23/11/2010

Toma providência, Sem Terra!

Escrito por Julio Cesar de Castro*
20-Nov-2010

"Digo, sem medo de errar, que a desapropriação da Nova Alegria diminuirá a violência e o número de conflitos no campo. A partir do exemplo de Felisburgo, será dado um recado aos latifundiários de todo o país".
(Gercino José da Silva Filho – Ouvidor Agrário Nacional)

Neste dia 20 de novembro completam seis anos do Massacre de Felisburgo, ocorrido no ano de 2004, na Fazenda Nova Alegria, situada na região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais – Oh, Minas Gerais! Quem te conhece ainda do latifúndio sequaz? –, onde o fazendeiro Adriano Chafik Lued e pistoleiros mercenários, odiosamente irracionais e armados até os caninos primitivos, trucidaram cinco trabalhadores rurais (então com idades entre 23 e 72) e deixaram ferido-exangues outros vinte, que haviam ocupado essa terra devoluta, no sonho de "um cantinho de paz" para produzirem o alimento, e organizado o acampamento Terra Prometida.

Inclusive, à época, dois adolescentes de 12 e 15 anos de idade lesados naquele ato infame. A parte superior dos corpos das vítimas fatais resultou irreconhecível aos olhos de familiares e amigos, tamanha a animalesca violência sofrida pelos tiros de carabina 12 mm. Destes sobreviventes, muitos ficaram com seqüelas, sem condições físicas de desenvolverem o trabalho digno na terra. Ainda hoje, ressoam na memória de testemunhas aquelas execrandas ordens: "Atirem! Matem todos. Podem atirar em todo mundo".

Mais horrivelmente humilhante que este fato (que o digam as viúvas aflitas!) tem sido, ainda hoje, a impunidade dos criminosos, sobretudo Adriano Chafik, desengaiolado, ameaçador crônico da sociedade, com o seu dinheiro amaldiçoado e as fétidas intercessões políticas a achincalhar a Justiça dos cidadãos civilizados. O sujeito é tão insano que, se tivesse aprisionado entre cruéis bandidos do narcotráfico, os intimidaria com o tom da arrogância.

Some-se à infelicidade de todo o sangue derramado no campo, a deslavada mentira do futuro ex-presidente Lula, em agosto de 2009, ao ludibriar os Sem Terra com a cínica promessa de transformar a Fazenda Nova Alegria em "assentamento do Incra". Além de rever o índice de produtividade da terra para fins de Reforma Agrária. "Podem contar vitória, companheiros". Ledo engodo! O então ministro da Agricultura Reinhold Stephanes, porta-voz da inquisição do PMDB, censurou sua Excelência à espanhola: "Por qué no te callas?".

E a que virá no Palácio do Planalto a presidente Dilma Lula Rousseff em questões de Reforma Agrária? Declarou apenas que vai seguir com o Luz Para Todos e que não vai "tolerar o MST invadir propriedade produtiva". Nem que tenha que intervir mais a mão do Estado no status quo de "propriedade produtiva". E, em meio à indefinição da nova política agrária, o primeiro-líder dos Sem Terra, João Pedro Stédile, assenhora-se da palavra, contradiz a afirmativa de Gilmar Mauro ("o MST não vai ficar refém do novo governo"), defendendo diálogo e apoio ao governo federal petista. Não há ternura de Che que tolere mais cooptação e servilismo!

A situação do trabalhador rural, a fim de que o assegure a vida na terra, em acampamentos ou pré-assentamentos – sem água encanada, sem energia elétrica, sem escoamento sanitário, sem estradas de acesso e sem moradia digna –, de tão insuportável, exige soluções que já nem são "para ontem", são para trasanteontem.

Ocupar por ocupar a terra, meramente, sem organizar o enfrentamento tático com os representantes do latifúndio no Legislativo, no Executivo e, com maior relevância, no Judiciário, só faz aumentar o favelamento rural neste país. Por dez, quinze anos resistindo, ao deus-dará, debaixo de lona plástica preta, famílias com crianças e idosos, enquanto o "modo petista de governar" mantém as leis arbitrárias de FHC e as tetas da mão-gentil ao Agronegócio... Ó Plínio de Arruda Sampaio, escancara essa neosenzala! Só mesmo Stédile para se sentir um pastor de ovelhas dóceis e ordeiras sob o cajado da alienação.

Aos que, supostamente, estão à frente de movimentos de massa, ambíguos e que subestimam os seus pares na luta, por duvidosa liderança nos anos de "vida severina" do governo Lula, que fizeram mais por subtrair do que acrescentar aos direitos sociais, é chegada a hora de autocrítica responsável. E depreciar mais a sigla dos Sem Terra, sem apreço aos mártires nem à história do Movimento, é o destino de descrédito perante os formadores de opinião.

Avante, trabalhadores! Até porque, mal assumiu a cadeira de chefe da nação, Dilma Lula Rousseff já tem ouvidos receptivos ao jogo de interesses políticos e pressões diversas dos seus financiadores de campanha eleitoral.

Julio Cesar de Castro presta assessoria técnica em Construção Civil.
E-mail: jota.castro@yahoo.com.br

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