra ao Irão. Israel, que já provou sobejamente apoio integral ao terrorismo imperialista terá a tarefa de acender o pavio. Afinal de contas, quem impedirá a entidade sionista ilegal de fazer no Irão o que já fez no Líbano e em Gaza e faz em cada precioso palmo da terra palestina ocupada?
O Irão já se manifestou claramente, sem meias palavras, como tantas outras vezes. O embaixador do Irão à ONU, Mohammad Khazai, já disse que “se o regime sionista cometer qualquer agressão em território do Irão, incendiaremos todo o front dessa guerra que eles inventaram, e Telavive arderá.”
Setembro está perto e logo saberemos se Israel e EUA cumprIrãoo, ou não, suas muitas ameaças. Todas as guerras provocadas por Israel ao longo de sua história de perversidades foram guerra de agressão ditas ‘preventivas’. O tempo dirá se tentarão acrescentar o Irão, como mais uma marca em pistola de matador. Se tentarem, saberão: foi a última vez.
Notas:
[1] Sobre o acidente e esses exercícios militares, ver Robert Fisk, 2/8/2010, The Independent, em português “Israel já se meteu pela União Europeia adentro… e ninguém viu!”, no Blog O outro lado da notícia, www.vermelho.org.br/blogs/outroladodanoticia/?p=44375).
Este texto foi publicado no web site da Al-ManarTV de Beirute, Libanowww.almanar.com.lb/NewsSite/NewsDetails.aspx?id=148986&language=en
Tradução de Caia Fittipaldi

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