15/05/2008

Centrais sindicais estão no colo do Estado, critica analista


FERNANDO BARROS DE MELLO

Trinta anos se passaram desde a greve da Scania, mas o Brasil assiste hoje a uma adaptação de uma fórmula criada muito antes de 1978, no governo Getúlio Vargas. A avaliação é do sociólogo Ricardo Antunes, professor titular da Unicamp.
"Temos visto tristemente um processo de reestatização das cúpulas sindicais. As centrais estão no colo do Estado." Ao analisar a evolução do movimento sindical, ele vê duas "mãos" que batalham entre si. A primeira atrela os sindicatos ao Estado; a outra traz independência aos trabalhadores.
"Naquele movimento iniciado em 1978, o lema era "o sindicato somos nós". Essa mão própria estava mais forte que a do Estado. Foi um período de efervescência e Lula personificava isso", diz. "Agora, o governo Lula está usando uma mão com a experiência de quem conhece bem o outro lado", completa.
Segundo dados do Sindicato dos Metalúrgicos, em 30 anos, o ABC paulista perdeu trabalhadores, mas o sindicato ganhou membros. Em 78, havia 150 mil trabalhadores na região, mas só 30% eram sindicalizados. Hoje, são 97,8 mil trabalhadores e 73,2 mil filiados (ativos e aposentados). A sindicalização também aumentou pelo país, contrariando tendência mundial, segundo especialistas. Em 1978, era de cerca de 10%. Em 2005, chegou a 18,3%.
Antunes lembra que antigas bandeiras dos grevistas de 78, da CUT e do próprio Lula não vingaram no atual governo. Ele cita o fim do imposto sindical e o aumento da autonomia dos sindicatos.
Paulo Fontes, professor do CPDOC-FGV, afirma que 1978 deixou um legado positivo.
"Hoje, o movimento sindical é muito heterogêneo. Mas avalio que neste momento ele pode retomar força política e grau de influência. O país voltou a crescer, o governo está longe de ser hostil ao movimento e a democracia está consolidada."
João Vicente Silva Cayres -presidente do Dieese e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos dos ABC- diz que há 30 anos as posições extremadas de um governo militar e de patrões fizeram com que os trabalhadores assumissem posição mais radical. "Mas os sindicatos e o patronato foram evoluindo. A discussão é aceita."

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