22/01/2010

Relatos sobre o Haiti

Vale a pena a leitura do relato de chegada do professor Omar Thomaz da Unicamp, que acompanhou de perto a terrível situação haitiana.

Queridos amigos e colegas, antes de mais nada, estamos todos bem e gostaríamos de agradecer o apoio e as mensagens carinhosas de todos vocês. Destaco particularmente o empenho de nossa diretora, Nádia Farage, que trabalhou incalsavelmenteno sentido de favorecer o retorno de todo o grupo ao Brasil. A decisãode voltar não foi tomada de imediato. Em primeiro lugar, porque, apesarde termos consciência logo no primeiro momento de tratar-se de uma calamidade ímpar, não tínhamos clareza quanto a sua dimensão: as comunicações dentro de Porto Príncipe eram extremamente precárias ou quase inexistentes, sabíamos o que víamos na rua, e o que nos chegava via rumores. O acesso à internet era intermitente, e não tínhamos nem tv, nem rádio; em segundo lugar, porque nosso primeiro impulso foi o de ficar e ajudar na medida do possível. Pouco a pouco foi ficando claro para todos nós que a tarefa de ajudar num contexto como este é mais complicada do que pode parecer. Por outro lado, para mim, a prioridade era garantir a integridade física e psíquica de minha equipe. Voltar, contudo, não foi fácil. Ir de um lado a outro da capital era extremamente difícil, o aeroporto estava fechado para vôos comerciais e a rota com a República Dominicana fora inicialmente interrompida, assim como a fronteira. Tão pronto a comunicação com a República Dominicana foi retomada, optamos por pegar o ônibus e nos dirigirmos à capital deste país. De lá, e com o apoio da embaixada, pegamos carona num Hércules da Força Aérea Brasileira. Chegamos no Rio de Janeiro na terça-feira à noite. Aluguei uma van e consegui chegar em Campinas, com todos os alunos, na quarta feira pela manhã. O que deixamos para trás foi um país em ruínas. Edifícios emblemáticos da capital desabaram - o palácio nacional, os ministérios, o senado, a catedral, a biblioteca nacional, o centro de arte. Nos dias que se seguiram ao terremoto, o que vimos foi uma população solidária e abandonada. Caminhávamos por horas pelas ruas e praças do centro dacidade, e não víamos nenhuma presença da tão anunciada ajuda internacional. O que víamos eram os haitianos ajudando os haitianos: as"dame sara" garantindo a distribuição de produtos, o "chein jambe"garantindo o preparo dos alimentos; empresários da água distribuindo água potável a filas organizadas; médicos haitianos ajudando os feridos nas ruas, jovens resgatando feridos e mortos nos escombros, caminhões da prefeitura recolhendo os cadáveres que se amontoavam nas calçadas. Os mortos se acumulavam nos dias que se sucediam, e caminhar por ruas apinhadas de corpos à espera de serem recolhidos, ao lado daqueles que, vivos, esperavam ajuda, constitui uma imagem que todos os membros da equipe levarão consigo para sempre. Tivemos que deixar o Haiti pois não havia condições de permanência no país. Mas estamos, mais do que nunca, comprometidos com este país. Desde que chegamos estamos trabalhando no sentido de imaginar de que forma, da universidade, podemos colaborar com a reconstrução do país, ao tempo em que, de longe, tentamos contato com amigos e conhecidos desaparecidos que encontramos nos dias posteriores ao terremeoto mais forte. Saímos de lá com a sensação de uma dívida infinita. Os haitianos nos permitiram que trabalhassemos em seu pais - nos hospedamos em suas casas, aprendemos o seu idioma, ouvimos suas histórias. Este momento da pesquisa, previsto para ser antes demais nada uma etapa de treinamento de alunos em campo, acabou por promover um laço entre todos e o Haiti, entre todos e cada um dos haitianos, que dificilmente se romperá. Daqui, seguiremos atrás de nossos amigos, e do lugar que ocupamos, procuraremos contribuir, o pouco que seja, com a reconstrução do país, para onde esperamos possamos retornar em breve. Mais uma vez, obrigado a todos e a todas que pensaram em nós neste dias. Contamos também com cada um de vocês para que o IFCH seja um lugar de debate crítico e de proposições que possam contribuir, minimamente, para um Haiti um pouco melhor do que o país arrasado que deixamos. Um grande abraço a todos.
Omar Ribeiro Thomaz

Um comentário:

  1. Sugiro para a questão esse seguinte link:

    http://www.lajiribilla.co.cu/

    oi traduzido:

    http://translate.google.com.br/translate?js=y&prev=_t&hl=pt-BR&ie=UTF-8&layout=1&eotf=1&u=http%3A%2F%2Fwww.lajiribilla.co.cu%2F&sl=es&tl=pt

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