17/11/2009

O CASO UNIBAN É FRUTO DA MERCANTILIZAÇÃO DO ENSINO

Renato Nucci Junior (Militante e dirigente do PCB-São Paulo)

Nunca na história desse país o ensino superior esteve tão submetido à lógica mercantil como no governo Lula. Através do programa Universidade Para Todos, que concede bolsas de estudos parciais e integrais em Instituições de Ensino Privado (IEP), o Estado afastou a inadimplência, o maior risco nesse tipo de negócio, garantindo o lucro fácil dos capitalistas que vendem uma mercadoria chamada educação. Essa política de expansão das vagas via ensino privado, tornou as IEP’s tão lucrativas que algumas negociam suas ações em bolsa através da Oferta Pública de Ações. Em 2008, as IEP’s se tornou a terceira atividade econômica mais lucrativa do país, com o valor de suas ações em bolsa sendo superadas apenas pelos setores de tecnologia de informação e o de cigarros, bebidas e alimentos.
Mas o que tem a ver a mercantilização do ensino com os fatos ocorridos na Uniban, onde uma estudante foi hostilizada e quase currada por centenas de alunos por estar usando um microvestido? Tudo. Ao preferir punir a vítima das agressões, a aluna Geisy Arruda, a Uniban agiu como age qualquer capitalista privado. Entre punir e perder centenas e perder uma aluna, a Uniban calculou qual prejuízo seria menor e decidiu por expulsar Geisy. A Uniban só não contava com a reação da opinião pública, que indignada obrigou a direção da universidade a voltar atrás e suspender, sem maiores explicações, a pena aplicada.
Mas a relação entre a mercantilização e a privatização do ensino com o caso de uma estudante achincalhada e quase estuprada por um bando de alunos alucinados não param por aí. A tentativa da Uniban de expulsar a aluna Geisy Arruda está em consonância com a lógica da lucratividade das IEP’s também por outras razões. Em primeiro lugar, porque ao preferir punir a vítima, se preocupando como procuramos demonstrar acima em garantir seus lucros, a Uniban não demonstrou qualquer motivação em combater os valores machistas e a violência contra as mulheres presentes em todas as camadas da sociedade brasileira. Como vendedora de uma mercadoria chamada educação, a preocupação da Uniban é ganhar dinheiro. E para isso, o que mais importa é garantir a alunos ávidos em concorrer egoisticamente por uma vaga no mercado de trabalho, o seu sucesso profissional a qualquer custo através da venda de um canudo de papel. Com função tão limitada, as IEP’s se desobrigam de qualquer papel formativo ou corretivo, como o combate aos preconceitos de gênero. Além do mais, e o caso em tela é exemplar, ao restringir sua função como em todas as IEP’s a produção de força de trabalho qualificada (?) em escala industrial visando com isso ganhar rios de dinheiro, a Uniban renunciou a um papel primordial da universidade: o de estimular o pensamento crítico. Entre as luzes e a sombra, entre a razão e a ignorância, a direção da Uniban, em respeito ao seu objetivo maior que é o de lucrar, para não perder alunos escolheu ficar do lado das sombras e da ignorância.
Pelos motivos aqui expostos, o caso Uniban revela a necessidade de se fortalecer em todos os níveis uma rede pública de ensino, através da ampliação de vagas nas universidades públicas e na estatização de todo o sistema de ensino privado. E no caso do ensino superior, pensar um modelo de Universidade Popular cujos objetivos não sejam apenas o de formar força de trabalho qualificada, mas de desenvolver um pensamento crítico vinculado à luta por uma nova sociedade, capaz não só de eliminar as desigualdades sociais, mas também pôr fim a todo tipo de preconceito, seja ele qual for.

Campinas, novembro de 2009.

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