04/11/2008

Democratas alertas contra possibilidade de fraudes na eleição


O democrata Barack Obama lidera as últimas pesquisas, mas seus partidários estão atentos para a possibilidade de fraudes, especialmente na Flórida, como já ocorreu em eleições anteriores. Jornalista Greg Palast adverte que até 6 milhões de eleitores podem ter seus votos anulados por conta de fraudes na Flórida e no Colorado. Mas no quadro atual, nem isso tiraria a vitória de Obama.

Por Clarissa Pont

A campanha pela Casa Branca chega à reta final, a poucas horas da abertura dos centros de votação, com o democrata Barack Obama e o republicano John McCain multiplicando comícios em todo o país. A eleição presidencial estadunidense desta terça-feira (4) promete ser histórica, com a possibilidade de ter o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Nas últimas horas, Obama faz campanha na Flórida, na Carolina do Norte e na Virgínia. Já McCain, atrás em todas as consultas de opinião pública, promove uma verdadeira maratona eleitoral, com comícios em sete estados, da Flórida ao Arizona. Cerca de 153 milhões de americanos estão inscritos nas listas eleitorais, e especialistas prevêem um nível de participação elevado que poderia, até, superar o recorde histórico de 63% de votantes, estabelecido em 1960. Cerca de 20% dos eleitores já votaram por antecipação. Como nas últimas semanas, as pesquisas publicadas nesta segunda-feira foram favoráveis a Obama. Segundo o site independente RealClearPolitics (RCP), que estabelece uma média das pesquisas publicadas, o candidato democrata tem uma vantagem de sete pontos em relação a seu adversário republicano. Porém, devido à complexidade do sistema de votação, o mais importante não é o número de votos, mas a vitória em alguns estados-chave como Ohio, Pensilvânia e Flórida. Em 2000, George W. Bush foi eleito presidente com menos votos que seu adversário democrata Al Gore.“A preocupação agora é convencer as pessoas a realmente votarem. A imprensa dedicada à população afroamericana segue afirmando que a eleição não está ganha, que se as pessoas ficarem em casa, a mudança não acontecerá. Também há orientações para que as comemorações sejam respeitosas, comedidas. ‘Lembrem-se que o ódio de certos grupos estará tão aguçado quanto a sua alegria’, é a frase que tem sido dita”, conta Lis Paz, brasileira que mora em Nova Iorque.“Hillary Clinton falou na manhã desta segunda, numa emissora voltada para o público negro, que, em geral, os presidentes eleitos respeitam o final do mandato do seu antecessor, mas que Obama não ficará calado até janeiro. Há muito o que mudar, destacou Clinton”, informa Lis. O candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, lidera nos cruciais Estados de Ohio e Pensilvânia, apesar da vantagem ter diminuído no final da campanha, aponta uma pesquisa da Universidade Quinnipiac divulgada nesta segunda feira. Segundo a mesma sondagem, a Flórida permanece indefinida. No Estado, o democrata lidera com 47% a 45%, dentro da margem de erro de 2,5 pontos percentuais. O resultado é o mesmo da última sondagem no Estado. "O senador Obama parece capaz do melhor resultado de qualquer candidato democrata entre os eleitores brancos em uma geração, voltando pelo menos aos patamares de Jimmy Carter, em 1976, ou talvez de Lyndon Johnson, em 1964", disse Peter Brown, diretor-assistente do Instituto de Pesquisas da Universidade Quinnipiac. Desde 1960, nenhum candidato à presidência dos EUA venceu sem conseguir pelo menos dois desses três Estados.O centro de pesquisas Gallup aponta Obama oito pontos à frente de seu adversário, ao dar a ele 51% das intenções de voto, contra 43% de McCain. Já a rede de televisão CNN situa o democrata sete pontos à frente, com 53% das intenções contra 46% de McCain. Keating Holland, responsável pela divisão política da CNN recomendou que os números sejam encarados com cautela. Segundo ele, nos Estados Unidos, cerca de um em cada dez eleitores costumam se decidir nos últimos dias da campanha. “A campanha nas ruas tem algumas coisas que chamam atenção, como muitos adesivos a favor de Obama escritos em hebraico. A comunidade judaica, inclusive em Israel, está com Obama, apesar das tentativas republicanas de apavorar a população inteira falando de possíveis relações do democrata com terroristas", relata Lis Paz. “Um adesivo muito popular é o ‘01-20-2009 Bush's last day’. Em alguns carros, ele está acompanhado pelo adesivo do Obama e, em outros, pelo símbolo da paz. A revista que vem encartada com o New York Times comentou, há duas semanas, a mudança de imagem de McCain durante esta campanha, tentando agradar a todos e perdendo a identidade, o que me fez lembrar muito do Geraldo Alckmin das últimas eleições. De qualquer forma, existem muitos adesivos e placas em frente às casas de McCain, aparentemente Obama está em maior número”, observa ainda Lis.Possíveis fraudesUma das preocupações dos democratas é quanto aos rumores insistentes de fraudes na Flórida. Segundo o jornalista Greg Palast, os rumores não são apenas boatos. Autor de "A melhor democracia que o dinheiro pode comprar", no qual demonstra como votos foram fraudados na eleição de 2000, repórter investigativo da BBC e do jornal inglês Observer, ele estima que 6 milhões de eleitores poderão ser impedidos de terem os votos contados por causa de fraudes na Flórida e no Colorado. "Mas a vantagem de Obama é tão grande que, até agora, isto não será suficiente para impedir sua eleição", diz Palast, que também é professor da Universidade de Chicago.“Na Flórida, estão impedindo as pessoas de votar através de um sistema que eles chamam de verificação de eleitores. Nunca se fez isso antes, simplesmente porque nos Estados Unidos não existe nem carteira de identidade. Isto afeta especialmente os eleitores de primeira viagem - e dois terços deles votam em Obama. Este sistema já restringiu o direito de votar de 85 mil pessoas, quase todos negros, o que combina com uma longa história de racismo na Flórida. E, claro, lembremos que este foi o estado onde George W. Bush roubou a eleição em 2000, não deixando votar os eleitores respondendo a algum processo ou tendo algum registro policial”, afirma Palast.As próximas horas mostrarão a exata dimensão desse temor. Rescaldados pelas últimas eleições, os democratas estão mais atentos do que nunca para evitar uma surpresa desagradável na reta final.
Fonte: Agência Carta Maior

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