13/12/2008

Pausa para a literatura

Descarrilo

Descarrilou surpreendentemente, decepcionou, não a si mesmo, mas à uns certos tipos que dele esperavam aquilo que jamais pudera oferecer. Tentou, é verdade, não podemos negar o esforço que desprendeu em ser “normal”. Quis verdadeiramente apagar aquela chama que o tornava anormal, no entanto, a chama o queimou ao passo que seus esforços tentavam conduzi-lo por caminho oposto.

E quão oposto era o caminho que este tipo logrou seguir. Imposição do mundo, sim. Na verdade não era vítima, tinha discricionariedade, podia ter assumido sua anormalidade, não o fez, preferiu vestir a máscara da normalidade. Que anomalia.

Desfaleceu. Terminou seus dias numa cama, duro como pedra, depois de ingerir o mais forte dos venenos. Sua morte foi rápida, fulminante, esgotou em si mesma uma das poucas possibilidades de reversão da desgraça que assola a própria vida, não a deste tipo, que já não era vida desde há muito tempo, mas dos outros mortos, que se quedam vivos por aí, sobem e descem as ladeiras, com pesos nas costas e não se dão conta de carregam um mundo que não os pertence, e lutam pelo gozo de uns poucos malditos que não sabem o peso que tem a cadeira na qual depositam seu imundo e pesado corpo.
Higor F. de Oliveira

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