27/10/2008

Um Partido indelével


Por: Jerónimo Carrera (*)

Alvaro Cunhal, um grande dirigente do Partido Comunista Português, de quem guardo a recordação de o haver conhecido durante seus longos anos de exílio em Praga, escreveu um extraordinário livro com o acertado título de O Partido com Paredes de Vidro, do qual tenho um exemplar (Edições Avante!, 5ª edição, Lisboa 1985).

Faço tal menção porque quando me disseram, na semana passada, que o chamado "alto governo" visa eliminar o Partido Comunista da Venezuela, claro que não pude acreditar. Porém, logo li tanto no oficial Jornal Vea como no semi-oficial Últimas Notícias, dirigidos respectivamente pelos meus admirados amigos e antigos dirigentes do PCV, Guillermo García Ponce e Eleazar Díaz Rangel, que a dita versão era verídica. Uma versão tão absurda que me soou, inicialmente, como originada nos mais incompetentes círculos dessa quinta coluna que, na Venezuela, se auto-denomina como "oposição".

Então me lembrei do livro do camarada Cunhal, cujo partido também sofreu ameaça de dissolução por Oliveira Salazar, um ditador fascista hoje esquecido, comparsa de Mussolini e de Hitler, mas que, em seguida, foi protegido pelas potências ocidentais até a sua morte, do mesmo modo que fizeram com o espanhol Francisco Franco. Durante quatro horríveis décadas, ambos ditadores praticaram barbaridades para acabar com os comunistas em seus países, algo que, naturalmente, nunca puderam alcançar.

Já se deveria saber muito bem que como seres humanos, nós, os comunistas, também somos mortais, porém não ocorre o mesmo com um partido dos comunistas, que é o partido de uma classe social, e não de uma ou umas determinadas pessoas. É essa a imensa diferença que existe entre o partido da classe operária e os partidos da burguesia, chamem-se como for.

Um partido comunista, em qualquer parte do mundo, tem mais ou menos as mesmas características. Isto se explica pelo fato de serem partidos nascidos da classe operária, do proletariado, que, como bem assinalaram Marx e Engels, é internacional por natureza.

No plano ético, um partido comunista tem "paredes de vidro", visto que nada tem a esconder, coisa que ocorre com freqüência nos partidos burgueses ou pequeno burgueses. Em troca, os fundamentos de todo partido comunista são do mais indestrutível aço: a teoria do marxismo-leninismo. Além do mais, no caso da Venezuela, ninguém nem nada poderá apagar o PCV da história nem do "mapa político".

(*) Presidente do Partido Comunista da Venezuela PCV

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