09/11/2010

Os enfezados

Nos tempos que correm a prudência recomenda bom humor em lugar de desilusões, afinal, já não são tempos de se ter alguma ilusão. Há, todavia, quem se perca nos meandros analíticos do contemporâneo. Ingenuidade? Tolice? Talvez um pouco de cada com uma pitada de cinismo à brasileira. O fato é que os radares estão a captar sinais muito claros de que as coisas vão de mal a pior, bendito otimismo! É precisamente quando a canalha se pronuncia que se pode fazer um diagnóstico atualizado da doença que a aflige. Aqui um bom médico diria: situação gravíssima, recomenda-se com urgência injeção de razão sob pena de irreversibilidade de processo avançado de morte cerebral ou eutanásia disfarçada para evitar a completa humilhação! Em outras palavras, é olhando para o esgoto que se conhece a verdadeira face do mundo. Mas falar assim genericamente em “mundo” torna tudo mais fácil para quem fala e confortável a quem ouve; falemos, portanto de uma micro partícula muito específica deste tão vasto “mundo”: São Paulo! Terra que cheira à Tietê misturado com dezesseis anos de afogamento tucano. E o Ibama que pensa salvar os animais... Que no Palácio dos Bandeirantes não se coma os peixes destas águas é até compreensivo mas um mínimo de decência obrigaria a canalha a dizer frases completas e não pela metade, afinal, se dizem “São Paulo para paulistas” deviam elencar, a título de ilustração, um símbolo que expresse em cor, cheiro e volume, as belezas de tão ilustre província, seu querido rio Tietê! Por que o esquecem sempre? Que não pensem estar exibindo seu lado bom pelas palavras duras, (im)precisas e pesadas de seu governador. Francamente, se ao menos ele conjugasse os verbos em tempos mais criativos... Criatividade aliás que anda em falta por estas bandas, reflexo do ostracismo. São Paulo masoquista em plena autoflagelação, só tu para ressuscitar defuntos assim! Não parece muito inteligente se fiar a costumes tão medievais... Em tempos como os nossos até fica caricato um pequeno ente federativo querer inventar uma espécie de máquina do tempo e mergulhar numa idade média às avessas. Por aqui, onde papa faz campanha e bolinhas de papel machucam as carecas alheais tudo é possível menos se olhar através do espelho apesar do fato de as águas do malfadado Tietê refletirem, ainda que obscuramente, as imagens que nele se projetam, com o acréscimo de um elemento essencial, o cheiro. Locomotiva do Brasil? Oh, por que não? Sejamos justos, locomotiva sim, mas só na imaginação e à moda tucana, claro: enferrujada, à diesel, puxando vagões estropiados em ferrovias privatizadas de acordo com o bom(?) senso do “iluminador” das mentes conservadoras nacionais, o velho e nocivo FHC. Descortina-se em mentes pouco iluminadas a ideia de que suas desgraças são fruto causas inexplicáveis!
Rogih Oicírbaf
06/11/2010

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