20/09/2010

Do Movimento Continental Bolivariano aos Povos da Venezuela e do mundo

“Quando a opressão não deixa
mais alternativa, a guerra de liberação,
constitui o legítimo recurso dos povos
para alcançar a liberdade”
S. Bolívar. 1812 Cartagena.


Concebemos o direito à rebelião dos povos como um direito universal inalienável.
Em determinados momentos ou períodos históricos os povos tem, não somente o direito como o dever de levantar-se contra a opressão e o terrorismo de Estado, utilizando todas as formas de luta que estejam em seu alcance, incluindo a luta armada. Assim aconteceu em nossa América frente a cruel conquista e colonização européia e frente às diversas formas de tirania e iniquidades, e assim vem sendo – e é – ao largo do combate da humanidade por suas liberdades e direitos.
Neste sentido, está claro que as causas que deram origem à confrontação armada na Colômbia não só não desapareceram como se aprofundaram e extendido, e que a pobreza, a iniquidade, a fraude eleitoral e a violação flagrante dos direitos fundamentais do ser humano seguem sendo constantemente agravada que marca a história recente deste país irmão, impedindo uma saída política não beligerante.
O governo dirigido por Juan Manuel Santos é somente uma nova expressão destes regimes oligárquicos, manejados e dirigidos pelo império norte-americano desde o auge do santanderismo.
A chamada “democracia colombiana” vem se convertendo numa obscura máquina de eleger carrascos, não existindo garantias, nem conições mínimas para o desenvolvimento de uma alternativa política eleitoral que mude o destino histórico deste país.
Essa ansiada possibilidade tem sido cerceada em reiteradas ocasiões. Basta recordar o assassinato de milhares de liberais desmobilizados em meados do século XX, o assassinato em plena via pública de Jorge Eliécer Gaitán no ano de 1948 e a matança que se seguiu e, mais recentemente (entre 1984 e 1990) o brutal extermínio de mais de 5000 candidatos, ativistas e políticos desarmados da União Patriótica junto aos assassinatos seletivos dos dirigentes guerrilheiros desmobilizados do M-19.
Entendemos a luta armada dos povos como uma epopéia pela libertação e isto, em absoluto, pode ser qualificado de terrorismo. Este termo, embalado, manipulado e explorado em maior escala pelos ianques e seus poderosos meios de desinformação depois dos sucessos do 11 de setembro, vem sendo usado junto às múltiplas artimanhas e mentiras como recurso para estigmatizar, desprestigiar e isolar os grupos insurgentes, procurando bloquear a solidariedade internacional em seu favor e criminalizar toda a tentativa de exercê-la.
Com esse mesmo propósito e igual sentido de adulteração da verdade e dos fatos, se insiste em vincular as guerrilhas colombianas com o narcotráfico, utilizando nessa direção o enorme poder comunicacional transnacional dos EUA e seus aliados para semear a falsa idèia de umas guerrilhas, que desviando-se de suas origens, se transformam em um cartel da droga.
Os vínculos com a narco-corrupção, sem dúvida, apontam em direção inversa, implicando profunda e inequivocadamente as altas esferas do governo, Estado e elites empresariais colombianas encabeçadas nos últimos anos pelo narco-paramilitar Uribe Vélez, pelo próprio Juan Manuel Santos e pelo inescrupuloso setor oligárquico que representa. Aqui é válido afirmar que o ladrão e o assassino julgam por sua condição.
Podemos entender que existem razões do Estado que gravitam neste momento para a retomada das relações entre Venezuela e Colômbia, porém os povos, o povo bolivariano, mariateguista, artiguista, sanmartiniano, rodriguista, sandinista, zapatista, camanhista, alfarista, tupacamarista, guevarista… - e muito especialmente os revolucionários de todas as tendências e formas de combate - devem entender, a partir da profundidade do internacionalismo e o latino-americanismo, que a solidariedade não admite silêncios cômodos nem omissões convenientes.
A luta de um povo por sua libertação é parte de nossa própria luta para nos livrarmos das cadeias. Embebidos do espírito bolivariano, assumimos a luta antiimperialista como luta continental contra o império opressor, sempre respeitando a independência, as identidades, as circunstâncias políticas e formas de ação de cada povo e cada setor. Negar tal independência implica adotar a faculdade de perceber e analisar a realidade diferenciada com lentes distantes, que só procuram ver o que favorece interesses egoístas ou manobras circunstanciais, deslegitimando a voz de seus atores reais e desconhecendo o direito e as justas causas e razões. Quem pode afirmar que uma guerrilha pode existir sem apoio popular e sem razões históricas ineludíveis por mais de 50 anos?
A guerra, sem dúvida, não pode seguir sendo o único trágico destino de nosso irmão povo colombiano, nem a rendição de suas heróicas forças insurgentes a saída equânime que dará término a mais de cinco décadas de sangue e morte. Isso seria aceitar que a injusta ordem imposta à ponta de fuzis e terror pelas oligarquias e o imperialismo é o único possível, aceitar o jugo e dar graças por ter vivido sem alcançar um acordo nacional que supere as causas do conflito e leve a Colômbia à uma paz com justiça social, sólida e duradoura.
Quem está fechando as portas ao diálogo que possibilitaria um acordo não é a insurgência armada. Não é casual que Santos, a poucos dias de selar o acordo com o presidente Chávez, mostrou sua verdadeira face, assinalando que não vai aceitar nenhum interlocutor nacional ou internacional que busque um processo de diálogo para a paz na Colômbia, negando-se a nomear um Comissionado de Paz e chamando o exército regular a fortalecer a ofensiva militar contra o povo em resistência, coroando-se como o “santo patrono” da Colômbia santanderista.
Frente ao conflito colombiano, somo solidários com os mais de sete mil presos políticos e prisioneiros de guerra, com os mais de quatro milhões de expulsos de suas terras, com os familiares dos milhares de desaparecidos, com os perseguidos políticos e refugiados colombianos espalhados por todo o mundo, em especial com os que se encontram na Venezuela e no Equador, com o movimento estudantil colombiano em pé de luta, com os dirigentes sindicais que dia a dia arriscam suas vidas para defender seus direitos, com o movimento indígena, com o povo consciente, pobre e perseguido da Colômbia que resiste nas montanhas, campos e cidades nas fileiras das FARC-EP e na ELN na Colômbia insurgente de Bolívar.
Somos partidários pelo reconhecimento dessas forças como FORÇAS BELIGERANTES, defensoras de uma proposta de paz com dignidade, portadoras de uma alternativa democrática destinada a contribuir junto a outros setores a criar uma nova Colômbia livre de bases militares norte-americanas, do terrorismo de Estado, de para-militarsmo genocida e de conflitos armados. Uma Colômbia em paz, autodeterminada e a caminho do reinado do desenvolvimento integral, inclusivo e de justiça social.
Acreditamos ser um dever das esquerdas e das forças democráticas e progressistas de nossa América e do mundo, estando ou não exercendo funções de governo, reconhecer o valor dessas forças alternativas (insurgentes ou não, armadas ou civis), apoiá-las em seu rol beligerante, isolar o regime narco-para-terrorista da Colômbia, exigir o desmantelamento das bases militares norte-americanas, bloquear seus propósitos agressivos contra a Venezuela e região, e rumar à saída política democrática do conflito armado.
É a hora das definições, de atuar em consequência e com coerência. A espada da batalha de Bolívar em nossas mãos não é um símbolo, é espírito de luta que percorre nossa America.
PELA PÁTRIA GRANDE E O SOCIALISMO:
VIVA A COLÔMBIA INSURGENTE DE BOLÍVAR!

Movimento Continental Bolivariano, 21 de Agosto de 2010.
Tradução: Maria Fernanda M. Scelza

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