27/10/2008

TEKOJOJA CONVOCA UM CONSENSO NACIONAL PARA GARANTIR A SOBERANIA PARAGUAIA E O PROCESSO DE MUDANÇAS


O Movimento Popular Tekojoja manifesta a sua preocupação diante da pressão exercida pelas Forças Armadas do Brasil, há mais de uma semana, na Tríplice Fronteira, através de manobras militares, férreos controles sobre o comércio e declarações ameaçadoras e convoca um consenso nacional sobre as principais políticas do governo atual, especialmente no que se refere à recuperação da soberania energética e à reforma agrária.

Estes projetos poderiam entrar em risco caso a população e as organizações diminuam seu apoio aos mesmos, pois afetam os interesses do Estado do Brasil e dos latifundiários do nosso país, muitos deles também brasileiros. Também fazemos um chamado ao Governo do Brasil para que acalme os militares de seu país, para não cairmos em desnecessários riscos que poderiam vir a afetar seriamente as relações entre nossos países.

Vários acontecimentos atuais e históricos servem de sustentação para a nossa preocupação, demonstrando que nós, paraguaios, não sofremos de "delirios de perseguição", como havia acusado o falante embaixador do Brasil em nosso país. As denúncias e fotografias tomadas pelos meios de comunicação durante os exercícios militares das FFAA brasileiras, no fim de semana passado, assinalam que helicópteros teriam invadido o espaço aéreo paraguaio. O recente decreto do governo brasileiro, no qual manifesta que cuidará dos interesses "de seus cidadãos", inclusive fora de suas fronteiras, as declarações de que ocuparia militarmente Itaipu se necessário, mais as publicações de meios de comunicação brasileiros que incitam a rejeição de qualquer negociação com o "hidropopulista" Lugo, permitem ver uma série de elementos que geram um aumento desnecessário e arriscado do clima de tensão entre ambos países, num momento em que se inicia o processo de negociações sobre o colonial tratado de Itaipu, assim como a revisão da origem e da situação legal dos latifúndios do país, o que tornaria visível a irregularidade de vários fazendeiros brasileiros.

Devemos tratar a situação com seriedade. Os nefastos e entreguistas regimes colorados garantiram, por décadas, a tranquilidade necessária para o Estado brasileiro pisotear o Estado paraguaio em Itaipu e sua soberania energética. Também garantiram a entrega da soberania econômica do país e hipotecaram as possibilidades de um verdadeiro desenvolvimento nacional, ao conceder enormes extensões de terras, de maneira irregular, a pseudo-"sujeitos" da reforma agrária. Essa repartição de terras se realizou entre nacionais leais à ANR, mas também entre fazendeiros e capitais brasileiros. Segundo o INDERT, são 7 milhões de hectares que têm "origem por meios ilícitos" no país, expressão que oculta, além do mais, que a verdadeira violência do campo paraguaio se inicia com as invasões destes "senhores da terra" às terras públicas, e que, ao continuar se expandindo para vender matérias-primas ao mercado internacional, o fizeram às custas dos historicamente esquecidos compatriotas camponeses.

Só estes dois elementos entregues ao Brasil, já significam atualmente interesses por bilhões de dólares, e por isso não é de surpreender que um governo que busque modificar esta situação, como é o de Fernando Lugo e a Aliança Patriótica para a Mudança, gere resistências das historicamente imperialistas Forças Armadas do Brasil.

Em 17 de novembro, completam-se 105 anos do Tratado de Petrópolis, que significou a incorporação forçada de 191.000 km2 de território boliviano ao Brasil, no que se chama hoje o Estado do Acre. O discurso que justificava essa invasão, guerra e anexação, baseava-se na necessidade de garantir a segurança dos milhares de brasileiros que viviam nessas terras bolivianas. Esse discurso também encobria os verdadeiros interesses sobre a borracha, o ouro e a prata da região. Foi um passo a mais na histórica expansão do Brasil sobre seus vizinhos, desde os tempos em que era colônia portuguesa e, posteriormente Império, recordando também a Guerra da Tríplice Aliança e sua política de extermínio sobre o Paraguai.

Chamamos a atenção para o discurso dos latifundiários paraguaios e seus porta-vozes oficiais, que querem fazer acreditar que o problema do campo é um problema "camponês", entre este setor e os colonos chamados brasiguaios. Desta maneira, evita-se o "pecado original" que gerou as atuais injustiças econômicas e sociais do campo, que é a propriedade ilegal sobre milhões de hectares do país, pertencentes a latifundiários tanto paraguaios como brasileiros. Esse mesmo setor fazendeiro, que não necessita do rendimento que poderia provir de relações mais justas em Itaipu, é o que sustenta de maneira falsa que Lugo está sob o domínio "chavista", servindo à campanha de setores conservadores do Brasil pela rejeição da renegociação da binacional com um "populista", quando o debate deveria ser sobre a justiça ou não do tratado. Criam-se, assim, as tentadoras justificações de ação para as Forças Armadas brasileiras, ao ver em risco os multimilionários interesses de seu país no nosso.

Solicitamos ao Governo do Brasil que diminua as tensões na fronteira, o que também afeta diretamente o comércio e os milhares de trabalhadores que vivem ali, muitos deles seus compatriotas. Pedimos coerência ao país vizinho, pois está liderando a integração sul-americana com a UNASUR e uma política de defesa comum através do Conselho Sul-Americano de Defesa, e ações deste tipo só favorecem a potências que não querem ver uma América Latina unida.

De qualquer maneira, o único que fará o Brasil desistir de tomar ações que seriam uma loucura nos tempos atuais, será fazer-lhes entender que nosso país está de acordo com um programa que votou no dia 20 de abril. Por isso, é fundamental um consenso mínimo entre os setores populares, acadêmicos, profissionais, jornalísticos, políticos, sociais e outros, sobre as justas reivindicações pela soberania energética e pela reforma agrária. O Movimento Popular Tekojoja convoca a todos os setores patrióticos a entrar em reflexão sobre esta situação que incomoda a potência vizinha e os setores conservadores do Paraguai e do Brasil, e chama a todos para ir pensando numa agenda conjunta, que leve a uma verdadeira consciência nacional sobre estas necessidades que devem ser solucionadas para realmente pacificar o país e fazer justiça.


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