18/10/2010

Tropa de Elite II e o flerte com o senso comum

Alex Lélis (Militante do PCB de Campinas)
Ontem, quinta-feira 14 de outubro, eu e a Andréia resolvemos seguir o fluxo e assistir o líder de bilheterias do momento “ Tropa de Elite II”.
Chegamos mais de 1 hora antes do inicio da seção para podermos nos acomodar a contento e também para nos inserirmos no “clima”.
Compramos o bilhete, demos uma volta no shopping e 30 minutos depois de nos munirmos do kit cinema (pipoca, refrigerante e chocolate) me dirigi para a fila da sala. Pela primeira vez na vida experimentei a sensação de ser o primeiro da fila no cinema. Me senti o verdadeiro “homem massa” como diz Gramsci ou o “Zé povinho” como diz meus “clientes” da Fundação Casa.
Depois de 15 minutos de espera na fila e de quase comer toda a pipoca que era para o filme todo, finalmente pude entrar na sala e escolher o melhor lugar para ver o filme. A expectativa era grande já que o primeiro filme havia me deixado surpreendido com sua complexidade e pelo seu conservadorismo beirando ao fascismo com a idéia central da criminalização da pobreza.
Após ver o filme e tentando digerir tudo que vi e senti de todo o clima do cinema pensei em escrever algo.
Primeiramente acho legal levar em consideração as reações do público durante a exibição do filme e no final ─ a exemplo de Gramsci quando ia ver as peças de Pirandelo.
Do ponto de vista da empatia do público o filme bate recorde. Foi evidente que a maioria das pessoas gostaram do filme e se identificaram com a tese do autor. Por isso cabe pensar: o que a história apresenta que leva o público ao delírio?
Na verdade penso que Tropa de Elite II flerta com o senso comum brasileiro e apresenta duas idéias centrais que são parte desse senso comum.
Primeira idéia que vem já do primeiro filme é a criminalização da pobreza, algo que já destaquei acima, e da necessidade do extermínio do pobre criminoso.
Segunda idéia, essa a novidade desse segundo filme é a idéia da corrupção dos agentes públicos, da polícia militar, dos políticos e de todos os agentes do Estado que o narrador chama de sistema.
Nesse sentido, o autor, ao meu ver, cai no engodo muito difundido hoje de que o problema do Brasil é um problema ético, que a política é um mar de lamas e que por isso o combate a pobreza criminosa não é o suficiente para resolver o problema da violência no Brasil, já que a violência gera lucro para a polícia corrupta e também lucro e votos para os políticos, sejam os de direita (diretamente ligados à corrupção), sejam os de esquerda, que também se beneficiam eleitoralmente da violência e da corrupção como algo a ser denunciado. Essa “industria da denuncia” renderia os votos da esquerda demagógica.
Na verdade a tese é de que tudo é uma merda!!! Uma idéia que “todos” concordam . Mas o mais surpreendente é que o BOPE , A TROPA DE ELITE, sai ilesa da história como se fossem a única reserva moral do Brasil e com isso fortalece a tese do combate, feito pelo BOPE, da pobreza criminosa e dos políticos corruptos. Porém, mesmo assim de nada adiantará, pois como diz o narrador “o sistema é foda” e se recompõe, algo como um Brasil “Cronicamente Inviável”.
Por tudo isso o filme é um sucesso, pois não apresenta nenhuma novidade. Flerta com o senso comum do publico, reforçando-o e o expressa na tela do cinema, além é claro das belas cenas de ação que nada deixam a perder para o cinema estadunidense. Com isso, servirá para encher os bolsos dos diretores e o pior, para reforçar preconceitos.

Um comentário:

  1. Acho q vc deveria ver o filme de novo, camarada! Vc não fala nada sobre o papel que a esquerda teve em reposicionar a opinião pública no debate sobre as milícias. E tb não fala nada sobre o "desmascaramento" que o filme faz sobre a influencia política na segurança pública e como o BOPE é usado para estes fins.

    São elementos muito importantes e que agregam valor ao filme.

    Saudações Socialistas,
    Vinicius Codeço (PSOL-Niterói) e Intersindical

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