04/09/2010

O VOTO DO STÉDILE


imagemCrédito: Resistir.info

Escrito por Antonio Julio de Menezes

Pesquiso o movimento de trabalhadores do campo no Brasil há mais de 25 anos. Mais especificamente, pesquiso o MST há mais de 15 anos. Tenho livros, artigos científicos e artigos na imprensa. Porém, mais do que um pesquisador pretensamente "neutro", sou um militante. Defendo o socialismo, a reforma agrária, a educação do campo e as lutas dos trabalhadores do campo e da cidade.

Admiro os lutadores desconhecidos e os conhecidos que a história registra ao longo do tempo. Desconhecidos como aqueles que, hoje, ocupam terras pelo direito ao seu trabalho, à sua cultura e à sua dignidade. E conhecidos como João Pedro Stedile e Plínio de Arruda Sampaio, dentre muitos outros, que passam suas vidas na luta por uma vida mais digna para o povo brasileiro e para o povo do campo. Abrem mão de cargos nos governos, privilégios e outras coisas mais para ficar ao lado das lutas populares.

Assim, é neste clima fraternal e companheiro que quero discordar da posição eleitoral do João Pedro Stedile, manifestada em diversos debates e edição do Brasil de Fato de 17/08/2010. Depois de criticar Serra, posição consensual na esquerda, ele diz: "E temos três candidaturas de partidos de esquerda, com companheiros de biografia respeitada de compromisso com o povo, mas que não conseguiram aglutinar forças sociais ao seu redor, e por isso o peso eleitoral será pequeno. Nesse cenário, nós achamos que a vitória da Dilma permitirá um cenário e correlação de forças mais favoráveis a avançarmos em conquistas sociais, inclusive em mudanças na política agrícola e agrária".

Pergunto: como as três candidaturas de esquerda aglutinariam força e cresceriam se uma das principais lideranças, de um dos principais movimentos sociais do Brasil, já declara, sem nenhum empenho por estas candidaturas, que elas não decolam e vai direto pedir voto na Dilma? Não deveríamos nos empenhar para que estas candidaturas aglutinassem forças e tivessem maior peso eleitoral em vez de sairmos dizendo, sem discussão ou empenho por estas candidaturas, que elas não decolam? Mesmo que não ganhássemos, se os candidatos de esquerda conseguissem um peso eleitoral maior, não teríamos mais forças para o enfrentamento com o capital e o agronegócio?

Em segundo lugar, o seguinte: qual é este cenário favorável em que a vitória de Dilma permitirá uma correlação de forças favorável para a mudança na política agrícola e agrária? Se nos oito anos de governo Lula esta mudança não aconteceu, qual o "milagre" que faria com que a vitória de Dilma propiciasse tais mudanças? Aliás, na entrevista, Stedile diz que "nós achamos". Nós, no caso, seria o MST? Creio que não foi esta a decisão do Movimento Sem Terra.

Por fim, analiso que o voto em Plínio, no Ivan Pinheiro ou no Zé Maria, comprometidos com as lutas dos trabalhadores, seria uma forma de aglutinar votos para a fragmentada esquerda brasileira. Não venceremos, mas podemos ter uma inserção maior nas lutas se demonstrarmos alguma força e unidade. Mas, para tanto, precisamos apoiar candidatos de esquerda, e não ficar defendendo voto útil que, na maior parte das vezes, se torna inútil. Aliás, útil para quem?

E aí, Stedile, o MST joga um papel fundamental para ajudar a reaglutinar as forças capazes de combater o capital e o agronegócio, pois possui o reconhecimento da esquerda brasileira.

Antonio Julio de Menezes Neto, cientista social, doutor em educação e professor na UFMG.

Blog: http://antoniojuliomenezes.zip.net/

03/09/2010

EUA: Emigrantes, drogas e hipocrisia

De acordo com uma análise editorial publicada ontem [30 de Agosto] no New York Times, o recente massacre de 72 emigrantes centro e sul-americanos em Tamaulipas confirma que o governo de Washington delegou nos «senhores das drogas» a execução da sua política de provisão migratória, tal como o fez anteriormente com o fornecimento de estupefacientes, com «os resultados que estão à vista».
Com inusitada crueza, o jornal nova-iorquino escreve que «os cartéis mexicanos são alimentados pelos Estados Unidos com dinheiro vivo, armas pesadas e outras», enquanto o fluxo humano para o norte «é alimentado pela nossa procura de mão-de-obra barata». Nestas circunstâncias, as organizações do narcotráfico – «capitalistas oportunistas» – entraram pelo negócio do tráfico de pessoas: «os imigrantes indocumentados são, em certo sentido, melhores que a cocaína, porque podem ser obrigados a pagar resgate e convertidos em transportadores de droga».
O referido editorial não se inscreve apenas na chamada de atenção sobre a ligação crescente entre o narcotráfico e a utilização de pessoas – ligação que ficou barbaramente evidenciada no massacre de centro e sul-americanos em Tamaulipas – mas que se junta às chamadas de atenção sobre o imobilismo de Washington no combate às drogas.
Inúmeros analistas expressaram dúvidas sobre a seriedade do compromisso do governo estadunidense nesse empenho por ele imposto a outros países, e para fundamentar a suspeita apontam, entre outros factos, a suposta incapacidade do aparelho policial, militar e tecnológico mais poderoso do mundo para detectar e interceptar a imensa maioria dos embarques de estupefacientes ilícitos que, por mar e pelo ar, atravessam a fronteira entre o México e os Estados Unidos. Isto porque as substâncias ilícitas chegam a esse país, são aí distribuídas e comercializadas sem contratempos de maior desde o Rio Bravo até ao Canadá e do Pacífico até ao Atlântico.
A inconsistência entre o discurso oficial de Washington e os seus actos para estancar o tráfico de estupefacientes no seu próprio território é simétrica da incongruência que existe entre as políticas oficiais em matéria de migração, persecutórias e repressivas quer no âmbito federal quer estadual, e a evidente necessidade da economia estadunidense se alimentar com mão-de-obra barata, o que apenas pode fazer com trabalhadores estrangeiros, maioritariamente latino-americanos, que chegam ao país sem os documentos migratórios. Em qualquer dos casos fica evidente uma hipocrisia que, segundo o New York Times chega ao ponto de utilizar os cartéis mexicanos como a válvula de escape que controla o caudal migratório. Se estes exercícios simulatórios forem certos – e todos os elementos de análise apontam para isso – torna-se inevitável perguntar se tão abissais diferenças entre a leis e a prática governamental e empresarial não configuram uma gigantesca fraude à comunidade internacional e à própria opinião pública estadunidense, maioritariamente intoxicada por uma propaganda que apresenta, por um lado, um país imaculado, próspero, sadio e regido pelo direito, e por outro, um conjunto de nações que invadem o território estadunidense com drogas ilícitas e migrantes delinquentes e perigosos.
Em qualquer caso, fica claro que o lugar dos segundos no narcotráfico não é o de protagonistas, mas o de vítimas, e que são as próprias autoridades dos Estados Unidos quem criou essa circunstância, por meio de estratégias falhadas se é que não são mal intencionadas.
A conclusão inevitável desta reflexão é que Washington não tem autoridade moral para ditar, acordar ou sugerir acções em matéria de combate à delinquência organizada e, particularmente, ao tráfico de drogas, e que, se é certo que tais fenómenos, tendo em conta o seu carácter global, devem enfrentados multilateral e concertadamente, as estratégias correspondentes devem ser formuladas em negociações equitativas e respeitadoras das soberanias. Neste ponto as autoridades mexicanas devem abandonar a submissão com que têm actuado e assumir, de uma vez por todas, que os Estados Unidos não podem ser vistos como a fonte de soluções, mas como parte do problema.
Este texto foi publicado no diário mexicano La Jornada de 31 de Agosto de 2010.
Tradução de José Paulo Gascão

02/09/2010

MAIS UMA VITÓRIA DOS TRABALHADORES CONTRA OS PATRÕES E SEUS PELEGOS: OPERÁRIOS DA SADIA DERROTAM A FORÇA SINDICAL EM CHAPECÓ

Terminou na noite de quarta-feira (01/09) apuração dos votos das eleições no Sindicato dos Trabalhadores na industria de carnes de Chapecó- SC e mais uma vez a classe trabalhadora se colocou em movimento para derrotar os pelegos.
O Sindicato há 22 anos não tinha eleições, sob a direção da Força Sindical durante todo esse tempo os trabalhadores amargaram salários arrochados. doenças e mutilações provocados pela péssimas condições de trabalho.
Os trabalhadores se organizaram durante os últimos 3 anos clandestinamente, enfrentaram todo tipo de pressão da SADIA e dos pelegos, ameaças que chegavam até suas casas e agressões físicas.
Mas nada disso impediu os trabalhadores de se colocarem em luta para retomar seu Sindicato.
Vejam os números das eleições:

Chapa 1: 216 (29,79%)

CHAPA 2: 489 (67,45%)
Nulos: 03
Brancos:17
A INTERSINDICAL ESTÁ PRESENTE EM MAIS ESSE PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO E LUTA DA CATEGORIA