02/07/2008

Estados Unidos se retiram do Conselho de Direitos Humanos da ONU

Por Graciela Ramírez

Os Estados Unidos acabam de retirar-se do Conselho de Direitos Humanos da ONU. A brusca saída do governo de Bush evidencia a fraqueza, a decadência e a profunda crise pela qual passa o país mais poderoso do planeta.
Longe de mostrar força, que só tem no plano armamentista como potência imperial, a retirada dos EUA. do CDH deixa claro o enorme desprestígio da administração Bush, que de acordo com os próprios norte-americanos é a pior de sua história.
O cineasta Michael Moore comenta em sua página web que acabam de completar 1347 dias de guerra e ocupação militar no Iraque. "Estamos mais tempo no Iraque do que nos levou toda a Segunda Guerra Mundial. [...] Depois de três anos e meio nem sequer fomos capazes de conquistar uma simples estrada. [...] É uma guerra perdida porque nunca teve o direito à vitória; perdida porque foi iniciada por homens que nunca estiveram numa guerra, por homens que se escondem atrás de outros, enviados para lutar e morrer (1).
O descrédito do governo Bush, devido a sua ilegal e falsa guerra contra o terrorismo, está enchendo de vergonha o próprio povo norte-americano. Os informes de organismos internacionais, cada dia mais abundantes, denunciam métodos assustadores de tortura, vôos secretos da CIA, multiplicação de campos de concentração, como os de Abu Ghraib e Guantánamo, somando-se a sua histórica cumplicidade com o Estado sionista de Israel contra o povo palestino. No informe da Anistia Internacional de 2008, as violações dos EUA aos direitos humanos ocupam várias páginas (2).
O mesmo país que atribuiu-se o direito de regular a conduta do mundo nesta questão é o que hoje pretende desprestigiar o trabalho que vem desenvolvendo a CDH. Com isto demonstra, mais uma vez, sua falta de responsabilidade e de respeito com as Nações Unidas.
Por que se retiraram?
Na verdade, muitos observadores já previam isso, desde o momento em que foi designado aos EEUU um posto como observador ante o Conselho, já que nesta ocasião não tinham possibilidades de manipular a favor de seus interesses como fizeram na extinta Comissão de Direitos Humanos. A mesma infeliz Comissão em que terroristas de origem cubana como Armando Valladares ou Luis Zúñiga Rey ocupavam os máximos postos, para afronta da Pátria de Lincoln.
Aos EUA falta capacidade moral para enfrentar as críticas sistemáticas do atual Conselho e seus relatóríos sobre a violação dos direitos humanos. Não têm argumentos para responder às resoluções do Comitê de Direitos Humanos da ONU e do Grupo de Detenções Arbitrárias sobre o tratamento cruel e desumano dado aos prisioneiros da Base Naval de Guantánamo, assim como ainda não responderam ao parecer do grupo sobre o caráter arbitrário e ilegal das detenções dos Cinco cubanos (3). Do mesmo modo, não responderam aos informes críticos de outros relatórios, como o de Martin Scheinin, Relator contra o Terrorismo.
O grau de insatisfação dos EUA com o Conselho aumentou com a vitória esmagadora de Cuba durante o sexto período de seções (4). Isto provocou a imediata reação da congressista cubano-americana Ileana Ros Lehtinen, que lançou uma resolução ante a Câmara de Representantes para suspender indefinidamente o repasse dos fundos que os EUA estavam obrigados a dar ao Conselho. Ao retirar-se e solicitar a anulação de seus compromissos econômicos, nada mais fazem que fortalecer a credibilidade do Conselho de Direitos Humanos perante a comunidade internacional, que longe de lamentar-se, decidiu, com a Sra. Louise Arbour à frente, defender sua honra, sua independência e seu prestígio.
Enquanto preparava a informação para este artigo veio à minha memória a denúncia realizada pelo chanceler cubano Felipe Pérez Roque, há apenas um mês, sobre a conspiração de diplomatas norte-americanos para reduzir a condenação de terroristas como Santiago Álvarez e a entrega de somas de dinheiro, utilizando os próprios diplomatas como vulgares transportadores, a pessoas a cargo do governo dos EUA como a Sra. Martha Beatriz Roque (5).
É contraditório que o país que pretende impor sua falsa guerra contra o terrorismo e se diz o máximo defensor dos direitos humanos, mantenha presos, há dez anos, cinco cubanos que tentaram advertir seu povo sobre os planos terroristas que se tramavam em Miami, assim como abandone um organismo como o Conselho de Direitos Humanos da ONU, retirando seus fundos e passando-os, em muito maior quantidade, às mãos de terroristas e mercenários.
Gore Vidal nos dizia em relação ao duplo sentido da administração Bush e sua profunda decadência: "O caso dos Cinco é uma prova a mais de que temos uma crise de direito, uma crise política e uma crise constitucional" (6).
Notas:
(1) Carta de Michael Moore - 10 -06-200.
(2) Informe Amnesty International 2008 - 28-05-200.
(3) Opinião do Grupo de Detenções Arbitrárias da ONU - 27-05-200.
(4) Vitória de Cuba sobre a necessidade de por fim ao ilegal bloqueio norte-americano à ilha.
(5) Cuba questiona Bush e seu Governo. Conferência de Imprensa de Felipe Pérez Roque, Ministro de Relações Exteriores de Cuba. 22-05-200.
(6) Gore Vidal, escritor e dramaturgo norte-americano.

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