28/08/2008

7.200 PRESOS POLÍTICOS: UMA REALIDADE OCULTA NA COLÔMBIA

O artigo abaixo transcrito da rede YVKE Mundial traz alguns informes sobre os presos políticos que existem na Colômbia e as reais condições em que se encontram.
YVKE Mundial- Venezuela, Caracas. No último ano, o conflito colombiano percorreu o mundo inteiro através das páginas dos mais importantes jornais do planeta. As trocas humanitárias e a libertação da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, como símbolo dos reféns nas mãos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), têm movido uma campanha liberdade de todos os reféns e pela desarticulação da guerrilha.

Porém, o conflito colombiano não gera sofrimento só de um lado, pois a realidade tem duas caras. Frente aos mais de 700 reféns nas mãos das Farc, encontram-se os 7.200 presos políticos do Estado, que enfrentam acusações por "rebelião ou ligações".
O Comitê de Solidariedade com os Presos Políticos Colombianos (Cspp), defensor dos direitos humanos e permanentemente em alerta sobre a situação que vivem estes detentos, afirma que são constantes as violações das garantias dos presos por parte do Estado.

"Ainda que o Instituto Nacional Penitenciário e Carcerário (Inpec) diga que nas cadeias não há distinção de presos, que todos são iguais e são enviados a qualquer prisão, na prática existe diferença de tratamento do preso político do réu social e do paramilitar", indicou Carolina Rubio, representante do Cspp em Santander, numa conversa com Últimas Noticias. Para Rubio, a política do Inpec é só parte da estratégia governamental para ignorar o conflito armado que vive a Colômbia.

Crime: ser camponês

O Cspp divide em dois grupos a população penal que atende: aqueles que formam parte da insurgência armada, e os que dentro da vida civil fazem oposição ao Estado na busca por uma transformação social.

Os primeiros representam uns 1.500 detentos e os segundos, entre os quais se encontram estudantes, sindicalistas, defensores dos direitos humanos, familiares dos membros da guerrilha, mães e camponeses, totalizam os 5.700 presos políticos restantes. E dentro deste grupo, a maioria é camponesa.

"O camponês está preso porque a insurgência vive em sua área. Milite ou não milite, pense igual ou não, é preso.", afirma Rubio.

Segundo explica, depois da decisão do Governo de gerar um movimento nacional de informantes contra a guerrilha, com um sistema de recompensa, foram criados casos de falsas acusações contra camponeses, baseadas em diferenças entre vizinhos e em ódios pessoais. Além do mais, comentou Rubio, os juízes não pedem provas pelas acusações para condenar o acusado. Somente lhes basta sua apreciação subjetiva sobre a veracidade dos fatos e a confiança no testemunho de, ao menos, duas pessoas.
Sistema penal

Como parte de sua política penitenciária, o Estado colombiano estabeleceu acordos com os Estados Unidos e o Serviço Federal de Prisões, criando um conjunto de centros de alta segurança, que funcionam à imagem e semelhança das cadeias norte-americanas. A respeito disso, o Cspp manifesta que este modelo carcerário aniquila o ser humano e, dentro dele, se tornam vulneráveis os direitos humanos dos réus.

Todos os presos políticos são enviados a estas prisões de máxima segurança. Condenados ou acusados, todos compartilham da mesma sorte. O Código Penal da Colômbia (CPC) previa, até 2005, uma pena de seis a nove anos por rebelião, a qual podia ser reduzida a três anos por bom comportamento. Em 2006, a pena foi aumentada de nove a doze anos.

Metade dos detentos por rebelião são acusados por cometer só este crime. No entanto, devido aos atrasos no sistema judicial, podem chegar a ficar presos até três anos e, logo depois, serem postos em liberdade. "Em uma família, detiveram a mãe e o pai, deixando seus dois filhos sozinhos, e os absolveram 15 dias antes de cumprir três anos", disse Carolina Rubio. "E isso é muito normal. Com os camponeses é normal, com as pessoas dos movimentos sociais isso é normal", acrescentou.

Ainda que o CPC defina rebelde como a pessoa que através das armas faz oposição ao Estado, os civis que se opõem e buscam uma transformação social expressando suas idéias, totalizam quase 80% dos presos políticos da Colômbia.

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