03/08/2009

Ssangyong Motors: «Estamos resolvidos a lutar até à morte»

28 de Julho de 2009
"Segue abaixo impressionante relato sobre uma greve de metalúrgicos na Coréia do Sul da empresa Sangyong Motors, que ocupam a fábrica há três semanas contra as demissões em massa efetuadas pela direção da empresa".
A partir de 20 de Julho, e munidos de uma decisão judicial, mais de 3.000 polícias de choque, incluindo uma unidade especial, tentaram tomar a fábrica e expulsar os trabalhadores. Como os trabalhadores se recusaram a acatar a ordem judicial, a polícia desencadeou o ataque, que já dura há sete dias consecutivos. Neste ataque participam também capangas pagos pela administração e fura-greves [pelegos].
A polícia tem procedido a uma propaganda ideológica incessante e um helicóptero tem estado a realizar voos baixos para que os trabalhadores que ocupam a fábrica não consigam dormir e, assim, os deixar desmoralizados.
O abastecimento de água e de gás à fábrica foi cortado e não tem sido permitida a entrada de assistência médica humanitária. (A energia eléctrica não foi cortada, para evitar que tintas e outros materiais inflamáveis se decomponham.)
A partir do dia 21 os helicópteros da polícia têm estado a lançar granadas de gás sobre os operários que lutam no telhado das oficinas de pintura. Este gás contém um elemento tóxico, capaz de desfazer certas borrachas.
Nas ocasiões em que a polícia de choque lança os assaltos para tentar entrar nas oficinas de pintura, ela emprega uma arma especial de 50.000 volts, enquanto os fura-greves usam fisgas [estilingues].
Claro que, na rua em frente da Ssangyong Motors, nós, os trabalhadores das fábricas vizinhas, usamos barras de ferro e cocktails Molotov para combater a polícia e ajudar os grevistas.
Cerca de 700 operários estão a alimentar-se apenas com uma malga de arroz com sal e a beber água da chuva, depois de fervida. Apesar de muitos terem sido feridos na luta, continuam a combater sem hesitações.
No dia 20 de Julho, suicidou-se a esposa de um membro da direcção local do sindicato. Embora ele não constasse da lista dos despedidos [demitidos], participava na luta, apesar de ter recebido várias vezes ameaças da administração. A mulher dele tinha apenas 29 anos de idade. Até este momento, já 5 pessoas morreram ou se suicidaram por causa desta luta.
Em 22 de Julho, o Sindicato dos Operários Metalúrgicos Coreanos, KMWU, no qual estão filiados os grevistas da Ssangyong Motors, convocou uma greve de apoio de 4 horas, e outra de 6 horas no dia 23. Em 25 de Julho a central sindical, KCTU, organizou um comício junto à estação ferroviária de Pyeongtaeck, a localidade onde se encontra a Ssangyong Motors. No final deste comício, trabalhadores e outros participantes, armados com barras de ferro e pedras retiradas das calçadas, enfrentaram a polícia de choque, numa tentativa de avançar até aos portões da fábrica. Um ataque brutal por parte da polícia obrigou-nos a retirar, mas os confrontos continuaram noite dentro nas ruas de Pyeongtaek.
Nós, os membros do KMWU, temos programada uma greve geral de 6 horas para 29 de Julho; mas, como sabem, é difícil mobilizar todos os membros de um sindicato para participar numa greve de apoio.
Entretanto, a administração da Ssangyong Motors procura apresentar-se como vítima, dizendo que pode ser forçada a declarar falência.
Devido às pressões crescentes de algumas organizações cívicas e de alguns membros do parlamento, estava previsto que a administração e o sindicato da Ssangyong reunissem em 25 de Julho, mas a administração cancelou unilateralmente o encontro, com os argumentos de que os operários continuavam a lançar parafusos e porcas com fisgas [estilingues] e de que a administração não aceitava a reivindicação sindical de que em vez de despedimentos [demissões] os trabalhadores fossem incluídos rotativamente numa lista de suspensão de actividade, temporária e não remunerada. A administração recusou-se a aceitar esta concessão feita pelos sindicatos e diz que só aceitará os despedimentos.
Hoje, dia 27, os operários da Ssangyong Motors convocaram uma conferência de imprensa e novo comício junto às oficinas de pintura, escapando por algum tempo ao ambiente sufocante que se respira no interior daquelas oficinas.
As reivindicações formuladas nesse comício são:
1. Retirada da polícia.2. Negociações directas com a administração e com o governo.3. Divulgação pública do inquérito acerca das influências ilegais na utilização da tecnologia de motores diesel híbridos.
Termino citando as últimas palavras proferidas na conferência de imprensa: «Temo-nos esforçado o mais possível por que este conflito se resolva dentro dos princípios do acordo pacífico e do diálogo. No entanto, se continuar esta repressão brutal e mortífera, declaramos francamente que estamos resolvidos a lutar até à morte. Mostraremos ao mundo a nossa determinação de morrer não só como trabalhadores mas também como seres humanos. Lutaremos sem hesitações para reconquistar os nossos direitos e podermos enfim voltar às nossas casas».
Post scriptum. Ao voltar a casa, ouvi dizer que a polícia lançara novo ataque brutal contra os grevistas. Hoje e toda esta semana serão dias decisivos.
27 de Julho de 2009

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